Janio de Freitas *
Os tempos vindouros são simples e modestos. Mas, é verdade, dramáticos. Esboçam apenas duas decorrências possíveis das prisões que mostram, afinal, o que é a turma chefiada por Michel Temer. O exposto ainda é pouco, se considerados os outros ramos de atividade, além do Porto de Santos, que mereceram o interesse da facção emedebista de São Paulo (a fluminense, de Cabral, já foi desativada em sua parte principal).
Uma das possibilidades é a permanência de Temer. Mais incapaz e perplexo do que nunca, mais inconfiável do que sempre. Seria levar o prejuízo administrativo e a sem-vergonhice política da sua “presidência” ao nível de catástrofe. É impossível imaginar o que poderia suceder, com o chefe do governo cercado por denúncias, o Congresso esvaziado pelas campanhas de reeleição, a falsa retomada da economia engasgando mais, o desemprego e a violência em continuada aceleração. Quem não antevê esse quadro é porque, de Miami e Lisboa, a visão é muito distante.
A outra possibilidade é o impeachment. Alguns preveem para esta semana o pedido da procuradora-geral Raquel Dodge nesse sentido. Muitos têm escrito e dito que Temer não conseguiria do Congresso o terceiro salvo-conduto. Talvez. Mas a margem para abandoná-lo é, no máximo, igual à de salvá-lo. O argumento de que a “reforma” da Previdência não passaria por falta de uns 40 votos, evidenciando-se o enfraquecimento de Temer no Congresso, é ilusória.
A “reforma” não foi aprovada porque Temer não a queria, Meirelles não a queria, Rodrigo Maia não a queria, nenhum partido a queria, ninguém a queria. Todos cozinharam a imprensa em banho-maria, por meses, naquelas contagens inexistentes de votos, nos esforços de cooptação que jamais foram vistos. Para sepultá-la de uma vez, a intervenção no Rio. A prioridade de todos aqueles foi e é a eleição, não “reforma” que agrade o empresariado, mas enfureça o eleitorado.
Temer tinha, para aprovar a “reforma”, as mesmas facilidades que teve para escapar do impeachment. A dimensão moral e numérica da vulnerabilidade do Congresso continuou a mesma desde as compras e vendas para salvar Temer. Assim como poderiam aprovar a “reforma”, dão a Temer as condições de comprar mais um salvo-conduto. Só as perderá em um caso: se pressão popular alcançar a fervura que atemorize os congressistas-candidatos. O que não seria fácil, a começar da preferência da imprensa por Temer a novas incertezas.
O governo gastou R$115 milhões em publicidade da “reforma” que não queria fazer. Apesar de não haver dinheiro para as carências homicidas nos hospitais públicos e para os remédios de uso compulsório. As carências e a recusa de dinheiro continuam. O gasto promocional também: está em elaboração uma grande campanha nacional de publicidade “do governo” e de Temer, com lançamento em maio.
Dinheiro público para quem se diz candidato à Presidência. Como sabe o Ministério Público, que espera o desperdício para talvez tratar do caso, esse gasto de dupla finalidade é ilegal. A finalidade real é uma só: Temer.
As prisões dos mais antigos e próximos companheiros do chefe desviam as atenções palacianas, da ação eleitoral para a salvação pessoal. Até porque Raquel Dodge consagrou a tese de que a proteção constitucional a presidentes não impede que sejam investigados. Temer se salve da queda ou não, o país fica exposto a outra fase mais turbulenta. Que presidente esse Temer, esse companheiro e chefe de Geddel Vieira Lima, do maleiro Rocha Loures, José Yunes, Moreira Franco, Eduardo Cunha e seu braço Carlos Marun, o preso Henrique Alves, e por aí abaixo. É o caso de pedirmos socorro.
* o autor é jornalista.
Publicado em https://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2018/04/temer-se-salve-ou-nao-e-o-caso-de-pedir-socorro-para-o-pais.shtml
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