Rogério Arioli Silva *
Quem hoje está nos arredores dos “cinquentinha” lembra que
um dos principais passatempos dos jovens nos sábados à tarde eram as sessões de
cinema. Naquele tempo, geralmente os filmes vespertinos em cartaz eram três,
sendo um do gênero western (“bang- bang”), uma comédia e um de guerra. Filmes
brasileiros eram proibidos para menores, pois era o auge da pornochanchada
gênero que agredia mais pela péssima qualidade do que pela nudez propriamente
dita. O filme que empresta o título a este artigo foi muito marcante e até hoje
é muito comentado por inúmeras razões.
Trata-se da história de um erro militar estratégico e, por
isso catastrófico, ocorrido durante a segunda guerra mundial, onde os aliados
tentaram dominar várias pontes através das linhas alemãs, que já dominavam
grande parte da Europa. A operação conhecida como “Market Garden” aconteceu em
setembro de 1944 e causou mais baixas ao exército aliado do que o próprio
desembarque na Normandia, o conhecido dia “D” (6 de junho de 1944) que marcou o
início da capitulação do exército alemão.
Talvez pelo efeito que um erro estratégico possa ter com
seus desdobramentos muitas vezes irrecuperáveis, este filme me vem à cabeça
sempre que percebo excesso de planejamento e falta de objetividade. Transferir
para questões atuais situações ocorridas no passado de forma alguma se traduz
em saudosismo, muito pelo contrário, demonstram a lucidez e sabedoria de quem
sabe aprender com erros alheios que, não raro, perdem-se na memória.
Através da realidade, colidimos com o futuro, conforme
ensina o filósofo Ortega Y Gasset, porém a compreensão do passado fornece a
amálgama do resultado presente.
Voltando ao referido filme, também composto de um elenco
notável que talvez nunca mais tenha sido reunido na história do cinema moderno,
o realismo oferecido é fantástico, e parece que o espectador também participa
como ator naquele teatro bélico devastador. Aliás, muitas vezes os coadjuvantes
prestam colaboração tão valiosa quanto os atores principais, pois ao
protagonismo secundário nem sempre a crítica consegue atingir, o que acaba
facilitando o desempenho.
A manifestação de governantes falando em planejamento de
ações quando já são decorridos mais da metade de seus mandatos, provoca uma
total descrença nas políticas públicas concebidas para promover o resgate da
leprosa infraestrutura brasileira. Papéis são rabiscados, discursos
empreendidos, bravatas vomitadas, factoides disparados e, todavia, as ações
continuam imersas no imbróglio burocrático em que o país se enredou. Com a
justificativa de melhorar as contas públicas subtrai-se a diminuta capacidade
de investimento das empresas, levando-as a uma situação pré-falimentar que abre
as portas à sonegação.
A sociedade foi escravizada. Trabalha cada vez mais para
perpetuar uma máquina perdulária, irresponsável, contaminada pela corrupção e
pelo desvio que, pela sua ineficiência, promete o paraíso e direciona ao
inferno. De planos e projetos as gavetas
transbordam. Nem sequer fecham mais, pois abertas estão mais acessíveis a novas
e inexequíveis propostas. Enquanto se empreende uma caminhada como num passeio
outonal, observando a paisagem, os concorrentes correm em busca de eficiência e
competitividade. O aparato ambientalista
impede que as obras importantes para a infraestrutura nacional saiam do papel
tornando-se realidade e, consequentemente, beneficiando toda a população. No
centro das decisões estratégicas permite-se, de maneira leniente, uma
ingerência nefasta de quem não tem compromisso com o desenvolvimento do país.
A visão revanchista e demagógica de sacrificar quem acumulou
algum bem em detrimento de quem não o fez, embota as ações no sentido de proporcionar
criação de novas riquezas para todos. Toda vez que alguém sentir vergonha de
ser bem sucedido de maneira honesta é porque algo está errado, pois, jamais a
apologia do sucesso deve ceder lugar a do fracasso.
No filme descrito inicialmente o general alertou ao seu
marechal de campo que talvez aquela ponte estivesse “longe demais” para o
sucesso da operação. Parece que, às vezes, a construção da infraestrutura
necessária ao ganho de competitividade não será alcançada devido às
dificuldades que o país impôs a si mesmo. Assim como na guerra, a estratégia
econômica não deve distanciar-se muito do objetivo final, sob pena de ambas
perecerem.
* O autor é Engº Agrº e
Produtor Rural no MT
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Muito bom, Jakubaszko! Abraços!
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