Eduardo
Fagnani (1)
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Os aplausos são do blogueiro |
Acreditando
nos “princípios, valores e missão” que orientam a redação
deste jornal – onde se lê, por exemplo, “defesa da liberdade de
expressão, independência, espírito crítico, pluralismo e
apartidarismo” –, submeti esta réplica aos crivos da Coordenação
de Artigos e Eventos da Folha de São Paulo. “infelizmente, não
nos será possível publicá-lo, diante da nossa disponibilidade
limitada de espaço”, foi a resposta recebida.
Para
não privar os leitores desta modesta contribuição ao debate
democrático de ideias, num momento crucial em que dois projetos
antagônicos para o país estão em disputa, resolvi publica-lo neste
espaço.
As
fabulações da diretora da Casa das Garças, em seu contorcionismo
para defender a indefensável política econômica e social do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), inicia-se com a
afirmação: “há quem ache que mentira repetida à exaustão
torna-se verdade absoluta”.
De
forma correta, afirma que nos anos 1990, o país fez o Plano Real,
que levou a inflação de “inacreditáveis 900% ao ano para um
dígito”. Mas, essa é apenas uma das faces da verdade. A outra,
omitida, são os abissais custos econômicos e sociais implícitos no
referido programa de estabilização.
Na
época, a opção passiva pelo modelo liberal era justificada pela
convicção de que “There Is no Alternative”. O Estado nacional
foi demolido em consequência das privatizações e do endividamento
crescente. A abertura comercial e a valorização do câmbio
destruíram a indústria e desequilibraram as contas externas. A
saída foi privatizar o patrimônio público e atrair o capital
financeiro especulativo e volátil para acumular reservas cambiais.
Para isso também elevaram os juros básicos da economia para
patamares obscenos (superior a 40% ao ano em alguns momentos),
ampliando o regozijo dos donos da riqueza que detêm os títulos
públicos indexados à taxa Selic.
Os
gastos com juros chegaram a patamares superiores a 8% do PIB (hoje
está em torno de 4,5%) em alguns anos. Para o leitor ter uma ideia
da inviabilidade de qualquer política social, observe-se, por
exemplo, que isso representa quase 10 vezes mais que os gastos
federais realizados pelo governo federal em saneamento ao longo dos
oito anos dos governos de FHC.
Entre
1996 e 2003, a participação do gasto social federal na despesa
total do governo central declinou dez pontos percentuais (de 60 para
50%), enquanto a participação das despesas financeiras cresceu 16
pontos (de 17 para 33%).
A
dívida pública líquida dobrou em oito anos (de 30 para 60% do
PIB). O aumento das despesas com juros motivou elevação da carga
tributária (de 27% para 32% do PIB, entre 1995 e 2002). Sim, a carga
tributária sobe significativamente na gestão FHC e não na gestão
do PT, como se quer fazer crer.
Políticas
econômicas e sociais são faces da mesma moeda. É fabulação
pretender que “nos anos 1990, o Brasil instituiu os programas
sociais que, junto da estabilização macroeconômica, começaram a
tirar milhões de pessoas da miséria”. É verdade que com a
estabilização monetária, entre 1994 e 1995, a pobreza extrema caiu
de 13,6% para 9,3% da população total. Mas o contorcionismo tucano
não informa que a taxa de pobreza permaneceu próximo desse patamar
até 2002. Em 2013 chegou a 3,6%, quase três vezes menor que a
herança da “social democracia” democrata-tucana.
Para
a doutrina neoliberal, a “política social” se restringe aos
programas focalizados nos “pobres”, pois são baratos (0,5% do
PIB) e, portanto, funcionais para o ajuste macroeconômico. A busca
do “bem-estar” social prescinde da geração de emprego,
valorização do salário mínimo e políticas sociais que assegurem
direitos na direção de uma sociedade homogênea.
Adepta
desta visão, a diretora da Casa das Garças não menciona a
destruição de 1,2 milhões de empregos formais entre 1995 e 1999.
Ou ainda que, durante os governos de FHC, a taxa de desemprego subiu
de 8,4 para 12,3%; a participação dos salários no PIB declinou de
35,2 para 31,4%; e a renda domiciliar per capita, a desigualdade
social e o PIB real per capita ficaram estagnados.
Também
não há menção aos retrocessos impostos nos direitos trabalhistas,
sindicais e previdenciários, para citar dois exemplos. Nesse último
caso, para abater os ditos “vagabundos”, o Brasil passou a ser o
campeão mundial no quesito severidade das regras de acesso da
previdência social.
“E
a história de o país ter quebrado três vezes?” Sua leitura é
dissimulada e maledicente. Em 2001, quando a campanha eleitoral
apenas engatinhava, culpa o “efeito Lula” pela quebradeira. Mas
mentira tem perna curta. Basta ver que o chamado “Risco Brasil”
durante os governos FHC foi sempre superior a 523 pontos, atingindo
1248 e 1445 pontos em 1998 e 2001. Em 2003 caiu para 468 e hoje está
em torno de 201. Fica a pergunta: quando um país pede socorro ao
FMI, o que significa? Que navega em céu de brigadeiro ou que
quebrou? O leitor que julgue.
Finalmente,
a autora afirma haver “quem subestime a capacidade de reflexão das
pessoas” e faz “troça da inteligência alheia”. E
sentencia: “o Brasil verdadeiro sabe pensar por si”. Embora não
seja ponto pacífico dentre as lideranças do PSDB, nesse ponto
concordamos. E foi o que fez o Brasil nos últimos anos.
(1)
– Professor do Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do
Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho (CESIT/IE-UNICAMP).
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Richard,
ResponderExcluirvejo que você continua muito ativo no blog e na campanha política. Parabéns pela persistência e coragem, e também pela coerência. Confesso que andava em dúvidas sobre quem votar nestas eleições, e o artigo desse professor da Unicamp, Eduardo Fagnani me convenceu de forma definitiva, vou votar em Dilma. A parcialidade noticiosa que observo nos jornais, especialmente aqui em São Paulo é estarrecedora, e o fato de a Folha de São Paulo negar-se a publicar uma replica comprovou-me o quanto temos sido enganados pela mídia.
Obrigado!
Abraço do amigo Cássio S. Sabadin
A questão de um dado jornal aceitar ou não direito de resposta tem pouco a ver com a questão "de falta de espaço", mas, a ver com os "interesses" do jornal. Por interesses, vamos ser francos e dizer, que se lhes paga para publicar dado tipo de noticia (ou paga para "calar a boca"). Assim, a Folha foi coerente com a política dela de apenas divulgar algo do interesse dela.
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