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segunda-feira, 7 de março de 2022

Ucrânia rejeita corredor humanitário

Richard Jakubaszko 
Essa é uma novidade em guerras contemporâneas, a da Ucrânia rejeitar a oferta russa de criar um corredor humanitário para que civis possam sair do front de guerra e até mesmo imigrar para um país vizinho. O presidente da Ucrânia era humorista antes de se eleger, a gente sabe disso, mas acho que anda com saudades da sua antiga profissão e tem falado muitas imbecilidades.
Enfim, em termos de guerra essa já superou todas as anteriores com as tais sanções e punições ocidentais propostas pelos EUA, especialmente na área econômica. Nessa guerra parece que o mais importante, para a Ucrânia e os EUA/ONU, é o índice de rejeição do ibope midiático divulgado pelas TVs. Até as guerras, sempre sangrentas e desumanas, e bestiais, as novas gerações conseguiram superar e chega-se ao estado máximo de hipocrisia do politicamente correto.

Obs. Definição de hipocrisia: "Pegar um pedacinho de merda pela parte mais limpinha da coisa".

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A estupidez russa e ucraniana

Daniel Strutenskey de Macedo

As causas dos conflitos entre Rússia não são étnicas, nem religiosas, pois ambos são russos e de maioria católica e ortodoxa. Não são de origem, pois a Rússia foi fundada por um príncipe viking chamado Russ no ano 900 dc em Kiev. Kiev significa cidade do rei, na época do rei Russ, por isto o nome Ruski dado ao povo desta região.

Então, quais são as causas?

Desde vários séculos anteriores houve disputas comerciais envolvendo o domínio de terras para cultivo, fontes minerais e a exploração dos mercados das cidades russas. Estas disputas envolviam elites das diferentes regiões da Rússia, conflitos e pequenas guerras. Quando o Kublai Khan, filho de Gengis Khan, invadiu a região de Moscou, conhecida como a Grande Rússia, os moscovitas fizeram uma aliança com os mongóis (também chamados de tártaros).

Na região ocidental da Rússia, da Pequena Rússia ou Ukraína, o Rei Danilo, que governava em Lviw (cidade dos Leões, região vizinha à Polônia) não aceitou o acordo proposto pelos mongóis, mas a seguir foi obrigado a aceitá-lo. A partir desta época, ano de 1.200, Moscou, que era ainda pequena, se fortaleceu econômica e militarmente e sua elite passou a dominar o comércio e a exploração das terras e dos mercados. Este domínio prejudicou os interesses das elites que dominavam a Pequena Rússia (a Ucrânia).

A Pequena Rússia ou Ucrânia foi invadida pela Lituânia, mas depois os lituanos deram o controle da região ucraniana para a Polônia. Outra elite, a polonesa, passou a disputar a produção e os mercados ucranianos. Na época a Ucrânia era o maior produtor de trigo, centeio e cevada do mundo. Os poloneses passaram a ser dominados pelo Império austríaco e outras duas elites, a austríaca e a alemã, passaram a explorar a Ucrânia. Vários conflitos e guerras aconteceram entre os ucranianos e os poloneses. Não aconteceram guerras contra os austríacos e alemães, pois os ucranianos se tornaram empregados das usinas de álcool e açúcar de beterraba que os alemães instalaram na Ucrânia. Muitos ucranianos, todos os anos, iam trabalhar nas minas de carvão e outras instalações alemãs semelhante ao que vemos hoje os nordestinos virem para o Sudeste trabalhar nas grandes fazendas. É claro que havia grandes proprietários ucranianos de trigo, centeio e cevada, mas eles dependiam da comercialização feita pelos austríacos e alemães. Como estes ucranianos do ocidente, divisa com a Polônia, estiveram separados de Kiev e de Moscou por vários séculos, a elite ucraniana criou outros laços comerciais e financeiros, tornaram-se aliados ocidentais. O povo ucraniano, todavia, continuou tendo que ir trabalhar nas mineradoras alemãs para ganhar algum dinheiro.

Na Segunda Grande Guerra, a Rússia ganhou a guerra e tomou esta região da Ucrânia de volta. A elite ucraniana ficou em situação ainda mais difícil, pois foi considerada traidora da pátria, já que tinham se aliado aos nazistas e facilitado a entrada dos alemães na Rússia através da Ucrânia. Boa parte do povo ucraniano foi obrigado a seguir os alemães e lutar contra os russos e por isto se tornaram também traidores, foram obrigados a fugir, a emigrar para a América. Os ricos ucranianos, a elite, já tinha depósitos nos bancos europeus e foram viver bem na Europa e de lá ficaram alimentando os que ficaram na Ucrânia a lutarem contra o domínio moscovita.

Parte dos ucranianos, no entanto, aderiram aos bolchevistas, e se tornaram pessoas importantes para os russos administrarem a Ucrânia e por isto Lenin fez da Ucrânia uma república. Ela nunca tinha sido um estado antes, mas apenas uma região da Rússia.

Na perestroika a União Soviética perdeu força e a Ucrânia tornou-se independente pela primeira vez na história. A elite ucraniana não comunista ganhou as eleições, pois o partido comunista não se interessou por elas. Os líderes comunistas acharam que por dominarem o comércio, as indústrias, as escolas e as repartições ganhariam facilmente.

Perderam! A elite ucraniana não comunista se aproveitou do momento e do poder para fazer várias mudanças no sentido de dominar de fato as repartições, o comércio, as indústrias e tudo mais. Mudou até a língua. Todos falavam russo, mas a partir daí foi estabelecido que passariam a falar o russo e o ucraniano. Língua ucraniana que tinha sido inventada por um poeta a partir dos sotaques e algumas palavras regionais, cuja diferença do russo é mínima.

Os comunistas reagiram nas eleições seguintes e devido ao poder comercial e econômico que tinham ganharam as novas eleições, mudando as regras que a elite não comunista tinha estabelecido. Além destas elites, havia e continua a haver a influência das elites europeias, pois durante o regime tzarista vários empresários europeus investiram na Rússia e a Guerra contra a Rússia, a Primeira, se deu porque o Tzar resolveu que devido os altos juros, ele tinha pagado tudo e mais um pouco e assim justificou que não iria mais honrar o que devia contratualmente.

A Ucrânia é hoje, como foi anteriormente, uma região onde os empresários estrangeiros podem investir e explorar. Daí o interesse deles hoje, neste momento, pela independência da Ucrânia. Se ela ficar com a Rússia eles não poderão explorá-la.

Não faz sentido os países europeus incentivarem a Ucrânia a lutar. Menos ainda enviar armas para ela, pois a Rússia responderá com maior força se houver maior resistência e isto destruirá as cidades. O que faz sentido é apoiar a Ucrânia a negociar para que ela consiga uma boa negociação e não fique totalmente refém da Rússia.

Quando a União Soviética colocou armas em Cuba a reação americana foi imediata e com a ameaça de guerra atômica. Agora os EUA colocam armas nos países vizinhos da Rússia e pretendem tornar a Ucrânia uma aliada militar. É óbvio que a Rússia reaja. Um dos motivos da reação russa é que os EUA e a Europa são comercial e financeiramente poderosos e se os russos não impedirem o ingresso dos capitais na Rússia ela será paulatinamente tomada pelos investidores como é o caso do Brasil. Nós brasileiros vendemos a Cica, vendemos a Bom Bril, vendemos as empresas que produziam pistões para motores, vendemos várias empresas de mineração, vendemos a Siderúrgica Nacional, vendemos as empresas de aviação, vendemos a Embraer, vendemos as empresas de produtos de limpeza e outras tantas. Agora pretendemos vender a Petrobras, a Eletrobras e outras. Já somos um país onde a maioria dos produtos com tecnologia são de propriedade de estrangeiros, até um simples hamburger paga royalties. Estamos voltando à época em que importávamos tudo e exportávamos café e açúcar. Agora estamos nos tornando um país exportador de soja, frutas e outras comodities agrícolas. A elite russa sabe que se deixar, a Rússia será, aos poucos, tomada pelos investidores estrangeiros, pois eles têm capitais, eles controlam a moeda mundial, o dólar. Controlam as bolsas de valores. Por isto, a posição dos países europeus não é pela liberdade e pela soberania da Ucrânia, mas, sim, pela conquista de uma nova fronteira a ser explorada.

A ONU faz maioria devido seu número de países filiados, mas se somarmos a Europa, as Américas e alguns países da África, todos juntos somam um terço da população mundial, cuja maioria é formada pela Federação Russa, China, Paquistão, Índia, Indonésia, Vietnã e outros países da Ásia. Atualmente, com o crescimento da China, o mundo asiático passa a ocupar uma posição que ameaça a hegemonia comercial dos EUA. O dólar é controlado por bancos particulares americanos. As bolsas, por empresários americanos. Esta situação desfavorece os preços e as condições de comercialização dos países asiáticos e é obvio que estes pretendem uma mudança, um novo contrato mundial para o comércio e as finanças.

A estupidez da Ucrânia é insistir em lutar com um inimigo muitas vezes maior que ela. A da Rússia é ter permitido que as elites comunistas que se tornaram capitalistas continuassem a explorar os ucranianos, pois se sabia que uma nova ordem teria que ser estabelecida.

Portanto, a guerra atual não diz respeito à Crimeia (que nunca foi ucraniana), nem às regiões separatistas, as quais são de maioria russa. A guerra atual é motivada pelas ambições das diferentes elites capitalistas, as russas, as da Ucrânia, as dos países europeus e dos EUA.

Os europeus nunca ajudaram a Ucrânia. Os ucranianos têm sido vítimas de preconceito nos países europeus, são contratados apenas para serviços de pouca qualificação e baixos salários, as mulheres bonitas e fragilizadas exploradas na prostituição. Nos EUA, onde vivi por algum tempo, a colônia ucraniana sempre foi sistematicamente explorada. Meus tios, que eram profissionais aqui no Brasil, conseguiram apenas serviços de limpeza de escritório durante a madrugada e serviços pesados e perigosos na indústria. Meus primos também não conseguiram progredir profissionalmente, permaneceram operários. Os que ficaram aqui se tornaram médicos, dentistas, advogados, engenheiros, comerciantes. Meus primos ucranianos que ficaram na Ucrânia durante o período soviético se tornaram engenheiros.

A ajuda europeia e americana é uma farsa! Imagine os EUA iniciar uma guerra conosco e os países amigos nos incentivarem a lutar. Seria um absurdo, pois seriamos derrotados. Quanto maior a nossa resistência, maior o ataque do inimigo e maior o nosso prejuízo. Países amigos nos ajudariam a negociar bem e não a arriscar a nossa destruição.

 

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domingo, 27 de fevereiro de 2022

As guerras mentem, por Eduardo Galeano

Richard Jakubaszko  
Vivemos neste momento uma abominável guerra de conquistas de espaços geopolíticos, tanto por parte da Rússia, ao invadir a Ucrânia, como por parte da OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte, comandada pelos EUA. Já estamos no século XXI e guerras desse tipo já deveriam ter sido compactuadas de que não seriam aceitas pela ONU. Mas não, o jogo político e a farsa continuam, a hipocrisia prevalece, com amplo apoio da mídia internacional. A falta de lideranças reais no mundo contemporâneo acentua esse vazio, prevalecendo as fake news.

Ora, a OTAN foi criada nos anos 1940, ao final da II Grande Guerra, pelos países europeus, mas com a liderança dos EUA, para conter o avanço da então União Soviética, que era liderada pela Rússia comunista e com os países da chamada cortina de ferro, no Leste europeu, como Polônia, Ucrânia, Hungria, Geórgia, Checoslováquia, Croácia, Afeganistão, Iugoslávia, e muitos outros. Em 
1989 o papa polonês João Paulo II, apoiado pelo mundo ocidental, entenda-se os EUA e Europa, negociou o fim da União Soviética e do socialismo na região. A grande maioria dos países citados, a partir de então, optou por ser democracia, com eleições regulares, a começar pela própria Rússia. Esses fatos, com o passar do tempo, justificariam a eliminação da OTAN, mas esta já tinha "nova direção" e começava a conquistar aliados entre os antigos países da União Soviética, o que provocou enormes conflitos entre a Rússia e a OTAN, sendo que a Ucrânia é a última novidade. Contrariedades postas e discutidas, ninguém deu passo para trás e a guerra começou.
 
As imbecilidades estão postas, especialmente a guerra, do ponto de vista humano de Eduardo Galeano, que afirma que as guerras mentem.
 

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Bolsonaro edita sanções contra Putin e a Rússia

Richard Jakubaszko    
Por mais incrível que possa parecer, apesar da amizade de Bolsonaro com Putin, o presidente brasileiro optou por impor sanções a Putin e contra a Rússia comunista depois que a Ucrânia foi atacada, deixando claro que a presença de Bolsonaro em Moscou semanas atrás foi apenas uma coincidência e não provocou qualquer desistência de Putin em relação ao que discutira com Bolsonaro, matérias de insignificâncias da pauta de exportações dos russos. 

As sanções de Bolsonaro foram:



 

 

 

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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Bolsonaros optam pelo comunismo

Richard Jakubaszko 
No início os Bolsonaros achavam que a Rússia era comunista, talvez pelo passado da União Soviética, ou porque a bandeira deles era vermelha, apesar de ser hoje branca, azul e vermelha. Como descobriram que o Putin nada tem de esquerda, aderiram ao comunismo marxista...

 



 

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

A supremacia militar perdida dos EUA

Jorge Figueiredo
O livro agora publicado por Andrei Martyanov, Losing Military Supremacy, é um epitáfio devastador para o imperialismo estado-unidense. Ele desmonta minuciosamente as razões porque os EUA já não têm a supremacia no plano militar – e destrói esse mito. O facto de o establishment dos EUA, dominado pelos neocons, ainda acreditar no seu próprio mito não o torna menos mítico. E o facto de os media de referência (os presstitutos, como diz Paul Craig Roberts) estarem constantemente a martelá-lo nas mentes do seu público não o torna mais sustentável – mentiras muitas vezes repetidas não se transformam em verdades.

A verdade verdadeira é que já estamos num mundo multipolar, mas os neocons que dominam o Estado Profundo não sabem disso. Recusam-se a reconhecê-lo e apegam-se teimosamente à ilusão de que os EUA continuam a ser a potência hegemônica do mundo. Isto já é absolutamente falso – mas os neocons não podem entender isso porque são ignorantes em assuntos militares. É um paradoxo que os mais belicosos deles sejam civis que nunca sequer fizeram o serviço militar, nem têm cultura tecnológica e histórica para entender as questões da paz e da guerra, as suas implicações e ramificações. A maioria da corja, que permeia tanto o Partido Democrata como o Republicano, só tem conhecimento de questões militares através de alguns Power Points assistidos em workshops. O autor refere-se mesmo ao “muito perigoso declínio das faculdades cognitivas americanas” (sic).

Martyanov, oficial russo graduado pela Academia Naval Kirov, é um profundo conhecedor da tecnologia militar. As suas análises são baseadas em conhecimento sólido e em experiência concreta. Elas são devastadoras para a classe dominante estado-unidense, para as suas elites militares e civis (estas últimas intelectualmente piores que as militares) e para o modo americano de fazer as guerras, ou seja, a guerra como um business para os monopólios ganharem dinheiro. Só com o disparo de 80 Tomahawks sobre a Síria, este ano, o seu fabricante faturou uns 140 milhões de dólares…

O livro está organizado em doze capítulos. Os seus títulos são significativos:
Introdução: O perigoso narcisismo da América
1 – A verdadeira medida do poder militar
2 – O nascimento da moderna mitologia militar americana
3 – As muitas interpretações equivocadas da II Guerra Mundial
4 – A incapacidade das elites americanas de apreenderem as realidades da guerra
5 – Déficits educacionais e caricaturas culturais
6 – Ameaça inflada, captura ideológica e questões de política doutrinária
7 – O fracasso para enfrentar o moderno realinhamento geopolítico
8 – O espectro da “Força esvaziada”

Conclusão: A ameaça de um maciço cálculo errado dos militares americanos



A alteração decisiva de Putin: Paz através da força
O perigo da situação presente é que "aqueles que manipulam a informação começam sinceramente a acreditar nas suas próprias falsificações, quando compram as suas próprias narrativas. Eles deixam então de serem manipuladores e tornam-se crentes numa narrativa. Eles próprios se tornam manipulados", considera Martyanov na introdução. Mas como saber a verdade? O autor responde citando Clausewitz: “é legítimo julgar um evento pelo seu resultado pois é o critério mais saudável”. E, neste aspecto, o registro histórico dos EUA é desastroso devido à incompetência “geopolítica, diplomática, militar e de inteligência”. Martynov dá muitos exemplos. Na verdade, desde 1950 os EUA nunca venceram uma guerra.

"Os Estados Unidos durante a guerra soviética no Afeganistão fizeram um enorme esforço para desencadear forças da Jihad que se tornaram uma metástase global. Mas, apesar deste esforço, o resultado final – tal como o dos Estados Unidos na Coreia, no Vietnam ou nos dias presentes no Iraque – foi o mesmo: nenhuma vitória à vista", lembra Martynov. E acrescenta: “há um enigma para a atual classe política americana, também conhecida como classe dominante: se os Estados Unidos são tão poderosos como alegado por muitos (…) então onde estão os resultados tangíveis do que ao longo de toda a história humana serviram como o mais importante teste de poder: vitórias em guerras?” Ele cita a pergunta de Patrick Armstrong, um observador americano: "Quando foi a última vez que os EUA venceram uma guerra? Quando foi a última vez que tropas treinadas dos EUA combateram eficazmente?". Talvez tenha sido a “vitória” da invasão de Granada, em 1983, ilha com 100 mil habitantes no Caribe e uma “tropa” de 500 homens…

O livro de Martyanov levanta problemas de fundo, que vão desde o sistema de ensino nos Estados Unidos até a deficiência congênita de muitos sistemas de armas concebidos pelo país (exemplos: o novo caça F-35 e os destroyers da classe Zumwalt, cada um dos quais custa US$4,4 mil milhões). Mas as realidades relativas à situação militar real dos EUA são negadas pela sua elite civil. Quanto à opinião pública, grande parte da sua errada percepção de onipotência deve-se a Hollywood. Figuras como o general Patton – que encarava a guerra como uma competição desportiva – foram glorificadas no cinema. E batalhas da II Guerra como a de Kursk, que envolveu três milhões de homens, 8000 tanques e 5000 aviões, ganhavam menos destaque que o desembarque na Sicília.

Mas para a situação presente há razões ainda mais fundas que “a degeneração intelectual geral das elites do poder estado-unidense” (sic) e a sua falta de cultura estratégica. Essas razões são de ordem sistêmica. Os Estados Unidos não precisam conceber e produzir bons sistemas de armas porque a sua existência não está nem nunca esteve ameaçada. Por isso a questão do armamento transformou-se num gigantesco negócio para os oligopólios que o dominam. O próprio sistema de aquisição de armas (procurement), prestando-se a toda classe de corrupção, reflete isso.

Exceto em 1814, no episódio em que a tropa britânica pôs Washington a ferro e fogo e incendiou a Casa Branca (retirando-se a seguir), os EUA nunca foram atacados no seu território. Por isso as suas costas podem permanecer indefesas, nunca houve ameaças de desembarques anfíbios. Esse facto histórico explica em parte a (in)cultura estratégica da sua elite, inclusive a financeira. Também por isso as armas não precisam serem muito boas e nem muito baratas. Elas são feitas para o lucro comercial, é preferível até que sejam caras, pois assim ganham mais. E a sua qualidade é boa só para combater os fracos, adversários subdesenvolvidos como o Iraque.

A ausência de cultura estratégica da elite do poder nos EUA remonta a décadas. Exemplo disso foi a opção monstruosamente dispendiosa pelos porta-aviões, que são mamarrachos imprestáveis para qualquer guerra moderna – servem só para intimidar ou agredir países fracos. Esta opção estratégica foi tomada em detrimento da opção mais moderna e menos custosa dos mísseis, desenvolvida pela URSS e agora pela Rússia. É divertido saber que houve mesmo uma espécie “sindicato” de pilotos da US Navy que se opunha aos mísseis, considerando-os “concorrentes” que poderiam vir a substituir a sua perícia profissional. Chegaram a propor que o alcance dos mísseis não ultrapassasse as 50 milhas…

O divisor de águas
O discurso de Putin em 1º de março deste ano foi um divisor de águas. Foi como o menino da fábula que perante a corte declarou em alto e bom som: “O rei vai nu”. Os novos sistemas de armas apresentados publicamente por Putin mostram a absoluta superioridade militar da Rússia. Já não há paridade. Há, sim, inferioridade dos EUA. As notícias que Putin revelou mostram a US Navy como uma força esvaziada: a frota tornou-se obsoleta e vulnerável diante das novas armas russas. Trata-se de novos mísseis, de armas submarinas autônomas que podem atravessar oceanos e de armas eletrônicas. Destas últimas já havia sido dado um indício com a “apresentação” feita ao USS Donald Cook no Mar Negro, que teve as suas capacidades de combate anuladas (écrans negros) por um caça russo. Quanto à célebre tecnologia furtiva (stealth) de aviões americanos, também elas foram anuladas por novos radares russos e novas tecnologias com base na radiofotônica. “Elas tornam a furtividade completamente obsoleta”, afirma Martyanov. O autor mostra abundantes pormenores técnicos para corroborar a sua análise.

Na guerra da Geórgia (2008), em que forças armadas treinadas pelos EUA atacaram a Ossécia, as forças russas responderam com a estratégia adequadamente chamada de “coerção à paz”. Venceram os agressores e restabeleceram a paz. Tudo indica que esta é a estratégia atual da Rússia: coagir à paz. O imperialismo ainda se comporta agressivamente, como se vê nestes dias na Síria. Mas a força inexorável da realidade dos fatos – a perda de paridade estratégica – acabará por se impor. A atual histeria anti-russa nos EUA, e entre os seus vassalos, tem muito a ver com o desespero. As ilusões de grandeza e o mito triunfalista dos EUA começam a definhar. Gradualmente a sua classe dominante terá de se conformar ao mundo multilateral e a ideologia neocon terá de ser enterrada.

09/Setembro/2018
Ver também:
Comando e controle
Esta resenha encontra-se em http://resistir.info/

* o autor é jornalista, de Portugal.

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domingo, 3 de setembro de 2017

Forbes prevê fracasso da OPEP quando a Rússia se familiarizar com xisto

Luis Amorim (Portugal)

Forbes prevê fracasso da OPEP quando a Rússia se familiarizar com xisto REUTERS/ Heinz-Peter Bader
Economia
31.08.2017

Quando a Rússia se familiarizar com a tecnologia de extração de petróleo de xisto na Sibéria, os exportadores da OPEP terão os dias contados, disse o analista Kenneth Rapoza da revista Forbes.
 
Ryad Karamdi/AFP


Washington prepara 'uma guerra-relâmpago' petrolífera?
A capacidade dos países da OPEP de influenciar os preços do petróleo acabará nesse momento e, a partir de então, a Rússia e os Estados Unidos determinarão o tom da indústria, disse o especialista.

A formação siberiana de Bazhenov na Sibéria Ocidental possui grandes reservas de hidrocarbonetos, mais do que as jazidas juntas Eagle Ford e Bakken nos EUA e é estimada pelo Departamento de Energia dos EUA como o maior depósito de petróleo e gás de xisto no mundo.

De acordo com a Administração de Informação de Energia (AIE, na sigla em inglês) por causa desse depósito, a Rússia tem a segunda maior reserva de petróleo de xisto no mundo, com 74,6 bilhões de barris em comparação com 78,2 bilhões de barris dos EUA. A China está em terceiro lugar com cerca de 32,2 bilhões de barris.
 
REUTERS/ Laszlo Balogh 

Por que os EUA não poderão substituir o gás russo na Europa?
"Devido às sanções impostas à Rússia pela situação na Ucrânia, as empresas petrolíferas russas não podem se associar a empresas dos EUA para ensiná-las a extrair o petróleo de xisto. A Ucrânia foi um bom pretexto para manter a Rússia controlada, enquanto Washington reforça estar fazendo isso para defender seus novos aliados em Kiev. Mas se os russos puderam enviar cosmonautas ao espaço, ainda mais possuindo uma das maiores empresas petrolíferas do planeta, eles também saberão como extrair petróleo de xisto", disse Rapoza.

 
De acordo com o analista, Bazhenov e a Bacia do Permian no Texas garantem a independência dos EUA e da Rússia no campo da energia por muitos anos.

Ele não tem dúvidas de que a Rússia desenvolverá a tecnologia para extrair o xisto no devido momento. E quando isso acontecer, o confronto entre as três primeiras potências energéticas do mundo, ou seja, a Rússia, EUA e China, alcançará outro nível. 

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