Processos biológicos repulsivos
Rogério Arioli
Silva *
As relações que existem na cadeia alimentar dos organismos vivos são dignas de observação e estudo, pois além de explicarem a ocorrência dos processos físicos, químicos e biológicos também demonstram situações reais vividas pela política brasileira. Dentro do estudo da ecologia propriamente dita existe um processo conhecido como saprofitismo que explicaria muito bem certas situações costumeiramente vividas por alguns dos atores do teatro político nacional.
A simples análise da raiz da palavra saprófita dá uma idéia do seu significado: sapros: podre; phyton: planta. Tratam-se, portanto, de relações mal cheirosas, causadoras de asco e repulsa. Todavia, fazem parte do cotidiano dos organismos inferiores afeitos a esta prática, que macula instituições e afasta da vida pública aqueles que possuem padrões sanitários mais elevados.
Conceitualmente falando, entende-se por saprófita o organismo que se alimenta da matéria orgânica em decomposição, retirando dela os nutrientes necessários a sua sobrevivência. Esta matéria orgânica pode inclusive originar-se de seres da mesma espécie, o que não raro acontece.
Fatos recentes demonstram como, para garantir sua própria sobrevivência, alguns representantes da espécie necessitam que novos escândalos aconteçam para que suas próprias prevaricações sejam, então, encobertas. A CPI do Cachoeira surgiu para ser usada como moeda de troca no escândalo do mensalão, ou seja, este seria decomposto graças ao crescimento daquela.
Ocorre que nem sempre os eventos acontecem de maneira linear e perfeita, podendo haver algumas “desordens” no sistema, como todo processo natural dependente de condições ambientais favoráveis. No caso em questão, foram tantos os organismos envolvidos no processo saprofítico que um acabou servindo de alimento para o outro e, logo após, virou refeição para um terceiro participante do sórdido banquete.
Guardadas as devidas proporções, é o que se convencionou chamar de relações de dependência extrema, ecologicamente falando, é claro. Exemplos de saprofitismo são abundantes no mundo político, onde escândalos se sucedem numa intensidade tal que fazem a verdadeira cadeia trófica parecer um piquenique de noviças. Diferem, entretanto, de outra relação também comum no mundo politiqueiro conhecida como parasitismo. A diferença básica entre elas refere-se ao resultado para ambas as partes. Normalmente quando ambas recebem benefícios e lucram o que se estabelece é uma relação de parasitismo. Por outro lado, quando apenas uma é beneficiada desencadeia-se então o processo saprofítico, onde criadores e criaturas empenha-se em devorar-se mutuamente, sobrevivendo apenas aquele que melhor adequar-se às adversidades momentâneas.
Eventualmente também poderá ocorrer outro fenômeno biológico conhecido como “autofagia” (auto: eu; fagos: comer) onde o excesso de apetite desencadeará o consumo de células próprias, levando ao perecimento pela gula desmedida. Estes processos também aparecem em outras esferas do poder, como bem classificou o ministro Marco Aurélio Mello quando se referiu aos últimos fatos provenientes do Supremo Tribunal Federal.
Assim como a vida imita a arte, poderia se constatar que a biologia imita a política, tanto no aspecto prático como na sua mais chocante miserabilidade. Afinal tudo se resume a processos químicos e biológicos inter-relacionados, onde recursos são consumidos gerando energia e excrementos. Acontece que normalmente os recursos utilizados são excessivos face à significativa quantidade de subprodutos, a maioria deles sem nenhuma utilização.
De todo modo, à medida que o conhecimento científico evolui, mais fatos poderão ser justificáveis, talvez quando remetidos à ciência biológica, pois que, incompreensíveis ao universo racional. Enquanto isto não acontece é preciso maior dedicação ao estudo da biologia para que talvez assim se obtenha musculatura intelectual de modo a compreender-se como se faz política ao sul do equador.
* O autor é EngºAgrº e produtor
rural no MT
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