Fernando Brito *
Como já se tornou tragicamente rotina no Brasil, a semana política, que em outras épocas hibernaria no inverno do recesso de meio de ano, começa ao calor das expectativas da denúncia a ser oferecida pelo Procurador Geral da República contra Michel Temer.
Mesmo que não haja nela o “fato novo” que todos têm como certo, a simples sistematização, num enredo asqueroso, das falcatruas que envolveram o ocupante do Palácio do Planalto no episódio do encontro noturno, seguido da mala de seu “homem de boa índole” Rodrigo Rocha Loures, tem o potencial de chocar o país e enfraquecer ainda mais a situação de quem nunca teve o respeito da Nação e conseguiu evoluir para o nojo quase unânime dos brasileiro.
(Aliás, como se viu semana passada, quiçá do mundo)
Não se espera, por quem é e por todas as trapalhadas que fez desde que surgiu a delação de Joesley Batista, que Temer tenha algum grau eficiente de defesa contra o que vai ser sistematizado (e, talvez, revelado). E, ainda que não venham situações mais picantes, já se sabe que, com o fatiamento da denúncia, como naqueles anúncios picaretas de vendas na TV, “isso não é tudo”.
As condições de Michel Temer para manter-se no governo, embora não sejam nulas – dado o grau de cumplicidade do parlamento brasileiro – excluem completamente a hipótese de que, ficando, não seja em situação de putrefação e no equilíbrio precaríssimo de um mercado financeiro que “finge que não vê” o que se passa enquanto houver a esperança de que, com isso, algum direito se possa tirar dos trabalhadores e mais cortes possam ser feitos nos gastos públicos.
A aliança mídia-polícia-justiça, muito embora esteja devorando alguns de seus patronos políticos, produziu esta obra dantesca de um país onde são bandidos que nos governam, delatores e delatados.
Um estranho Brasil, onde estimula-se o prazer coletivo da destruição da vida política, econômica e social no altar da “moralidade”.
E de um povo perplexo, que ouviu por anos que nossa pobreza e carência vinham da corrupção do Estado e da política e, abolidas (ao menos em parte) estas, ficou mais pobre e carente.
* o autor é jornalista, editor do blog Tjolaço.
Publicado originalmente em http://www.tijolaco.com.br/blog/semana-da-denuncia/
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por participar, aguarde publicação de seu comentário.
Não publico ofensas pessoais e termos pejorativos. Não publico comentários de anônimos.
Registre seu nome na mensagem. Depois de digitar seu comentário clique na flechinha da janela "Comentar como", no "Selecionar perfil' e escolha "nome/URL"; na janela que vai abrir digite seu nome.
Se vc possui blog digite o endereço (link) completo na linha do URL, caso contrário deixe em branco.
Depois, clique em "publicar".
Se tiver gmail escolha "Google", pois o Google vai pedir a sua senha e autenticar o envio.