domingo, 30 de junho de 2019

A delação que saiu a fórceps e a dinheiro

Fernando Brito *  
As negociações do acordo de delação de Léo Pinheiro, ex-presidente e sócio da OAS condenado a 16 anos de prisão, travaram por causa do modo como o empreiteiro narrou dois episódios envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A freada ocorre no momento em que OAS e Odebrecht disputam uma corrida para selar o acordo de delação.

Segundo Pinheiro, as obras que a OAS fez no apartamento tríplex do Guarujá (SP) e no sítio de Atibaia (SP) foram uma forma de a empresa agradar a Lula, e não contrapartidas a algum benefício que o grupo tenha recebido.

A abertura da reportagem da Folha (acima) publicada em 1° de março de 2016 ajuda a entender o contexto das mensagens trocadas entre procuradores da Lava Jato divulgadas hoje pelo jornal e que mostram como o executivo da empreiteira foi pressionado a mudar os termos de seu depoimento.

Em setembro daquele ano, Sérgio Moro manda prender outra vez Léo Pinheiro, que tinha sido posto em liberdade depois de ser revelado que a OAS pagara propina a diretores da Petrobras. A razão da prisão, vê-se agora apenas “cobertura”, era uma “obstrução” de Justiça, em outro caso.

No ano seguinte, em abril, finalmente, houve a entrega do “prêmio”: a acusação a Lula.

O timing que preocupava tanto Deltan Dallagnol, para que não parecesse recompensa pela incriminação do ex-presidente, foi cumprido: em janeiro, a pena de Pinheiro foi reduzida de 10 anos e 8 meses para 3 anos e 6 meses, em regime semiaberto.

A mudança nas delações de Pinheiro gerou até uma estranhíssima ação judicial: Adriano Quadros de Andrade, ex-gerente administrativo da OAS, entrou na Justiça do Trabalho, pedindo que a ele também se pagassem as “recompensas” que a empreiteira deu a outros dirigentes para “adaptarem” suas confissões.

Será preciso alguma outra coisa para mostrar que tudo isso foi uma montagem?

* jornalista e editor do blog Tijolaço.
* Publicado em http://www.tijolaco.net/blog/a-delacao-que-saiu-a-forceps-e-a-dinheiro/



.

sábado, 29 de junho de 2019

Alimentação pobre em nutrientes causa mais mortes do que se imaginava


Richard Jakubaszko 

Podcast da rádio USP com o professor Alexandre Faisal, pesquisador da faculdade de Medicina, mostra que uma dieta pobre em grãos e cereais causa mais mortes e doenças do que o tabagismo.

,

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Ensaios à solidão


Richard Jakubaszko     
  


Raras vezes na vida indiquei publicamente a leitura de livros que li e gostei. Acho quase desnecessário, porque hoje em dia as gerações mais novas são menos afeitas às leituras, pelo menos é o que se comenta desbragadamente em qualquer lugar.

Entretanto, rompendo essa quase tradição, comento a seguir sobre um livro (Ensaios à solidão) que me encantou por muitas noites de leitura através de uma prosa peculiar e inteligente, obra do economista Carlos Eduardo Florence, meu amigo, um octogenário recém-adentrado, que se atreveu a escrever seu primeiro romance ambientado alhures, em algum ponto fictício do nosso Nordeste, provavelmente em zona de transição dos biomas do Cerrado com a Caatinga.


Florence é um paulista típico, porém mineiro de alma e costumes, que nos apresenta uma profunda crítica social diante das agruras climáticas há séculos sofridas pelos irmãos sertanejos. Não apenas isso, o texto é descritivo, sem diálogos, um estilo literário a que poucos escritores se atrevem a trilhar, o que tornou, provavelmente, tudo mais difícil de ser concretizado. Digo isso porque já escrevi um romance,
ainda inédito, com esse estilo de narrativa, e quase abandonei o projeto lá pela metade da obra, tamanhas as dificuldades de passar a emoção das personagens. Mas isso, assim me pareceu, Florence tirou de letra, porque Ensaios à solidão tem emoção de sobra, do início ao fim. Tem amor e ódio, saudades e desprendimentos, sexos e sofrimentos, além de um sentido de humor de fina estirpe na narrativa de seu principal personagem, Cadinho, e de tudo o que ocorreu à volta desse sertanejo quase inquebrantável diante das vicissitudes da seca causticante, esta que é um detalhe da trama, mas foi a alavanca que provocou um turbilhão nas vidas de Cadinho e de sua família.
 
Por algumas semelhanças e aparências Florence lembra o texto e prosa de Graciliano Ramos, mas apenas lembra, sensorialmente, pois não é nem parecido, nem no estilo e nem na prosa, apenas talvez nos vocabulários e nos neologismos, alguns inventados, outros rebuscados de priscas eras, típicos do sertão nordestino, o que me fez visitar o Google, em meia dúzia de situações, para entender a aplicação e pertinência de alguns vocábulos em determinados contextos. Quem sabe por isso Florence provavelmente jamais consiga atingir o grau de romancista famoso, e tenho a certeza, pela sua simplicidade como ser humano, que jamais sonhou com essa projeção. Na leveza do texto de Florence, porém, há um profundo conhecimento da alma humana, seus anseios, desejos e sonhos, ainda que dentro de uma perspectiva simplória de um personagem pobre e analfabeto de letras, porém rico de sentidos humanos, muito próximo de um ser integrado com a natureza, mesmo que do indomável agreste, rústico e perverso diante do clima.

 
Se o título do livro fosse algo como a “Saga de um sertanejo”, poderia explicar de forma sucinta a história simples, bela e dramática, quase uma tragédia grega, poética e cruel, humana e animal, tudo isso ao mesmo tempo, da vida de Cadinho, um sertanejo de alma pura e comportamento humano quiçá desejado por deus, assim com minúscula, conforme grafou Florence em sua obra, pra lá de exótica, porque inventiva, criativa, cadenciada, em prosa e verso, o que me traz a necessidade de recomendar ao leitor do blog esta obra, como síntese desta "crítica literária".

 
As soluções narrativas encontradas pelo autor, do qual desconheço se se baseou em alguma história real, ou se inventou a história toda de cabo a rabo, mas seja ficção ou descrição de fatos devidamente dramatizados, se o drama de Cadinho caísse nas mãos de um Ariano Suassuna seria automaticamente alçado ao panteão de obra prima da literatura nacional.

 
Espero que Florence continue a escrever, deixe a preguiça de lado, apesar de o ato de escrever ser um esporte e atividade de caráter notoriamente solitário, mas vale a pena ao leitor, porque depois a gente comemora e corre pro abraço.


Para adquirir a obra:
Editora Labrador, com Rosângela pelo fone 11 3641.7446
E-mail: adm@editoralabrador.com.br 
351 pg.

Preço de capa: R$ 49,90

REF: 9788587740359 - Categoria Romance
 
Mais informações: https://catavento.livreiros.com.br/produto/romance/ensaios-a-solidao/


.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Bebês lindos em situações diferenciadas

Richard Jakubaszko   
Fofos e lindos, simpáticos, pena que crescem, né?
  









.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Moro em seus melhores momentos

Richard Jakubaszko  
A blogosfera não perdoa. Moro é candidatíssimo a ser o mais popular Judas de 2020 no próximo sábado de Aleluia. O povo vai malhar...
Te prepara Moro, não há nada que esteja tão ruim que não possa piorar...
   
   









  


.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

O que significa o colapso da ‘vaza jato’?


Jessé Souza *
Glenn Greenwald, com sua coragem, mudou a vida da sociedade brasileira contemporânea. Aquilo que só iríamos descobrir quando nada mais importasse, como na ação americana no golpe de 1964, sabemos agora, quando os patifes e eles são muitos ainda estão em plena ação. Muito ainda está por vir, mas todos já sabemos o principal: a Lava Jato, a joia da coroa do moralismo postiço brasileiro, foi para o brejo.

Houve “armação política” de servidores públicos, procuradores e juízes, que, por dever de função, deveriam manter-se imparciais. Em resumo: traíram seu país e sua função enquanto servidores públicos para enganar a justiça e a sociedade. São, portanto, objetivamente, criminosos e corruptos. A verdadeira “organização criminosa” estava no Ministério Público (MP) e no âmago do Poder Judiciário. Simples assim. FHC e outros cretinos da mesma laia vão tentar tapar o sol com a peneira. Mas não vai colar. Perdeu, playboy!

Isso vale não apenas para Moro e Dallagnol que já morreram em vida, embora ainda não saibam, mas também para boa parte do aparelho judicial-policial brasileiro envolvido na “Vaza Jato”. Para o juiz e o jurista “a ficha ainda não caiu”, mas em breve serão tratados como quem possui uma doença incurável e transmissível. Se não se livrar de Dallagnol, o MP irá ao esgoto com ele. Se não se afastar de Moro, o Judiciário perderá o pouco de legitimidade que ainda lhe resta. Segue pelo mesmo caminho esse pessoal do judicial-policial que quis aproveitar a “boquinha” de ocasião, fazendo o “serviço sujo” para a elite e sua mídia venal de afastar o PT por meios não eleitorais e se apropriando, sem peias, do Estado, das riquezas públicas e do orçamento público.


Na outra ponta do “acordo”, os operadores jurídicos ficavam com as sobras do banquete. Tramoias bilionárias, como o fundo da Petrobras, para Dallagnol e sua quadrilha, e cargos políticos, como a vaga no STF, para o “trombadinha da elite do atraso” Sérgio Moro.

Alguns irão dizer que é precipitado afirmar isso, visto que eles ainda são poderosos, têm os interesses dos bancos e a Rede Globo ao lado deles, envolvida até o pescoço no esquema criminoso. Bolsonaro ainda é presidente e ele faz parte dessa armação podre, e a elite quer colher os milhões do esquema, este sim, verdadeiramente criminoso. É verdade, não tenho “bola de cristal” e confesso que não sei quanto tempo a farsa ainda vai durar. O que eu sei, no entanto, é que toda ação humana precisa ser justificada moralmente. Pode-se provocar mudanças na realidade exterior, mas sem legitimação moral essas mudanças têm vida curta. Toda a história humana nos ensina isso.

Desde 1930 a elite brasileira desenvolveu, com seus intelectuais orgânicos que pautavam a direita e a esquerda, uma concepção de moralidade – da qual eu trato em detalhes no meu livro A elite do atraso: Da escravidão a Bolsonaro – que amesquinha a própria moralidade, ao ponto de abarcar apenas a suposta “corrupção política”. Para os brasileiros, moral deixa de significar, por exemplo, tratar todos com dignidade e ajudar os necessitados, como em todos os países europeus que transformaram a herança cristã em social-democracia, para se resumir ao suposto “escândalo com o dinheiro público”, desde que aplicado seletivamente aos inimigos da elite. A elite de proprietários pode roubar à vontade. Seu roubo “legalizado” passa a ser, inclusive, uma virtude, uma esperteza de negociante.

Como a mesma elite possui como aliada a imprensa venal, e, por meio dela, manipula a opinião pública, a “escandalização”, sempre seletiva, é usada como arma de classe apenas contra os candidatos identificados com interesses populares. Assim, a função real dessa pseudomoralidade amesquinhada passa a ser, ao fim e ao cabo, criminalizar a própria soberania popular e tornar palatáveis golpes de Estado sempre que necessários. O esquema pseudomoralista foi utilizado contra Vargas, Jango, Lula e Dilma, ou seja, todos que não entregaram o orçamento do Estado unicamente para o saque da elite via juros extorsivos, isenções fiscais criminosas, perdão de impostos, livre sonegação de impostos, “dívida pública” e outros mecanismos de corrupção ilegal ou legalizada.

Só a sonegação de impostos da elite em paraísos fiscais, uma corrupção abertamente ilegal, chega a mais de 500 bilhões de dólares, segundo os especialistas de universidades britânicas que compõem o Tax Justice Network. Isso é centenas de vezes maior que o dinheiro recuperado pela “Vaza Jato”, mas a imprensa venal da elite nunca divulga essas informações. É como se não existisse, até porque é crime compartilhado pelos barões da mídia. Lógico que a corrupção política dos Palocci e dos Cunha é recriminável e tem de ser punida. No entanto, não é ela quem deixa o país mais pobre nem quem rouba nosso futuro.


Mas a estratégia da elite é “desviar” o foco do seu assalto sobre todo o restante da população e criminalizar a política e o Estado, que são, precisamente, quem pode diminuir o crime de uma elite da rapina, que domina o mercado e o Banco Central, sobre uma população indefesa. Indefesa posto que lhes foram retirados os mecanismos para compreender quem provoca sua ruína e sua pobreza.

A “Vaza Jato” é a forma moderna desse esquema criminoso e faz o mesmo que Lacerda fez com Getúlio Vargas em 1954. Com o apoio da mesma Rede Globo, dos mesmos jornais e da mesma mídia. Também não ficara provado que Getúlio tivesse roubado um centavo, assim como não ficou provado que Lula tivesse cometido qualquer ilegalidade. Mas a “Vaza Jato” fez mais que Lacerda. Uma turma de deslumbrados medíocres meteu os pés pelas mãos e comprometeu a dignidade do MP e da Justiça ao fazer justiça com as próprias mãos. Processos sabidamente falsos e manipulados mudaram a vida política brasileira e empresas criadas com o esforço e a luta de várias gerações de brasileiros foram entregues de bandeja aos americanos e seus aliados. A elite nacional fica com as sobras desse roubo. Tudo graças ao “trombadinha da elite do atraso”, Sérgio “Malandro” Moro, e à sua quadrilha no MP.

Mas o pior componente dessa história é o fator que explica a colaboração maciça da classe média branca ao seu herói: o racismo covarde contra os mais frágeis, os negros e os pobres. Se a elite quer roubar à vontade, a classe média branca, majoritariamente italiana em São Paulo e no Sul como o próprio Moro e portuguesa no Rio de Janeiro e no Nordeste, quer humilhar, explorar e impedir qualquer ascensão social dos negros e pobres. Nossa classe média branca, importada da Europa, foi criada para servir de bolsão racista entre elite e povo negro e mestiço. Se retirarmos a capa superficial de “moralidade”, mero enfeite para Moro e sua quadrilha, o que sobra unindo e cimentando a solidariedade de toda essa corja é o racismo cruel e covarde contra a população negra e mais humilde, o foco do lulismo.

Em virtude disso, o ódio a Lula é a mera “personalização” do ódio ao negro e ao pobre. Como o racismo entre nós não pode ser explicitado, nem por psicopatas como Bolsonaro e Witzel, devido à nossa tradição de “racismo cordial”, a “corrupção seletiva” sempre apenas dos líderes populares foi criada para ser uma capa de “moralidade” para o racismo real. Assim, todos os canalhas racistas que elegeram Bolsonaro e se identificam com Moro podem, ainda, dormir com a boa consciência de que representam a “fina flor da moralidade”. É com essa canalhice brasileira que a revolução de Glenn Greenwald está ajudando a acabar.

* o autor é sociólogo.
Publicado em: https://jornalggn.com.br/artigos/o-que-significa-o-colapso-da-vaza-jato-por-jesse-souza-2/


.

domingo, 23 de junho de 2019

Lula e suas proféticas palavras sobre Moro

Richard Jakubaszko    

As palavras proféticas de Lula para Moro, ao final do seu depoimento em Curitiba, em maio 2017, antes do julgamento da ação do apartamento triplex.