Rogério Arioli Silva *
A imagem de dezenas de
navios aguardando para atracarem nos portos brasileiros demonstra a
vexatória situação por que passa a subdimensionada logística do país.
Duzentos e poucos anos após a “abertura dos portos às nações amigas”,
efetivada logo após a chegada da família Real ao Brasil, em Janeiro de
1808, parece que ainda segue negligenciado nosso gigantismo pela própria
natureza, eternamente adormecido em berço esplêndido, diga-se de
passagem.
Como foram vários os portos
congestionados, entre eles Santos, Paranaguá, Vitória e Suape, só para
citar alguns, cada um dos seus administradores correu à imprensa
argumentar que o problema não se tratava de ineficiência na operação
portuária e sim na greve da ANVISA, ou quem sabe na falta de caminhões,
ou bem poderia ser no excesso de burocracia característico à
internalização de produtos no país. Segundo foi noticiado, somente no
porto de Paranaguá havia 113 navios aguardando para atracar, dos quais
49 carregados com fertilizantes. O custo médio da diária de cada navio
(chama-se demurrage), dependendo do seu tamanho, fica em torno de U$ 30
mil. Em caso de um atraso de 30 dias no desembarque, o que não é fato
muito raro, haveria um custo de U$ 900 mil, a serem debitados na conta
dos consumidores destes produtos, no caso os produtores rurais.
De
fato, muitos navios cederam a sua vez de atracar pelo fato de não
haverem produtos a serem carregados no porto, provavelmente graças ao
descompasso ocorrido pela limitação nas horas de tráfego de caminhões.
Aliás, esta medida num primeiro momento é muito positiva, pois, forçados
a viajarem de 12 a 18 horas por dia, muitos caminhoneiros estavam
exacerbando seus limites de resistência física, o que acabava colocando
em risco outros usuários das já precárias rodovias brasileiras. Resta
saber quais as melhorias de condições serão oferecidas a estes
profissionais, no que diz respeito à qualidade, segurança e
infraestrutura dos locais de descanso entre jornadas.
Durante
a safra é comum observar-se filas quilométricas (às vezes mais de cem
quilômetros) de caminhões aguardando para descarregar grãos nos portos, o
que já é uma demonstração de falhas no sistema. Quando a administração
portuária é privada obtêm-se um ganho de eficiência com melhores índices
de desempenho. Por outro lado quando esta gestão é delegada a estados e
municípios evidenciam-se questões de difícil resolução, principalmente
ao entrarem na pauta as exigências dos sindicatos.
Qualquer
aumento na quantidade de produto disponível à exportação ou uma maior
demanda de matéria-prima importada já são suficientes para instalar o
caos na estrutura portuária existente. A exportação de milho poderia
aumentar sobremaneira neste ano, como forma de abrir e consolidar
mercados que não poderão ser atendidos pelos EUA devido a sua
significativa quebra de safra. Provavelmente isto não ocorrerá uma vez
que existe uma limitação física na exportação de milho que, segundo
alguns especialistas, situa-se em torno de 15 milhões de toneladas.
Se
estiverem corretas as previsões da ABIOVE (Associação Brasileira de
Óleos Vegetais) na próxima safra o Brasil poderá atingir uma produção
superior a 80 milhões de toneladas de soja e, pela primeira vez na
história, superar a produção americana desta oleaginosa. Fato histórico e
inimaginável há poucos anos atrás. Havendo, efetivamente, a
consolidação desta produção é possível que o apagão logístico já
pré-anunciado atinja contornos ainda mais dramáticos. No momento em que
as obras da rodovia Cuiabá-Santarém estiverem prontas haverá
possibilidade de exportação de dez milhões de toneladas de grãos através
daquele corredor, que hoje exporta menos de um milhão de toneladas, o
que ajudará a desafogar os portos do Sul, principalmente Paranaguá.
Enquanto
novas opções de logística ainda fazem parte do futuro, permanece a
constatação de que a competitividade brasileira ainda passa ao largo da
costa, temendo menos o calado baixo do que a visão estreita da
potencialidade latente.
* Engº Agrº e Produtor Rural no MT.
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Vamos analisar. Queremos todos realizar logo as vendas para aplicar o dinheirinho a bons juros. Então queremos exportar logo e para tanto fretamos navios, contratamos caminhões a fim de cumprir os contratos de venda com pagamento adiantado. Resultado: correria, congestionamentos, gritaria, etc. Nenhum porto do mundo, nenhum meio de transporte de qualquer país consegue movimentar uma safra inteira (no caso a de milho dito safrinha) no prazo de poucos dias. Então estocamos parte da colheita nos veículos, já que não ha silos suficientes nos portos. Um amigo americano que viveu no Brasil me disse que não conseguia traduzir para o inglês nosso termo "bagunça" que ele gostava muito. Talvez seja porque lá, nos Esteites, não exista... Abraço.
ResponderExcluirFernando P. Cardoso
Se os custos da ineficiencia fossem repassados para a organizacao ineficiente e nao as suas vitimas, digo clientes, rapidamente teriamos ou outra organizacao no lugar da atual ou solucoes ao inves de gente repassando a bola... E' claro que o uso de tecnologia tambem ajudaria, ver varias solucoes internacionais para automacao de logistica e transporte em http://www.netdespatch.com/
ResponderExcluirGerson