Richard Jakubaszko
A pergunta é relevante e oportuna. Isto porque agricultores desunidos estão sempre em dificuldades. Vemos que os sojicultores intensificaram vendas antecipadas da maior parte da produção da safra 2007/08. Em Mato Grosso cerca de 60% da safra foi comprometida com esse tipo de negociação, enquanto em igual período de 2007 as vendas naquele estado representavam 40%, conforme pesquisas do Cepea. Lembramos que na safra anterior os preços eram normais, mas o produtor estava em crise, ainda por causa da defasagem cambial.
Considerando que nesta safra a soja atingiu os maiores preços da história, o sojicultor vendeu para pagar dívidas ou fazer caixa. Entretanto, já havia comprometido parte da colheita antecipadamente, antes de plantar, a valores bem abaixo dos atuais. Em média recebeu entre US$ 6 e US$ 8 o bushel, sendo que hoje o bushel vale US$ 14 na bolsa de Chicago. É o maior preço já registrado na história dessa commodity.
Muitos produtores perderam grandes chances de recuperar perdas anteriores. Na próxima safra muita gente vai antecipar menos vendas. Esta não é uma avaliação, é uma análise histórica do que ocorre, safra após safra.
O mercado para soja é altamente promissor até 2010, os estoques de passagem e as previsões de colheita para esta safra e a próxima safra americana não indicam alterações significativas. A demanda ainda supera a oferta. Vejam o artigo “O que será do agronegócio daqui a alguns anos”, escrito em 15 de agosto último, onde rascunhei a previsão de que tudo isso aconteceria.
Nesta safra o campo não teve prejuízo, mas existe um sentimento de que se poderia ter feito o dobro de dinheiro na mesma safra. O Centro-Oeste em especial tem um passivo gigantesco a quitar, e desde 2004 o produtor não conseguia negociar preços acima de R$ 30 a saca (60 quilos), valor alcançado em junho do ano passado. Hoje o mercado remunera R$ 40 a saca. Em 2005, esse limite estava em R$ 20 a saca.
Apesar de lamentar as perdas nos ganhos alguns produtores concordam com a estratégia de fixar preço no cedo, e garantem que continuarão com o mesmo comportamento. Não devemos chorar sobre o leite derramado, é verdade. Entretanto, como se poderiam corrigir essas distorções?
Simples: organizando-se e unindo-se os agricultores teriam condições de maior segurança para enfrentar o mercado consumidor. Se vende antecipado, se aumenta área de plantio ou reduz. O melhor caminho para isso são as associações de produtores. A soja tem a APROSOJA, com sede em Cuiabá-MT, e talvez pela localização da sede enfrenta resistência para conquistar novos associados em outros estados, principalmente do Sul e Centro-Sul. O milho tem a partir de 2007 a ABRAMILHO, com sede em Brasília, e seu presidente Odacir Klein promete dinamismo e trabalho para congregar os produtores. Todavia, falta “cultura” e tradição entre os produtores rurais brasileiros em se filiar a uma associação.
O curioso, conforme relatam alguns diretores de associações como a APROSOJA, é que os produtores gostam de participar das reuniões, principalmente se a mesma terminar num churrasco, mas são resistentes a pagar uma taxa anual, mesmo que proporcional à sua área de produção. Nem mesmo chegam a perguntar quais os propósitos e objetivos da associação, perguntam antes em quanto custará a filiação.
É importante informar que uma associação abriga especialistas e estes trabalham com dedicação integral. Estarão atentos a tudo o que acontece no mercado internacional, em termos econômicos, sociais e políticos. Com isso podem recomendar, ou não, a venda antecipada, a redução ou aumento da área plantada, e evitar prejuízos ou perdas de lucros como observamos na presente safra. Adicionalmente as associações podem também detectar tendências no mercado consumidor, enfim, nas entressafras planejariam novos usos e conquista de novos mercados. Para isso deve haver dinheiro, investimento do próprio produtor, uma pequena parte de cada um, para que a associação possa investir, de forma organizada e planejada, e beneficiar o próprio produtor, independentemente da região onde planta.
Há uma série de outros aspectos na questão entre cooperativismo ou associativismo. Por exemplo, já não há dúvidas de que o futuro nos obrigará a estabelecer novos paradigmas para a necessária produção de alimentos. Ao mesmo tempo em que as ciências agrárias desenvolvem tecnologias inovadoras para o aumento da produtividade os consumidores exigem a “sustentabilidade” do meio ambiente, os europeus com maior ênfase. As discussões que assistimos pela mídia, sobre as barreiras alfandegárias impostas às nossas exportações de carne bovina, em breve devem atingir grãos, frutas e até mesmo os biocombustíveis. Esses consumidores exigem a “sustentabilidade”, com visão e ótica urbana, é verdade, mas temos de reconhecer que muitos agricultores e pecuaristas brasileiros têm negligenciado as terras de lavoura, devido ao fator abundância. Há que se preservar o nosso maior valor, além da fartura de água e energia solar: o solo fértil desta terra pátria-mãe Brasil.
E quem faz isso? Quem defenderia o produtor rural nos entreveros que irão ocorrer no futuro breve? As cooperativas?
Se o produtor ficar na espera da cooperativa nada obterá, até porque essas não são funções de cooperativas, e elas são centenas, espalhadas Brasil adentro. Do governo menos ainda. As soluções devem sair de dentro dos seus principais interessados, os agricultores. Caso contrário, ano a ano, safra após safra, assistiremos sempre as notícias de perdas dos agricultores, seja pelo mercado, seja pelo clima, seja pela vontade dos compradores.
Este é um hábito e uma mania que o agricultor brasileiro deve repensar, pois a união faz a força. Sozinho o agricultor pode, no máximo, aumentar a produtividade, mas os ganhos obtidos com os investimentos em tecnologia vão parar nas mãos dos consumidores, porque não há união entre os interessados. É assim que vemos o custo da cesta básica para os consumidores urbanos, cada vez mais baixos.
Não é bom parar e pensar nesse assunto?
Caro Richard, a União faz açúcar e a eletro Paulo vende a força. No que tange ao agricultor, ele é chorão por natureza, aja vista estar sempre responsabilizando às intempéries naturais, o comprador atravessador ou final pela sua incompetência no quesito escoamento de safra e venda final de seu produto. Abraços...
ResponderExcluirMarco Antônio
Marco Antônio,
ResponderExcluirme parece que vc não tem a mínima idéia do que seja ser produtor rural e produzir alimentos. Cospe no prato que come, é o que costumo comentar com as pessoas que dizem isso. Primeiro, o produtor rural não é quem faz o preço do que produz e vende. Quem faz isso são os agentes de mercado. Se há uma grande safra, recorde de produção, tudo beleza, o produtor quebra porque o preço cai. É bom naquela safra pro governo e consumidor. Mas o produtor quebra.
Daí surgiu a antiga expressão: "vá plantar batatas!", que não é um desejo amigável, é um ato de "rogar praga" ao infeliz.
Saiba que ser produtor de alimentos é uma atividade de altíssimo risco, ganha até mesmo dos traficantes nesse quesito.
Experimente plantar e volte ao assunto.
Caro Marco, de fato vc precisa de açucar para adoçar suas palavras quando se referir ao produtor rural e de luz para iluminar seus pensamentos para não falar abobrinhas.
ResponderExcluirVc se alimentou hoje? Agradeça ao produtor rural. Esse "chorão" que coloca o pão, o leite, arroz e feijão em sua mesa.
Experimente plantar e volte ao assunto.
Do contrário "vá plantar batatas!"