Luiz Carlos Baldicero Molion *
Comentários aos parágrafos sobre o clima, constantes da encíclica papal “LAUDATO SI”. **
Embora tenha boas intenções, Sua Santidade faz coro com as afirmações dos tecnocratas da ONU e do IPCC, mesmo não os mencionando diretamente no texto. Os parágrafos 23 a 26 tratam do aquecimento global ou, como eufemisticamente chamado atualmente, mudanças climáticas, mas o texto não traz referências científicas que comprovem o que está sendo dito, como ocorre em outros parágrafos. Dos 246 parágrafos que compõem a Encíclica, apenas quatro são dedicados a esse tema.
O texto da Encíclica aborda outros temas ambientais também de forma vaga e/ou simplista, sem os cuidados técnicos e as devidas evidências científicas, e a preocupação da Encíclica, de maneira geral, parece recair mais sobre os seres humanos, particularmente os pobres, do que propriamente sobre o clima e os problemas ambientais. Em primeira análise, esses parágrafos estão repletos de falhas nos aspectos técnicos, com visões limitadas e unilaterais e só repetem o que é dito por alarmistas e está amplamente divulgado na mídia. Existem assuntos complexos que são tratados de maneira simplista. Critica o modelo de desenvolvimento atual, mas ignora o fato do desenvolvimento tecnológico ter trazido grandes benefícios para a humanidade e ter tirado mais de 1 bilhão de seres humanos da miséria nos últimos 20 anos. Mas um dos aspectos bons é que provoca as pessoas a considerarem o estilo atual de vida consumista e a analisarem melhor o seu interior e seu relacionamento com os outros seres humanos.
Seguem os quatro parágrafos correspondentes à tradução do texto para o Português feita por G.M. Ferretti [iniciando com a letra “p”.#] e os comentários após cada um.
Texto p.23 O clima é um bem comum, um bem de todos e para todos. Ao nível global, é um sistema complexo, que tem a ver com muitas condições essenciais para a vida humana. Há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático. Nas últimas décadas, este aquecimento foi acompanhado por uma elevação constante do nível do mar, sendo difícil não o relacionar ainda com o aumento de eventos meteorológicos extremos, embora não se possa atribuir uma causa cientificamente determinada a cada fenômeno particular.
A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam. É verdade que há outros fatores (tais como o vulcanismo, as variações da órbita e do eixo terrestre, o ciclo solar), mas numerosos estudos científicos indicam que a maior parte do aquecimento global das últimas décadas é devida à alta concentração de gases com efeito de estufa (dióxido de carbono, metano, óxidos de nitrogênio, e outros) emitidos, sobretudo, por causa da atividade humana. A sua concentração na atmosfera impede que o calor dos raios solares refletidos pela terra se dilua no espaço. Isto é particularmente agravado pelo modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis, que está no centro do sistema energético mundial. E incidiu também a prática crescente de mudar a utilização do solo, principalmente o desflorestamento para finalidade agrícola.
Comentários: esse parágrafo repete o que é veiculado na mídia, afirmando que 1) “existe um consenso científico que há um aquecimento do sistema climático nas últimas décadas”. Consenso é uma palavra que não existe em Ciência, sendo mais adequada a negociações políticas. Não existem “negociações” em Ciência. O método científico consiste em formular uma hipótese de trabalho, realizar experimentos e observações sobre o objeto da hipótese e analisar os resultados obtidos. Caso esses resultados não confirmem a hipótese, ou se os resultados não puderem ser replicados por outros pesquisadores, a hipótese tem que ser rejeitada. O conhecimento científico atual não está “estabelecido definitivamente”, pois está sujeito a que provem não ser verdadeiro e perder sua validade num futuro próximo.
Porém, não se nega que houve um aquecimento entre 1976-1998, mas foi natural e devido a uma frequência grande de eventos El Niños intensos. Durante os El Niños, o Oceano Pacífico libera grandes quantidades de calor para atmosfera, aquecendo-a globalmente. No El Niño de 1997-1998, o último intenso, a temperatura global foi superior a 0,7°C acima da média, de acordo com os dados do MSU (Microwave Sounding Unit) a bordo de satélites. Após 1998 e até o presente, ou seja, nos últimos 18 anos, a temperatura global tem permanecido estável [Figura 1].
Outra afirmação que 2) “o aquecimento está elevando o nível do mar” não tem comprovação científica. O Planeta Terra tem uma superfície sólida, porém não contínua. Sua superfície é constituída de placas tectônicas e as réguas que medem níveis de mar estão fixadas nessas placas. Se a beirada de uma placa afunda, num processo geofísico lento e secular, a régua afunda em consonância e, relativamente ao local, o nível do mar sobe. O site http://www.psmsl.org mostra que existem regiões em que o nível do mar está diminuindo e, outras, aumentando [Figura 2].
Que o aquecimento 3) “está causando eventos meteorológicos extremos”. Os eventos extremos não têm nada a ver com clima, eles são estados momentâneos da atmosfera e ocorrem com clima global frio e quente. Na Figura 3, mostra-se que a pior enchente que ocorreu em São Paulo foi em 1929. Podem ser citados outros exemplos, como a pior seca do Nordeste ter ocorrido em 1877-1879, a onda de calor no leste do EEUU em 1896, que matou mais de 3 mil pessoas em Nova York, o pior furacão que já entrou nos EEUU e que matou mais de 10 mil pessoas em Galveston, Texas, em 1900, e a pior inundação de Paris, França, em 1910, para mencionar alguns. E ocorreram em épocas em que as emissões humanas eram irrisórias quando comparadas às de hoje.
O aquecimento 4) “é causado pelas atividades humanas emitindo gases de efeito-estufa [GEE]”. Essa afirmação nunca foi comprovada e a Figura 1 é uma prova que a temperatura global está estável nos últimos 18 anos, apesar de a concentração de CO2 ter aumentado em 10% nesse período. Há muitas evidências de ocorrência de períodos quentes no passado com baixas concentrações de CO2. O próprio papel desse gás no efeito-estufa pode ser contestado à luz de argumentos da Física Quântica. A absorção da radiação infravermelha [IV] por uma molécula de CO2 se dá em sua principal banda de vibração/rotação situada em 15 microns. Quando a molécula de CO2 absorve o quantum de IV, ela se excita, vibra e roda, transformando a IV absorvida em energia cinética, que é transferida por meio de choques elásticos para as cerca de 2.600 moléculas de outros gases que compõem a atmosfera [nitrogênio (78%), oxigênio (21%) e argônio (0,9%)=99,9%].
Choques elásticos são 10 mil vezes mais eficientes no decaimento da molécula excitada para seu estado de repouso que emissão de radiação infravermelha pela mesma. Esse processo gera calor, mas como a concentração de CO2 corresponde a 0,04% da atmosfera, o calor gerado pelos choques elásticos é irrisório. Fica claro que quando a molécula do CO2 perde a IV absorvida via outra forma de energia, ela não pode emitir IV e “manter a superfície aquecida”. 5) O texto traz um erro primário, quando afirma que 5) “..a concentração [dos GEE] impede que o calor dos raios solares refletidos pela Terra se dilua no espaço”. Na definição de efeito-estufa encontrada na literatura, é a radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre que seria absorvida pelos GEE e “aprisionada” no sistema climático, e não os raios solares refletidos pela Terra.
7) A “humanidade é chamada a tomar consciência… para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam” . Este é o discurso que políticos, tecnocratas de ONU, o IPCC e os ambientalistas alarmistas fazem. Sua Santidade se preocupa com os pobres, mas se esquece de que atualmente 80% da matriz energética global dependem dos combustíveis fósseis e, para diminuir as emissões de GEE – que seria a solução para reduzir ou limitar o aquecimento em 2ºC, proposta pelos adeptos do aquecimento global antropogênico (AGA) -, se teria que reduzir a geração de energia elétrica, o insumo básico para o bem estar social e o desenvolvimento econômico, e isto afetaria mais os países pobres, subdesenvolvidos, do que os ricos que já desfrutam de um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) muito bom. O texto torna-se contraditório, pois, no parágrafo seguinte (p.24), reconhece que “energia e produção agrícola são recursos essenciais”. Para finalizar, critica, de passagem, o desmatamento [da Amazônia?] para fins agrícolas, linguagem típica de ONGs multinacionais e ambientalistas radicais, cuja intenção é reduzir ou atrapalhar o desenvolvimento de países tropicais que possuem florestas nativas, como o Brasil.
Texto p.24. - Por sua vez, o aquecimento influi sobre o ciclo do carbono. Cria um ciclo vicioso que agrava ainda mais a situação e que incidirá sobre a disponibilidade de recursos essenciais como a água potável, a energia e a produção agrícola das áreas mais quentes e provocará a extinção de parte da biodiversidade do planeta. O derretimento das calotas polares e dos glaciares a grande altitude ameaça com uma libertação, de alto risco, de gás metano, e a decomposição da matéria orgânica congelada poderia acentuar ainda mais a emissão de gás carbônico. Entretanto, a perda das florestas tropicais piora a situação, pois estas ajudam a mitigar a mudança climática. A poluição produzida pelo gás carbônico aumenta a acidez dos oceanos e compromete a cadeia alimentar marinha. Se a tendência atual se mantiver, este século poderá ser testemunha de mudanças climáticas extraordinárias e duma destruição sem precedentes dos ecossistemas, com graves consequências para todos nós. Por exemplo, a subida do nível do mar pode criar situações de extrema gravidade, se se considera que um quarto da população mundial vive à beira-mar ou muito perto dele, e a maior parte das megacidades está situada em áreas costeiras.
Comentários: este parágrafo também contém muitas afirmações sem comprovação e sem referências bibliográficas. O AGA incidirá sobre 1) disponibilidade de recursos essenciais. A história, ao longo dos últimos 12 mil anos [Holoceno], mostra que, toda vez que o clima se aqueceu, choveu mais e foi benéfico para a humanidade. O período mais recente em que isso ocorreu foi entre 1976-1998. No Brasil, nesse período, choveu muito no Sul e Sudeste e as vazões do rio Paraná, por exemplo, atingiram seus valores máximos de um registro de mais de 100 anos e Itaipu bateu recordes de geração de energia. Não precisa ser um especialista em clima para concluir que, se se vive num planeta cuja superfície está coberta com 71% de oceanos, com o aquecimento haverá maior evaporação e maior produção de chuva.
2) O AGA “estaria derretendo as calotas polares…. e ameaça com a libertação, de alto risco, de gás metano…poderia acentuar ainda mais a emissão de CO2 [quis dizer “carbono”?].”. Os dados no site “The Cryosphere Today” [arctic.atmos.uiuc.edu/cryosphere], obtidos por satélites, mostram que a cobertura de gelo no Ártico varia naturalmente e está associada ao transporte de calor pelas correntes marinhas. Na Figura 4, nota-se que o degelo começou a partir de 1995, com o aquecimento do Atlântico Norte, enquanto os adeptos do AGA afirmam que o AGA começou em 1976. Vê-se, ainda, que o degelo atingiu 2,8 milhões de km2 em setembro de 2012 e apenas 1,2 milhões de km2 em 2014, embora a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) afirme que, após 2012, ocorreram os anos mais quentes deste século. Um paradoxo, o Planeta estava mais aquecido em 2014, mas o degelo foi apenas 45% do ocorrido em 2012! Um artigo publicado em (note!) 1922, na revista científica Monthly Weather Review, comenta sobre o derretimento do Ártico naquela época e os resultados da expedição oceanográfica norueguesa, chefiada pelo Dr. Adolf Hoel, que investigou o derretimento. Fazendo sondagens até 3100 m de profundidade, constatou que as águas estavam mais aquecidas [Figura 5].
Os dados de satélite mostram que a cobertura de gelo na Antártica continua a aumentar [Figura. 6]. Metano [CH4] é considerado pelo IPCC como um GEE 21 vezes mais poderoso que o CO2 na absorção de radiação infravermelha [IV], porém o IPCC afirma que sua permanência na atmosfera seja de 12 anos contra 5 a 200 anos do CO2. Sua Santidade crê que haja um grande risco de liberação de CH4 aprisionado nos solos congelados permanentemente [permafrost] do Alaska, Canadá e Sibéria. Não se sabe quanto CH4 está armazenado no permafrost, pois as estimativas variam de 7,5 a 400 bilhões de toneladas de carbono equivalente [GtC]. Shakhova et al [2010] reportaram uma “explosão” de CH4 nos solos da Sibéria e estimaram que 50GtC poderiam ser liberadas num futuro próximo. Dita dessa forma, essa quantia parece que levaria ao fim do mundo, pois é cerca de 10 vezes à existente hoje [3,94GtC] na atmosfera, mas corresponde apenas a 1,7% da quantia atual de CO2. Se ocorresse rapidamente, elevaria concentração de CO2 para 406 ppmv, já que, na atmosfera, o CH4 eventualmente se transforma em CO2. Embora as atividades humanas tenham aumentado as emissões, as medições indicam que a concentração do metano está estável há mais de 20 anos e há muita incerteza quanto às causas de sua variabilidade na atmosfera, seus sumidouros e fontes.
Expedições oceanográficas no Ártico relatam que plumas de bolhas de CH4 são liberadas continuamente, por exemplo, da plataforma submarina do Mar Laptev e que algumas entram na atmosfera. Desconhece-se o fluxo de metano proveniente dos pântanos e várzeas tropicais. A Amazônia, por exemplo, pode ser fonte significativa de metano, quando a área inundada de suas várzeas mais que duplica em extensão durante anos muito chuvosos.
A importância do fenômeno El Niño/La Niña não está bem esclarecida. Por outro lado, sabe-se que bactérias anaeróbias consomem metano, há evidências de que o radical hidroxila [OH–], proveniente da fotodissociação da molécula de água, destrua o CH4, além de parte de esse gás ser precipitada com as chuvas. O aumento de umidade na troposfera, portanto, resulta em maior destruição de CH4. Em adição, existe o questionamento quanto ao papel do CH4, gás 21 vezes mais poderoso que o CO2, no efeito-estufa sob argumentos da Física Quântica [ver p.23, item 4]. Sua principal banda de absorção no IV é em 7,7 microns que é uma banda de vibração/rotação e se superpõe à do vapor d’água, reconhecidamente, o principal gás de efeito-estufa e excelente absorvedor nessa banda. Na atmosfera tropical, há cerca de 20 mil vezes mais vapor d’água que metano [até 40.000 ppmv contra 1,8 ppmv]. A radiação IV nessa banda já é totalmente absorvida pelo vapor d’água. Em consequência, na eventual hipótese de o permafrost derreter e a emissão decorrente aumentar de um fator 10 a concentração de metano, não haverá impacto algum na temperatura global.
3) “… florestas tropicais … ajudam a mitigar a mudança global”. Qual é o mecanismo biofísico que as florestas tropicais utilizam para mitigar mudanças climáticas, de onde saíram tais resultados? Foi comprovado que florestas tropicais são sequestradoras de carbono. Mas, na Amazônia, a maior do mundo, essa absorção é cerca de 1 bilhão de toneladas de carbono por ano [GtC/a], enquanto as fontes naturais emitem 200GtC/a e cerca de 50% dessa emissão é absorvida pelos oceanos.
Outro erro primário: 4) “A poluição produzida pelo gás carbônico aumenta a acidez dos oceanos”. Gás carbônico [CO2] não é poluente, é um gás incolor e não tóxico. O CO2 é o gás da vida, pois, se ele não existisse, não existiriam plantas, animais e os próprios seres humanos.
Além de o papel do CO2 na intensificação do efeito-estufa ser questionável, mais de 1.500 relatórios científicos [ver comentários de Craig Idso em www.co2science.org ] comprovam que o aumento da concentração de CO2 aumenta a produtividade dos cultivos, em média, entre 30%-60% e que as plantas consomem menos água. 5) “… aumenta a acidez dos oceanos…”. Essa afirmação sem observações que a comprovem também faz parte do discurso dos adeptos do AGA. É interessante notar o uso da palavra “acidez”, como se o pH dos oceanos fosse inferior ao pH neutro igual a 7,0. Os oceanos seriam ácidos se seu pH fosse muito inferior a 7,0. Mas, são alcalinos e seu pH, afirma-se, variou de 8,25 da era pré-industrial para 8,14 no presente, ou seja, uma “acidificação” de 0,1 em 200 anos, se é que se podia medir o pH com tal precisão em tempos remotos. A acidez dos oceanos foi proclamada por Richard Feely (PMEL/NOOA) num testemunho dado ao Congresso Americano. Feely tinha omitido em seu gráfico dados existentes anteriores a 1989. [ver http://www.cfact.org/2014/12/22 ]. Mike Wallace, um hidrólogo americano, descobriu a existência de dados desde 1910 no World Data Center (WDC/NOAA) e colocou em dúvida as afirmações de Feely [Figura 7].
Na Figura 8 mostra-se, com medições, a grande variabilidade espacial dos valores do pH marinho. Note que na Ilha Ischia, Itália, encontraram valores variando de 6,699 a 8,129, média 7,881 num intervalo de 30 dias. Em função da alta variabilidade de seus valores, não é possível afirmar que o pH marinho esteja se deslocando para neutralidade. E se estivesse na mesma taxa dos últimos 200 anos, não haveria efeito notável nos organismos marinhos. Existem inúmeros experimentos em laboratório que chegaram a essa conclusão [ver www.co2science.org ]. Vogt et al [2008], por exemplo, submeteram diversos organismos marinhos a concentração de 760 ppmv [2xCO2] e 1150 ppmv [3xCO2] e concluíram que existe uma “surpreendente resiliência” [dos organismos marinhos] a essas variações. Os pesquisadores não esperavam por essa.
O texto conclui que 6) “Se a tendência atual se mantiver, este século poderá ser testemunha de mudanças climáticas extraordinárias e duma destruição sem precedentes dos ecossistemas….”, e ainda que “a subida do nível do mar…um quarto da população vive a beira-mar“. A concentração de CO2 já atingiu a marca de 400 ppmv e não se está vendo acontecer, no clima presente, nada diferente do que já ocorreu no passado, nenhuma grande catástrofe meteorológica. Na realidade, um aumento do nível do mar, que já esteve mais alto no passado sem interferência humana, afetaria 40% da população global [www.un.org ] e cerca de 60% nos EEUU,e não apenas ‘um quarto”. Esse número [1/4], assim como várias afirmações constantes do texto, foi tomado do IPCC e é usado pelo Greenpeace.
Texto p.25. - As mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade. Provavelmente, os impactos mais sérios recairão, nas próximas décadas, sobre os países em vias de desenvolvimento. Muitos pobres vivem em lugares particularmente afetados por fenômenos relacionados com o aquecimento, e os seus meios de subsistência dependem fortemente das reservas naturais e dos chamados serviços do ecossistema como a agricultura, a pesca e os recursos florestais. Não possuem outras disponibilidades econômicas nem outros recursos que lhes permitam adaptar-se aos impactos climáticos ou enfrentar situações catastróficas, e gozam de reduzido acesso a serviços sociais e de proteção.
Por exemplo, as mudanças climáticas dão origem a migrações de animais e vegetais que nem sempre conseguem adaptar-se; e isto, por sua vez, afeta os recursos produtivos dos mais pobres, que são forçados também a emigrar com grande incerteza quanto ao futuro da sua vida e dos seus filhos. É trágico o aumento de emigrantes em fuga da miséria agravada pela degradação ambiental, que, não sendo reconhecidos como refugiados nas convenções internacionais, carregam o peso da sua vida abandonada sem qualquer tutela normativa. Infelizmente, verifica-se uma indiferença geral perante estas tragédias, que estão acontecendo agora mesmo em diferentes partes do mundo. A falta de reações diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda a sociedade civil.
Comentários: Exceto no tocante ao apelo humanitário aos países mais desenvolvidos, para se dar mais atenção aos problemas econômicos e sociais dos países pobres, subdesenvolvidos, este parágrafo também contém afirmações vagas, errôneas e desprovidas do senso comum.
1) ”…os impactos mais sérios recairão sobre os países subdesenvolvidos… Muitos pobres vivem em locais particularmente afetados por fenômenos relacionados ao AGA”. Não existe evidência alguma que haja fenômenos extremos relacionados ao AGA e que esses estejam afetando particularmente os países pobres. Furacões e tornados, por exemplo, sempre afetaram os EEUU e há evidências que sua frequência não tem sido alterada ao longo dos últimos anos. Mas, se a recomendação papal no p.26 – de se desenvolveram políticas públicas para reduzir as emissões de GEE – for seguida, certamente, os custos associados a essa redução vão recair primeiramente sobre os mais pobres, conforme resultados do estudo “Who pays a price on Carbon”, publicado por Corbett A. Grainger e Charles D. Kolstad [ver, por exemplo, www.nber.org/papers/w1523 ].
2) ”...mudanças climáticas dão origem a migrações de animais e vegetais…e, isto, por sua vez, afeta os recursos produtivos dos mais pobres…”. Mudanças climáticas, em especial durante eras glaciais, sempre promoveram migrações, inclusive do próprio Homo sapiens, que se espalhou por todas as partes do Planeta. No Brasil, após o período em que o Pacífico ficou frio [1946-1976], e que culminou com a geada severa de julho de 1975, muitos sulistas emigraram de suas cidades e contribuíram muito para transformar o Centro-Oeste no maior produtor de grãos do mundo. Sua Santidade talvez desconheça o que ocorreu na Europa durante a Pequena Idade do Gelo, em que o resfriamento climático – e não o aquecimento – entre 1350 e 1850, matou mais de 70 milhões de pessoas de fome, associada a pestes e pragas, e provocou grandes rebeliões sociais. E o Santo Padre parece insinuar que os mais pobres devam viver sempre na pobreza, sempre dependente dos recursos naturais primários, da agricultura de subsistência, do extrativismo, caça e pesca e que têm pouca chance, ou nenhuma, de atingirem um IDH mínimo que seja adequado à condição de ser humano.
3) “É trágico o aumento de emigrantes em fuga… [por causa] degradação ambiental”. As emigrações que se registram nos dias de hoje são primeiramente de países da África e do Oriente Médio, não pela degradação ambiental, mas sim por conta de guerras civis ou rebeliões em países governados por ditadores tiranos, guerras provocadas por islâmicos radicais ou, ainda, por conflitos tribais.
Texto p.26. - "Muitos daqueles que detêm mais recursos e poder econômico ou político parecem concentrar-se, sobretudo, em mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas, procurando apenas reduzir alguns impactos negativos de mudanças climáticas. Mas muitos sintomas indicam que tais efeitos poderão ser cada vez piores, se continuarmos com os modelos atuais de produção e consumo. Por isso, tornou-se urgente e imperioso o desenvolvimento de políticas capazes de fazer com que, nos próximos anos, a emissão de dióxido carbônico e outros gases altamente poluentes se reduza drasticamente, por exemplo, substituindo os combustíveis fósseis e desenvolvendo fontes de energia renovável. No mundo, é exíguo o nível de acesso a energias limpas e renováveis. Mas ainda é necessário desenvolver adequadas tecnologias de acumulação. Entretanto, nalguns países, registraram-se avanços que começam a ser significativos, embora estejam longe de atingir uma proporção importante. Houve também alguns investimentos em modalidades de produção e transporte que consomem menos energia exigindo menor quantidade de matérias-primas, bem como em modalidades de construção ou reestruturação de edifícios para se melhorar a sua eficiência energética. Mas estas práticas promissoras estão longe de se tornar onipresentes".
Comentários: O texto novamente adquire o tom político e típico de ambientalistas doutrinados, quando afirma que 1) “muitos… que detêm o poder econômico procuram reduzir impactos negativos de mudanças climáticas.” Quem está escondendo o que? Curiosamente, na semana anterior à publicação da Encíclica, houve uma reunião do G-7, que detêm o poder econômico mundial, em que um dos assuntos tratados foi exatamente as mudanças climáticas e seus impactos.
Ao contrário do que consta no texto, a visão catastrofista do AGA é amplamente divulgada pela mídia, com muito mais ênfase e maior cobertura que a visão contrária. E se houver um resfriamento nas próximas décadas, como prevê, por exemplo, o físico solar russo Habibullo Abdussamatov? O Santo Padre ignora que o clima frio trás muitos mais impactos negativos para a sociedade e que o clima quente, ao longo da história da humanidade, no Holoceno (os últimos 12 mil anos), mostrou-se benéfico para o seu desenvolvimento.
Mesmo atualmente com o “planeta aquecido”, em países desenvolvidos como o Reino Unido [UK], o índice de mortalidade de pessoas com mais de 65 anos nos quatro meses de inverno é muito maior que no restante do anos [ver o site do Office for National Statistics (ONS), http://www.ons.gov.uk ]. Segundo o ONS, no inverno de 1999/00, o excesso foi superior a 40 mil mortes, enquanto, no de 2012/13, foram mais de 30 mil. Em Portugal, o índice médio de mortalidade no inverno foi relativamente maior que o do Reino Unido entre 1988-1997 e a própria Itália não fica fora dessas estatísticas [Figura 9]. A maior parte dos idosos morre por não ter condições de pagar a calefação residencial, devido aos altos custos da energia. Se isso ocorre nesses países, pode se imaginar o que ocorre em países pobres do Leste Europeu, por exemplo.
Mas, o perigo maior está na sentença que se segue, que diz 2) ”…tornou-se urgente e imperioso o desenvolvimento de políticas capazes de fazer com que, nos próximos anos, a emissão de gás carbônico e outros gases altamente poluentes se reduza drasticamente, por exemplo, substituindo os combustíveis fósseis e desenvolvendo fontes de energia renovável...”. Além de ser coerente com o discurso dos tecnocratas da ONU e ambientalistas radicais, a Encíclica incita a adoção de políticas públicas que venham reduzir as emissões. Tal atitude parece ser um aval para que os administradores venham a aumentar ainda mais a carga tributária sobre o uso dos combustíveis fósseis e desperdiçar dinheiro com técnicas de redução de carbono e com o mercado de cotas de emissões [Emissions Trading System (ETS)].
Segundo a União de Bancos Suíços (UBS), um dos maiores banco do mundo, a Comunidade Europeia perdeu US$ 287 bilhões com o ETS. Sua Santidade se redime ao condenar o ETS no p.171, mas persiste no erro ao defender uma governança global para clima e meio ambiente [p.55 e p.175] Reitera-se que quem paga essas contas são os mais pobres [ver comentário do p.25]. Onde está a urgência de se mitigar o aquecimento e quais foram os países pobres que já confirmam terem sofrido catástrofes decorrentes do mesmo? - 3) “é exíguo o nível de acesso a energias limpas e renováveis.”. Nessa frase, o Santo Padre está sugerindo que tecnologias de geração de energias renováveis, ineficientes, com um alto custo por kW de potência instalada e que não deram certo nos países desenvolvidos, como eólica e solar, sejam adotadas por países subdesenvolvidos que, além de não resolver sua matriz energética, nem teriam condições de dar manutenção a tais equipamentos? O restante do parágrafo também é composto de afirmações vagas e desnecessárias.
Em resumo, Sua Santidade não deveria ter se envolvido nesse assunto. Deveria ter seguido as sábias palavras de Cristo aos fariseus e seguidores de Herodes, quando perguntado se deveriam ser pagos impostos aos Romanos: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” [Mateus, 22:21].
* o autor é Físico e doutor em Climatologia, professor aposentado da UFAL – Universidade Federal de Alagoas, e coautor do livro “CO2 – aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?” - https://richardjakubaszko.blogspot.com.br/2015/08/aquecimento-maior-mentira-do-seculo-xxi.html
** Publicado originalmente em FakeClimate: https://fakeclimate.wordpress.com/2015/09/11/replica-seria-e-cientifica-nao-politica-sobre-a-enciclica-papal-por-molion/
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