domingo, 13 de julho de 2025

Aposentados não têm culpa pela má gestão da previdência

Artur Marques *

Não é de hoje que o setor público brasileiro convive com o descontrole fiscal. Décadas passaram-se e os mesmos erros continuam se repetindo, como se o tempo nada ensinasse. As engrenagens da máquina administrativa, tanto na União quanto nas unidades federativas, giram em torno de decisões improvisadas, medidas eleitoreiras e uma estrutura que resiste à modernização da gestão. Um dos fatores incluídos nessa crise crônica, que desafia sucessivos governos, é a Previdência Social, usada frequentemente como bode expiatório para justificar rombos orçamentários que, na verdade, têm origem mais ampla e profunda.

A desgastada narrativa que tenta jogar sobre os aposentados e pensionistas a culpa pelo desequilíbrio previdenciário é injusta, além de técnica e moralmente equivocada. Os beneficiários do sistema não são os responsáveis por sua má condução. Não decidem onde aplicar os recursos, nem formulam as regras de elegibilidade. Tampouco têm poder sobre as estratégias de arrecadação e investimento. 

Os aposentados e pensionistas são, na verdade, credores do Estado. Contribuíram por décadas, de maneira compulsória, com a expectativa legítima de que seus direitos seriam respeitados. Quando o setor público falha em garantir a sustentabilidade de um fundo que deveria ser tecnicamente superavitário, o problema está na gestão e não nos beneficiários.

Fico espantado com a naturalidade com que se propaga a ideia de que os aposentados e pensionistas custam caro demais, como se fosse um luxo, e não um direito, garantir segurança a quem já deu imensa cota de contribuição ao Brasil e à economia. E digo com franqueza: esse raciocínio leviano revela mais sobre a precariedade da nossa administração pública do que sobre qualquer falha no desenho da Previdência em si. Muito do seu dinheiro foi desviado, ao longo do tempo, para outras finalidades, como obras públicas ou a cobertura de rombos orçamentários, comprometendo seu equilíbrio. 

Soma-se a isso o histórico de fraudes que dilapidam o caixa e expõem a fragilidade dos mecanismos de controle. A verdade é que o desequilíbrio é alimentado por políticas mal calibradas, isenções que comprometem a base de arrecadação, informalidade crescente no mercado de trabalho e uma estrutura organizacional que não se moderniza. 

Vale lembrar que, embora se reconheça o crescimento das despesas previdenciárias nos últimos anos, isso não pode ser interpretado fora de contexto. O envelhecimento da população é uma realidade global. Muitos países vêm se preparando para isso com reformas que equilibram sustentabilidade atuarial e proteção social. No Brasil, no entanto, insiste-se em uma abordagem que foca apenas no corte de benefícios e no endurecimento de regras, sem atacar a raiz do problema: a governança ineficaz e a ausência de planejamento de longo prazo. 

Além disso, os próprios aposentados e pensionistas vêm sendo vítimas de práticas abusivas e criminosas, como a contratação de crédito consignado por fraudadores e descontos irregulares por entidades e associações, agora revelados, também autorizados à revelia. Nos dois casos, aplicam-se descontos indevidos nos proventos, reduzindo o poder de compra e dilapidando os vencimentos dos legítimos beneficiários. Isso é um absurdo! Quando o sistema, que deveria amparar, abre brechas para esse tipo de ocorrência, começa a corroer a dignidade de quem depende dele. Esse alerta precisa ser levado muito a sério. 

O que está em jogo, afinal, é a confiança da sociedade em um modelo de estrutura que deveria garantir previsibilidade e justiça. É preciso que se diga com todas as letras: a Previdência não pertence ao Estado, mas sim aos trabalhadores. Cada real ali depositado tem dono, tem a história de numerosas vidas e tem o propósito de proporcionar segurança a quem já trabalhou muito e fez sua parte. Administrar esse fundo com zelo e responsabilidade é obrigação do Estado, e não um favor. 

O déficit, quando existe, é sintoma da incompetência de quem gere, não da infundada culpa de quem recebe. Equilíbrio fiscal não se alcança punindo quem já pagou sua cota. Esse diagnóstico claro, sem narrativas e retóricas enviesadas, precisa ser entendido pela sociedade e reconhecido com ética e honestidade pelo poder público. 

* o autor é o presidente da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (AFPESP).

 

 

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quinta-feira, 10 de julho de 2025

Trump, o chantagista

Richard Jakubaszko
A iniciativa trumpista de taxar em 50% os produtos brasileiros exportados para os EUA vai dar com os burros n'água. Nenhuma das anunciadas taxações das importações americanas contra países como China, Índia, Rússia ou Europeus se concretizaram até o momento, estão todas em negociação, canceladas por acordos bilaterais ou proteladas pela Justiça americana.

Ontem e hoje a mídia brasileira fez um estardalhaço sobre o tema, abordando questões econômicas, políticas, jurídicas, diplomáticas, ideológicas e comerciais sobre a ameaça de Trump, com asneiras a granel. E raras inserções de brilhantismo.


Vejamos algumas das questões do problema:

1 - A carta de Trump para Lula é um pacote de acusações disparatadas e com abordagens e citações de cunho impreciso, além de algumas serem distorcidas ou mentirosas. Não é verdade que a balanças comercial Brasil-EUA seja favorável ao Brasil, pelo contrário, o Brasil tem déficit nesse fluxo, de centenas de milhões de dólares. Trump está muito mal informado pela sua assessoria. Ou distorce fatos de acordo com sua conveniência.

2 - Trump cita na carta a "falta de democracia" brasileira, onde se faz censura, segundo ele, especialmente por parte da Justiça do STF, ao proibir e mandar retirar das plataformas de algumas redes sociais de origem americana conteúdos mentirosos, as chamadas fakenews, como responsável pela taxação dos produtos brasileiros. Pode isso? Não, não pode, mas Trump age como garoto mimado e birrento, e recorre a outra faceta, a de acusar o Brasil de "caça às bruxas" com o desenrolar do processo que o STF move contra Jair Bolsonaro, na opinião dele "um líder internacional" (pausa para gargalhadas...). Com certeza Trump se espelha na situação de Bolsonaro, pois foi também acusado na Justiça americana pelos mesmos atos, ação que foi protelada para prosseguir depois que terminar o mandato dele, pois um Presidente dos EUA não pode ter ações na Justiça enquanto exerce o cargo.

3 - Trump ameaça o Brasil de atribuir novas (e iguais) taxas aos produtos brasileiros se o Brasil usar da clássica e tradicional reciprocidade de taxar produtos americanos importados. Uma simples questão de chantagem comercial que a OMC (Organização Mundial do Comércio) pode arbitrar se o Brasil efetuar uma queixa formal. Apesar de lembrarmos que esses julgamentos demoram meses ou anos. O comportamento de Trump não se sustenta, seria interessante alguém desvendar qual o objetivo real de Trump nessa patacoada.

4 - Na mídia o foco tem sido o de apontar agronegócio como o setor mais prejudicado. Não é verdade. O agro será prejudicado, sem dúvida, mas não esqueçam que o Brasil é exportador de petróleo bruto para os EUA, o item maior de nossas exportações e importa diesel e gasolina, pagando por serviços de refinaria, e as taxas do Trump impactariam o preço desses produtos no Brasil, a partir de agosto, a não ser que a Petrobras desenvolva nesse meio tempo um novo prestador de serviços de refino de petróleo em outro país, no curto prazo. Quem diria, a danada da Dilma teve a visão de fazer a Petrobras comprar uma refinaria em Pasadena, mas deu no deu, e agora podemos ficar com a calça nas mãos...

5 - Dentro do agro brasileiro o produto mais exportado são as madeiras (US$ 7,4 bilhões por ano) e seus subprodutos, como celulose, por exemplo. Isso é boa notícia para os ambientalistas, pois reduziria a pressão por mais desmatamento na Amazônia. Madeira é mais do que o dobro do segundo lugar, que é o café, com US$ 2,3 bilhões dólares anuais. O   terceiro lugar da nossa pauta é o suco de laranja, do qual o Brasil é o maior produtor e exportador do mundo. Trump vai ter de obrigar os americanos a mudar o breakfast deles, ao retirar café e suco de laranja com uma canetada só, afora os ovos brasileiros que têm sido exportados para lá por causa da gripe aviária que grassa nos EUA há uma década. Ou seja, sem café, suco de laranja e (quase) sem ovos, como será que vai ficar o desjejum dos gringos? Só vai ter umas fatias de bacon, cereais e pão torrado... Não esqueçamos das carnes brasileiras exportadas, principalmente dianteiros, que proporcionam o hambúrguer americano. Isso é uma perda de ativo político de Trump com seus eleitores, mas acho que ele não atentou para isso quando decidiu de forma imperial taxar os produtos brasileiros. Vai acelerar a inflação dos EUA.

6 - O que não aparece na carta de Trump são os objetivos anunciados pelo BRICS, de criar uma moeda forte para substituir o dólar nas transações comercias internacionais que não envolvam os EUA. E o BRICS não está longe disso. No início, uns 16 anos atrás, quando era apenas a sigla inicial (de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), tornar viável esse sonho era distante, mas o BRICS cresceu e incorporou Arábia Saudita, Indonésia, Uruguai, Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, um total provisório de 12 membros que representam quase 40% do PIB do planeta. Reparem que não há nenhum país europeu nessa história. Se entrar, entra o bloco inteiro, e chegam a mais de 65% do PIB internacional. Trump, evidentemente, sabe disso, e os EUA têm brigado feio e violentamente contra vários membros do BRICS, agora chegou a vez do Brasil.

7 - A questão das big techs é periférica no contexto comercial, mas Trump tem interesse pessoal nisso, pois uma de suas empresas (Trump Mídia) está com problemas na Justiça brasileira por publicar conteúdos falsos e difamatórios, e por não ter um representante legal no Brasil para responder judicialmente. Além de ficar proibida de publicar conteúdo no Brasil vem aí uma multa salgada que Trump não tem nenhum interesse em pagar.

8 - Para comprovar que tudo é uma farsa, hoje apareceu na mídia um entrevista de Steve Bannon, um ex-assessor marketeiro de Trump, dizendo que se o Brasil derrubar o processo contra Jair Bolsonaro os EUA também anulam as taxas de nossas exportações. Chantagem na cara dura, mais uma, como se isso fosse importante, ou pior, como se isso fosse possível, de o Executivo ou Legislativo chegarem ao STF e dizerem, "ei, Xandão, cancela o Jair pra salvar o Brasil". Uma piada, né não?

9 - No mundo inteiro, de líderes europeus, até mesmo o americano Paul Crugman, Nobel de Economia, caíram a pauladas em cima de Donald Trump, por causa da desatinada decisão.

10 - Lula sai forte dessa briga (aconteça o que acontecer) toda para enfrentar a reeleição em 2026, se é que ele vai querer mesmo isso. O bolsonarismo perde, porque será acusado de irresponsável por aplaudir essa inaudita palhaçada de Trump.

ET: Resta saber se, ao citar Bolsonaro na referida carta, Trump abre as portas da Embaixada americana em Brasília para um pedido de asilo diplomático por perseguição política...



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sábado, 5 de julho de 2025

Os erros colossais do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)

Thayer Watkins *

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que os erros do IPCC não estão nos estudos técnicos. Estes são, em grande parte, impecáveis. Os erros colossais do IPCC estão no que não foi feito, no que foi deixado de fora, no que foi ignorado. Esses são erros da função administrativa do IPCC e não dos colaboradores científicos. A primeira categoria de partes cruciais ausentes diz respeito ao papel da água no sistema climático da Terra. Os modelos de projeção climática presumem que, à medida que o CO2 e outras substâncias de efeito estufa não hídricas aumentam, haverá um aumento na temperatura, o que resultará em mais vapor d'água na atmosfera e, portanto, em um efeito de retroalimentação positivo. Mas, como a quantidade de vapor d'água na atmosfera é de 25 a 100 vezes maior que a quantidade de CO2, uma pequena flutuação descendente na quantidade de vapor d'água pode anular todo o efeito do CO2. É uma cauda muito pequena que os modeladores climáticos presumem que abana o cachorro.

Fundamentalmente, o principal problema com o IPCC é que ele não funcionou como um buscador da verdade; em vez disso, funcionou como um verdadeiro crente focado no CO2 antropogênico. Ao fazê-lo, deixou de fora o vapor d'água antropogênico autônomo e a nebulosidade antropogênica. Todo o vapor d'água lançado no ar através da irrigação e o aumento da transpiração das culturas agrícolas em comparação com a vegetação nativa e a mineração de aquíferos como o Ogalala.

O IPCC deveria ter se esforçado mais para compilar séries temporais de estatísticas sobre o conteúdo de vapor d'água da atmosfera ao redor do globo. Como a absorção de radiação térmica pela atmosfera é um fenômeno não linear (ver Saturação), as informações precisam ser compiladas pelo menos por latitude, em vez de depender de médias globais. No entanto, não é apenas o vapor d'água que precisa ser considerado. As nuvens e seu conteúdo, densidade e altitude também entram em cena. É indicativo de que os modeladores climáticos recorreram prematuramente a cálculos e, posteriormente, tiveram que incorporar os efeitos de aerossóis e nuvens. Mas, apesar de todos os bilhões de dólares gastos em pesquisas sobre o aquecimento global, ainda não há números disponíveis para o conteúdo médio de vapor de água na atmosfera e nenhum gráfico mostrando o conteúdo efetivo total de gases de efeito estufa na atmosfera ao longo de um período, digamos, de 1970 a 2000. E, para repetir o que foi observado acima, devido à não linearidade do efeito estufa, o que é necessário é o perfil global da média temporal do conteúdo de vapor de água por latitude e longitude.

A modelagem climática não deveria ter começado até que as estatísticas sobre o regime hídrico do sistema climático de Eatht estivessem disponíveis. Fundamentalmente, o problema é que o IPCC partiu da ideia de que sua tarefa era provar que o CO2 antropogênico era o problema, em vez de buscar a verdade. O CO2 antropogênico faz parte do problema, assim como o vapor d'água antropogênico e a nebulosidade antropogênica. Esses dois últimos fenômenos estão tão fortemente correlacionados com o CO2 antropogênico que é difícil, senão impossível, separar seus efeitos estatisticamente.

No entanto, mesmo com os modelos falhos, a análise poderia ter sido amplamente aprimorada pelo backcasting. Ou seja, antes que os modeladores começassem a gerar projeções para um século no futuro, eles deveriam ter gerado backcasts do clima ao longo do último século e meio. Uma comparação do backcast com os dados registrados teria revelado quanta confiança poderia ser depositada nas projeções brutas dos modelos. No entanto, a coisa certa a fazer é regredir os valores registrados nos valores do backcast. As estimativas baseadas na equação de regressão têm os vieses sistemáticos nas projeções eliminados. Pode-se chamar esse processo de calibração do modelo. Pode-se ter um grau maior de confiança nessas projeções calibradas do clima futuro do que nas projeções brutas. Além disso, a regressão forneceria as informações estatísticas necessárias para calcular intervalos de confiança para as projeções futuras, algo que as projeções do IPCC agora carecem gravemente. Atualmente, o IPCC fornece o intervalo de projeções de cerca de 15 modelos climáticos diferentes e afirma que isso tem alguma relevância para a variabilidade do clima futuro da Terra, em vez de ser apenas um reflexo de quão incerto o IPCC é sobre o que constitui um bom modelo de projeção climática.

Outro tópico realmente interessante sobre a retroprojeção de modelos climáticos é como a metodologia para estimar a variabilidade do tempo se sustenta em tais testes. O IPCC obtém a variabilidade do tempo futuro a partir de uma tabulação das projeções a partir da estimativa do estado inicial do mundo. Pequenos erros no estado inicial podem levar a grandes diferenças nas projeções. Eu adoraria ver essa metodologia testada por retroprojeção. 

A previsão retrospectiva em nível regional também seria altamente interessante. Há uma boa chance de que a correlação das previsões retrospectivas regionais com os dados regionais reais seja tão baixa a ponto de ditar o abandono dessas projeções futuras regionais. O IPCC agora confessa uma gama tão ampla de incertezas sobre essas projeções regionais que seu uso só pode ser enganoso.

A correção apenas das duas categorias de falhas acima aumentaria significativamente a aceitabilidade das projeções do IPCC, se de fato elas merecerem aceitação. Aqui estão as séries temporais para temperaturas globais e valores de previsão retrospectiva para um modelo do Centro Canadense.

O modelo não se sai muito bem e superestima a mudança de temperatura entre 1905 e 1993 em cerca de 100%. A regressão das temperaturas registradas sobre as temperaturas do modelo confirma que o modelo tem um viés de superestimar a mudança de temperatura em cerca de 100%. Quando esse viés é corrigido, o cenário fica muito melhor.

O caso acima indica que os modeladores climáticos não devem evitar a retroprojeção, mas sim adotá-la para calibrar seus modelos. É claro que o modelo canadense calibrado não produzirá as projeções extremas e sensacionalistas pelas quais se tornou notório.

O uso da análise de regressão não precisa se limitar à correção do viés nos modelos individuais. Ela pode ser usada para gerar uma média para os 15 modelos, atribuindo pesos maiores aos modelos cujas retroprojeções são mais correlacionadas com os dados passados. Da forma como está, o IPCC usa uma média simples que não diferencia entre os modelos melhores e os modelos piores. Este seria um exercício que vale a pena.

Publicado originalmente em https://www.sjsu.edu/faculty/watkins/IPCCmistakes.htm 

applet-magic.com  

Thayer Watkins = Silicon Valley & Tornado Alley - USA

(Continua.)

 

 

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quinta-feira, 29 de maio de 2025

OMSA reconhece o Brasil como zona livre de Febre Aftosa sem vacinação

Richard Jakubaszko

A Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA) reconheceu nesta quinta-feira, dia 29 de maio, em cerimônia realizada em Paris, na França, o Brasil, incluindo o Estado de São Paulo, como zona livre de Febre Aftosa sem vacinação. O anúncio aconteceu hoje durante a 92º Assembleia Geral dos Delegados Nacionais da OMSA, evento que reuniu representantes de organizações internacionais, nacionais, do setor privado e público, incluindo a Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA).

O reconhecimento é o resultado de anos de trabalho dedicados à sanidade do rebanho brasileiro e do sistema de vigilância veterinária, indústrias de insumos, governo e pecuaristas.

Acompanhei essa história desde 1965 quando participei, no RS, da primeira reunião do lançamento da campanha nacional de vacinação. Acompanhei durante todo esse tempo ainda a luta do veterinário Sebastião da Costa Guedes, que foi um trabalhador e líder incansável para que o Brasil conquistasse agora essa notável realidade, e foi uma verdadeira epopeia.



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segunda-feira, 19 de maio de 2025

Nada nos aproxima mais da verdade que confronto de ideias

Richard Jakubaszko 

Li com profundo interesse o artigo de Luiz Frias na Folha-UOL, "Nada nos aproxima mais da verdade que confronto de ideias: Conhecimento humano avança com choque de opiniões propiciado por liberdade de expressão ampla", cujo link disponibilizo ao final deste texto, mas sinto-me obrigado a fazer alguns comentários sobre o teor do texto.

Na teoria a mensagem de Frias é irretocável. Na prática me pareceu uma narrativa parcial, mais próxima de uma mensagem publicitária do que um texto jornalístico. Na verdade o texto é uma compilação de uma palestra do autor em uma universidade paulista, e, no resumo apresentado pode-se verificar que existem diferenças sensíveis entre a teoria demonstrada e a prática relatada, que abraça especialmente questões e ideologias políticas, esquecendo-se de outros temas tão ou mais importantes. Refiro-me às questões das mudanças climáticas e do aquecimento planetário, onde o jornal tem forte e inarredável opinião que o emparelha às ideias do grupo do IPCC/ONU, onde a  Folha de SP/UOL não exerce o pluralismo, e muito menos pratica o debate, pois não faz o confronto de ideias, e dessa forma defende a sua verdade. Não existem duas verdades sr Luiz Frias. Temos, portanto, a minha verdade, e a verdade do seu jornal, que está engajada, provavelmente sem saber, a interesses econômicos escusos e inconfessáveis.

Em 2015, depois de estudar o tema "aquecimento" por mais de 8 anos, 4 deles escrevendo, publiquei a 1ª edição do livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?", onde, ao lado de diversos cientistas nacionais e internacionais, apresentamos ideias para serem debatidas sobre as falaciosas afirmações e acusações feitas pelo IPCC e também por cientistas brasileiros, de que o planeta tem em curso "mudanças climáticas" que irão provocar o aquecimento, por conta de emissões de gases de efeito estufa (GEE). A Folha de SP/UOL continua a afirmar que as mudanças climáticas e o aquecimento são um consenso entre 97% dos cientistas, o que está longe da verdade. Ora, o livro tem considerável sucesso de vendas, especialmente na Amazon.com e está entrando agora em junho próximo na sua 4ª edição, fora a versão traduzida para o inglês, lançada em novembro de 2023. Uma consulta na Amazon.com mostra a opinião de mais de uma centena de leitores do livro: https://www.amazon.com.br/Aquecimento-Mudan%C3%A7as-Clim%C3%A1ticas-Est%C3%A3o-Enganando/dp/8569495005/ref=zg_bs_g_7874341011_d_sccl_37/131-5737661-3349009?psc=1

Enfim, por falta de debate, a versão do IPCC, que se alinha com a "verdade" que acredita a Folha de SP/UOL, permanece e nos leva para o "consenso". Lembro aqui palavras de Walter Lipmann, de que "Onde todos pensam igual é porque ninguém está pensando".

Aqui, no link a seguir, a palestra de Frias, do qual espero uma revisão sobre essa história de debate e confronto, pois na questão "mudanças climáticas" prevalece a opinião do jornal, sem nenhum debate científico. É urgente e necessário que a Folha de SP/UOL revise seu posicionamento, no mínimo para o lado da neutralidade.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/luiz-frias/2025/05/nada-nos-aproxima-mais-da-verdade-que-confronto-de-ideias.shtml 

 

 

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quarta-feira, 7 de maio de 2025

COP30: a maioria dos países não apresentam metas climáticas prometidas

Luís Dufaur *
 
Os 200 países signatários do Acordo de Paris — de 2015 para frear o aquecimento global— deviam apresentar seus novos compromissos para reduzir seus gases de efeito estufa dentro do prazo, aliás já encerrado.

Mas apenas 12 o fizeram, informou a “Folha de S.Paulo”, jornal que não especificou se estão cumprindo o que prometem no papel.

O Brasil, por exemplo, foi o segundo a apresentar sua promessa nacionalmente determinada, mais conhecida pela sigla em inglês NDC, em novembro de 2024, atrás somente dos Emirados Árabes Unidos.

Mas a maioria dos grandes emissores nada fez. Entre as ausências se destacam a China, atual líder global das emissões proibidas, e a União Europeia, que nos últimos anos vinha se autoclassificando na vanguarda ambiental.

Pelo Acordo de Paris, cada país apresenta voluntariamente sua meta e seus planos para a redução de emissões.

Uma vez postos no papel podem ser objeto de revisões cada cinco anos, aguardando que a nova promessa seja mais ambiciosa que a anterior.

Na etapa atual, os governos deviam explicitar suas metas para 2035.
 
Simon Stiell secretário-executivo da UNFCCC, a convenção de clima da ONU, acenou esticar até setembro os limites da entrega dos respectivos cronogramas,

A apresentação das metas é fundamental para o andamento da próxima conferência mundial do clima, a COP30, em Belém de 10 a 21 de novembro [2025].

Natalie Unterstell, presidente do Instituto ativista Talanoa e membro do painel de acreditação do Green Climate Fund deplorou que a marcha para “uma crise global das NDCs”.

De fato, não se entende como a COP30 possa concluir algum “relatório de síntese”, com a omissão de esmagadora maioria dos países signatários do Acordo de Paris.

Esse “relatório de síntese” deveria ser amplamente debatido na cúpula em Belém.

“A discussão vai ficar centrada se as metas são ou não suficientes”, afirmou.
 
Segundo Unterstell, se não forem suficientes para manter o aquecimento global dentro das metas do Acordo de Paris, pode dar em frustração e descontentamento entre os países que cumpriram os prazos ou apresentaram compromissos mais ambiciosos”.

“O Brasil pode impulsionar uma espécie de corrida global pela implementação, incentivando os países a acelerarem suas ações climáticas e demonstrando progresso concreto”, disse.

Mas onde estão os resultados concretos?

O Brasil se fixou uma meta de corte dos gases de efeito estufa de 59% a 67% em 2035, na comparação com os níveis de 2005.

Porém, pouco ou nada se fez para cumprir as metas prometidas em 2015 por Dilma Rousseff.

Os EUA, tido como maior emissor histórico, em vez de entregar seu plano dentro do prazo, anunciou que irá se retirar do Acordo de Paris.

A lentidão na submissão de novas propostas está ligada a esta anunciada saída das fantasias de controle do clima planetário.

A União Europeia está em tomada pela revolta de seus cidadãos e governos pela tentativa de efetivar os compromissos, aliás delirantes, de redução das emissões dos 27 Estados-membros.

Essas tentativas multiplicaram a inflação e o preço da habitação, fecharam fábricas e abaixaram o crescimento, enquanto cresceram no Parlamento Europeu as forças políticas contrárias às metas climáticas derivadas do Acordo de Paris.

Análises recentes feitas pela ONG ativista Climate Action Tracker, indicam que a maioria das novas propostas ficam abaixo do necessário para limitar do que os radicais ambientalistas quereriam em função do estabelecido no Acordo de Paris.

A posição da China será crucial pois é a grande poluidora planetária e já patenteou explicitamente que não deixará de violar todos as regras ambientalistas, embora seja aplaudida por ecologistas e socialistas como a esperança para “salvar o planeta”.



* o autor é escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs.


Publicado em https://ecologia-clima-aquecimento.blogspot.com/2025/04/cop30-maioria-dos-paises-nao-apresentam.html

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