Rogério Arioli Silva *
O assédio creditício a que têm sido submetidos os
brasileiros não é desprezível e suscita dúvidas e indagações.
Estará
acontecendo aqui nos trópicos o mesmo processo que levou os norte-americanos
aos altos índices de endividamento e que acabaram mergulhando aquela economia
numa incômoda e duradoura recessão? Não há unanimidade entre os
economistas. Aqueles mais ligados ao
sistema financeiro afirmam que não, porém os mais cautelosos alertam que a luz
amarela já acendeu.
Muitos são os números capazes de comprovar esta ou aquela
teoria e certamente a polêmica seguirá posta. Vamos a eles. Na análise do endividamento em relação ao
PIB, os brasileiros estão, de fato, muito mais tranquilos que os
norte-americanos. Estes já atingem dívidas 200% acima do PIB enquanto aqueles
estão recém chegando aos 50%. Ao observar os dados de comprometimento da renda
a situação muda de figura: 23% da renda do brasileiro estão vinculadas ao
pagamento de dívidas enquanto que, apenas 15% da renda do norte-americano
encontram-se comprometidas.
Importante lembrar que a renda média mensal nos Estados
Unidos é de U$ 4,4 mil enquanto no Brasil de apenas U$ 700,00. Também importa
salientar que o comprometimento da renda, no caso do Brasil, concentra-se mais
nas classes menos abastadas, atingindo 43% na classe C, que hoje representa
mais de 100 milhões de pessoas.
Em relação ao número de famílias com dívidas, houve um
pequeno recuo de 62,5% em agosto de 2011 para 59,8% em agosto deste ano. Como
fato preocupante, sabe-se que o cartão de crédito é a principal fonte de
endividamento das famílias brasileiras, seguido pelos carnês das lojas e, logo
após, pelo financiamento de veículos. Vejam aqui uma das principais diferenças
do endividamento das famílias norte-americanas em relação às brasileiras: lá as
maiores dívidas são relacionadas a imóveis e aqui os bens de consumo duráveis e
veículos são mais presentes.
No caso específico dos cartões de crédito percebe-se que
existe uma bomba relógio armada para estourar no colo dos usuários menos desavisados.
Através da cantilena do “pagamento mínimo”, o futuro
endividado mergulha insanamente num juro explosivo que poderia chegar a 238% ao
ano, mas agora, graças à diminuição das taxas, atinge apenas 122%. Ou seja, é o
inverso da antiga promoção varejista de “pague um e leve dois”. Configura-se,
esta cilada financeira, num verdadeiro “pague dois e leve menos de um”. No caso dos Estados Unidos os juros situam-se
em torno de 2 a 5% ao ano, podendo chegar, a 17% numa situação-limite.
A agressividade da oferta de crédito é tanta que, segundo o
Sistema Financeiro Nacional, a cada segundo são aprovados quinze novos
financiamentos acima de mil reais no país.
Este fato demonstra que havia, de fato, um consumismo represado no
Brasil, resultante dos anos de galopante inflação e baixo poder aquisitivo da
maioria da população. Bastou haver a
estabilização econômica e este poder de consumo latente aflorou de maneira
robusta e irreversível, segundo os mais otimistas. Melhor para as redes
varejistas que viram seus faturamentos seguirem trajetórias ascendentes.
De todo modo, ficam evidentes as diferenças entre o
endividamento dos norte-americanos em relação ao dos brasileiros, mas também
existe um fator que não deve ser negligenciado: a falta de planejamento financeiro.
Neste aspecto, a tomada de decisões brasileira escora-se na assertiva de que a
prestação cabe no salário, na maioria das vezes sem considerar-se os juros e
prazos de pagamentos. E aí se percebe nova armadilha: as lojas ofertando
produtos com o mesmo preço à vista ou em doze parcelas. Esta “pegadinha”
funciona muito bem por aqui, pois a matemática não faz parte da rotina
nacional.
Por fim, importa comentar sobre pesquisa realizada há pouco
tempo onde há evidente correlação positiva entre aqueles que sofrem “stress”
por questões financeiras e o desenvolvimento de problemas de saúde. Importante
que se diga que ficar doente também afeta diretamente o bolso, causando ainda
mais problemas de endividamento, num círculo vicioso temerário e potencialmente
nocivo.
* O autor é Engº Agrº e Produtor Rural no MT
.
Banking institutions are more dangerous to our liberties than standing armies
ResponderExcluirThomas Jefferson