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domingo, 8 de abril de 2018
A democracia está morta. É preciso providenciar com urgência suas exéquias, antes que os urubus a devorem.
(Do blog, com equipe)
Um caixão de pinho está barato
Custa pouco mais de 500 reais, embora o Campo da Esperança - nunca um nome foi tão apropriado - informe que houve reajuste na tabela e o preço do jazigo de uma gaveta tenha saltado de R$ 638,50 para R$ 668,89 e que a locação de uma capela para velório padrão 1 - o que quer que queira dizer isso - passará a custar R$ 253,34 e não mais R$ 241,83.
Considerando-se a condição física e de saúde da falecida, podem também servir, à moda nordestina e graciliana, apenas alguns sacos - que poderão ser costurados por quem a isso se habilite - desses que se encontram, todas as manhãs, nas caçambas de lixo, desde que não tenham sido furados pelos ratos e pelos pombos que ali comparecem para tomar a sua primeira refeição ao amanhecer.
Ou se pode, quem sabe, fazer uma vaquinha, se alguém se habilitar a comparecer e enfiar a mão no bolso.
Ou lançar na internet uma campanha de financiamento coletivo, dessas de modestíssimo orçamento e prazo mais curto ainda, limitado pela premência do objetivo e das circunstâncias, de não mais de meia hora, por favor.
O importante, da parte de quem com ela conviveu; de quem um dia a defendeu; de quem a ajudou na sua volta; depois da prisão e do exílio, ao Brasil; de quem vibrou a cada passo que ela dava, enquanto crescia, mais uma vez, no coração do povo, depois de pisoteada e conspurcada nos anos de chumbo; de quem tentou avisar, pregando no deserto, que ela iria novamente para o saco, devido à irresponsabilidade golpista e às hesitações, equívocos e à inação estratégica da esquerda, principalmente na internet e no campo da comunicação; é que ela não fique sem enterro, ou jogada em uma vala comum, como indigente, embora, usando certa licença poética, fosse, digamos, mais democrático ou mais justo com tantos que morrem anonimamente, neste país, que seu cadáver fosse apenas desovado, na calada da noite, no meio do mato, nos muitos cemitérios clandestinos que cercam as metrópoles brasileiras.
Usando o Whats App, que é mais barato, é preciso que se comunique ao mundo, e à família, incluídos aqueles primos distantes que por canalhice ou covardia não irão aparecer no enterro, que a Democracia morreu ontem, pouco depois da meia noite, depois de vários atentados e longa perseguição e sabotagem que durou mais de 10 anos, no plenário do Supremo Tribunal Federal, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Não foi por falta de aviso
O julgamento do mensalão, com a importação e adaptação calhorda da Teoria do Domínio do Fato, para dar vida a uma denúncia feita por ladrões apanhados roubando nos Correios, para implementar a transmutação mentirosa de um esquema até então legal de financiamento de campanha no “maior escândalo da História do Brasil” foi o primeiro deles.
As famigeradas Jornadas de Junho, ao estilo Primavera Árabe, imediatamente infiltradas por golpistas e defensores dos assassinatos e torturas da ditadura, e de uma intervenção militar, foram o segundo.
Houve também o Golpe no Paraguai, contra Lugo.
A primeira votação do impeachment de Dilma e a segunda.
O primeiro julgamento de Lula e o segundo.
E agora o terceiro, promovido por um esquema jurídico que aceitou distorcer, de fato, a interpretação de suas leis e a essência da Constituição, para impedir a qualquer custo a candidatura de um cidadão que está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto e a sobrevivência política de sua agremiação partidária.
O republicanismo pueril e a adoção, por um governo de esquerda, de novas leis fascistas, depois de cair no conto do vigário do combate à corrupção, também deveriam ter servido de alerta de que estávamos encampando a arbitrariedade e a hipocrisia e nos encaminhando para um regime cada vez mais nefasto, perigoso e infame.
Na ânsia de acalmar a cadela de Brecht - o monstro insaciável do fascismo - fomos levando, qual Abraão para o holocausto, filho por filho, cedendo, como a Chapeuzinho Vermelho indo para a anunciada e inexorável cena na casa da Vovó, a cada vez que era abordada pelo lobo no caminho.
Sempre acreditando, com uma ingenuidade - ou arrogância, o que não deixa de ser a mesma coisa - digna de piedade, que o caçador e a salvação iriam aparecer depois da próxima curva.
Now Ines is dead.
A partir do Lulaço de ontem - como deverá ficar conhecido na história brasileira - fica decretado e totalmente estabelecido e sancionado pela maioria dos Ministros da Suprema Corte que qualquer cidadão pode ser condenado sem provas a mais de 12 anos de prisão em regime fechado, com base na mera delação de desafetos ou de investigados presos prévia e “provisoriamente” por semanas ou meses.
Pelo testemunho, sem provas tangíveis, de quem a isso foi obrigado pela pressão dos acusadores e a imperiosa motivação de recuperar - ainda que de tornozeleira - sua liberdade.
Que não poderá um cidadão - ou melhor, sua mulher - desistir, no meio do caminho, da compra de um apartamento, que apesar disso ele será considerado - apesar de não ter nenhuma escritura em seu nome - seu proprietário.
Mesmo que esse bem tenha sido publicamente usado e indicado como garantia em negócios, dívidas e contratos, pela construtora que ergueu o empreendimento.
Que bastará, sem fundamento, a confirmação automática de uma injustiça em segunda instância, para que, no lugar de ser corrigida, ela seja reiterada e o cidadão vá para a prisão, inapelavelmente.
Em um país em que há cem milhões de processos em andamento e 40% dos cidadãos que se encontram atrás das grades são presos provisórios, na maioria das vezes sem acesso a qualquer tipo de assistência jurídica.
Fica, ainda, complementar e paralelamente estabelecida, a prevalência de uma tal de “jurisprudência democrática”, a Lei Pilatos, o iudex vulgus.
Bastando para a prisão do cidadão, ainda sem trânsito em julgado, que a turba se junte nas ruas para escolher entre Barrabás ou Cristo.
Fazendo “justiça” na base do coro irracional dos latidos babosos cheios de perdigotos de ódio e hipocrisia.
Para, como nos mais reles linchamentos no início do século passado no sul dos Estados Unidos, prelibar o ruído da quebra do pescoço do “bandido”, procurando, com um pedaço de corda na mão e um brilho sádico e concupiscente nos olhos, a árvore ou o poste em que se dará a execução.
Como certas flores do deserto, que só merecem florescer por curtos períodos, de décadas em décadas, a democracia brasileira está, mais uma vez, morta.
É preciso que algum amigo comunique o fato ao Instituto Médico Legal, para que seu corpo seja recolhido da frente do prédio da Suprema Corte e não comece, com o avanço das horas e da putrefação, a incomodar seus augustos ministros e os ilustres vizinhos do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional.
Aqueles que amam a Pátria e a Liberdade precisam enterrar, sem mais delongas, ilusões e falsas esperanças o seu cadáver.
E tomar vergonha na cara e organizar, rapidamente, em sua memória, com equilíbrio e lucidez, uma frente ampla e democrática, para combater nas urnas os demônios do fascismo, que já começam a sobrevoar, em círculos, como abutres, a Praça dos Três Poderes, atraídos pelo odor da carcaça em decomposição.
* o autor é jornalista, editor do blog www.maurosantayana.com
Publicado em http://www.maurosantayana.com/2018/04/a-democracia-esta-morta-e-preciso.html
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2 comentários:
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Richard,
ResponderExcluirmorreu, ou nasceu??
SDS
Gerson
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-->http://www.oxfordscholarship.com/view/10.1093/acprof:oso/9780190213923.001.0001/acprof-9780190213923
The Struggle for Democracy: Paradoxes of Progress and the Politics of Change
Christopher Meckstroth
Abstract
When political factions compete over the right to act in the “people’s” name, who is to decide? This problem was left unresolved by the great seventeenth- and eighteenth-century theorists of popular sovereignty and their critics, and it is little closer to being solved today. This book defends a new democratic theory that finally provides an answer. It argues that familiar attempts to define democracy in terms of timeless principles or institutions can only fall into paradox when faced with struggles over democratic founding and change. The only solution is to begin instead from the act of democratic judgment, and to consider the conditions that an outcome would have to meet if it were to count as a case of the people deciding what it will mean to govern themselves in a democratic way. The only way to work this out without stacking the deck is then to show, in Socratic fashion, that some parties’ claims to speak for “the people” cannot hold up consistently even on their own terms. The book defends controversial interpretations of Plato, Kant, and Hegel to show how familiar portrayals of each as seeking to ground politics directly in metaphysical foundations obscures an important tradition of radically antifoundational argument in the history of political thought. And then it reworks this sort of argument in a thoroughly democratic direction to defend a historical and Socratic theory of democracy that advances an entirely new approach to contested notions of progress, popular sovereignty, and democratic change.
Keywords: democracy, progress, Kant, Hegel, Socrates, change, popular sovereignty, constitutionalism, founding, people
Bibliographic Information
Print publication date: 2015 Print ISBN-13: 9780190213923
Published to Oxford Scholarship Online: June 2015 DOI:10.1093/acprof:oso/9780190213923.001.0001
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-->https://www.wilsoncenter.org/book/paradoxes-democracy-fragility-continuity-and-change
Paradoxes of Democracy is an essay on the inherent weaknesses and surprising strengths of democratic government by one of the most productive and learned scholars in the social sciences.
Shmuel Eisenstadt opens with observations on divergent theories of democracy and closes with a discussion of mechanisms by which democratic regimes incorporate into their own structures the movements of protest that seem to challenge their existence. In between he courses through the roots of democratic theory in modern culture, the contradictions and tensions prompted by those roots, and some of the historical manifestations of contradiction. Eisenstadt focuses on the most important conditions—especially on different patterns of collective identity—which influence the extent to which democratic regimes are able to incorporate themes of protest and social movements and thus ensure their common survival.
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Gerson,
ResponderExcluirhoje a democracia está morta.
Só o voto pode ressuscitar a democracia. Com Lula, perdendo ou ganhando, a democracia revive. Mas a elite, que não se identifica, mais a mídia e o judiciário não querem ver Lula submetido a esse teste contra seus candidatos, por isso o prenderam.
Lula, agora, é uma ideia. A democracia brasileira, por enquanto, está morta e enclausurada, sem exéquias. Uma vergonha para o Brasil.