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quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Lançamento de livros em família

Richard Jakubaszko  
Não é fato inédito, evidentemente, apenas é incomum, mas minha filha Daniela Jakubaszko, e seu marido, Rinaldo Arruda, autografam no dia 07/DEZ, sábado, seus livros, ambos na Livraria Patuscada, também Bar e Café, na Vila Madalena, a partir de 19h00.

Rinaldo, como antropólogo e cientista social, tem um relato de mudança e tradição sobre os índios Rikbaktsa, e Daniela revisita a sua tese de doutorado, sobre temas de interesse público abordados nas telenovelas brasileiras.



E as dedicatórias foram apostas, com alegria e sucesso de vendas!!! 


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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Cidadania, uma hipocrisia que vive de preconceitos

Egydio Schwade *
A sociedade que promove a “cidadania” vive cheia de preconceitos e a maioria das ações do cidadão são ações contra a “Mãe-Terra”.
Aquele que traz a comida à mesa do cidadão ao longo dos séculos, não é ele o objeto de expressões de desprezo como: “jeca-tatu” ou “vá plantar batatas”?

 
Não é a nossa “Mãe-Terra” apenas “sujeira” que deve ser enxotada pela vassoura e ser coberta pelo asfalto e pelo cimento-cidadão? Quem busca a cidade não busca logo a “cidadania”, isto é, (des)envolvimento, que significa cobrir a terra com asfalto, o chão da casa e o pátio com cimento, para não mais se envolver com a Terra?

 
Não é melhor pago aquele que vive fora desta “sujeira” da “Mãe-terra” e quanto mais longe dela melhor pagamento “merece”? Tem alguma razão séria para dar um salário de mais de R$ 30 mil reais a um membro do Supremo Tribunal Federal e nem se preocupar pelo salário do “plantador de batatas” que traz a comida à mesa?

 
O Estado não deve ser governado por um cidadão (des)envolvido da terra? Um “jeca-tatu”, um “plantador de batatas” candidato a Presidente, nem pensar! Desde o tempo dos romanos todo o governo é comandado por cidadãos e no Ocidente por cidadãos cristãos, cujos contrários são sintomaticamente “pagãos”.

 
Existe preconceito maior do que aquele usado contra os povos que não desejam cidade alguma, de cujos territórios, desde 1500, Governo e latifundiários se apropriam como se fossem “vazios demográficos”? O agronegócio, a mineração, projetos hidrelétricos, instalados em seu lugar, devastam a floresta, envenenam a Terra, saqueiam os recursos naturais e consomem a maior fatia do PIB – Produto Interno Bruto, não são eles cria do cidadão e apenas comida para o Estado-cidadão?

 
A cidadania está montada sobre preconceitos. O conceito de cidadania como objetivo da humanidade, deve ser banido, não fomentado. Ele fomenta, não a Economia, mas a Crematística, a queima dos recursos naturais, o aliciamento, ou a expulsão do homem do campo, a depredação do meio ambiente, a burocracia inútil e inerte... Enquanto os cidadãos não se derem conta de sua realidade de “micróbios”, causadores das doenças e chagas incuráveis que assolam o Planeta e dela não abdicarem, a Mãe-Terra e seus recursos serão saqueados, os agricultores familiares serão prejudicados para beneficiar latifundiários que contaminam a comida, não praticam agricultura, mas apenas negoceiam, escondidos em escritórios urbanos.

 
O cidadão vive em quadriláteros. Aprofunda-se na “ciência” de seus quadriláteros e, talvez, por isso julga-se mais sábio do que o homem do campo, que se defronta incessantemente com esta imensa variedade de desenhos geográficos em meio a qual se sente humildemente um ignorante.

Que sentido tem nomear uma pessoa que passou a sua vida inteira em gabinetes ou em escolas urbanas, Ministro da Agricultura, dirigente do IBAMA, ou de qualquer órgão que tem como função zelar e apoiar a vida na Terra? Não passa de fomento ao preconceito contra os agricultores?

 
Aqui no município de Presidente Figueiredo, há uma comunidade, Terra Santa, que contra todas as leis do país está sendo despejada de seus direitos e terras, assim como o foram os indígenas que até 50 anos atrás eram os donos deste território e ate 500 anos atrás, de toda a terra brasileira. Há cinco anos, os dirigentes de pelo menos uma dezena de órgãos públicos, existentes para solucionar a situação da Terra Santa, sabem onde está sua obrigação. Não fazem justiça porque trancados em seus escritórios cidadãos, não sentem a aflição e a injustiça do povo pagão e por isso apenas “monitoram” à distancia. Quem aflige a comunidade é um madeireiro, fora da lei, que saqueia a floresta e impune prossegue em sua ação criminosa, protegido pelos interesses dos cidadãos que comandam os órgãos da justiça de plantão. E não faltam escritórios cheios de especialistas, mas com medo de mudar de lugar para enxergarem a realidade que devem julgar. Assim a Terra Santa aguarda há seis anos a justiça apenas “manipulada”, “monitorada” e adiada pelo cidadão...

 
Recentemente, no Baixo Tapajós, junto com um amigo engenheiro ambiental, contamos 40 pequenas embarcações, abastecendo 3 navios pesqueiros. Uma evidente infração à vida do rio e dos recursos necessários para filhos e netos dos “pagãos” da região. Questionado, um agente do IBAMA justificava a sua inércia diante da situação de depredação: “infelizmente, eles tem autorização!” E quem forneceu este documento de autorização criminosa? Um cidadão que não tem compromisso com as necessidades presentes e futuras das pessoas do interior. Ele é um cidadão e só por isso é o único que “sabe e decide”.

 
Está aí Manaus, a Zona Franca, um Grande Projeto da Ditadura Militar que desocupou o interior da Amazônia, deixando-o livre para o saque das riquezas naturais.

 
O cidadão é essencialmente arrogante diante da Mãe-Terra. Quer vê-la sob o cimento ou sob o asfalto. É essencialmente depredador da natureza, preconceituoso contra quem vive da terra e na terra. Monitora os prejuízos, faz de conta que se interessa, mas não os soluciona. Vive de fazer belos projetos sobre a Terra, projetos para fazer dinheiro, ou transformar a Terra em cinza, como se os seus recursos não tivessem fim. É a Crematística, a “Economia” do Estado.

 
Enquanto houver metrópoles nunca se irá às causas ultimas dos males que afligem o planeta Terra. Sempre haverá depredação do meio ambiente, produtos químicos na mesa. O preconceito, o consumismo e o (des)envolvimento reinarão sobre o “pagão”. Porque a metrópole é inimiga essencial da Terra.

 
Quem vai banhar na Corredeira do Urubuí, em Presidente Figueiredo/AM, pare um pouco antes da ponte sobre o rio. Ali onde estava a caixa de lixo. Num só golpe de vista, sobre 10 metros de distância, tem a visão do resultado de três modelos, ou paradigmas, da atividade humana sobre a Mãe-Terra. Lá no fundo, a “terra-preta”, resultado do paradigma do “envolvimento”, de quem se envolveu com a terra, projetando o Bem-Viver sobre ela, numa perspectiva de gerações sem fim. No meio, o paradigma do “consumo”, a lixeira avançando sobre a Terra, inclusive sobre a “terra-preta”. Cá e lá ainda permite a vida de uma fruteira: um pé de ingá, um teimoso mamoeiro, ou um pé de girimum... Finalmente, onde estamos parados, observando tudo, o paradigma do (des)envolvimento, o asfalto cobrindo tudo. Onde nada mais cresce e vive. O objetivo último do cidadão é a metrópole, a nossa Casa Comum transformada em lixeira, ou na infertilidade ou ausência total de vida.

Finalmente, fica o Feliz Natal de Paulo Apóstolo aos cristãos:

“Nós somos a merda do mundo, o lixo de todos (ICor.4,13). O que há de louco no mundo, Deus o escolheu para fazer vergonha aos sábios e o que há de fraco no mundo, Deus o escolheu para fazer vergonha aos fortes. O que há de mais ordinário no mundo, o menosprezado, o que não existe, Deus o escolheu para reduzir a nada o que existe! (I Cor.1.26-28)”. (Tradução do historiador Eduardo Hoornaert em ”As Origens do Cristianismo” pg. 50).

 
* o autor é padre pertencente à ordem religiosa dos Jesuítas, indigenista, ambientalista, fundador da ONG Amazônia Nativa, e apicultor em Presidente Figueiredo/AM.

Outros textos do autor, em Casa da Cultura do Urubuí – Cacuí - http://www.urubui.blogspot.com/

COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO:
Concordo em gênero, número e (parcialmente) grau com o autor, a quem não conheço pessoalmente, mas temos afinidades familiares, pois é sogro de uma de minhas filhas. Como este é um blog de debate, e por achar interessante o texto, publico o mesmo exercendo meu entendimento nas letras abaixo:

O que ocorre na nossa Amazônia é fruto da desmesurada necessidade humana da acumulação de bens e patrimônios, apontada pelo autor como a Crematística, já identificada pelos filósofos gregos aristotélicos como algo prazeroso. Se a Crematística já era um problema naquela época, 3 mil anos atrás, quando a população mundial não chegava a 30 milhões de habitantes, imaginemos hoje, com 7,4 bilhões.

O ser humano é o único integrante da natureza que tem o vício da acumulação, com a notável exceção à regra das formigas e abelhas. Afora esse quesito, um mero detalhe, e da filosofia à parte de Epicuro (que explico abaixo), a humanidade explodiu o crescimento demográfico a partir do século XVIII, quando atingiu seu primeiro bilhão de habitantes, e não parou mais, apoiada pelo incentivo Divino dito a Moisés, de "Crescei e multiplicai-vos", com aval da Igreja Católica Apostólica Romana, que considera um dogma a proibição de uso de anticoncepcionais. Com o consumismo dos atuais 7,4 bilhões de bocas (excluídos cerca de 1 bilhão que passam fome), mais a corrupção dos agentes de governo e empresários, chegamos ao limite do planeta nos seus serviços ambientais. Vamos precisar de um outro planeta para alimentar essa sociedade extra que está chegando.

Tenho sempre em mente um pensamento de Epicuro:


Epicuro foi o fundador do hedonismo, pensamento que está essencialmente ligado às necessidades e aos prazeres dos humanos. Destacava ele que existem três coisas naturais, sendo que a primeira é natural e essencial, sem o qual morremos, como água e alimento; a segunda é natural e não essencial, como sexo e alimento (inclusive bebidas alcoólicas, como vinho e cerveja) que nos trazem prazeres, mas sobrevivemos se eles não existirem.

E a terceira é não natural (mas é humana) e não essencial, como drogas alucinógenas (como meio de fuga da realidade) e posses de bens materiais, que redundam no consumismo, causa da grande maioria das frustrações humanas, pois é impossível possuirmos tudo o que queremos e desejamos.

O consumismo possui uma denominação contemporânea eufemística, que é chamada de supérfluo.
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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A pátria armada

Richard Jakubaszko
Uma autocrítica sempre é necessária.
Somos um país com mais de 200 milhões de cidadãos incultos, nas letras e na política, sem poupança, que elege e reelege políticos corruptos, alguns golpistas, quase todos lobbystas de uma elite leviana, que é incapaz de olhar para o futuro da nação, e que não se importa com a história. Somos uma nação macunaímica, que priva crianças de educação, contrata trabalhadores com sub empregos, que abandona nossos velhos aposentados com benefícios ridículos, e temos uma justiça comprometida, cara e demorada.

Regredimos episodicamente em nossa história. Agora nos ordenam para voltar a sonhar, para reconquistar a posição no pedestal, de "o país do futuro".
Enquanto isso, os políticos vão vender o pré-sal, empresas, estradas, e outras riquezas da nação, vão flexibilizar a CLT, ajustar o orçamento federal para poder pagar os juros da dívida pública aos bancos e rentistas, com os aplausos da mídia mais corrupta e comprometida do planeta, mesmo que isso signifique menos investimentos em saúde e educação.

Sem lamentações, por favor, pois o povo e a classe mérdia ainda acredita que Deus é brasileiro. Não decepcionemos o povo, pois a mídia vai aplaudir.
Somos um povo cheio de convicções, mesmo que não existam provas.

O vídeo abaixo é a apoteose do país das chuteiras.

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quinta-feira, 17 de julho de 2014

O povo brasileiro, por Darcy Ribeiro

Richard Jakubaszko 
Abaixo um vídeo antológico com a história do povo brasileiro, em que o índio está na base. Darcy Ribeiro fez vários comentários ao longo do vídeo, assim como de convidados, sobre como a miscigenação formou o povo que hoje conhecemos. Evidentemente que é longo o vídeo, com mais de 4 horas, mas vale por um bom livro, e pode ser assistido em capítulos, ao gosto de cada um.

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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Chegou à cidade

Rogério Arioli Silva

Demorou mas aconteceu. Finalmente a insanidade das ampliações de reservas indígenas perpetradas pela Funai em todo território nacional chegou às cidades. Estas, até então permaneciam incólumes ao clima de insegurança jurídica que vem tomando conta do campo brasileiro. E veio pelo lado certo, bem pertinho do Palácio do Planalto que, assim como todo o país, foi objeto da perambulação de povos autóctones desde tempos imemoriais

O Juiz Federal Paulo Cruz entendeu que há mesmo evidências de que a comunidade indígena Fulni-ô Tapuya é tradicional ocupante de área distante 15 km do gabinete da presidente Dilma. A área reivindicada pela comunidade indígena e seus defensores é de apenas 50 ha o que destoa das pretensões em outros locais do país. É muito modesta a reivindicação dos índios brasilienses. Estes devem estar muito mal assessorados, pois deveriam pretender milhares de ha que, segundo os laudos antropológicos modernos, são necessários para garantir a sobrevivência desses povos.


Na verdade não é apenas uma etnia a reivindicar a área em questão. São três, mas parece que duas delas já aceitaram receber áreas em outro local do DF. Nada disso! Devem ficar é ali mesmo, a exemplo do que tem ocorrido nos demais contenciosos patrocinados pelas diversas ONGs indigenistas envolvidas na questão. Além disso, como foi divulgado, aquele local faz parte do cinturão cósmico da América do Sul, uma faixa de terras que, segundo a tradição indígena, possui grande força espiritual assim como a cidade de Cuzco no Peru. A terra conhecida como “Santuário dos Pajés” já foi inclusive tese de mestrado na área de Antropologia da Universidade de Brasília.


A comunidade indígena Fulni-ô habita ainda hoje uma aldeia de 11.500 ha no município de Águas Belas no estado de Pernambuco. São considerados os únicos indígenas do Nordeste que ainda mantêm viva sua língua nativa.  Segundo estudos antropológicos alguns indivíduos deslocaram-se daquela região no ano de 1950 com destino a nova capital federal que iniciava sua construção. Fato curioso é que descende desta etnia o jogador Garrincha (1933-1983) um dos maiores craques brasileiros de futebol de todos os tempos. Na aldeia maranhense dos Fulni-ô existe uma discordância entre a FUNAI e os próprios índios que não consideram seus descendentes aqueles membros que não participam do ritual Ouricuri, uma espécie de retiro religioso sagrado. Muitos se dizem descendentes embora não praticantes, o que é uma forma de garantir seu acesso à terra.

O que está acontecendo atualmente em Brasília já vem ocorrendo, sistematicamente, há vários anos em muitas regiões do país. Centenas de áreas são reivindicadas pela FUNAI em quase todos os estados brasileiros levando a intranquilidade a muitos proprietários de boa-fé. O acirramento dos ânimos chegou ao extremo no estado do Mato Grosso do Sul onde são quase uma centena as áreas invadidas, configurando-se num verdadeiro barril de pólvora pronto a ir pelos ares, levando consigo sonhos e, quem sabe, algumas vidas. Era lógico e previsível que essas ampliações de reservas chegassem também às cidades. Nada mais justo, pois o ambiente urbano uma vez também foi rural e, portanto, sujeito às perambulações dos ameríndios que aqui habitavam quando Cabral aportou. Muitos habitantes das cidades assumiram um discurso indigenista sem saberem que as ampliações de reservas não garantem melhores condições de vida aos indígenas, pois estes já detêm 13% do território brasileiro.


Agora, quando a ameaça das ampliações atingirem também as cidades desalojando proprietários urbanos, por certo haverá um entendimento mais coerente e menos apaixonado. Será que existirão também parcelamento de casas, lotes urbanos e apartamentos como forma de acomodar alguma etnia indígena que tenha sido prejudicada por ocasião da demarcação de suas terras? Certamente no ano de 2014 terá que haver o enfrentamento dessa questão que apenas atingia os proprietários rurais, muitas vezes demonizando-os como se fossem intrusos em sua própria terra.


Lá em Brasília a polícia foi extremamente eficaz na retirada de manifestantes simpáticos aos indígenas, fato que não acontece em outros locais do país, onde inclusive muitos mandados de reintegração de posse de áreas invadidas ficam eternamente engavetados com o argumento de evitar-se o confronto. Enquanto o debate segue infrutífero, sem que nada de concreto seja resolvido, fico imaginando o Ministro da Justiça tentando convencer a presidente Dilma a escolher um novo local para instalar seu gabinete. De preferência um local onde não haja nenhum indício da presença indígena em tempos imemoriais.


* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural no MT
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