sábado, 17 de julho de 2010

Sem fronteiras, nem limites.

Richard Jakubaszko
O mundo contemporâneo ainda reserva surpresas incômodas tanto para produtores rurais como para os cidadãos urbanos na questão da posse e uso da terra.
Torna-se exemplar o caso da jornalista Bete Cervi, moradora no município de Santa Rosa do Viterbo, norte do Estado de São Paulo, onde reside em uma casa há mais de 20 anos, construída então na periferia da pequena cidade, de 23 mil habitantes. 
De seu quintal Bete podia vislumbrar as atividades agrícolas da Usina Amália, então pertencente ao Grupo Matarazzo, no plantio e colheita da cana, além de outros produtores de laranja e hortaliças. A vida corria tranquila e sem maiores percalços até a Usina Amália ser arrendada, parte para a Usina da Pedra e parte para a Usina Santa Rita, de Santa Rita do Passa Quatro. 

As usinas chegaram com novas tecnologias e conceitos agronômicos e o canavial cresceu, ficou mais próximo da casa de Bete Cervi. Antes ficava a uns 500 metros de distância, atualmente está a menos de 300 metros. 
Em abril último usaram a aviação agrícola para pulverizar o canavial com um maturador e os problemas começaram, pois houve deriva. As laranjas e pitangas do quintal de Bete Cervi não frutificaram, outras perderam floradas, e também os vizinhos produtores de hortaliças registraram inúmeros prejuízos por causa da deriva das pulverizações aéreas. 

Questionada sobre quem chegara primeiro Bete Cervi foi enfática: “eu cheguei primeiro, o canavial veio bem depois”. Com isso, o que seria um corriqueiro e pequeno problema, e que se repete no Brasil inteiro, em todas as fronteiras agrícolas, torna-se um drama que deve crescer de proporções para os antigos moradores da nova fronteira agrícola de Santa Rosa Viterbo. 

Mas Bete Cervi é apenas um pequeno exemplo. Diariamente os pequenos, mas importantes acidentes ocorrem e delineiam um novo patamar de relacionamento e convivência entre produtores rurais e cidadãos urbanos. A população urbana cresce a olhos vistos, as cidades incham e espalham-se notavelmente com os novos moradores. Estes precisam de alimentos, e agora também de biocombustíveis, aos quais os produtores rurais respondem plantando, não apenas em novas e cada vez mais distantes fronteiras agrícolas, lá onde o dito cujo perdeu as botas e onde não existe infraestrutura de nada. Mas a produção agrícola cresce também em novas áreas, cada vez próxima às urbes, reduzindo a distância entre essas fronteiras. 

Há também a diferença da linguagem e do entendimento, um vizinho fala em hectare, o outro em metro quadrado. O diálogo torna-se difícil em razão dos interesses e necessidades. A questão reside não na ótica de quem chegou primeiro, ou de quem tem mais direitos, mas em como conviver de forma pacífica e harmoniosa nessas novas fronteiras, de parte a parte. 

É previsível que o novo Código Florestal irá limitar o uso de tradicionais áreas de produção agrícola, reduzindo alternativas e encarecendo o valor das terras. 
Os vizinhos fronteiriços terão novos problemas. Um precisa do outro, mas preferem manter-se à distância. A jornalista diz que seu pomar ficou estéril pelo uso de maturador no canavial da usina. 
Cada vez mais as fronteiras das lavouras e das urbes reduzem distâncias. É um drama que deve crescer de proporções para os moradores de fronteiras agrícolas. Não é exagero prever que ambos os lados serão perdedores nessa disputa.
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Um comentário:

  1. Richard,
    entre os ambientalistas que acusam e os ruralistas que se defendem, ou permanecem mudos, concordo com você de que o mundo precisa controlar a velocidade do crescimento demográfico, caso contrário o futuro da humanidade será um eterno embate sobre quem tem razão. Sabemos que em casa onde falta pão todo mundo discute, briga, acusa, se lamenta, e ninguém tem razão.

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