Richard Jakubaszko
Circulando a Agro DBO de maio, recheada de novidades.
No editorial, escrevi:
O Brasil caminha aos trancos e barrancos.
Parece estar sob “nova direção”, desde que se iniciou o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, eis que o principal partido da base governamental assumiu de fato o poder, diante de uma presidente reeleita por mínima maioria, mas, agora, fragilizado por denúncias nas manchetes, capítulos intermináveis de uma novela repetitiva a que já assistimos em outros momentos históricos da nação, parece capitular ante a coalizão.
Neste clima, o Congresso Federal vota leis e propostas, temas polêmicos são aprovados apressadamente, à revelia de um necessário debate aprofundado.
Exemplos disso são a PEC 215, que transfere do executivo para o legislativo a gestão e responsabilidade pela demarcação de terras indígenas e de quilombolas.
Da mesma forma a lei que terceiriza a contratação de trabalhadores, urbanos ou rurais, sem trazer soluções legais para as diferenças nas formas de trabalho de um e de outro. Ou ainda a votação da chamada Lei dos Caminhoneiros, e pior, o emplacamento de tratores e máquinas agrícolas. A sucessão de vazios legais trará, inevitavelmente, maior insegurança jurídica ao agro.
O governo promete, para 19 deste mês, um Plano Safra com validade para 4 ou 5 anos, a juros compatíveis, e com dinheiro suficiente de crédito agrícola. A conferir, pois.
Agro DBO traz na reportagem de capa, da jornalista Marianna Peres, “A soja abre caminho”, duas questões fundamentais para o agro. De um lado, a discussão técnica mostra o alto nível dos sojicultores do Brasil Central, que exigem melhor padrão técnico das cultivares de soja, eis que os preços deste insumo, incluídos os royalties da biotecnologia, alcançam níveis elevados em descompasso com a qualidade insatisfatória nos índices de germinação. De outro lado, o movimento associativo desses sojicultores, através da Aprosoja, indica que a evolução das espécies, enunciada por Darwin no século XIX, continua a ocorrer ad eternum, pois há um notável crescimento político no debate em questão, e demonstra que há muito espaço para os produtores rurais brasileiros evoluírem e se profissionalizarem, como já fizeram americanos e europeus; assim, é lícito projetar para o agro brasileiro uma competitividade imbatível diante dos concorrentes do hemisfério norte, caso esse espírito associativo prevaleça. Desde a primeira edição da Agro DBO, 12 anos atrás, o associativismo no agro tem sido nossa bandeira para impulsionar os agricultores brasileiros para a modernidade, e o debate técnico e político sobre a qualidade das sementes é exemplo disso.
Que venham outras campanhas!
Agro DBO traz outros temas importantes, como o café de Minas Gerais e sua evolução tecnológica e qualitativa, em reportagem do jornalista Rogério F. Furtado, ou o amadurecimento do uso das terras do Pantanal, em matéria do jornalista Ariosto Mesquita, e a entrevista com o engenheiro agrônomo Orlando Carlos Martins, então presidente do CESB, que profetiza para o Brasil médias de 100 sc/ha de soja para dentro em breve.
Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@agrodbo.com.br
Abaixo vídeo no Portal DBO onde José Augusto Bezerra, o Tostão, faz comentários sobre os destaques da edição de maio da Agro DBO:
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segunda-feira, 18 de maio de 2015
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Denúncia: indústria falsifica os sucos.
Richard Jakubaszko
Uma denúncia aterrorizante: as indústrias de sucos processados nos vendem tudo, menos o suco da fruta informado no rótulo ou na embalagem.
Espiei e li em uma dúzia de embalagens dos principais sucos de mercado, nenhuma parece seguir a lei, que exige um mínimo de 10% de suco ou polpa da fruta na embalagem vendida. Aliás, a Lei dos Sucos (de 1974) já era, foi revogada pela Receita Federal em 2012. Existe agora um emaranhado legislativo que ninguém mais entende, e os marqueteiros das indústrias de sucos e néctares fazem o que querem. Hoje existem "sucos artificiais", "refrescos", "sucos tropicais", "sucos aromatizados", e nenhum deles possui suco natural.
O consumidor compra, paga e bebe água com açúcar, além de sódio, acidificantes, conservantes, ácido ascórbico, maltodextrina, e uma série de outras químicas. O consumidor pensa que consome um alimento saudável, mas está sendo enganado.
E a Anvisa, órgão responsável por isso, o que faz?
Ninguém sabe.
O Idec, Instituto de Defesa do Consumidor fez um vídeo, publicou no Youtube, e pouca gente se importou com a questão. O vídeo abaixo tem cerca de 200 mil visitas e os comentários postados parecem ser de débeis mentais que acham mais ou menos natural essa questão toda. Me lembra a mãe de duas crianças que, algum tempo atrás, entrevistada pela TV, respondeu que dava a seus filhos "suco de caixinha", pois era mais prático, eis que ela não sabia descascar laranjas...
Veja o que vc pode fazer no site do IDEC: http://www.idec.org.br/especial/agitese
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Uma denúncia aterrorizante: as indústrias de sucos processados nos vendem tudo, menos o suco da fruta informado no rótulo ou na embalagem.
Espiei e li em uma dúzia de embalagens dos principais sucos de mercado, nenhuma parece seguir a lei, que exige um mínimo de 10% de suco ou polpa da fruta na embalagem vendida. Aliás, a Lei dos Sucos (de 1974) já era, foi revogada pela Receita Federal em 2012. Existe agora um emaranhado legislativo que ninguém mais entende, e os marqueteiros das indústrias de sucos e néctares fazem o que querem. Hoje existem "sucos artificiais", "refrescos", "sucos tropicais", "sucos aromatizados", e nenhum deles possui suco natural.
O consumidor compra, paga e bebe água com açúcar, além de sódio, acidificantes, conservantes, ácido ascórbico, maltodextrina, e uma série de outras químicas. O consumidor pensa que consome um alimento saudável, mas está sendo enganado.
E a Anvisa, órgão responsável por isso, o que faz?
Ninguém sabe.
O Idec, Instituto de Defesa do Consumidor fez um vídeo, publicou no Youtube, e pouca gente se importou com a questão. O vídeo abaixo tem cerca de 200 mil visitas e os comentários postados parecem ser de débeis mentais que acham mais ou menos natural essa questão toda. Me lembra a mãe de duas crianças que, algum tempo atrás, entrevistada pela TV, respondeu que dava a seus filhos "suco de caixinha", pois era mais prático, eis que ela não sabia descascar laranjas...
Veja o que vc pode fazer no site do IDEC: http://www.idec.org.br/especial/agitese
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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Lula, é sempre Lula.
Richard Jakubaszko
Aleluia, pois Lula, é Lula novamente!
Queiram ou não, ele continua o mesmo.
Na Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo, Lula falou, conforme o vídeo abaixo. Mostrou que "a revolução nas comunicações está nas redes sociais".
Lula registrou que “Não existe mais nenhuma razão de se manter o bloqueio [de Cuba] a não ser a teimosia de quem não reconhece que perdeu a guerra, e perdeu a guerra para Cuba”, disse hoje, dia 30 de janeiro 2013, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao discursar no encerramento da 3ª Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo, patrocinada pela Unesco.
Ele conclamou Obama "ter a mesma ousadia que levou seu povo a votar nele" e mudar os rumos da política externa para Cuba e América Latina.
Lula abriu o seu discurso pedindo um minuto de silêncio para as vítimas do incêndio em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e fez uma homenagem a Hugo Chavez, que se encontra internado em Havana, em tratamento de saúde.
Com relação aos assuntos do continente, Lula disse que o desafio dos presidentes e líderes não é só promover a qualidade de vida e bem-estar, mas a integração latino-americana.
“Vocês não podem voltar para suas casas e simplesmente colocar isso [a participação no evento] nas suas biografias. É necessário que vocês saiam daqui cúmplices e parceiros de uma coisa maior, de uma vontade de fazer alguma coisa juntos mesmo não estando reunidos [fisicamente]”, afirmou Lula, dizendo que a tecnologia atual permite maior integração.
Lula propôs uma “revolução na comunicação” radicalizando o uso das redes sociais para contrapor a velha mídia do contra. O recado foi: nós não podemos depender dos outros para publicar o que nós mesmos devemos publicar.
“Nem reclamo, porque no Brasil a imprensa gosta muito de mim”, ironizou o ex-presidente. E deu a sua opinião sobre a razão pela qual a mídia tradicional tem resistência a ele: “Eu nasci assim, eu cresci assim e vou continuar assim, e isso os deixa [os órgãos de imprensa] muito nervosos”. O mesmo se aplicaria aos outros governos progressistas da América Latina: “Eles não gostam da esquerda, não gostam de [Hugo] Chávez, não gostam de [Rafael] Correa, não gostam de Mujica, não gostam de Cristina [Kirchner],não gostam de Evo Morales, e não gostam não pelos nossos erros, mas pelos nossos acertos”, disse. Para Lula, as elites não gostam que pobre ande de avião, compre um carro novo ou tenha uma conta bancária.
“Quem imaginava que um índio, com cara de índio, jeito de índio, comportamento de índio, governaria um país e, mais do que isso, seu governo daria certo?”, indagou Lula, referindo-se a Evo Morales, presidente da Bolívia. Ele contou que a direita brasileira queria que ele brigasse com Evo, quando ele estatizou a empresa de gás boliviana, que era de propriedade da Petrobras.
“Aí eu pensei: eu não consigo entender como um ex-metalúrgico vai brigar com um índio da Bolívia”, contou o ex-presidente, sob os aplausos da plateia.
* Saiu no blog dos "AMIGOS DO PRESIDENTE LULA": http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2013/01/lula-video-na-integra-revolucao-nas.html
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Na Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo, Lula falou, conforme o vídeo abaixo. Mostrou que "a revolução nas comunicações está nas redes sociais".
Lula registrou que “Não existe mais nenhuma razão de se manter o bloqueio [de Cuba] a não ser a teimosia de quem não reconhece que perdeu a guerra, e perdeu a guerra para Cuba”, disse hoje, dia 30 de janeiro 2013, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao discursar no encerramento da 3ª Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo, patrocinada pela Unesco.
Ele conclamou Obama "ter a mesma ousadia que levou seu povo a votar nele" e mudar os rumos da política externa para Cuba e América Latina.
Lula abriu o seu discurso pedindo um minuto de silêncio para as vítimas do incêndio em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e fez uma homenagem a Hugo Chavez, que se encontra internado em Havana, em tratamento de saúde.
Com relação aos assuntos do continente, Lula disse que o desafio dos presidentes e líderes não é só promover a qualidade de vida e bem-estar, mas a integração latino-americana.
“Vocês não podem voltar para suas casas e simplesmente colocar isso [a participação no evento] nas suas biografias. É necessário que vocês saiam daqui cúmplices e parceiros de uma coisa maior, de uma vontade de fazer alguma coisa juntos mesmo não estando reunidos [fisicamente]”, afirmou Lula, dizendo que a tecnologia atual permite maior integração.
Lula propôs uma “revolução na comunicação” radicalizando o uso das redes sociais para contrapor a velha mídia do contra. O recado foi: nós não podemos depender dos outros para publicar o que nós mesmos devemos publicar.
“Nem reclamo, porque no Brasil a imprensa gosta muito de mim”, ironizou o ex-presidente. E deu a sua opinião sobre a razão pela qual a mídia tradicional tem resistência a ele: “Eu nasci assim, eu cresci assim e vou continuar assim, e isso os deixa [os órgãos de imprensa] muito nervosos”. O mesmo se aplicaria aos outros governos progressistas da América Latina: “Eles não gostam da esquerda, não gostam de [Hugo] Chávez, não gostam de [Rafael] Correa, não gostam de Mujica, não gostam de Cristina [Kirchner],não gostam de Evo Morales, e não gostam não pelos nossos erros, mas pelos nossos acertos”, disse. Para Lula, as elites não gostam que pobre ande de avião, compre um carro novo ou tenha uma conta bancária.
“Quem imaginava que um índio, com cara de índio, jeito de índio, comportamento de índio, governaria um país e, mais do que isso, seu governo daria certo?”, indagou Lula, referindo-se a Evo Morales, presidente da Bolívia. Ele contou que a direita brasileira queria que ele brigasse com Evo, quando ele estatizou a empresa de gás boliviana, que era de propriedade da Petrobras.
“Aí eu pensei: eu não consigo entender como um ex-metalúrgico vai brigar com um índio da Bolívia”, contou o ex-presidente, sob os aplausos da plateia.
* Saiu no blog dos "AMIGOS DO PRESIDENTE LULA": http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2013/01/lula-video-na-integra-revolucao-nas.html
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quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Carta aberta aos cooperativistas: só o associativismo salva!
Richard Jakubaszko
O cooperativismo
não será capaz de enfrentar sozinho o que vem aí pela frente, pois será uma
verdadeira guerra mundial, e sangrenta, ninguém tenha dúvida disso. Teremos uma crise de
restrição de alimentos – e de fome – em muitos países, pois os preços tendem a
se elevar ainda mais dos que os praticados hoje, agora catapultados não apenas por
uma seca nos EUA, mas também pelo aumento de demanda asiático e por causa da
especulação financeira que transformou alimentos como soja e milho em prosaicos
“derivativos”, levando neste pacote a avicultura e a suinocultura.
Esse panorama,
num primeiro momento, pode prenunciar bons lucros aos produtores de grãos. Os
bons lucros, entretanto, vão se reduzir na medida em que os insumos subam de
preços, bem como o transporte, o armazenamento e o custo da terra. Como os
estoques mundiais andam muito baixos, isto vai provocar guerras, rebeliões e
migrações, governos democráticos serão depostos, assim, como outras ditaduras.
O tabuleiro de xadrez onde se desenrola esta guerra, encontra os agricultores brasileiros, especialmente eles, desprotegidos de toda sorte de políticas públicas, onde se destaca o seguro agrícola, um dos temas abordados nas páginas da Agro DBO 38, de outubro 2012, em circulação desde o início deste mês, e que poderá ser lida através do nosso site: www.agrodbo.com.br
O tabuleiro de xadrez onde se desenrola esta guerra, encontra os agricultores brasileiros, especialmente eles, desprotegidos de toda sorte de políticas públicas, onde se destaca o seguro agrícola, um dos temas abordados nas páginas da Agro DBO 38, de outubro 2012, em circulação desde o início deste mês, e que poderá ser lida através do nosso site: www.agrodbo.com.br
Nesta Carta
Aberta nos dirigimos a todas as cooperativas brasileiras produtoras de grãos, e
seus respectivos presidentes, e, em especial às maiores do setor:
CAROL – José
Oswaldo Galvão Junqueira
COAMO – José
Aroldo Galassini
COCAMAR – Luiz
Lourenço
COMIGO – Antônio
Chavaglia
COOPAVEL - Dilvo
Groli
COTRIJAL – Nei
Mânica
Só o
associativismo salva os produtores brasileiros, especialmente os pequenos e
médios. Como os agricultores não têm representatividade política em nível
nacional, quem vai atuar em nome deles e de seus interesses? O que vimos na
aprovação legislativa sobre o Código Florestal é uma pequena amostra grátis do
que vem aí pela frente face às discussões que vão ocorrer pela sociedade urbana
quando os preços dos alimentos subirem: se subir é porque há perigo de faltar,
e, na sequência, surgirão propostas de confisco dos alimentos, até mesmo taxas
sobre exportação, para garantir o abastecimento interno, multas e prisão para
quem estiver mantendo estoque dos grãos, enfim, não é difícil imaginar as
dificuldades que possam surgir se os preços subirem acima do suportável, pelos
governos e pela população.
Somente o associativismo
pode salvar os produtores de grãos brasileiros, especialmente os pequenos e médios.
Preços cada vez mais altos
O mais recente
relatório divulgado em setembro último pela FAO, o órgão das Nações Unidas para
a Alimentação e Agricultura, revela que a elevação no preço dos alimentos
chegou a níveis críticos, principalmente para os países pobres que necessitam
importar alimentos para dar de comer às suas populações.
Segundo os dados
da FAO, nos últimos meses os preços do trigo registraram alta estratosférica de
até 80%. O milho, um aumento de 40%. Uma perversa combinação entre crescimento
de demanda, especulação financeira, secas, e produção de energia a qualquer custo, está entre os
fatores causadores dessas altas. Afinal, as quebras nas safras de dois gigantes
na produção de grãos, EUA e Rússia, ocorreram em virtude dos efeitos de secas
prolongadas. O relatório da FAO afirma que 22 países já enfrentam uma crise
prolongada com altos índices de fome mesmo antes dessa forte alta. Portanto,
além do agravamento da situação desses que já enfrentam uma crise alimentar,
deve-se esperar que novos países se juntem ao contigente de esfomeados.
Mesmo assim, o
preço desses alimentos tem estado em constante alta, pois além do prato dos
humanos, essas commodities alimentam animais e os veículos abastecidos por
biocombustíveis.
Outro problema
apontado por economistas da FAO é a especulação orquestrada pelos mercados
futuros. “A financeirização por meio de manobras especulativas contribui para
elevar os preços dos alimentos”, afirma a entidade.
Nesse clima, fica
a pergunta: de que forma as cooperativas poderiam atuar na defesa de seus
interesses e dos seus cooperados? De nenhuma forma, respondemos nós. Nem na
grande mídia haveria defensores dos agricultores, pois representam a opinião
dos urbanos, e estes, como sabemos, andam com inédita antipatia pelo
agronegócio. Assim, prevemos que nem mesmo a Frente Parlamentar Agropecuária,
de cunho essencialmente político, mostraria a cara para defender os produtores,
na hipótese de subida desmedida dos preços pela ameaça de faltar alimentos.
Só o
associativismo, com forte atuação política, seria capaz de apresentar a defesa
dos agricultores em situação como estas. De outro lado, enquanto esse prognóstico
não se confirma, existem muitas batalhas e demandas de interesses dos
produtores que estão sendo perdidas pela falta de interlocutores preparados, ou por atores que não
possuem representatividade, mas falam em nome dos produtores, diariamente, nos
meios de comunicação.
Outro exemplo
gritante das diferenças e problemas enfrentados pelos agricultores está
expresso em artigos da edição 38 da Agro DBO, dos colunistas Daniel Glat e Rogério
Arioli, ambos agrônomos e produtores rurais, quando relatam a tranquilidade dos
agricultores americanos diante de uma seca perversa que, se ocorresse no
Brasil, jogaria milhares de agricultores em negociação de dívidas ou quebraria
a quase todos. Lá existe seguro (de renda) rural aos produtores, enquanto aqui no Brasil
temos um seguro que garante apenas aos bancos de receberem o que emprestaram.
Em outro artigo, também na edição 38 da Agro DBO, o cafeicultor Luiz Hafers já
se antecipa no alerta sobre cotas e impostos, ou melhor, confiscos.
A questão é que a
ganância estúpida do mercado nos tempos modernos busca colocar o consumidor em
sua condição de “pagante”. Só assim dá para entender a inversão de prioridades
ao se colocar em limitação o uso de novas áreas na futura produção dos
alimentos, tal como prevê o Código Florestal.
O fato é que se
deixarem as coisas como estão pode-se esperar o registro de novas revoltas ao
redor do mundo, semelhantes as que têm ocorrido cada vez com maior frequência
em diferentes regiões do planeta, em destaque o mundo árabe, mas também na Ásia e na África. Muitas das
manifestações entre os árabes tinham também como motivação a escassez ou a alta no preço dos
alimentos, mas o agravamento da situação atual não será bom conselheiro na hora
de pedir calma aos revoltosos. Afinal, se não for possível comprar comida para
colocar no prato das famílias, não haverá bom senso e bons argumentos capazes de
evitar atitudes não civilizadas.
A união só pode vir através das cooperativas
É tempo de as
cooperativas liderarem a instalação de uma associação nacional, de cunho
técnico, com atuação política, que seja representativa, que seja forte, e que
expresse os verdadeiros interesses da agricultura. Para defender os
agricultores dos futuros e breves ataques, que surgirão de
todos os lados. Para buscar equilíbrio nas decisões de governo que se destinam
a regular o mercado, sempre em favor dos consumidores, nunca beneficiando os
produtores. Para que se evolua com o seguro rural. Para que se tenha uma lei de
CLT (Consolidação da Lei Trabalhista) ajustada ao meio rural, que é diferente
do urbano. Para que se obtenha segurança jurídica na posse da terra e nas
relações com os mercadistas. Ou as cooperativas, e seus líderes, acreditam que
poderão defender os seus cooperados sob o manto das cooperativas? Nem antes, nem hoje e
nem no futuro. Não é essa a função do cooperativismo, mas apenas de um associativismo.
Que se estabeleça
o associativismo, sob as bençãos e liderança do cooperativismo, para dar
sustentabilidade aos agricultores. Não há outro caminho: só o associativismo
salva a agricultura. Só o cooperativismo tem recursos suficientes para essa empreitada, e só o cooperativismo pode provocar o senso gregário dos produtores rurais, hoje inexistente no Brasil, ao contrário do que se verifica nos EUA e Europa.
Aos cooperados
que concordam com nossa proposição sugerimos conversar com os presidentes de
suas cooperativas, pedindo que pensem a respeito.
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sábado, 10 de março de 2012
Aos gregos, as batatas.
Richard Jakubaszko
Em meio à crise econômica que atinge a Grécia, as pessoas usaram da criatividade comum em tempos de crise:
encomendaram batatas por e-mail, diretamente dos produtores rurais, por quase
um terço do valor cobrado nos supermercados. A venda sem intermediários
aconteceu neste início de março, no campus da Universidade de Salônica, no
norte do país. Outras cidades planejam organizar ações semelhantes, pois a operação foi um sucesso em todos os sentidos, vendedores e compradores ficaram muito satisfeitos.
O pessoal da batata aqui no Brasil vibrou com a ideia,
enviada ao blog pelo Natalino, da ABBA – Associação Brasileira de
Bataticultores, e da Silvia Nishikawa, que planta batatas lá no cerrado de São
Gotardo, nas Minas Gerais.
Se a moda pega por aqui vai ser uma alegria ver a batata com valor agregado aos produtores, e mais barata ao povo. Para isso, inevitavelmente, precisamos de uma crise, ou anotar a ideia pra usar na próxima crise que aparecer, né não?
Se a moda pega por aqui vai ser uma alegria ver a batata com valor agregado aos produtores, e mais barata ao povo. Para isso, inevitavelmente, precisamos de uma crise, ou anotar a ideia pra usar na próxima crise que aparecer, né não?
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quarta-feira, 7 de março de 2012
A nação ajoelhada diante dos biodesagradáveis
Richard Jakubaszko
A votação do Código Florestal, prevista para ontem (6), na
Câmara dos Deputados, mais uma vez foi adiada, agora agendada para a próxima terça-feira (13). A
decisão foi tomada pelos líderes da base do Governo Federal, que se mostram fracos diante dos biodesagradáveis, ONGs, mídia e demais interesses favoráveis a que se tenha uma lei punitiva em termos retroativos e futuros. A votação foi protelada para que o relator, deputado Paulo Piau (PMDB-MG), possa finalizar o relatório e tentar "avançar" em negociações, essa foi a desculpa desta feita. Por trás das desculpas tem até passeata de ONGs hoje (7) em Brasília. Os ambientalistas chantageiam o Governo e os parlamentares, através da mídia.
O texto desse PL do Código Florestal tramita no Congresso há mais de 10 anos. O PL tenta atualizar um Código Florestal que é de 1966, uma lei que não pegou, por diversos motivos, entre os quais os mais de 3 mil adendos, portarias, normas e regulamentos confusos, uma colcha de retalhos em termos de burocracia que só agradava aos fiscais e aos ambientalistas, pela insegurança jurídica criada, com muito bafafá e trololó na grande mídia, que apoia incondicionalmente as intenções dos ambientalistas.
Em verdade, essa discussão toda é uma vergonha nacional. A nação está ajoelhada diante da ação dos biodesagradáveis, que desejam eternizar essa indefinição. Os ambientalistas não querem a aprovação do novo Código Florestal, querem apenas impor a ferro e fogo uma vontade, um desiderato punitivo a produtores rurais, acusados sob a pecha de serem "agronegócio", termo que virou palavrão de baixo calão, verdadeiro xingamento a quem produz alimentos.
Os produtores rurais permanecem calados, não têm um associativismo representativo, mas acreditam que a chamada bancada ruralista vai defender seus interesses e conseguir a aprovação de um Código como o que foi aprovado na Câmara dos deputados em maio do ano passado, onde perdem alguns dedos e anéis, mas permanecem com braços, e, graças a Deus, ainda vivos. Os dedos e anéis, nesse caso, é o confisco de no mínimo 20% de suas terras, garantidos para serem RL ou APPs. Não há, no mundo inteiro uma lei nestes termos, que determine o confisco, sem indenizações na contrapartida. Mas os ruralistas estão quietos, preferem assim, do que enfrentar novas batalhas.
Ignoram os ruralistas, pois são ingênuos e de boa fé, que virão novas batalhas, cada vez mais restritivas e punitivas.
Gostaria de ver os biodesagradáveis e ONGs sugerirem um Código Florestal desses aos Europeus ou aos EUA. Logo os EUA, que nem o protocolo de Kyioto assinou...
A hipocrisia anda solta. As ONGs, europeias e americanas, defendem um Código Florestal duríssimo, rigoroso, que irá engessar a futura produção de alimentos, vai inflacionar o preço das terras para a agricultura, também dos alimentos, por consequência, e vai tornar um inferno a vida dos produtores, com mil burocracias de georreferenciamento, do CAR, entre outros, aos quais já aderiu o Banco do Brasil, que só financia a quem cumprir a legislação.
É o país da piada pronta, como costuma repetir o humorista Macaco Simão. Será impossível a fiscalização dessa monumental legislação que virá com o novo Código Florestal. Só vai aumentar o custo Brasil. A hipocrisia acabaria se as ONGs lutassem por proibir a exportação de madeira retirada ilegalmente da Amazônia, para a qual os europeus fecham os olhos sobre a origem dessa madeira.
Ou será que eles acreditam que as queimadas da Amazônia também queimam árvores? Pois nem a Velhinha de Taubaté acredita mais nisso. Ela, aliás, anda até acreditando que o planeta vai esfriar, pois é mais esperta que a mídia acrítica.
Do meu lado, acredito que no mais tardar em dois anos teremos os desmentidos à toda essa mentira e farsa do IPCC sobre o aquecimento. Denúncias têm acontecido quase que diariamente. Esse discurso da sustentabilidade ninguém aguenta mais. As desculpas e acusações de que o CO2 causa aquecimento ou mudanças climáticas começa a cair por terra. O que se precisa é trabalhar, produzir alimentos a custos acessíveis para a superpopulação que temos no planeta e que continua a crescer. Pode ser que a humanidade desapareça algum dia, mas o planeta continuará vivo, apesar dos biodesagradáveis, e se regeneraria rapidamente diante da poluição humana.
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domingo, 8 de janeiro de 2012
O Poder na Agricultura
Richard Jakubaszko
Recebi por e-mail do engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso:
Caro Richard,
aconteceu na Inglaterra, na primeira semana do ano
novo, o importante evento da Oxford Farmers Conference, para a qual prepararam
um relatório de nome O Poder na Agricultura (Power in Agriculture).
Nesse relato consta interessante avaliação do mencionado poder dos vários países, ou seu conjunto, incluindo o Brasil. Abaixo a tradução do quadro.
O relatório completo bem como as inúmeras apresentações estão no site www.ofc.org.uk
Grande abraço
Cardoso
O relatório completo bem como as inúmeras apresentações estão no site www.ofc.org.uk
Grande abraço
Cardoso
OXFORD FARMING CONFERENCE
Estou anexando para conhecimento do amigo recorte do Guardian de Londres com notícia sobre o Oxford Farming Conference.
Enquanto lá os produtores se rebelam e se opõem a manter improdutivos 7% de suas fazendas, por aqui acatamos, sem discutir, o impedimento de cultivar até 80% das nossas propriedades (Parecer Aldo Rebelo).
Afinal, a quem tememos? As ONGs internacionais? A opinião pública? A mídia canhestra? Os ambientalistas de gabinete? Os políticos? O governo? A polícia?
Vale uma reflexão.
Estou anexando para conhecimento do amigo recorte do Guardian de Londres com notícia sobre o Oxford Farming Conference.
Enquanto lá os produtores se rebelam e se opõem a manter improdutivos 7% de suas fazendas, por aqui acatamos, sem discutir, o impedimento de cultivar até 80% das nossas propriedades (Parecer Aldo Rebelo).
Afinal, a quem tememos? As ONGs internacionais? A opinião pública? A mídia canhestra? Os ambientalistas de gabinete? Os políticos? O governo? A polícia?
Vale uma reflexão.
Fernando Penteado Cardoso
National Farmers Union president warning:
The NFU (National Farmers Union) president, Peter Kendall, told the Guardian: "If you take 5% of my farm out of production it would be like closing down a factory for two and a half weeks a year. We'll lose out financially ... that will mean less export, less to put into processing, [and] less work, all at the time we want to be putting all the emphasis we can on the economy."
National Farmers Union president warning:
The NFU (National Farmers Union) president, Peter Kendall, told the Guardian: "If you take 5% of my farm out of production it would be like closing down a factory for two and a half weeks a year. We'll lose out financially ... that will mean less export, less to put into processing, [and] less work, all at the time we want to be putting all the emphasis we can on the economy."
“No new money was expected to be available to pay farmers for the loss of income from crops”, Kendall said.
Índice do Poder Agrícola Regional (Pontos de 1 a 5)
Índice do Poder Agrícola Regional (Pontos de 1 a 5)
Fatores UE27 EUA Brasil Rússia China Australásia Japão GB
Comércio 4.5 5.0 2.0 3.0 3.0 2.5 2.5 3.0
Indústria 5.0 5.0 1.0 1.0 2.0 2.0 3.0 3.0
Política 5.0 5.0 1.0 3.0 2.0 1.0 4.0 4.0
Natureza 3.5 4.0 3.3 3.5 4.5 3.3 1.5 2.0
Minerais 1.3 2.5 2.3 4.3 3.3 1.0 0.0 1.0
TOTAL 19.3 21.5 9.5 14.8 14.8 9.8 11.0 13.0
Fonte: Oxford Farming Conf.-Jan.2012 - www.ofc.org.uk
Indústria 5.0 5.0 1.0 1.0 2.0 2.0 3.0 3.0
Política 5.0 5.0 1.0 3.0 2.0 1.0 4.0 4.0
Natureza 3.5 4.0 3.3 3.5 4.5 3.3 1.5 2.0
Minerais 1.3 2.5 2.3 4.3 3.3 1.0 0.0 1.0
TOTAL 19.3 21.5 9.5 14.8 14.8 9.8 11.0 13.0
Fonte: Oxford Farming Conf.-Jan.2012 - www.ofc.org.uk
Call for significant increase in UK food production to counter threat of losing influence at global level
• Juliette Jowit
• guardian.co.uk, Wednesday 4 January 2012 06.30 GMT
Britain has 'some of the most productive farms in the world'. Photograph: David Bagnall / Alamy
The dominance of the US and Europe in global food and farming is under threat from their lack of natural resources and the rising power of China, Russia and Brazil, finds a major report published on Wednesday.
The report, commissioned by UK farming leaders, finds British agriculture vulnerable to the same trends and calls for a "significant" increase in output to counter the threat of losing influence at a global level.
However, the call for more productivity will be greeted with caution by critics who fear that farmers will use the study to put pressure on the coalition government to cut back on regulations to protect the environment and consumers.
The report, Power in Agriculture, produced a global power index suggesting that the US was still the biggest player in the global industry, followed closely by the EU. They were followed by China and Russia, and just behind them the UK. This trio was tailed by Japan, Australasia and Brazil. The index was based on data from, among others, the World Trade Organisation, the US department for agriculture, and the United Nations.
The report's authors, the Scottish Agricultural College, said the UK's continuing "power" was thanks to continuing political influence and strong export and import markets, but was threatened by poor natural and mineral resources. Instead the country needs "significantly more productivity" to keep its place at the top table, says the report, commissioned by the Oxford Farming Conference, which opened on Tuesday and represents major farming lobby groups and agri-business.
Cedric Porter, chairman of this year's annual conference in Oxford, said among the changes suggested were a review of current proposals for 7% of each farm to be "set aside" for nature rather than farmed with ploughs and chemicals, and for farms to plant at least three crops each to break up huge monocultures which discourage the variety of species needed for healthy ecosystems. Farmers believe the proposals do not accurately reflect how environmentally friendly they are.
Porter also supported a review of farming regulations under way by the Department for Environment, Food and Rural Affairs to get rid of "too much red tape".
"If we're taking public money there's an obligation to spend that in a way that's sensitive and caring for the environment, but it's getting that balance right," Porter told the Guardian.
Porter also challenged criticisms that the industry was trying to free itself from important protections for wildlife, soil and water, pointing out that British farmers have improved land management in recent years and now operate to some of the highest standards of animal welfare in the world. Britain also has "some of the most productive farms in the world", he said.
"Part of the drive is economics," said Porter, citing the high world prices for fertilisers, fuel and feed for livestock, as well as growing concern about lack of water in future.
Although some concerns about "red tape" will be met with sympathy, critics have previously warned of a "bonfire" of regulations to protect the environment if farmers' demands are met, including calls for ending restrictions on removing hedgerows and for a farming-owned organisation to police compliance with regulations.
Mary Creagh, the shadow environment secretary, said: "British farming is a resilient sector but it needs support from the Government to compete on the world stage. We will not create jobs and growth by engaging in a race to the bottom for environmental protection or lowering standards." On Wednesday she is expected to say that technology – including satellites and nano technology – are essential to improve both productivity and sustainability.
Caroline Spelman, the environment secretary, who is due to talk at the conference on Thursday, responded to the new report, in a similar vein, saying: "It's clear that British food and farming already punches above its weight and with more and more mouths to feed in the world with a growing population, the industry's going to have huge opportunities to export high quality British products to emerging markets.
"But we can't be complacent and need to remain competitive, which is why we're working alongside the industry to keep technology and innovation at the forefront of British agriculture.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
O agronegócio tem que se dar importância, porque nenhum estranho vai fazer isso.
Richard Jakubaszko
(Artigo publicado originalmente na revista DBO Agrotecnologia, edição 27, setembro / outubro 2010)
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Como o agronegócio não tem importância
política, não indica ministro ao MAPA.
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Quando esta edição da DBO Agrotecnologia estiver circulando já teremos um novo presidente eleito. Não importa, neste momento, quem seja o eleito, se Dilma Roussef ou José Serra, para efeito do que desejamos comentar. Irá tomar posse a partir de 1º de janeiro de 2011 e indicará na sequência seus ministros, e entre estes o futuro ministro da Agricultura. O nome do futuro ministro só deve ser conhecido lá pelo final do ano, talvez um pouco antes, mas será alguém da confiança do futuro presidente, ou alguém indicado por um dos partidos políticos da coligação que ajudaram a eleger o presidente.
Em outros ministérios, considerados mais importantes, seja do ponto de vista político ou do montante das verbas disponíveis, a disputa é mais acirrada do que a do cargo no MAPA. O problema que desejamos enfatizar é que este ministério tem sido ocupado, nos últimos 50 anos, mais frequentemente por políticos profissionais, e raramente por especialistas, por gente com origem no agronegócio. Neste tempo, de meio século, foram raríssimos os ministros “do ramo”, como Roberto Rodrigues, Allysson Paolinelli ou Luiz Fernando Cirne Lima. Alguns políticos, reconheçamos, tiveram bom desempenho, como Pratini de Moraes ou Reinhold Stephanes, mas foram exceções à regra. Houve uma longa lista de dezenas de ministros inexpressivos, que quase nada contribuíram, e esta foi a tônica geral desde os anos da ditadura, com exceção de alguns especialistas que esquentaram suas cadeiras por pouco tempo, como Luís Carlos Guedes Pinto ou Alberto Duque Portugal.
A razão de não acontecer a presença de especialistas, ou de gente do ramo, à frente do MAPA, está na falta de importância política do agronegócio, mesmo considerando que a bancada ruralista tenha garantido cerca de 230 votos (ver matéria a respeito, nesta edição, à página 21). Isto porque, é óbvio esperar que o ministro da Agricultura represente os interesses dos produtores junto ao presidente e à sociedade, e não apenas os seus interesses políticos e partidários, ou exclusivamente pessoais.
Nos casos de cargos de ministros da Fazenda, Indústria e Comércio, Minas e Energia, Transportes, Meio Ambiente, e alguns outros, o lobby de cada setor interessado é muito forte, muitas vezes conseguem impor um nome ao presidente, obtendo com isso pelo menos uma voz a ser ouvida nas questões e demandas importantes para cada setor.
Como o agronegócio não tem importância política não indica ninguém para liderar o MAPA, mesmo sendo um ministério técnico e mesmo tendo ainda a responsabilidade estratégica da questão do abastecimento alimentar para a população urbana. Esta, por sua vez, além de ser ingrata com quem a abastece de alimentos, ainda critica o agronegócio de poluir o meio ambiente, de desmatar, e de contaminar alimentos com uso de agrotóxicos.
O agronegócio somente terá importância a partir do momento em que as diversas lideranças políticas do setor se reúnam, estabeleçam quem será o interlocutor e porta voz e indiquem isso ao presidente, por exemplo, através de uma lista tríplice de nomes, de quem deveria ser o futuro ministro da Agricultura.
Fora disso a agropecuária terá sempre políticos como seus representantes no MAPA, um ministro sem força política e sem poder de barganha junto ao presidente e a outros ministérios. Ou ministros burocratas e passivos. Depois, não adianta alinhavar os velhos e repetidos argumentos de que o agronegócio representa quase 40% das exportações, que produz 1/3 do PIB do país, ou de que emprega 1/3 da mão-de-obra.
Para que o agronegócio adquira essa força e presença política junto ao presidente e ao Congresso, e também à sociedade urbana, precisa estabelecer e praticar a união. O agronegócio necessita desenvolver lideranças de peso, e isso somente se consegue através de entidades associativas com efetiva representatividade dos produtores rurais. Mas que sejam entidades sem vínculos sindicais ou políticos, ou liderados por meros representantes de oligarquias desgastadas pelo tempo.
O resto é jogar conversa fora. É pura perda de tempo.
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quinta-feira, 15 de abril de 2010
“Quem é o representante dos produtores de trigo?"
Richard Jakubaszko
O artigo abaixo foi publicado na edição março/abril/2010 da DBO Agrotecnologia, na série "Marketing da Terra". Mais um, e que adverte sobre a falta de união dos produtores rurais, problema que parece insolúvel.
“Quem é o representante dos produtores de trigo? E o dos produtores de milho, de arroz, feijão e tomate?”.
Quem fez esta impertinente e inquietante pergunta, diante de uma estupefata plateia de produtores e líderes sindicais rurais, no Estado do Paraná, foi o próprio (e então...) ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, em janeiro último. A plateia ficou calada. E ele mesmo respondeu: “Eu, normalmente, não sei quem é. Agora, eu sei quem é o representante dos compradores de trigo, dos exportadores de carne e de soja. É, muitas vezes, um ex-ministro, um ex-embaixador, uma pessoa que faz um lobby extremamente elevado. Mas quem é o representante dos produtores?”.
Novamente a plateia se calou.
Dá para entender o agora ex-ministro, cumpre seu papel como político, está em plena campanha para se reeleger deputado federal, e coloca-se, frente aos produtores e eleitores do seu estado, como defensor das principais bandeiras da agropecuária. Stephanes desincompatibilizou-se em final de março, e adiantou que alguns pleitos dos produtores, como a revisão do Código Florestal e o fim da dependência dos fertilizantes importados, são também alguns itens de sua disputa no presente momento.
O que se deve perceber é que Stephanes até poderá defender os direitos dos paranaenses, mas como ficam os produtores dos demais estados?
Ora, se o próprio ministro da Agricultura, que seria o principal interlocutor dos produtores, admite que não conhece quem são os representantes dos produtores...
O ex-ministro diagnosticou que os produtores carecem de representatividade em Brasília. Os chamados "líderes", autonomeados representantes do agronegócio, não passam de representantes autonomeados, com interesses políticos e comerciais de outra natureza, que não é o de defender os interesses dos produtores. E nisso se inclui até mesmo a chamada bancada ruralista.
Já escrevemos exaustivamente sobre este assunto, aqui nesta mesma página. Da falta de união entre os produtores, e esse é o “X” do problema.
O ex-ministro diz que os diversos setores do agronegócio devem defender uma agenda comum, e ele tem toda a razão. Arrisca opinar, por exemplo, que mandados de reintegração de posse da Justiça em audiências públicas é inconstitucional. Esclarece que essa agenda comum do agronegócio deve analisar ainda a pesquisa científica aplicada ao desenvolvimento de novas tecnologias de produção para preparar a agricultura para o futuro, e que isso não pode partir só do governo, e é preciso outros investimentos na área para que a pesquisa avance e se torne mais eficiente.
O ministro-candidato defende que a defesa sanitária (animal e vegetal) seja estratégica para o progresso da agropecuária. “O mundo está cada vez mais exigente e rigoroso em termos de qualidade do produto que vai consumir”. Ele lembrou que as questões sanitárias podem causar prejuízo econômico a um país exportador, citando o caso da febre aftosa no Mato Grosso do Sul, em 2005. “Perdemos vários mercados e, mesmo com a recuperação de alguns deles, ainda não conseguimos abrir outros grandes, como o Japão”, lamentou.
Enfim, existem agendas amplas, para que o agricultor possa melhorar a renda. O ex-ministro diz ainda que “o agricultor brasileiro é eficiente da porteira para dentro, quando se sai pra fora há distâncias enormes para transportar soja com perda de renda por falta de infraestrutura adequada”, apontando como mais um item que pretende defender. Mas não foi direto ao ponto de interesse real do produtor.
Qual é o ponto?
É que, por falta de representatividade, por falta de líderes reais para cada área específica, as questões dos produtores estão sempre sem respostas. Nestas incluem-se o que plantar, ou não plantar, na próxima safra. Quando vender a safra, se parcial ou total. Qual seria o momento de antecipar (ou não) a compra de insumos, de fazer financiamentos para a aquisição de máquinas, se seria melhor adquirir ou arrendar terra pra plantio, entre muitos outros exemplos. Quais reivindicações coletivas devem ser feitas ao Governo Federal, ou aos estaduais.
Os agricultores devem ter consciência de que, enquanto são representados por políticos, ou por líderes autonomeados, nada irão obter para dar segurança na atividade que exercem.
O Brasil tem poucos exemplos de associações de produtores que efetivamente trabalham com agendas de interesse direto do produtor. Já citamos, neste espaço e na DBO Agrotecnologia, o exemplo da UNICA, União Nacional da Indústria Canavieira, como paradigma de eficiência na defesa dos interesses diretos dos seus associados.
Há alguns raros exemplos, como a Aprosoja – Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso, apesar de sua limitação como entidade regional; existe ainda a Associação dos Produtores de Banana do Norte de Minas Gerais, a Associação dos Produtores de Algodão, a ABBA - Associação dos Bataticultores do Brasil.
Mas cadê as associações de milho, de soja, de tomate, de arroz, de feijão, de trigo? Não é só o ministro que não conhece seus representantes, nós aqui na DBO Agrotecnologia também não conhecemos. E sem isso fica difícil a ajuda aos produtores.
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