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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

COP27, olha só a hipocrisia

Richard Jakubaszko  
A tchurma da COP27 esbanja classe e categoria, faz turismo do bom e do melhor, lá faz acordos e recomendações pra você cumprir, olha só:

Essa hipocrisia dos jatinhos já seria uma boa razão para você ler o livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?", onde explico tim-tim por tim-tim como se criou essa história do aquecimento, que eu qualifico como a maior mentira do século XXI.

Clique na capa do livro aí na coluna à direita do blog, compre e leia o livro antes que você passe a acreditar em mula sem cabeça ou em outras barbaridades negacionistas.

 

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domingo, 10 de outubro de 2021

Cadê o fogo que estava aqui?

Evaristo de Miranda *

De junho a setembro deste ano, a redução 
de incêndios e queimadas foi de 13% no Brasil.
In God, we trust.
All others must bring data.
(Em Deus nós acreditamos.
Todo o resto deve apresentar dados.)
Edwards Deming


Chegou a primavera e, com ela, as chuvas. O relógio do clima tropical é preciso. Passado o equinócio de setembro, aos poucos se encerra o ciclo sazonal de queimadas e incêndios no Brasil. Como em outros temas, as queimadas têm sido objeto de uma preocupação seletiva da mídia. Nesta estação seca, as redações não se incendiaram com denúncias e acusações sobre queimadas e incêndios no Brasil. Nem aqui, nem no exterior. Poucos tocaram no assunto. Comportamento muito diferente do de 2020. A razão seria a redução do fogo no Pantanal e na Amazônia durante a estação seca de 2021. Contra fatos…

De junho a setembro deste ano, a redução de incêndios e queimadas foi de 13% no Brasil. O país registrou 124.995 focos de fogo, valor idêntico ao de 2019 (125.821). Em mais de 30 anos, entre 1988 e 2021, a média foi de 135.000 no período seco. Em 2020, foram 143.000 focos, valor acima da média. Variações interanuais podem ser grandes: já se registrou um mínimo de 57.000 queimadas no ano 2000 e um máximo de 265.000 em 2007.

Os dados são do monitoramento das queimadas por satélite, realizado pela Nasa. Há décadas, a ocorrência de qualquer fogo de alguma magnitude é detectada várias vezes por dia, por diversos satélites, em sua maioria norte-americanos. O sistema atual de referência internacional para monitorar queimadas e incêndios usa os dados do satélite Aqua M-T, da Nasa. A detecção dos pontos de calor ou fogos ativos pelo satélite é disponibilizada, em tempo quase real, num site conhecido como Firms (Fire Information for Resource Management System). E, no Brasil, esses dados são oferecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) no Programa Queimadas.

No Pantanal, a redução foi de 69% em relação a 2020. Situação parecida na Amazônia: uma redução de 26%, contrastando com o aumento de 2020. Quem divulgou os dados sobre a redução das queimadas e incêndios nesses dois biomas? Ou tentou entender as razões? Quem comparou a dinâmica do fogo nos seis biomas brasileiros e alhures? Cadê os interessados?


Como na parlenda Cadê o toucinho que estava aqui?, é a água que apaga o fogo. O peso climático sobre a ocorrência maior ou menor, adiantada ou atrasada, das queimadas é enorme. São flutuações em escala continental. Na América do Sul, a redução dos fogos detectados neste período de 2021 foi até superior à registrada no Brasil: menos 18%. Segundo dados do Inpe, tratados pela Embrapa Territorial, do total registrado na América do Sul (200.194), mais da metade ocorreu no Brasil (62%), seguido por Bolívia, Argentina (ambos com 11%) e Paraguai (9%). São valores relacionados à dimensão territorial dos países. Com números ponderados pela área, o Paraguai é o campeão de queimadas: 44 a cada 1.000 quilômetros quadrados; seguido por Bolívia, com 21; Brasil, com 15; e Argentina, com oito queimadas a cada 1.000 quilômetros quadrados.
 
O Ano da Graça de 2021 passará à história como um exemplo de redução nesse fenômeno indesejado? Alguém explicará as causas dessa variação? Provavelmente, não. O Poder Executivo, acusado pelo aumento das queimadas na Amazônia ou no Pantanal em 2020, será responsabilizado pela redução do fenômeno? Dificilmente. Nem no Dia da Amazônia, em setembro, as catilinárias e as diatribes sobre as ações humanas nesse bioma não saudaram a redução no número das queimadas.

Em agosto passado, artigo na Revista Oeste destacou quanto a distinção entre queimadas e incêndios é necessária para a adoção de políticas públicas e privadas adequadas à redução do uso do fogo no mundo rural. A solução é ampliar o emprego de novas tecnologias agropecuárias para substituir o uso do fogo em diversos sistemas de produção. A queimada é uma tecnologia agrícola. Não se trata de prevenir queimadas, como no caso dos incêndios, mas de substitui-las por tecnologias modernas.

Agricultores não queimam por malvadeza. Essa prática do neolítico foi herdada essencialmente dos índios (coivara). Povoadores europeus a adotaram, aqui e na América Latina. Ela é tradicionalíssima na África, onde também é utilizada como técnica de caça. É sobretudo o produtor não tecnicizado, descapitalizado e marginalizado do mercado quem emprega o fogo — ocasionalmente — para renovar pastagens, combater carrapatos, eliminar resíduos vegetais acumulados, limpar áreas de pousio etc. E eles são minoria: menos de 2%. Do total registrado de queimadas, mais de 15% ocorrem em terras indígenas, áreas urbanas e periurbanas, beira de estradas etc. Fora das fazendas. São 6 milhões de produtores e cerca de 110.000 queimadas rurais no Brasil. Mais de 98% dos produtores não empregam o fogo em seus sistemas de produção. Não se trata de uma prática generalizada. A única prática generalizada é acusar toda a agropecuária brasileira. Há como reduzir o uso do fogo a menos de 1% dos produtores e tentar eliminá-lo por completo. Alternativas técnicas à prática das queimadas existem.
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O apagão midiático parece resultar de uma verdade inconveniente: 
a redução das queimadas não interessa.
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Já com os incêndios é diferente. Esse fogo indesejável ocorre fora de hora e lugar. Destrói patrimônio público e privado. Reduz a biodiversidade. Mata pessoas. Sua prevenção é fundamental. Uma vez iniciados, eles são difíceis de controlar. Muitas fazendas, usinas de cana-de-açúcar e grupos de reflorestamento mantêm brigadas anti-incêndios treinadas e equipadas para atuar, com o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil. Mesmo assim, neste ano, particularmente na região nordeste do Estado de São Paulo, ocorreram incêndios em canaviais provocados criminosamente ou por atos irresponsáveis. Na época da colheita, a palha seca da cana-de-açúcar é altamente comburente e queima como papel.

É paradoxal ver queimarem tantos canaviais como neste ano em São Paulo. Essa cultura foi a responsável pela maior redução do uso do fogo na agricultura observada no país. Nos anos 1990, a Embrapa monitorava as queimadas, com o sistema orbital NOAA-AVHRR, em colaboração com o Inpe. Os dados e mapas ainda estão disponíveis. Até a década de 1990, a colheita manual da cana-de-açúcar era precedida pela queima da palha, para facilitar o trabalho dos cortadores. Essa queima fazia parte até dos compromissos dos usineiros com os cortadores em acordos trabalhistas. Entre junho e novembro de 1994, o sistema NOAA-AVHRR registrou 4.380 queimadas de grande porte em São Paulo, concentradas na região canavieira. Programas e acordos levaram à mecanização da colheita e dispensaram há um tempo o fogo e a mão de obra dos boias-frias. Em 2009, no mesmo período, o sistema de monitoramento por satélite registrou apenas 299 queimadas.
Em 2020, incêndios e queimadas mobilizaram a mídia nacional e internacional, com acusações ao Brasil por parte de organizações não governamentais, do presidente francês, de outros chefes de governos e até com fotos de girafas e cangurus queimados. Neste ano, alguns até tentaram uns sinais de fumaça, mas faltou lenha ou fogo. O apagão midiático parece resultar de uma verdade inconveniente: a redução das queimadas não interessa. Apenas seu aumento. Os desafios colocados pelo uso do fogo na agricultura também não interessam. Levar tecnologias, financiamentos e conhecimentos para os pequenos agricultores reduzirem o uso do fogo também não. Só interessaria o incremento para acusar e culpar A ou B, como no ano passado? Aqui e no exterior? Em 2021, ainda não houve uma reportagem para atribuir o mérito da redução das queimadas a A ou B. Nem aqui, nem no exterior. Cadê o crítico? O gato comeu. C´est la vie.

* o autor é engenheiro agrônomo e doutor em ecologia, Chefe Geral da Embrapa Territorial – Campinas – SP.

Publicado em
https://revistaoeste.com/revista/edicao-81/cade-o-fogo-que-estava-aqui/#comment-119588



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segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Nada decidido, tudo indefinido e muito confuso.

Richard Jakubaszko


O mundo anda cada vez mais maluco, não tenhamos dúvidas disso. O mais espantoso de hoje é o presidente americano, Joe Biden, dizer que "os EUA não podem participar de uma guerra que nem os afegãos querem lutar". Deve ser o novo estilo do “politicamente correto” dos EUA pra acalmar Wall Street. A pandemia, de outro lado, continua, com a variante Delta do Covid-19 metendo medo em gente grande já vacinada.

Na América Latina o espanto acontece na política, na economia e na justiça. No futebol mais ainda, com as maluquices estimuladas provavelmente pela pandemia do coronavírus, vejam que dos 8 times de futebol classificados na Libertadores para as quartas de final, há 5 times brasileiros, 1 argentino, 1 do Equador e 1 paraguaio, e nas semifinais há chances concretas de serem 4 times brasileiros, ou no mínimo 3 brasileiros e 1 equatoriano... Muitos hermanos ameaçam pedir exílio na Europa.

Nada diferente no Brasil, o presidente que temos está sendo investigado pelo STF em 4 casos, e ameaça de impeachment 2 ministros da suprema corte, enquanto votações malucas acontecem no Congresso orquestradas pelo centrão, inclusive PECs, afora reformas da política e tributária, enquanto o STF manda
o procurador geral, e também engavetador geral, dar respostas em 24 horas sobre pendência de opinião da PGR  sobre as ações contra Bolsonaro, e se esconde na toca do tatu...

Mas nosso futebol é ainda mais maluco e indefinido, talvez um presente do coronavírus, eis que nunca vi na página de cima do campeonato Brasileirão times como o Fortaleza, RedBull Bragantino, Ceará, e muito menos o Atlético de Goiás, enquanto na página de baixo estão Corinthians, São Paulo, Fluminense, e lá embaixo na Z4 do rebaixamento temos o Grêmio. Na série B, alguns ex-grandes times como Vasco, Botafogo, Cruzeiro, Guarani, Ponte Preta, lutam arduamente para voltar, ou pior ainda, não cair para a série C.

A questão sobre se a economia vai andar pra frente, e gerar mais emprego, ainda depende do corona. Nada decidido, tudo indefinido. O governo federal ainda pensa e discute se manda aplicar uma terceira dose da vacina nos velhinhos brasileiros, eis que muitos deles andam se contaminando com o coronavírus, agora que tem muita gente achando que a pandemia acabou e que pode liberar geral. Na Europa também ainda discutem isso. Mas a França já decidiu que vai dar a terceira dose.

Os ambientalistas andam achando que a pandemia está indo embora, e voltam a nos ameaçar com o fim do mundo, conversa que eles adoram, mas que a pandemia colocou em segundo plano nos últimos meses. Se efetivamente a pandemia viral continuar reduzindo o número de novas contaminações e caindo as mortes, os biodesagradáveis voltarão a encher o saco com a bandeira da sustentabilidade, agora acompanhados com o novo lema, o do carbono zero, comprovando que o mundo imbecilizou de vez e em definitivo. Não precisa zerar, estamos com 380 a 400 ppm de carbono na atmosfera, se conseguirem baixar pra uns 300 ppm que seja (uma utopia) o mundo termina mesmo, pois não haverá carbono suficiente para as plantas fazerem fotossíntese, e sem plantas e sem animais, a humanidade morre de fome. 

Mas os ambientalistas vão ganhar os próximos rounds, pois há um estudo ambiental que denuncia que nos últimos 35 anos cerca de 25% do território brasileiro sofreu com queimadas. No mundo inteiro isso vai repercutir. Evidentemente que não esclarecem nada, trazem mais informações confusas, incluem o Cerrado, a Caatinga, Amazônia e o Pantanal num mesmo barco, e também a Mata Atlântica. Bolsonaro vai se ver em palpos-de-aranha pra se explicar, porque no governo dele isso piorou muito.

Difícil é obter dos ambientalistas uma informação racional, porque sempre colocam o Maranhão como bioma amazônico, quando no máximo uma parte do estado é Amazônia Legal, uma condescendência política de Getúlio Vargas para que o pobre estado recebesse incentivos fiscais. E ficou nisso até hoje, mais de 70 anos depois.

Uma coisa é certa, o Covid-19 veio pra ficar, tal e qual as gripes. Fora isso, como se as coisas não estivessem ruins, vamos passar ainda este ano, pela seca que nos aflige, quando até racionamento de água haverá em algumas regiões. Poderemos ter alguns apagões, e a inflação vai continuar, como reflexo das geadas. É pouco? Não, não é. Parece que a imbecilização também vai aumentar, é um estágio definitivo, do qual a humanidade não conseguirá reverter. As escolas não ensinam ninguém a pensar.

 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Escritor norueguês analisa a relação ambígua de seu país com a Amazônia: “Somos parte da solução e do problema”

Débora Pinto

Estação de tratamento de água da Alunorte, refinaria da mineradora norueguesa Hydro em Barcarena (PA). Foto: Anders Vindegg/Hydro.   
Em seu novo livro, ‘A luta pela floresta’, o geógrafo social Torkjell Leira faz umbalanço dos 40 anos de relação da Noruega com a Amazônia. Uma relação ambígua, segundo ele, já que o mesmo país que investe bilhões em preservação também subsidia empreendimentos industriais que aceleram a degradação da floresta.

A Noruega investiu cerca de 900 milhões de dólares em conservação na última década através do Fundo Amazônia e outras iniciativas. Mas, segundo Leira, investimentos de companhias e instituições estatais norueguesas em atividades prejudiciais à floresta alcançaram um valor cinco vezes maior.

O geógrafo social norueguês Torkjell Leira é conhecido como um dos principais especialistas sobre o Brasil em seu país. Desde a experiência de um intercâmbio, há aproximadamente trinta anos, o também escritor passou a direcionar seus estudos e atividades de trabalho para as terras e gentes brasileiras — seu foco na Amazônia o levou a trabalhar por seis anos na Fundação Rainforest, além de coordenar projetos junto a comunidades para organizações e empresas na região. Há décadas Leira acompanha de perto as relações entre Brasil e Noruega no que se refere às questões ambientais e climáticas, sendo uma importante voz em defesa da floresta também quando está em sua cidade, a capital Oslo.

É a partir dessa perspectiva que o escritor lança no Brasil o livro A luta pela floresta: como a Noruega ajuda a proteger — e a destruir — o meio ambiente no Brasil, pelo selo Hiperbórea, da editora Rua do Sabão. Quase como um suspense, a narrativa parte das tubulações da mineradora semi-estatal norueguesa Hydro — às quais Leira teve acesso após escândalo ambiental de vazamento de rejeitos que ganhou proporções internacionais.

No desdobrar, vão sendo relatados os muitos pontos de conexão entre os dois países, desde os tempos dos chamados ciclos da borracha, em que representantes noruegueses da habilidade nórdica de navegação praticamente monopolizavam o transporte de produtos e pessoas na região, até as mais íntimas e contemporâneas relações entre agentes de poder político e econômico que fazem do Brasil, e mais especificamente do solo amazônico, um território de farto investimento nem sempre alinhado com a proteção à floresta.

Leira trata, com a mesma intensidade, da forma como a preservação da floresta tropical consolidou-se ao longo de décadas como uma prioridade na cultura dos noruegueses, destacando ainda o processo que levou à criação, em 2008, do Fundo Amazônia, maior projeto de colaboração entre Brasil e Noruega em prol da conservação, encerrado pelo governo Jair Bolsonaro em 2019.

Nesta entrevista exclusiva para a Mongabay, Torkjell Leira repercute a as informações publicadas em seu livro, analisa as delicadezas das relações atuais entre os dois países e rebate a narrativa que coloca as regulações a iniciativas internacionais em prol da floresta como ações de natureza neocolonial.

Escritor norueguês Torkjell Leira. Foto Siw Pessar

Mongabay: Em seu livro, você detalha o protagonismo e as ambiguidades da atuação da Noruega na Amazônia. Como é lançar essa obra no Brasil no momento em que o discurso governamental vigente demoniza iniciativas estrangeiras em território amazônico?

Torkjell Leira: É algo que me preocupa muito. Quando falamos da relação entre Brasil e Noruega hoje no que se refere ao meio ambiente, eu acredito que é difícil piorar. Mas, mesmo percebendo a delicadeza do momento, que envolve ainda o pior ataque aos povos indígenas provavelmente desde a época da ditadura militar — além de toda a drástica piora nas políticas ambientais sob Bolsonaro —, eu não posso deixar de tornar públicas as ações do governo e do setor industrial norueguês que são prejudiciais à floresta. Porém, eu também descrevo a íntima relação dos noruegueses com a causa da conservação amazônica e as muitas ações positivas em uma colaboração de pelo menos quarenta anos entre os dois países para a região. Realmente espero que o livro não seja usado para supostamente embasar críticas unilaterais à Noruega.

O escândalo ambiental ocorrido em 2018 envolvendo a gigantesca mineradora semi-estatal norueguesa Hydro na comunidade paraense de Barcarena é o fio condutor da narrativa que percorre de forma fortemente embasada outros aspectos questionáveis do investimento norueguês na floresta. Como os noruegueses receberam essas informações?

As pessoas ficaram chocadas. Eu mesmo fiquei bastante surpreso quando percebi, após um estudo rigoroso, o tamanho dos recursos que foram destinados para as forças e os atores que ajudam a destruir a floresta e a desproporção em relação ao que é destinado para a conservação. A Noruega investiu aproximadamente 8 bilhões de coroas [900 milhões de dólares, no câmbio atual] em conservação na última década, através do Fundo Amazônia e outras iniciativas. Mas se formos somar os investimentos em empresas brasileiras que degradam advindos do nosso fundo soberano do petróleo, os investimentos diretos das companhias norueguesas e a importação da soja brasileira que alimenta o nosso salmão, temos um valor pelo menos cinco vezes maior. Somos parte da solução, mas também parte do problema. Eu espero que as informações que estão no livro de alguma forma possam ajudar a reduzir o problema e a ampliar a solução.

Em 2019 os repasses noruegueses destinados ao Fundo Amazônia foram congelados após divergências com o governo brasileiro. Já em maio de 2020 foi a vez do fundo soberano noruegês excluir a Vale e a Eletrobrás de sua lista de investimentos por impactos negativos ao meio ambiente e aos direitos humanos. Como você avalia essa intensa retirada de recursos — e a narrativa que insinua tratar-se de uma estratégia neocolonial, um modo indevido de intervenção externa nas políticas ambientais brasileiras?

Sobre a retirada dos recursos por parte do fundo soberano, a pergunta que fica é: como empresas que sabidamente degradam o meio ambiente e prejudicam as populações locais estavam recebendo esse investimento até agora? É necessário que esses critérios sejam melhor elaborados, não adianta só querer fazer o papel bonito na história. O governo Bolsonaro fechou os comitês que cuidavam do Fundo Amazônia, levando o governo noruguês a encerrar o seu apoio e dissolvendo uma década de colaboração. Ninguém acha bom tirar dinheiro do Brasil. A única coisa que está sendo solicitada é que a legislação ambiental brasileira seja respeitada. É importante perceber que o discurso sobre neocolonialismo vale para entidades estrangeiras que atuam na proteção da floresta, enquanto as empresas de capital estrangeiro seguem sendo bem-vindas para explorá-la de maneira predatória.

Diante deste cenário estarrecedor é possível observar, do seu olhar, algum caminho para interromper a escalada de destruição na Amazônia?

Com certeza. Há dez anos o Brasil era uma referência mundial no combate ao desmatamento ao mesmo tempo em que experimentava crescimento econômico — e o sistema capitalista selvagem era o mesmo. Claro que hoje temos um cenário global distinto, mas o país sabe exatamente quais são as práticas que dão certo porque ele mesmo já implementou e teve bons resultados. Outros fatores favoráveis são a intensificação da pressão internacional e — algo que é novo — a importância que hoje é dada à questão ambiental por parte dos investidores estrangeiros, muitos deles inclusive noruegueses. É possível transformar a realidade desde que se tenha um governo que coloque a questão da conservação na centralidade da pauta e que aja com a intenção real de manter a floresta em pé. Eu realmente acho que é fundamental sabermos valorizar o que foi construído, aprendido — e não apenas lamentar o que estamos perdendo, mesmo que tantos esforços estejam sendo comprometidos. Para finalizar com uma expressão em português, eu diria: muita calma nessa hora.

Publicado originalmente em https://envolverde.com.br/escritor-noruegues-analisa-a-relacao-ambigua-de-seu-pais-com-a-amazonia-somos-parte-da-solucao-e-do-problema/


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sábado, 26 de setembro de 2020

Aprosoja pede desligamento da Abag

Richard Jakubaszko
Rompimento ocorreu por divergências das ações necessárias para combater o desmatamento *

A Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil) enviou nesta sexta-feira (25/9), uma carta à Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), pedindo desligamento da entidade. Com o rompimento, o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz Pereira, participante do Conselho Diretor da Abag, renuncia ao cargo.

A fervura entre as duas entidades ganhou escala depois que a Abag decidiu compor o grupo de entidades e empresas que, junto à Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, listou um conjunto de sugestões para diminuir o desmatamento na Amazônia Legal. O manifesto foi entregue ao presidente Bolsonaro. Braz tem posicionado essa ação como “politicagem”.

A decisão do rompimento ocorreu em uma assembleia extraordinária, realizada nesta quarta-feira (23/9), e foi por unanimidade das 16 entidades estaduais que formam a Aprosoja. De acordo com a nota divulgada, a “decisão se deu em razão de entendimento de não mais serem convergentes os interesses da Aprosoja Brasil e esta entidade [Abag]”.

* Publicado originalmente no Portal DBO: https://www.portaldbo.com.br/aprosoja-pede-desligamento-da-associacao-brasileira-do-agronegocio/

NOTA DO BLOGUEIRO:
Entendo que seria uma questão de tempo, até mesmo inevitável, esse desenlace entre entidades associativas representativas dos produtores rurais, como a Aprosoja, e a entidade que representa os interesses das indústrias de insumos, como a Abag, que sanciona as sugestões da
Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura ao governo de Jair Bolsonaro, em razão do conflito. Acompanho com minúcias os conflitos desses interesses desde a questão da moratória da soja, lançada em 2006, e sempre me posicionei contrário à ela. Nunca entendi e tampouco aceitei a posição inicial da Aprosoja de aderir à moratória, pois os prejuízos dos produtores rurais estabelecidos na chamada região da Amazônia Legal eram evidentes, mesmo que estivessem com áreas de plantio e criação no bioma do Cerrado, como ocorre no leste, no sul e sudeste do Mato Grosso.

Registrei essa posição de meu entendimento no livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?". A moratória da soja, uma decisão política posicionada pelo "politicamente correto", liderada pela Abiove, tinha como coautores a Abag e a própria Aprosoja. Os desmatamentos, e as queimadas, que se processam em áreas do bioma amazônico, entretanto, revelaram o conflito de interesses entre os associados da Aprosoja e da Abag, diante da evidente incompatibilidade das objetivas ações propostas pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, da qual a Abag é signatária. Diante disso ocorre o desenlace associativo, e os produtores rurais agora ficam sem o apoio dos seus parceiros fornecedores de insumos. Os dois lados perdem, porque se subdividem e tornam-se ainda mais minoritários.

Há males que vêm para o bem. Espero que a problemática dos desmatamentos e das queimadas seja discutida com objetividade e clareza a partir desse novo cenário. Continuar com posicionamentos suicidas, como tem sido feito pelos produtores rurais e pelas indústrias de insumos é perverso para todos, pois a mídia comanda o espetáculo com maestria, aplaudida por ONGs e interesses diversos inconfessáveis de governos estrangeiros, sejam de natureza política, econômica ou geopolítica, além da ambiental, monitorada pelo IPCC, na sórdida e criminosa campanha ambientalista, ancorada nas mudanças climáticas que antecedem o aquecimento definitivo do planeta, pré status do início do fim do mundo.

Como já me posicionei anteriormente, em diversas oportunidades (https://richardjakubaszko.blogspot.com/search?q=carta+aberta+a+macron ), aqui neste blog, e no livro, para acabar - ou reduzir substancialmente - com os desmatamentos ilegais bastaria exercer rígida fiscalização nas exportações de madeiras originárias da Amazônia, ou até mesmo a sua quase total proibição. As queimadas cairiam na mesma proporção. Porque ninguém queima árvores nos incêndios, chamados ironicamente pela mídia como queimadas. As queimadas ocorrem em áreas desmatadas, ilegais ou legais. Mas a emoção e o calor das discussões são levadas a um clímax emocional digno de uma prosopopeia grega, que antevê o fim da Amazônia.

Que fique claro que não sou a favor da motosserra, pois sou ambientalista, apenas não uso carteirinha. Todos os participantes desse imbróglio, ONGs, Aprosoja, Abag, Abiove, governo brasileiro, Ibama, ONU/IPCC, governos estrangeiros, ambientalistas, cometem erros grosseiros nas suas ações e propostas, posicionamentos que nunca levarão a um consenso e, especialmente, não trarão soluções para os problemas existentes.

A Amazônia não vai sumir do mapa, os desmatamentos e queimadas são consequências de processos evidentes diante da população de mais de 20 milhões de pessoas que a habitam e que lá sobrevivem com imensas dificuldades, especialmente indígenas e ribeirinhos. Refletem, sobretudo, os resultados perversos das atividades da superpopulação planetária, hoje com cerca de 7,5 bilhões de bocas que precisam de alimentos baratos. Não há mais como conter essa caminhada rumo ao precipício derradeiro da humanidade. Entendamos, em definitivo, que a superpopulação humana é a causa principal de todos os conflitos ambientais, políticos, sociais e econômicos, a que assistimos. Sem discutir e resolver essa questão básica, todos os demais problemas somente vão crescer e se agravar.

 


segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A revolução silenciosa do transporte de cargas agrícolas


Marcos Sawaya Jank *
Corrigindo um erro de nove décadas, ferrovias estão chegando com força ao Centro-Oeste.

Será o fim dos gargalos?
O Brasil adentra ao século XXI

Inaugurada por dom Pedro II, em 1854, a primeira operação intermodal de cargas do Brasil foi a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, um ousado empreendimento do incrível barão de Mauá, o maior empresário do Império.

De 1854 a 1930 o Brasil construiu 30 mil km de estradas de ferro cobrindo a região litorânea do País, com destaque para as malhas das regiões do sul e do sudeste. Nesse período acompanhamos pari passu o exemplo de grandes nações que investiam em ferrovias e hidrovias de longa distância, como Rússia, Índia, Canadá, Austrália e Estados Unidos.

Lamentavelmente, tomamos a direção errada a partir da Presidência de Washington Luís, quando o lema passou a ser “governar é abrir estradas”. Desde então, sucessivos governos passaram a privilegiar longas rodovias e caminhões, em detrimento de soluções multimodais.

Felizmente, esse enorme erro estratégico começa a ser corrigido. Na década de 1970 o Brasil foi o berço da principal revolução tropical agrícola do planeta, que combinou tecnologias inovadoras com empreendedorismo de agricultores arrojados que migraram para os cerrados do Centro-Oeste. Mas a logística de transporte ferroviário não seguiu as novas fronteiras da agricultura e continuou sendo majoritariamente litorânea e estruturalmente precária nas ligações rodoviárias de longa distância do País.

Nos últimos anos, particularmente no governo atual com a excepcional gestão de Tarcísio de Freitas à frente do Ministério da Infraestrutura, as novas opções multimodais estão produzindo uma “revolução silenciosa” no transporte de cargas agrícolas do Brasil.

O principal beneficiário da mudança de modais é Mato Grosso, Estado que lidera a produção agropecuária nacional – com destaque para soja, milho, algodão e pecuária de corte – e se caracteriza como a área que forma o preço marginal da soja no mundo. Situado a mais de 2 mil km dos principais portos, Mato Grosso foi altamente prejudicado pela precariedade das estradas e pelo alto custo do frete rodoviário, que representa entre 15% e 45% do valor da soja no mercado internacional.

Agora as ferrovias estão chegando com força ao Centro-Oeste. A Rumo já carrega em seus trens o equivalente a 1.700 caminhões por dia na Malha Norte (volume de Mato Grosso), que levam menos de 85 horas para descer até Santos, o principal porto agrícola do País. Até o ano que vem a companhia vai operar trens de 120 vagões. Cada trem desses retira 240 caminhões bitrem das estradas.

Após mais de 30 anos de espera, a Ferrovia Norte-Sul, agora operada pela Rumo e pela VLI, estará operacional no segundo semestre de 2021, interligando os portos de Itaqui (MA) e de Santos (SP).

Em paralelo, a conclusão da rodovia BR-163 permitiu a concretização da saída bimodal pelo Arco do Norte, com os grãos do Centro-Oeste sendo enviados por caminhão até o porto fluvial de Miritituba, no Pará, e em seguida por barcaças até os portos próximos a Belém. Essa saída segue o pioneirismo da hidrovia do Rio Madeira, que há mais de 20 anos liga Porto Velho (RO) ao Oceano Atlântico. As novas opções multimodais já permitiram uma redução de 15% nos fretes de cargas agrícolas de Mato Grosso.

O próximo passo da “revolução silenciosa” é a chegada das ferrovias ao coração da produção de soja, milho e algodão de Mato Grosso. Três projetos estão sendo propostos nesse momento: 1) a extensão de 650 km da Ferronorte entre Rondonópolis e Lucas do Rio Verde, que será construída pela Rumo para movimentar cargas até o porto de Santos; 2) a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), que vai na direção oeste-leste, podendo futuramente chegar ao porto de Ilhéus; e 3) a Ferrogrão, que pretende alcançar os portos do Arco do Norte, complementando a saída pela BR-163.

Três ferrovias levando grãos do Centro Oeste para o norte, o leste e o sudeste do País constituem um novo paradigma inimaginável de desenvolvimento para a agricultura brasileira. É hora de concretizá-lo, sem pestanejar, pois só depende de leilões ou aprovações do governo.

Vale lembrar que entre granel e contêineres essas ferrovias transportam grãos, açúcar, fertilizantes, etanol, algodão, celulose, café, carnes e muitas outras commodities. Ademais, a opção pelos modais ferroviário e hidroviário traz muitos outros benefícios para o País, se comparados à alternativa rodoviária de longa distância: redução de emissões de gases de efeito estufa e de poluição atmosférica, maior eficiência energética, menor consumo de diesel por quilômetro percorrido, maior segurança e redução de desgastes e acidentes nas estradas, gerando economias importantes para a saúde pública e o meio ambiente.

Temos de aproveitar essa chance de realizar grandes investimentos privados em sistemas multimodais que demandam apenas concessões e autorizações do poder público. Em tempos de tantas notícias ruins por causa da pandemia global, poder corrigir nove décadas de dependência exclusiva e arriscada do transporte rodoviário em apenas uma década é uma oportunidade fantástica. Ela vai beneficiar não apenas o produtor rural brasileiro, mas, principalmente, o consumidor global.


 * o autor é professor de agronegócio global do Insper.

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terça-feira, 4 de agosto de 2020

Agronegócio e meio ambiente – separando o joio e o trigo

Marcos S. Jank *  
Castanheira no desmatamento, esta foi a única que se preservou.
Em vez de negar os fatos, é hora de arrumar a casa coibindo o desmatamento ilegal e implementando o Código Florestal.

Aprendemos ao longo da vida que os fatos são os fatos e é a partir deles que temos de construir as nossas estratégias e ações.

Pois bem, é fato que a preocupação com desmatamento mudou de patamar no mundo, deixando de se limitar à pressão isolada de ONGs ambientais e entrando de forma estrutural na agenda de organizações internacionais, governos, bancos, investidores, tradings, varejistas, etc. A pressão dos atores econômicos contra o desmatamento será muito maior do que antes, envolvendo reputação, capitalização de empresas e, em breve, novas exigências no comércio exterior. Nesse contexto, o Brasil figura como detentor do maior índice de desmatamento de florestas tropicais úmidas do planeta, ainda que não seja o país onde o desmatamento mais cresce. E a maior parte desse desmatamento se dá na mais famosa e mítica rainforest do planeta, a Amazônia.

A reação do agronegócio tem sido responder com outro fato, relacionado às conquistas ambientais históricas do País: o elevado estoque de áreas florestadas (dois terços da área do País), a matriz energética limpa e renovável, o Código Florestal rigoroso, as técnicas de agricultura de baixo carbono, os ganhos de produtividade e outros.

Esses são os fatos. Mas a questão que está sobre a mesa não é o estoque de conquistas do passado, mas sim o fluxo de problemas do presente e a percepção negativa sobre eles no futuro.

Falhamos em controlar o desmatamento, composto por 95% de conversão ilegal de floresta principalmente sobre terras devolutas (sem destinação). Falhamos na implementação do Código Florestal, que oito anos após sua assinatura continua sendo mais promessa do que prática, sem garantir a segurança jurídica de que precisamos.

Falhamos em não regularizar a situação fundiária e ambiental da Região Norte, sabendo que direitos de propriedade e ordenamento do território são pilares de qualquer processo de desenvolvimento. Falhamos nos mecanismos de “comando e controle” que precisam ser exercidos nas bordas do bioma Amazônico. A ideia de pagamento por serviços ambientais ainda é uma ficção, já que até aqui ninguém quer pagar por eles. A floresta em pé tem menos valor que a floresta derrubada, apesar das promessas da bioeconomia.

A agenda de política pública da Amazônia é vasta e complexa, acumulando décadas de conflitos e insegurança jurídica. No agro, os dois setores mais expostos são a soja e a pecuária de corte.

Por isso as maiores empresas desses setores assumiram compromissos de não adquirir produtos de seus fornecedores diretos que tenham inconformidades nas áreas ambiental e social. A Cargill e o Marfrig deram passos à frente nesse processo, prometendo eliminar completamente o desmatamento de toda a sua cadeia de suprimentos até 2030 (zero-deforestation supply chains).

A decisão dessas duas empresas abre a avenida para que grandes empresas do varejo, do processamento de alimentos e da produção agropecuária se unam para construir cadeias produtivas livres de desmatamento, com garantia de originação sustentável e rastreável – do bezerro ao boi terminado, no caso da pecuária.

Hoje já há nichos de mercado para soja não transgênica, carnes de origem vegetal e orgânica, certificações de “produtos locais” e de respeito ao bem-estar dos animais e dezenas de outros segmentos.

A pressão do consumidor final por produtos “livres de desmatamento” forçará as empresas a reorganizar suas cadeias de suprimento para ofertá-los. Mas ainda não se sabe se o mercado vai, de fato, oferecer um pagamento pelos serviços ambientais do produtor que tenha excedente de vegetação nativa que poderia ser convertido dentro da lei.

Também não sabemos se a construção de cadeias produtivas livres de desmatamento proposta por empresas como Cargill e Marfrig vai se tornar “referência” para outros players. Ou se essa será uma iniciativa isolada, com o produto gerado por desmatamento ilegal “escapando” para outros canais de distribuição do mercado doméstico, que é menos exigente.

Vale lembrar que a nossa soja é facilmente rastreável e basicamente dirigida à exportação. Já o nosso plantel de bois é enorme, muda de propriedade algumas vezes ao longo do ciclo produtivo e é basicamente destinado ao mercado interno. Não há dúvida que a pecuária é o nosso calcanhar de Aquiles no tema do desmatamento e onde temos de concentrar nossos esforços.

Estima-se que menos de 2% dos produtores sejam responsáveis por 62% do desmatamento ilegal na Amazônia e no Cerrado. Ainda que o governo seja o principal responsável pelo combate à ilegalidade, acredito que a pressão de clientes e financiadores falará mais alto. Pesquisa do BCG indica que 95% dos brasileiros esperam que as grandes empresas tenham mais comprometimento com questões ambientais.

Por isso, em vez de negar os fatos, é hora de arrumar a casa, começando pela união contra o desmatamento ilegal e a favor da implementação imediata do Código Florestal. Agricultores, empresas e associações do agronegócio deveriam ser os primeiros a carregar com força essa bandeira.

* o autor é professor de agronegócio global do Insper.


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domingo, 2 de agosto de 2020

Greenpeace mente descaradamente em press release

Richard Jakubaszko
Como jornalista e blogueiro recebo dezenas de press releases todo santo dia. As assessorias de imprensa contemporâneas são implacáveis. Mentem mais que pescadores.

No texto abaixo reproduzo na íntegra o e-mail que recebi da assessoria de imprensa do Greenpeace. No meio do texto apontei as mentiras, em texto grafado em vermelho, para deixar claro o quanto essas ONGs mentem e deturpam a verdade. Beira ao escândalo a atuação deles, seja pelo lado profissional ou ético, e a questão se deteriora quando colocam profissionais de “pouca prática”, ou inexperientes, para tratar de assunto tão sério como a Amazônia.


Vejam as mentiras (contestadas por mim no texto em vermelho):

Título do release: Amazônia registra recordes de focos de calor em julho

Com falta de fiscalização e inteligência no combate aos danos ambientais, queimadas em Terras Indígenas registraram aumento de 76%.
 

FOTO
(Legenda do Greenpeace):
Imagem de satélite do estado do MT, queimando no dia 30 de julho

A primeira mentira, e foi isso que me chamou a atenção para o release, é que a foto enviada é de uma lavoura de bom nível tecnológico pegando fogo. É provável que usem até mesmo agricultura de precisão nas diversas lavouras, distribuídas simetricamente em diversos talhões. Melhor ainda, o pessoal do Greenpeace viu uma foto de fogo, qualificou como queimada na Amazônia, e mandou anexa ao release escandaloso. Com certeza essa área de "queimada" não está no bioma amazônico, apesar de ser possível que esteja dentro da "Amazônia Legal", essa uma herança antiga do governo de Getúlio Vargas, uma legislação que tanto atormenta quem vive por lá, até hoje.

Continua o release:

Manaus, 01 de agosto de 2020 - No dia 30 de julho, a Amazônia registrou mais um triste recorde: 1.007 focos de calor em um único dia. Esse é o número mais alto registrado no mês de julho desde 2005. Neste mesmo dia, no ano passado, foram 406 focos. Agora, dados consolidados de julho mostram um aumento expressivo nos focos de calor.


"O fato de ter mais de mil focos de calor em um único dia, recorde dos últimos 15 anos para o mês de julho, mostra que a estratégia do governo de fazer operações midiáticas (quem faz operação midiática é o Greenpeace, a foto é só um exemplo, ficou claro, caro leitor?) não é eficaz no chão da floresta. Somente em julho, foram registrados 6.804 focos de calor na Amazônia, um aumento de 21,8% quando comparado ao mesmo mês do ano passado. A moratória, que proíbe no papel as queimadas, não funciona se não houver também uma resposta no campo, com mais fiscalizações. Afinal, criminoso não é conhecido por seguir leis. Assim como a GLO (alguém sabe dizer o que significa GLO? O que conheço é Garantia da Lei e da Ordem, mas não se aplica ao caso) aplicada sem estratégia e sem conhecimento de como se combate as queimadas, também não traz os resultados que a Amazônia precisa", comenta Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace.


Um levantamento feito pelo Greenpeace Brasil aponta que dos focos de calor registrados em julho, 539 foram dentro de Terras Indígenas, um aumento de 76,72% em relação ao ano passado, quando foram mapeados 305 focos. Além disso, 1.018 atingiram Unidades de Conservação, um aumento de 49,92% em relação ao mesmo período do ano passado. (Se os focos de incêndio foram em áreas indígenas, provavelmente foram os índios que fizeram isso, é uma tradição de caça entre eles esse procedimento).


"O desmatamento precisa ser combatido durante todo o ano, principalmente considerando que as queimadas na Amazônia não são resultado de um fenômeno natural, mas da ação humana. (Outra mentira deslavada: 50% dos incêndios na Amazônia são de causa natural, porque é seco e tem muito calor, isso o IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, já demonstrou em diversos estudos. É no tempo seco que isso acontece, sempre nas mesmas áreas desmatadas, porque na vigorosa floresta o fogo não se propaga, a floresta é úmida!!! Até porque, ninguém, nenhum imbecil queima árvore, porque árvore é dinheiro, é cheque ao vivo pelo alto valor da madeira, que se torna sem valor se for madeira queimada) O fogo é uma das principais ferramentas utilizadas para o desmatamento (Outra mentira, a ferramenta é a motosserra, e ninguém desmata provocando queimada. O desmatamento é feito por madeireiros, ilegais ou legais, que depois exportam a madeira para os hipócritas europeus. Se o Greenpeace quiser reduzir o desmatamento, critique os europeus por importar madeira do Brasil, darei força e divulgação a eles nessa empreitada), especialmente por grileiros e agricultores, que o usam para limpar áreas para uso agropecuário ou especulação (Outra mentira, nas áreas desmatadas é impossível fazer agricultura, porque os tocos remanescentes das gigantescas árvores impedem qualquer tipo de mecanização, especialmente lavouras como a mostrada na foto do release do Greenpeace. Nas áreas de queimada até pode-se fazer pasto de 3ª classe, mas nunca uma lavoura mecanizada. Levará no mínimo 10 anos para se poder destocar, ou seja, tirar os tocos e raízes). A prática se tornou ainda mais comum com a falta de fiscalização (Como fiscalizar? A
área brasileira da Amazônia tem 5.033.072 km2, e área total de 5.500.000 km2 = isso é mais do que a metade do território brasileiro, sabiam disso, pessoal do Greenpeace? Cadê tanto fiscal pra fiscalizar a Amazônia do jeito que vocês exigem?) e o desmantelamento dos órgãos ambientais. Estamos observando uma tendência de alta nas queimadas neste ano. (Todo ano é assim, o Greenpeace só faz escândalos midiáticos). Além da ameaça do coronavírus, com a temporada de fogo, os povos indígenas estarão ainda mais vulneráveis, pois a fumaça e a fuligem das queimadas prejudicam ainda mais sua saúde", completa Rômulo.

Acesse imagens de queimadas da Amazônia em 2020 aqui.
(Neste link em página do Greenpeace, eles exibem 3 dezenas de fotos de incêndios, nenhum desses incêndios é na floresta, é sempre em áreas já desmatadas, onde viceja uma capoeira vigorosa, e até mesmo em área colhida, com palhada de plantio direto, em fotos que também não são no bioma da Amazônia)
Assessoria de imprensa:
Rebecca Cesar, (11) 95640-0443, rebecca.cesar@greenpeace.org 


ET. O site Uol (Folha SP), reportou alguns dos dados acima divulgados pelo Greenpeace, veja no link: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2020/08/amazonia-registra-novo-aumento-de-queimadas-em-julho.shtml


OBSERVAÇÕES FINAIS DO BLOGUEIRO: 


Escrevi o livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?", em 2ª edição desde agosto/2019, onde desmistifico essas e outras mentiras sobre a Amazônia e sobre o "aquecimento" falacioso propalado pelas ONGS e por diversos governos, que possuem interesses econômicos, políticos e geopolíticos sobre a região.

Recomendo a leitura do livro, para quem deseja saber o quanto se mente, mundo afora: para encomendar o livro envie e-mail para o endereço co2clima@gmail.com onde daremos instruções de como fazer o pagamento e para você receber o livro em casa, autografado, ao custo de R$ 40,00 já incluso a tarifa postal
Atente o leitor que não estou negando o desmatamento, ele existe e deve ser reprimido, especialmente os ilegais, e também aqueles que extrapolam a liberação de 20% do uso da área de floresta aos que residem na Amazônia, conforme o Código Florestal. Mas as queimadas, pelo efeito pirotécnico e psicológico, são as manchetes das ONGs e dos governos interessados, com apoio incondicional da grande mídia, que, na impossibilidade de enviar jornalistas à grande floresta, preferem reportar press releases de ONGs como o Greenpeace.


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