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quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
A gente nasce e vive sem Manual de Instruções
A verdade nua e crua é essa, nós humanos não temos um Manual de instruções para a vida. Vamos aos tropeços, caímos e levantamos o tempo todo. Por vezes uma queda nos estropia inteiro, física e espiritualmente, e levamos mais tempo para levantar, mas recuperamos e vamos em frente, porque o show da vida tem de continuar.
Dias atrás resolvi reler histórias infantis do Monteiro Lobato, livros onde aprendi as primeiras letras (e números, astronomia etc.). Comecei pela maravilhosa história “Viagem ao céu”. A leitura atual, é evidente, tem outro nível de percepção comparado ao tempo em que li esse livro na infância, e também numa releitura feita já na juventude. Mas a magia do texto de Lobato nos envolve como leitores, criatividade e simplicidade são as tônicas principais, e o inigualável poder de síntese daquele excepcional contador de histórias nos leva a “surfar” pela infinitude do universo, no linguajar próprio de Emília, de longe a personagem que mais me atrai e com a qual mais me identifico entre todas as outras de Lobato, por seu inconformismo e pela autenticidade. As maiores “tiradas” do genial escritor são dedicadas a essa personagem o que me leva a acreditar que também ele tinha essa preferência, mas isso são segredos de escritores.
Em poucas horas devorei “Viagem ao céu”, e iniciei “O saci”.
Nessa história Pedrinho e o Saci mantêm conversa na madrugada de uma floresta escura e amedrontadora, onde povoam a mula sem cabeça, o Curupira, o Boitatá, a Iara, e outros. O Saci conta para Pedrinho que os sacis não lêem livros, pois já nascem sabendo de tudo o que precisam, da mesma forma que todos os animais e seres vivos da floresta. No meio do texto o Saci questiona: “quem é que disse que o mosquito logo ao nascer deve se alimentar do sangue das pessoas, preferencialmente dos que estão dormindo, e depois deve ir colocar seus ovos para que nasçam mais mosquitos?” O Saci mesmo conclui: “ninguém. O mosquito já nasce sabendo tudo o que tem de fazer, sem precisar ler livros, ao contrário de vocês humanos, que precisam ler muitos livros para aprender algumas poucas coisas”. Talvez daí tenha sido criado o aforismo de Lobato, de que “um país se faz com homens e livros”.
Mas o Brasil, desde muito tempo, se mostra um país oral, na cultura e na transmissão das experiências. O fato concreto, e ao mesmo tempo mais curioso de toda a introdução dessa crônica, é a moral que se conclui: aprendemos mais do zero aos sete do que dos sete aos setenta. Já durante a juventude esquece-se das duas coisas mais importantes aprendidas na infância, a percepção e a sensibilidade. Cada um põe lá no seu Manual próprio o que acha importante. Isto no plano individual.
No coletivo os humanos sequer aprendem com os erros da história, ou com os erros de outros humanos, e por conta disso repetem-se os mesmos erros. Os adultos preocupam-se pelas leis de seus manuais, mais com o que os outros pensam e fazem ou deixam de fazer.
Particularmente, cá do meu Manual, acho que o mundo seria bem melhor se todos dedicassem um tempo para aprender sobre o conteúdo ideal que um Manual de instruções dos humanos deveria ter, e a cuidar do próprio rabo, o mundo seria bem melhor. A vida em si é muito complicada, diferente em cada um, e essa individualidade e diversidade humana já bilionária do planeta hoje talvez seja a explicação para as razões do Criador não nos fornecer o tal Manual de instruções.
Ficamos na dúvida sobre a existência ou não do determinismo e do livre arbítrio, ou as duas coisas. Dou créditos a Drummond: "Se procurar bem, você acaba encontrando não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida".
Você tem um Manual?
O que você escreveria no seu Manual de instruções se tivesse de escrever um? Reavaliei meu Manual de instruções, retirei dele praticamente todas as questões particulares, e estou colocando exclusivamente um objetivo, que é de caráter coletivo: o planeta precisa reduzir o crescimento demográfico, urgente, quase a zero. Sob pena de as crianças que nascem na presente década, ao chegarem aos cinqüenta anos, terem de comer umas às outras para poder sobreviver.
Não, isto não é uma crônica de humor negro, trata-se apenas de uma projeção previsível e real diante da capacidade que o planeta tem de nos alimentar e de nos prover de comida, água, moradia, vestuário e locomoção. O mundo é consumista, em especial habitantes do primeiro mundo, e o planeta já mostra os sinais de esgotamento e finitude, seja no petróleo, em diversos minerais essenciais – carvão em especial – e na flora.
Não é o caso de ficar lembrando o aquecimento, a camada de ozônio, a poluição dos rios e do mar, a extinção de várias espécies animais e vegetais etc., e etc. Já começamos a comer e explorar o colosso amazônico pelas bordas. Somos hoje 6 bilhões e daqui a 35 anos seremos 9 bilhões – consumidores vorazes de todos os recursos disponíveis. Extrapolamos a sugestão divina do “Crescei e multiplicai-vos”. É que mais de 2/3 dos habitantes do planeta não são cristãos, não ouviram e não leram a respeito.
Fala-se pela imprensa, todos os dias, que o Brasil precisa voltar a crescer 5%, ou mais, para gerar mais empregos, um dos dogmas do economês.
A cantilena é de notório caráter político, e raros sabem explicar as razões dessa necessidade. A conta é simples de se fazer: se o crescimento demográfico se dá em 3% ao ano, por hipótese, e se a economia cresce 2,5% ao ano, isto significa dizer que 0,5% da população vai perder o emprego hoje, por conta da crise, e outros 0,5% que estão nascendo hoje não encontrarão trabalho daqui a 15 ou 18 anos.
Ou seja, para garantir o emprego de hoje e o do futuro, a economia precisa crescer, sempre, em ritmo percentual maior do que o do índice demográfico. Foi a partir de cálculos desse tipo que Thomas Malthus estabeleceu a teoria da fome e miséria, prevista por ele para acontecer na passagem dos Séculos XIX e XX. Errou com viés de mais de um século e meio, porque a engenharia agronômica evoluiu e multiplicou muitas vezes a capacidade de plantio e colheita do planeta.
Vejamos que somente o Brasil tem área agricultável a expandir, e está no limite fronteiriço da histeria dos ecologistas – profissionais e amadores – e das bordas da Amazônia. O Brasil possui uma das legislações ambientais mais avançadas do mundo, com órgãos fiscalizadores altamente capacitados. O consumidor de além mar já impõe regras para importar alimentos produzidos de forma politicamente correta.
A hipocrisia do politicamente correto cairá por terra, imediatamente, tão logo comece a faltar alimento. O consumismo tornar-se-á pragmático, e só vai comer quem tiver mais dinheiro. Não será como hoje em dia, que só consome alimento quem tem dinheiro, mesmo que pouco.
Entra em campo neste momento a piada, esta sim de humor negro, de que certo país latino-americano despachou um navio cheio de medicamentos para um pequeno país da África, em guerra, doente e faminto. O navio retornou com os mesmos remédios semanas depois, com o aviso de que seria impossível tomar os remédios, pois nas bulas estava escrito “Tomar após as refeições”.
Portanto, ecologista amigo, cidadão consciente, político responsável, jornalista ambientalista, papagaio ou não, e que me lê nesse momento, analise a possibilidade de incluir no seu Manual de instruções, e nas políticas públicas, alguma coisa sobre “devemos reduzir, ou zerar, urgentemente, o índice demográfico”.
Olha aí a China A China está fazendo a lição de casa, será ultrapassada em população pela Índia daqui uns 10 anos, coisa impensável há 20 anos atrás, mas a gente também deve cuidar do nosso próprio rabo, e começar reduzindo em casa, na vizinhança, no prédio e no condomínio, não vai adiantar nada, dentro em breve, brigar por um planeta sustentável.
Previsível, para breve, o aparecimento de ONGs com campanhas para “prevenir a extinção do homo sapiens”. Talvez seja tarde, o ser humano já terá provado sua insustentável leveza de ser, de estar, de comer, de viver, de beber, de consumir...
Se a personagem Emília estivesse presente nessa discussão, é muito provável que dissesse algo como “Lotação esgotada no planeta”.
5 comentários:
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Respeitando a crença de cada um, eu acredito que nosso Manual de Instruções para a vida é a Bíblia Sagrada. Um livro antigo mas com conselhos e princípios tão sólidos como se fossem escritos hoje. Como o famoso líder Indiano Mahatma Gandhi disse certa vez ao vice-rei britânico Lorde Irwin: “Quando o seu país e o meu se reunirem baseados nos ensinos de Cristo no Sermão do Monte, teremos solucionado os problemas, não só de nossos países, mas do mundo inteiro.”
ResponderExcluirSandro - Santo André, SP
E acrescentando o acima: a Bíblia(TNM) diz o seguinte em 2 Timóteo 3:16-17: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ensinar, para repreender, para endireitar as coisas, para disciplinar em justiça, a fim de que o homem de Deus seja plenamente competente, completamente equipado para toda boa obra.”
ResponderExcluirSandro,
ResponderExcluirnão sei se vc percebeu, mas este post é de 2007. Atualizei este texto e o publiquei no blog da Dilma, coincidentemente, dias atrás, e o blog da Dilma tem uma audiência fantástica (mais de 8 milhões em 2 anos), por isso vejo como interessante vc colocar esses comentários por lá, a título de debate e contribuição, pois são comentários relevantes.
abs
Richard
OLA RICHARD, LI O SACI E ESSE ARTIGO ME FEZ LEMBRAR DO LIVRO CORAÇAO DE VIDRO, DE JOSE MAURO DE VASCONCELOS, QUE LI AOS 8 ANOS, E NOS MOSTRA CLARAMENTE ONDE A VAIDADE E O EGOÍSMO NOS LEVAM AO ESQUECIMENTO DESSE MANUAL DE INSTRUÇOES. SÃO 4 ESTÓRIAS E UMA DELAS É MARCANTE, POIS O MENINO BEM EDUCADO,BONDOSO E INTELIGENTE TORNA-SE AMIGO DE UMA ARVORE E NELA COLOCA TODOS OS SEUS SONHOS E DÚVIDAS EM RELAÇAO AO MUNDO. CONVERSA COM ELA COMO SE FOSSE O UNICO SER HUMANO EM SEU MUNDO ATÉ QUE...O MENINO CRESCE E VAI ESTUDAR NA CIDADE GRANDE E QUANDO RETORNA...QUE PENA, A CATASTROFE !!! PISA O TRONCO DA ARVORE COM SEUS SAPATOS DE COURO, OUTRORA SUA UNICA AMIGA E CONFIDENTE, E ORDENA, IMPIEDOSAMENTE, QUE ARRANQUE A ARVORE DO QUINTAL PARA SE CONSTRUIR UM PRÉDIO. E A ARVOREZINHA, RECONHECENDO O SEU DONO, CHORA AS LÁGRIMAS DE PIEDADE E TENTA MOSTRAR AO JOVEM OS MOMENTOS FELIZES QUE PASSARAM JUNTOS EM SUA INFANCIA. MAS, NADA...O JOVEM, USANDO O SEU LIVRE ARBITRIO NO CAMINHO DO EGOISMO E DA VAIDADE, CORTA A ARVORE AO MEIO E ELA CAI DESFALECIDA...PORTANTO, NAO EXISTE MANUAL DE INSTRUÇAO E ESSE SEU ARTIGO FOI MUITO ASSERTIVO PARA UMA PROFUNDA REFLEXÃO. OBRIGADA, RICHARD.
ResponderExcluirSilvia,
ResponderExcluirnão me lembro desse "Coração de vidro". Lembro, e li, "O meu pé de laranja lima".