sábado, 19 de janeiro de 2019

Brejeira

Carlos Eduardo Florence *

E por ser de sim dos arremates, Norinha se fez no só dela, prepotentosa no indiferente dos porvires, maliciosa dos muxoxos, para fazer-se muito em brejeira dengosa e sarapintar nas vertentes do arruado, em palma de mão-maria, que nuca falha. Quem de longe arreparasse nos proventos dos credos de boniteza enluada, sabia que por ali era dia de cismar chamego.

Como de trejeito sapeca, Norinha aprumou nas andanças de desenrolar entornos. Pois, no dito arrematado do solfejo, foi assim que empertigou sabida de trocar velha solidão de semana desbotada por acalanto de carmim, que o lábio de beija-flor não descuida de ser insinuado de longe, ainda mais com beijo doce. Apanhou sombrinha de girar sorriso e trovejou macio propositura de flertar sorriso na praça alongada da vila.

Se domingo adivinhasse os proventos o sol não amanhecia e o vento que embala do Sertãozinho não trazia chuvisco. Mas, segundo Raimundo do Donato, a codorninha pia no campo das gabirovas para acomodar companhia. Neste então a missa acabando vai soletrando gente pelas calçadas para falar mal de alguma coisa. Dedorengo apruma para a primeira cachaça que no domingo é mais antes. No tropeço empertiga o chapéu de fazer respeito e chamusca Norinha no distúrbio. O retorno é complacente das esperanças. Mais dois rabos de galo e a coragem aumenta.

No transviado dos requebros, Norinha apruma para o lado do coreto aonde Roninho brinca na flauta de fazer seresta com os demais da banda. O sol sobe, o calor cresce, os trejeitos atiçam, a decisão espera. Norinha circula a dúvida sob a sombrinha faceira. Mastiga o nada. Insinua o destino e da flauta flanam borboletas que brincam de talvez. A pinga atreve, o cigarro enfeita, Norinha assanha na disputa perto. Roninho enfeza e Dedorengo ginga, o birimbau entoa, a capoeira marca, a rasteira dança. A negaça pede bênção de chinela e a destreza à faca. O grito é “Nhorinha é minha” e o tempo fecha. A navalha aquece a mão sem destino de Deodorengo, o sangue desce manso do pescoço de Roninha, que retruca na faca o corpo alerta, amolecendo na ginga contínua. E se os Oxuns mandassem a madrugada assistia o fim.

Mas a polícia acampa, Norinha articula, enfeita o beiço, arremeda a cisma e se alonga das vistas. Deodorengo desvirtua a navalha na solidão do fingido, Roninho dissimula a faca na espreita do sabido e o domingo foi festa na falta do mais o que, Norinha estreite estrada, atende o gesto cabreiro do guarda Tonho, que se arvora em pronto para artimanhar companhia. E por ser por Deus dará, cada canto é do resto em aonde o pintassilgo assiste de fora para saber o que deve cantar para enfeitar o azul. E o demais foi perdão, pois Norinha e Tonho nunca disseram então no que deu.

* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos.

Publicado no
https://carloseduardoflorence.blogspot.com.br/*

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