Rogério Arioli Silva *
Demorou mas
aconteceu. Finalmente a insanidade das
ampliações de reservas indígenas perpetradas pela Funai em todo território
nacional chegou às cidades. Estas, até
então permaneciam incólumes ao clima de insegurança jurídica que vem tomando
conta do campo brasileiro. E veio pelo lado certo, bem pertinho do Palácio do
Planalto que, assim como todo o país, foi objeto da perambulação de povos
autóctones desde tempos imemoriais
O Juiz
Federal Paulo Cruz entendeu que há mesmo evidências de que a comunidade
indígena Fulni-ô Tapuya é tradicional ocupante de área distante 15 km do
gabinete da presidente Dilma. A área
reivindicada pela comunidade indígena e seus defensores é de apenas 50 ha o que
destoa das pretensões em outros locais do país.
É muito modesta a reivindicação dos índios brasilienses. Estes devem
estar muito mal assessorados, pois deveriam pretender milhares de ha que,
segundo os laudos antropológicos modernos, são necessários para garantir a
sobrevivência desses povos.
Na verdade
não é apenas uma etnia a reivindicar a área em questão. São três, mas parece que duas delas já
aceitaram receber áreas em outro local do DF.
Nada disso! Devem ficar é ali
mesmo, a exemplo do que tem ocorrido nos demais contenciosos patrocinados pelas
diversas ONGs indigenistas envolvidas na questão. Além disso, como foi divulgado, aquele local
faz parte do cinturão cósmico da América do Sul, uma faixa de terras que,
segundo a tradição indígena, possui grande força espiritual assim como a cidade
de Cuzco no Peru. A terra conhecida como
“Santuário dos Pajés” já foi inclusive tese de mestrado na área de Antropologia
da Universidade de Brasília.
A
comunidade indígena Fulni-ô habita ainda hoje uma aldeia de 11.500 ha no
município de Águas Belas no estado de Pernambuco. São considerados os únicos indígenas do
Nordeste que ainda mantêm viva sua língua nativa. Segundo estudos antropológicos alguns
indivíduos deslocaram-se daquela região no ano de 1950 com destino a nova
capital federal que iniciava sua construção. Fato curioso é que descende desta etnia o jogador Garrincha (1933-1983)
um dos maiores craques brasileiros de futebol de todos os tempos. Na aldeia
maranhense dos Fulni-ô existe uma discordância entre a FUNAI e os próprios
índios que não consideram seus descendentes aqueles membros que não participam
do ritual Ouricuri, uma espécie de retiro religioso sagrado. Muitos se dizem descendentes embora não
praticantes, o que é uma forma de garantir seu acesso à terra.
O que está
acontecendo atualmente em Brasília já vem ocorrendo, sistematicamente, há
vários anos em muitas regiões do país. Centenas de áreas são reivindicadas pela
FUNAI em quase todos os estados brasileiros levando a intranquilidade a muitos
proprietários de boa-fé. O acirramento
dos ânimos chegou ao extremo no estado do Mato Grosso do Sul onde são quase uma
centena as áreas invadidas, configurando-se num verdadeiro barril de pólvora pronto
a ir pelos ares, levando consigo sonhos e, quem sabe, algumas vidas. Era lógico e previsível que essas ampliações
de reservas chegassem também às cidades.
Nada mais justo, pois o ambiente urbano uma vez também foi rural e,
portanto, sujeito às perambulações dos ameríndios que aqui habitavam quando
Cabral aportou. Muitos habitantes das
cidades assumiram um discurso indigenista sem saberem que as ampliações de
reservas não garantem melhores condições de vida aos indígenas, pois estes já
detêm 13% do território brasileiro.
Agora,
quando a ameaça das ampliações atingirem também as cidades desalojando
proprietários urbanos, por certo haverá um entendimento mais coerente e menos
apaixonado. Será que existirão também
parcelamento de casas, lotes urbanos e apartamentos como forma de acomodar alguma
etnia indígena que tenha sido prejudicada por ocasião da demarcação de suas
terras? Certamente no ano de 2014 terá
que haver o enfrentamento dessa questão que apenas atingia os proprietários
rurais, muitas vezes demonizando-os como se fossem intrusos em sua própria
terra.
Lá em
Brasília a polícia foi extremamente eficaz na retirada de manifestantes
simpáticos aos indígenas, fato que não acontece em outros locais do país, onde
inclusive muitos mandados de reintegração de posse de áreas invadidas ficam
eternamente engavetados com o argumento de evitar-se o confronto. Enquanto o debate segue infrutífero, sem que
nada de concreto seja resolvido, fico imaginando o Ministro da Justiça tentando
convencer a presidente Dilma a escolher um novo local para instalar seu
gabinete. De preferência um local onde
não haja nenhum indício da presença indígena em tempos imemoriais.
* O autor é engenheiro agrônomo
e produtor rural no MT
.