Richard Jakubaszko
Há quem tenha muito medo de comunistas. E medo é algo que não se explica, ou tem ou não tem, é como ter fé, ou tem ou não tem.
Pois os comunistas de hoje, engraçado, acho que só conheço uns 5 ou 6, todos já velhinhos, sessentões ou setentões, mas que são doces criaturas, que fogem de baratas, e nem formigas matam. Mas antigamente o medo dos comunistas também era grande, lá nos anos 1960 e 1970, diziam que comunista comia criancinhas...
Me lembrei disso outro dia, entrei no táxi, na verdade um Uber, confirmei o destino, e logo em seguida o jovem motorista puxou conversa, perguntou em quem eu tinha votado pra Presidente. Desconversei, afirmei que tinha votado em branco, e o jovem disse que votara no Bolsonaro, e que estava gostando do jeito franco do capitão de fazer declarações e conduzir situações com os países comunistas e bolivarianos. E finalizou: eu sou de direita, comigo comunista não tem vez.
Fiquei quieto, como discutir com um radical?
Quase chegando dei resposta indireta: você terá o resto da sua vida pra se arrepender do seu voto. E pode ter certeza que você não vai esquecer disso, pois só vai se aposentar depois dos 70 anos de idade. Isso se você chegar lá, desde que um comunista não te mate antes.
O cara ficou quieto, olhou de soslaio, bufou, mas já tínhamos chegado, me disse que não é bem assim. Ao fechar a porta do carro, que estava com o vidro aberto, ainda ouvi o xingamento: comunista filho da puta!
Fui me embora com o aforismo de Tim Maia: "o Brasil é um país virado de cabeça pra baixo, onde prostituta tem orgasmo, traficante é viciado, rufião tem ciúmes e pobre é de direita"...
Por isso o fantasma comunista que ilustra esta crônica, tem gente que tem medo de fantasma...
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Este blog é um espaço de debate onde se pode polemizar sobre política, economia, sociologia, meio ambiente, religião, idiossincrasias, sempre em profundidade e com bom humor. Participe, dê sua opinião. O melhor do blog está em "arquivos do blog", os temas são atemporais. Se for comentar registre nome, NÃO PUBLICO COMENTÁRIOS ANÔNIMOS. Aqui no blog, até mesmo os biodesagradáveis são bem-vindos! ** Aviso: o blog contém doses homeopáticas de ironia, por vezes letais, mas nem sempre.
quinta-feira, 31 de outubro de 2019
quarta-feira, 30 de outubro de 2019
Globo versus Bolsonaro
Richard Jakubaszko
A guerra está aberta.
No vídeo abaixo (gravado esta madrugada na Arábia Saudita) Bolsonaro se defende das acusações da TV Globo, veiculadas no Jornal Nacional de ontem (29/10/2019).
Nessa guerra pode não haver vencedores, com certeza o perdedor maior será o Brasil. O tom e o clima, de ambos os lados, demonstra nervos à flor da pele, uma histeria sem controle.
Nessa briga, de Bolsonaro versus Globo, torço a favor da briga.
A guerra está aberta.
No vídeo abaixo (gravado esta madrugada na Arábia Saudita) Bolsonaro se defende das acusações da TV Globo, veiculadas no Jornal Nacional de ontem (29/10/2019).
Nessa guerra pode não haver vencedores, com certeza o perdedor maior será o Brasil. O tom e o clima, de ambos os lados, demonstra nervos à flor da pele, uma histeria sem controle.
Nessa briga, de Bolsonaro versus Globo, torço a favor da briga.
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terça-feira, 29 de outubro de 2019
Celso de Mello diz que Bolsonaro não tem estatura para ser presidente
Fernando Brito *
Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, soltou uma dura nota em resposta à veiculação de um vídeo na conta de Twitter de Jair Bolsonaro – ao que tudo indica pelo filho Carlos – onde, numa montagem tosca, o presidente é comparado a um leão atacado por hienas, uma delas o STF.
Leia, com o que grifei, e comento a seguir:
A ser verdadeira a postagem feita pelo Senhor Presidente da República em sua conta pessoal no “Twitter”, torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma “hiena” culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores.
Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de “gravitas” e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República.
É imperioso que o Senhor Presidente da República — que não é um “monarca presidencial”, como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados — saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil.
O ministro Celso tem absoluta razão, mas é impossível deixar de ver que, neste processo, também há uma imensa responsabilidade de uma Corte Suprema que acovardou-se diante de todo o processo de judicialização da política que levou a anomalia a chegar ao poder.
E que, ironicamente, a corte suprema brasileira talvez tenha sido o leão que se deixou acovardar pelo alarido das hienas, inclusive as que envergonham a farda do Exército Brasileiro e que docilmente permitiram a deformidade que são as estruturas de poder no país.
Vai custar muito aos senhores reafirmar sua autoridade, não apenas diante do clã presidencial, mas diante da Nação.
Ainda que tarde, que comecem a fazer isso.
* o autor é jornalista, editor do blog Tijolaço,
Publicado em http://www.tijolaco.net/blog/celso-de-mello-diz-que-bolsonaro-nao-tem-estatura-para-ser-presidente/
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Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, soltou uma dura nota em resposta à veiculação de um vídeo na conta de Twitter de Jair Bolsonaro – ao que tudo indica pelo filho Carlos – onde, numa montagem tosca, o presidente é comparado a um leão atacado por hienas, uma delas o STF.
Leia, com o que grifei, e comento a seguir:
A ser verdadeira a postagem feita pelo Senhor Presidente da República em sua conta pessoal no “Twitter”, torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma “hiena” culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores.
Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de “gravitas” e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República.
É imperioso que o Senhor Presidente da República — que não é um “monarca presidencial”, como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados — saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil.
O ministro Celso tem absoluta razão, mas é impossível deixar de ver que, neste processo, também há uma imensa responsabilidade de uma Corte Suprema que acovardou-se diante de todo o processo de judicialização da política que levou a anomalia a chegar ao poder.
E que, ironicamente, a corte suprema brasileira talvez tenha sido o leão que se deixou acovardar pelo alarido das hienas, inclusive as que envergonham a farda do Exército Brasileiro e que docilmente permitiram a deformidade que são as estruturas de poder no país.
Vai custar muito aos senhores reafirmar sua autoridade, não apenas diante do clã presidencial, mas diante da Nação.
Ainda que tarde, que comecem a fazer isso.
* o autor é jornalista, editor do blog Tijolaço,
Publicado em http://www.tijolaco.net/blog/celso-de-mello-diz-que-bolsonaro-nao-tem-estatura-para-ser-presidente/
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segunda-feira, 28 de outubro de 2019
Ensaios, comedimentos e outras torpezas.
Carlos Eduardo Florence *
Não saberia até aonde poderia contar com as circunstâncias prenunciadas pelos astros que me espionavam em desalinhos zodiacais ou mal intencionados, mas, com certeza, como sempre insatisfeitos, naquela madrugada de vento frio e ruelas tortas e vazias. As paredes centenárias se despiam de seus preconceitos, esperando beijá-las eu macio sobre as manias, os seios e os advérbios mais insinuantes. Alguns poucos advérbios, castos, embora os demais desprovidos de desejos e desfeitos de pretensões ou motivos, mas imperturbáveis, se alinharam tangencialmente. Alimentava a plenitude interrogativa de minha esquizofrenia em dó bemol por onde as andorinhas chilreavam acomodadas nos arbustos vizinhos e, assustadas, escondiam-se nos ninhos introjetados. Natureza e ódio; por ser medíocre, ocorreu-me cinicamente conferir as premonições. Neste quadro, as incertezas incrédulas se tornaram minhas únicas afinidades. Imaginei, caso fosse sacerdotisa, deificado ou mágico, transformaria estes detalhes miúdos do real e ou do imaginário em além e pediria uma dose dupla de uísque sem gelo, se restasse algo a expor a alguém complacente e atencioso. Em vão, a maioria me evitava disfarçadamente, outros mortos, os demais abscondidos.
Por ser assim e não em quarto crescente, escutei claramente as calçadas envergonhadas, irregulares, gemerem suaves como se parissem suas tristezas renitentes e precauções imprecisas. Não caberia contraditório; pois, já engravidadas, as calçadas paririam com ou sem avisos antecipados os melhores fetos sangrentos das misérias estraçalhadas pelos mendigos abandonados durante o dia, o tempo e o inferno. Amém. O sino acordou e se pôs de infinitivo como se isto fosse fundamental para encolher o sofrimento. Confundi meu egocentrismo com o chafariz que coçava o arrependimento copiosamente com suas lágrimas borbulhantes. Coisas do ateísmo pagão ou da divina comédia? Em aleluia imperdoável e respeito, deixei-me postar quieto, inconformado e sem resposta. Intuí que sequer seria o dia do perdão, tanto que a pastelaria do China estava sendo lavada naquela única madrugada da semana e os detalhes jogados no meio do desespero, pois a rua não os tolerava mais.
Se bem me lembro, agora, caso não fosse pleno outono, a lua não estaria tão lindamente menstruada e indiferente. Por trás me seguiam mal cheirosos os pedaços indefinidos de futuros sem suas afagadas eiras, imprevistos, beiras ou amargos, até onde imaginava eu e, se diga com fervor, pois sequer restara um tom de embora ou talvez como se fosse viável naquela entropia. Perduraria, com certeza, somente carregar o desdito futuro imbuído de mediocridade, tanto como o passado regurgitava para atingi-lo. Puxei o cachecol surrado para agasalhar a angústia e me dei a relembrar os tempos em que minha mãe me aleitava em seu ventre aconchegante, reconfortei-me na melancolia e sorri carinhoso para os sinos cadenciados da catedral que, como todos os idiotas, não saberiam das razões, das crenças e nem porque obedeciam as ordens impertinentes do tempo que não repousava jamais. Bares fechados, inclusive o bilhar do Punga Canalha, aonde os jogadores, os bêbados e as mágoas, acariciadas pelas putas poucas, conversavam despautérios e se retardavam amolengados pelas imundices e falcatruas. Esperavam o nada entrar pela porta da frente, antes que as garrafas vazias subissem pelas teias de aranha para rezarem um padre-nosso em louvor à demência. Os ratos penitentes nem se alvoroçavam, pois deus não os reconheceria jamais.
Dos sonhos açodados, espatifei meus delírios inconformados entre o futuro e um sorriso bonito da moça que fazia sinal para o ônibus barulhento parar. Não sabia se ela estaria pedindo socorro, companhia, proteção ou se refletiriam medo os olhos capturados pela sua solidão. Entre a dúvida e a tristeza, perguntei ao silêncio se seriam exatamente as mesmas mariposas do ultimo verão que brincavam embevecidas em torno da lâmpada indiferente e modesta. Não me arroguei nem por redondilhas ou impávidas métricas, rebuscadas, por se fazerem intransigentes, como é típico nos períodos em que a única companheira, a imaginação, resta petulante e atrevida. Apesar de tudo, a senhorinha antes de se transmudar em angústia pelo ônibus gatuno, sem sequer olhar-me como ansiei muito, sumiu pela viela sem fim, deixando-me penitente sobre as fantasias, o calçamento e a incerteza. Não haveria tempo para me reconfortar, pois do inesperado surgiu na esquina, obeso e pragmático, embora bem ajambrado e sórdido, mais um nada frustrado. O nada sempre desperta estas apreensões.
Nisto uma euforia veio, maneirosa, me abordar tanto como se contrapondo ao complexo de inferioridade que, a bem da verdade se diga, mal solfejava seus restos de desejos miúdos que preferem florir sem sorrisos, mas camuflados. Coisas atribuídas às escalas dodecafônicas ainda em formação, embora impregnadas com suficiente fidalguia e provérbio durante a metamorfose quando está esta no cio a espera da defloração jubilosa dos espíritos intolerantes e mal intencionados. Poderia ser um ponto perdido na paranoia se não fosse, com certeza, véspera de aleluia e, portanto, os pássaros não se alegrassem em colcheias pelos extremos persecutórios da transcendência. Tudo isto não me cativou, pois, inclusive, sem dúvida, estaria em sustenido ou em alfa, tanto que o medo assumiu o verbo e latiu.
Recontei e conferi as parcelas, sem dúvida eram sete, número cabalístico das notas do concerto eterno com que o senhor rege o infinito para emprenhar o nada caótico e indeterminar o cosmos, mas, por desespero e depois por vingança, inventou o homem para ensiná-lo a pecar, mentir, rezar e poder, após, castigá-lo com justiça.
Isamael de Urupeia - Capítulo indefinido e outras outorgas.
* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos.
Publicado em http://carloseduardoflorence.blogspot.com/2019/10/ensaios-comedimentos-e-outras-torpezas.html
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Não saberia até aonde poderia contar com as circunstâncias prenunciadas pelos astros que me espionavam em desalinhos zodiacais ou mal intencionados, mas, com certeza, como sempre insatisfeitos, naquela madrugada de vento frio e ruelas tortas e vazias. As paredes centenárias se despiam de seus preconceitos, esperando beijá-las eu macio sobre as manias, os seios e os advérbios mais insinuantes. Alguns poucos advérbios, castos, embora os demais desprovidos de desejos e desfeitos de pretensões ou motivos, mas imperturbáveis, se alinharam tangencialmente. Alimentava a plenitude interrogativa de minha esquizofrenia em dó bemol por onde as andorinhas chilreavam acomodadas nos arbustos vizinhos e, assustadas, escondiam-se nos ninhos introjetados. Natureza e ódio; por ser medíocre, ocorreu-me cinicamente conferir as premonições. Neste quadro, as incertezas incrédulas se tornaram minhas únicas afinidades. Imaginei, caso fosse sacerdotisa, deificado ou mágico, transformaria estes detalhes miúdos do real e ou do imaginário em além e pediria uma dose dupla de uísque sem gelo, se restasse algo a expor a alguém complacente e atencioso. Em vão, a maioria me evitava disfarçadamente, outros mortos, os demais abscondidos.
Por ser assim e não em quarto crescente, escutei claramente as calçadas envergonhadas, irregulares, gemerem suaves como se parissem suas tristezas renitentes e precauções imprecisas. Não caberia contraditório; pois, já engravidadas, as calçadas paririam com ou sem avisos antecipados os melhores fetos sangrentos das misérias estraçalhadas pelos mendigos abandonados durante o dia, o tempo e o inferno. Amém. O sino acordou e se pôs de infinitivo como se isto fosse fundamental para encolher o sofrimento. Confundi meu egocentrismo com o chafariz que coçava o arrependimento copiosamente com suas lágrimas borbulhantes. Coisas do ateísmo pagão ou da divina comédia? Em aleluia imperdoável e respeito, deixei-me postar quieto, inconformado e sem resposta. Intuí que sequer seria o dia do perdão, tanto que a pastelaria do China estava sendo lavada naquela única madrugada da semana e os detalhes jogados no meio do desespero, pois a rua não os tolerava mais.
Se bem me lembro, agora, caso não fosse pleno outono, a lua não estaria tão lindamente menstruada e indiferente. Por trás me seguiam mal cheirosos os pedaços indefinidos de futuros sem suas afagadas eiras, imprevistos, beiras ou amargos, até onde imaginava eu e, se diga com fervor, pois sequer restara um tom de embora ou talvez como se fosse viável naquela entropia. Perduraria, com certeza, somente carregar o desdito futuro imbuído de mediocridade, tanto como o passado regurgitava para atingi-lo. Puxei o cachecol surrado para agasalhar a angústia e me dei a relembrar os tempos em que minha mãe me aleitava em seu ventre aconchegante, reconfortei-me na melancolia e sorri carinhoso para os sinos cadenciados da catedral que, como todos os idiotas, não saberiam das razões, das crenças e nem porque obedeciam as ordens impertinentes do tempo que não repousava jamais. Bares fechados, inclusive o bilhar do Punga Canalha, aonde os jogadores, os bêbados e as mágoas, acariciadas pelas putas poucas, conversavam despautérios e se retardavam amolengados pelas imundices e falcatruas. Esperavam o nada entrar pela porta da frente, antes que as garrafas vazias subissem pelas teias de aranha para rezarem um padre-nosso em louvor à demência. Os ratos penitentes nem se alvoroçavam, pois deus não os reconheceria jamais.
Dos sonhos açodados, espatifei meus delírios inconformados entre o futuro e um sorriso bonito da moça que fazia sinal para o ônibus barulhento parar. Não sabia se ela estaria pedindo socorro, companhia, proteção ou se refletiriam medo os olhos capturados pela sua solidão. Entre a dúvida e a tristeza, perguntei ao silêncio se seriam exatamente as mesmas mariposas do ultimo verão que brincavam embevecidas em torno da lâmpada indiferente e modesta. Não me arroguei nem por redondilhas ou impávidas métricas, rebuscadas, por se fazerem intransigentes, como é típico nos períodos em que a única companheira, a imaginação, resta petulante e atrevida. Apesar de tudo, a senhorinha antes de se transmudar em angústia pelo ônibus gatuno, sem sequer olhar-me como ansiei muito, sumiu pela viela sem fim, deixando-me penitente sobre as fantasias, o calçamento e a incerteza. Não haveria tempo para me reconfortar, pois do inesperado surgiu na esquina, obeso e pragmático, embora bem ajambrado e sórdido, mais um nada frustrado. O nada sempre desperta estas apreensões.
Nisto uma euforia veio, maneirosa, me abordar tanto como se contrapondo ao complexo de inferioridade que, a bem da verdade se diga, mal solfejava seus restos de desejos miúdos que preferem florir sem sorrisos, mas camuflados. Coisas atribuídas às escalas dodecafônicas ainda em formação, embora impregnadas com suficiente fidalguia e provérbio durante a metamorfose quando está esta no cio a espera da defloração jubilosa dos espíritos intolerantes e mal intencionados. Poderia ser um ponto perdido na paranoia se não fosse, com certeza, véspera de aleluia e, portanto, os pássaros não se alegrassem em colcheias pelos extremos persecutórios da transcendência. Tudo isto não me cativou, pois, inclusive, sem dúvida, estaria em sustenido ou em alfa, tanto que o medo assumiu o verbo e latiu.
Recontei e conferi as parcelas, sem dúvida eram sete, número cabalístico das notas do concerto eterno com que o senhor rege o infinito para emprenhar o nada caótico e indeterminar o cosmos, mas, por desespero e depois por vingança, inventou o homem para ensiná-lo a pecar, mentir, rezar e poder, após, castigá-lo com justiça.
Isamael de Urupeia - Capítulo indefinido e outras outorgas.
* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos.
Publicado em http://carloseduardoflorence.blogspot.com/2019/10/ensaios-comedimentos-e-outras-torpezas.html
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domingo, 27 de outubro de 2019
O “fala que eu solto, cale e apodreça”, chegou ao Supremo
Fernando Brito *
A “negociação” entabulada com o Ministro Teori Zavascki e a organização formada por Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato para obter um acordo de delação premiada de executivos da empreiteira Andrade Gutierrez – mostrado pela Folha, a partir das trocas de mensagens obtidas pelo The Intercept – evidencia dois fatos aterradores.
O primeiro, de efeitos processuais evidentes, que a escancarada participação militante do juiz na condução do processo acusatório, capaz por si só de dar nulidade – segundo claramente expresso na nossa lei penal – é um mal que não ficou restrito ao justiceiro de Curitiba, mas escalou até os gabinetes do Supremo Tribunal Federal e atingiu até o mais sagrado dos instrumentos da prudência judicial: o habeas corpus, quase um sinônimo do Estado de Direito.
As “falas” de Sérgio Moro, tratando as prisões como moeda de troca de delação, são a crua expressão de que seu comportamento era o da “ética da finalidade”, o popular “o fim justifica os meios”.
O segundo, de alcance ainda maior, o de que o sistema de prêmios e castigos da chamada “delação premiada” é, em si, um corruptor da Justiça, que transforma o seu papel no de corte inquisitorial, onde declarar o que é o desejo do inquisidor passa a ser condição para que o acusado saia da masmorra, ainda que a lei não justifique mantê-lo lá.
Não é preciso ser jurista para ver ao que leva dar-se a qualquer um – de investigador de Polícia a ministro do Supremo – o poder de dizer: “entrega que eu te solto, não fale e apodreça aí”.
Literalmente, pois as prisões que os habeas corpus engavetados por Teori Zavascki – com a condição de, “por fora”, Sérgio Moro afrouxar a cadeia já de cinco meses em que os acusados eram mantidos – significa que se barganhou liberdade de pessoas pela promessa de que delatariam aquilo que era desejo do Ministério Público.
Falar que a delação, como prevê a lei, é um ato voluntário, não merece outro nome senão o de brincadeira lúgubre com o Direito.
Pretender, com o abuso dos meios legais de coação, um fast-track, uma via rápida de acusação criminal – é o caminho seguro para transformar a persecução penal em selvageria.
Se é válido até para fazer um ministro da Corte Suprema deixar de cumprir sua obrigação funcional de apreciar e julgar um HC, o mais sagrado instrumento de defesa das garantias individuais, como não será válido ao policial “dar umas porradas” num acusado, para que ele delate seus companheiros de crime, para salvar a própria pele?
Afinal, qual é a diferença entre um juiz que “engaveta” para fazer delatar e o monstro que foi exibido dias destes na rede, num curso de preparação para policiais, que faz apologia da tortura como meio de delação?
* o autor é jornalista, editor do blog Tijolaço. Publicado em http://www.tijolaco.net/blog/o-fala-que-eu-solto-cale-e-apodreca-chegou-ao-supremo/
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A “negociação” entabulada com o Ministro Teori Zavascki e a organização formada por Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato para obter um acordo de delação premiada de executivos da empreiteira Andrade Gutierrez – mostrado pela Folha, a partir das trocas de mensagens obtidas pelo The Intercept – evidencia dois fatos aterradores.
O primeiro, de efeitos processuais evidentes, que a escancarada participação militante do juiz na condução do processo acusatório, capaz por si só de dar nulidade – segundo claramente expresso na nossa lei penal – é um mal que não ficou restrito ao justiceiro de Curitiba, mas escalou até os gabinetes do Supremo Tribunal Federal e atingiu até o mais sagrado dos instrumentos da prudência judicial: o habeas corpus, quase um sinônimo do Estado de Direito.
As “falas” de Sérgio Moro, tratando as prisões como moeda de troca de delação, são a crua expressão de que seu comportamento era o da “ética da finalidade”, o popular “o fim justifica os meios”.
O segundo, de alcance ainda maior, o de que o sistema de prêmios e castigos da chamada “delação premiada” é, em si, um corruptor da Justiça, que transforma o seu papel no de corte inquisitorial, onde declarar o que é o desejo do inquisidor passa a ser condição para que o acusado saia da masmorra, ainda que a lei não justifique mantê-lo lá.
Não é preciso ser jurista para ver ao que leva dar-se a qualquer um – de investigador de Polícia a ministro do Supremo – o poder de dizer: “entrega que eu te solto, não fale e apodreça aí”.
Literalmente, pois as prisões que os habeas corpus engavetados por Teori Zavascki – com a condição de, “por fora”, Sérgio Moro afrouxar a cadeia já de cinco meses em que os acusados eram mantidos – significa que se barganhou liberdade de pessoas pela promessa de que delatariam aquilo que era desejo do Ministério Público.
Falar que a delação, como prevê a lei, é um ato voluntário, não merece outro nome senão o de brincadeira lúgubre com o Direito.
Pretender, com o abuso dos meios legais de coação, um fast-track, uma via rápida de acusação criminal – é o caminho seguro para transformar a persecução penal em selvageria.
Se é válido até para fazer um ministro da Corte Suprema deixar de cumprir sua obrigação funcional de apreciar e julgar um HC, o mais sagrado instrumento de defesa das garantias individuais, como não será válido ao policial “dar umas porradas” num acusado, para que ele delate seus companheiros de crime, para salvar a própria pele?
Afinal, qual é a diferença entre um juiz que “engaveta” para fazer delatar e o monstro que foi exibido dias destes na rede, num curso de preparação para policiais, que faz apologia da tortura como meio de delação?
* o autor é jornalista, editor do blog Tijolaço. Publicado em http://www.tijolaco.net/blog/o-fala-que-eu-solto-cale-e-apodreca-chegou-ao-supremo/
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sábado, 26 de outubro de 2019
Fruta é saúde e sabor
Richard Jakubaszko
Fico espantado de saber que há pessoas que não dão a minha importância para frutas. Eu consumo quase todas, exceto alguns tipos de bananas (da Terra, Nanica) às quais tenho alguma inexplicável alergia.
Abaixo mostro alguns exemplos de virtudes e benefícios do uso de algumas frutas e vegetais, bem como características de seu consumo.
É relevante destacar que todos os alimentos possuem características próprias no que se refere a nutrientes, importantes para eles enquanto vegetais produzidos com a ajuda de fertilizantes, e para nós consumidores, sendo, portanto, levianas as acusações de gente que critica o uso de fertilizantes.
Fico espantado de saber que há pessoas que não dão a minha importância para frutas. Eu consumo quase todas, exceto alguns tipos de bananas (da Terra, Nanica) às quais tenho alguma inexplicável alergia.
Abaixo mostro alguns exemplos de virtudes e benefícios do uso de algumas frutas e vegetais, bem como características de seu consumo.
É relevante destacar que todos os alimentos possuem características próprias no que se refere a nutrientes, importantes para eles enquanto vegetais produzidos com a ajuda de fertilizantes, e para nós consumidores, sendo, portanto, levianas as acusações de gente que critica o uso de fertilizantes.
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
Torcedor de prestígio...
Richard Jakubaszko
Bolsonaro leva penta na Libertadores. O cara não acerta uma...
Será que ele é bolivariano?
Não, ele tá num país capitalista neste momento...
Enquanto o Brasil se banha em óleo nas praias...
E o mito não come sushi...
O Maracanã festeja, em noite de gala...
E então, cadê o Queiroz? O laranja tá ativo no jogo, tá trabalhando pra ganhar uma uva em rachadinhas, nem vai precisar se aposentar...
Bolsonaro leva penta na Libertadores. O cara não acerta uma...
Será que ele é bolivariano?
Não, ele tá num país capitalista neste momento...
Enquanto o Brasil se banha em óleo nas praias...
E o mito não come sushi...
O Maracanã festeja, em noite de gala...
E então, cadê o Queiroz? O laranja tá ativo no jogo, tá trabalhando pra ganhar uma uva em rachadinhas, nem vai precisar se aposentar...
terça-feira, 22 de outubro de 2019
Laerte, em charge, pinta Bolsonaro em óleo sobre areia
Richard Jakubaszko
Genial a charge de Laerte Coutinho abordando as manchas de óleo nas praias nordestinas, e o governo federal omisso no problema. Mas o povo faz a sua parte, retira o óleo e aquilo que a figura representa...
Me permiti, Laerte, com a devida vênia, de dar nome ao seu quadro: Bolsonaro em óleo sobre areia, pois é uma obra de arte.
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Genial a charge de Laerte Coutinho abordando as manchas de óleo nas praias nordestinas, e o governo federal omisso no problema. Mas o povo faz a sua parte, retira o óleo e aquilo que a figura representa...
Me permiti, Laerte, com a devida vênia, de dar nome ao seu quadro: Bolsonaro em óleo sobre areia, pois é uma obra de arte.
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segunda-feira, 21 de outubro de 2019
Petróleo é da Venezuela ou da Shell?
Richard Jakubaszko
Polêmica na mídia parece ser mais importante do que a poluição provocada pelo petróleo derramado no mar e que chegou às areias nordestinas. Acusações são feitas à Venezuela e à Shell, e as imbecilidades ideológicas estão presentes no debate, independentemente de se discutir quem deve fazer a limpeza nas praias.
O cartunista Miguel Paiva fez a oportuna charge abaixo, inteligente, criativa, pertinente e sensível.
Polêmica na mídia parece ser mais importante do que a poluição provocada pelo petróleo derramado no mar e que chegou às areias nordestinas. Acusações são feitas à Venezuela e à Shell, e as imbecilidades ideológicas estão presentes no debate, independentemente de se discutir quem deve fazer a limpeza nas praias.
O cartunista Miguel Paiva fez a oportuna charge abaixo, inteligente, criativa, pertinente e sensível.
domingo, 20 de outubro de 2019
Em Roma, professor Molion palestra sobre o clima no Sínodo da Amazônia
Richard Jakubaszko
O professor Luiz Carlos Molion proferiu palestra no Vaticano, em Roma, para alguns dos membros do Sínodo da Amazônia. A palestra é mostrada no vídeo abaixo.
O professor Molion é coautor do livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?", de minha autoria, e que conta também com diversos cientistas como coautores, entre eles o físico José Carlos Parentes de Oliveira, Geraldo Luis Lino, Ricardo Felício, Evaristo de Miranda, Fernando Penteado Cardoso, entre outros, e também Odo Primavesi e Richard Lindzen, estes dois últimos signatários do Relatório IV do IPCC, de 2007, mas que pediram a retirada de seus nomes como revisores, por não concordarem com o relatório final apresentado à ONU e à imprensa.
A mídia internacional abraçou a ideia de desgraça planetária expressa no referido Relatório IV e até hoje repercute as falácias de alguns dos membros do IPCC, o que gerou essa neurose planetária em torno do clima, questões que são debatidas no livro citado.
Quem desejar ler a obra envie e-mail para co2clima@gmail.com que daremos instruções para pagamento.
O professor Luiz Carlos Molion proferiu palestra no Vaticano, em Roma, para alguns dos membros do Sínodo da Amazônia. A palestra é mostrada no vídeo abaixo.
O professor Molion é coautor do livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?", de minha autoria, e que conta também com diversos cientistas como coautores, entre eles o físico José Carlos Parentes de Oliveira, Geraldo Luis Lino, Ricardo Felício, Evaristo de Miranda, Fernando Penteado Cardoso, entre outros, e também Odo Primavesi e Richard Lindzen, estes dois últimos signatários do Relatório IV do IPCC, de 2007, mas que pediram a retirada de seus nomes como revisores, por não concordarem com o relatório final apresentado à ONU e à imprensa.
A mídia internacional abraçou a ideia de desgraça planetária expressa no referido Relatório IV e até hoje repercute as falácias de alguns dos membros do IPCC, o que gerou essa neurose planetária em torno do clima, questões que são debatidas no livro citado.
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