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segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Bolsonarismo imita Chávez, Fujimori e Orbán e quer controle do Judiciário

 

Jamil Chade

Nos últimos dias, entrevistas de aliados de Jair Bolsonaro e do próprio presidente indicaram que, numa eventual vitória nas eleições, o governo usará um segundo mandato para buscar um maior controle do Judiciário, um verdadeiro obstáculo para a implementação de uma agenda da extrema direita no país e, no fundo, para tornar obsoleta partes inteiras da Constituição de 1988.

A ideia é ampliar o número de ministros e, assim, nomear aliados do bolsonarismo. Se no Congresso foi o orçamento secreto que permitiu um controle do Legislativo, o plano se aproveitaria de um avanço do grupo no Senado para também submeter o Judiciário aos interesses do movimento.

Mas nada disso é inédito. Ao longo dos últimos anos, líderes populistas que chegaram ao poder por meio das urnas usaram a legitimidade que ganharam do processo eleitoral para desmontar a democracia em seus países. Principalmente a partir do segundo mandato, o objetivo foi claro: o controle do Judiciário.

Um deles foi Hugo Chávez, na Venezuela. Ao assumir o poder, ele finalmente cumpriu o que líderes por décadas prometeram e não cumpriram: reformou a Justiça. Mas, num primeiro momento, a transformação foi considerada como exemplar. O Tribunal Supremo teria 20 juízes, com dez da oposição e dez aliados ao governo.

Cinco anos depois, em maio de 2004, uma nova lei foi aprovada, depois da tentativa de golpe sofrida pelos venezuelanos. Mas, neste caso, a corte ganharia doze novos membros. Todos eles chavistas.

Nos anos que se seguiram, centenas de juízes de primeira instância deixaram seus cargos e foram substituídos por aliados do governo. Em 2021, outro informe foi ainda mais enfático: o Judiciário venezuelano, já sob Nicolas Maduro, fazia parte dos mecanismos para encobrir a repressão contra opositores.

As consequências foram profundas, com o regime chavista capaz de contornar qualquer tipo de ação com o controle completo das cortes. Mais de uma década depois, num informe da ONU sobre a situação venezuelana, a constatação: "a independência do Judiciário estava completamente destruída”.

Durante a década de 1990, Alberto Fujimori no Peru também promoveu mudanças nas leis que asseguraram sua influência sobre os tribunais e contribuíram para um clima de anarquia que facilitaria a corrupção que assolou sua administração.

No caso em Lima, Fujimori usou um golpe de estado em 1992 para justificar a necessidade de reformar os tribunais. Três dias depois do evento, ele aprovou um decreto demitindo 13 juízes da corte máxima do país. Nos meses que se seguiram, todos os tribunais superiores passaram ao seu controle.

Naquele momento, um porta-voz do governo justificou que tais atos tinham como objetivo "assegurar a democracia”.

No poder desde 2010, o húngaro Viktor Orbán passou os últimos doze anos adotando leis para acumular poder e, desde 2012, já emendou a constituição em sete ocasiões. Mas foi a partir de 2014, quando ele vence pela segunda vez a eleição, que o desmonte ganha um ritmo inédito.

Orbán, de fato, assumiu o poder depois de um governo corrupto de esquerda e que admitiu que enganou a população ao adotar medidas de austeridade para lidar com a crise de 2008. Ganhou o voto de jovens, da elite urbana, da classe média e até de parte dos intelectuais. Sua guinada autoritária, porém, afastou muitos desses grupos da base de Orbán.

Mas, até que tal reação viesse, ele já havia fincado suas bases e iniciado um processo profundo para controlar o parlamento, a imprensa, a academia, a arte, a sociedade civil e, claro, o Judiciário.

 Ao final de segundo mandato, que começou em 2014, Orbán se sentia suficientemente confortável em termos de votos no Parlamento para criar um novo sistema de cortes administrativas que poderiam ditar sentenças sobre eleições, imigrações e até sobre violência policial.

Cortes similares existem na França e na Alemanha. Mas, no caso de Budapeste, elas teriam ampla interferência do Executivo. Caberia ao ministro da Justiça escolher uma parcela dos juízes e definir promoções.

Alguns anos depois, ele apresentou a ideia em um novo formato, transformando o sistema de pontos pelos quais os candidatos para os cargos de juízes seriam julgados. Quem passou por funções no governo, segundo a nova lei, ganha pontos extras. Para ter funções no governo, os candidatos precisam estar alinhados à extrema direita.

O assalto contra o Judiciário ao final do segundo mandato apenas completava oito anos de uma estratégia clara de controle. Naquele período, 400 juízes foram aposentados e a Corte Constitucional passou a ser controlada por aliados do regime.

O Ministério Público também passou a ser controlado por Orbán e, no Escritório Nacional de Justiça, ele nomeou a madrinha de um de seus filhos para o cargo.

O controle do Parlamento e Judiciário foram estratégicos. Sempre que sofre um revés, o húngaro se apressa em mudar as regras do jogo, sem freios dos demais poderes. Em 2018, dias depois de perder as eleições municipais em Budapeste, ele aprovou uma nova lei reduzindo as competências das prefeituras.

E sem qualquer questionamento da Justiça.

Publicado em https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/10/10/bolsonarismo-imita-chavez-fujimori-e-orban-e-quer-controle-do-judiciario.htm

 

 

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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Carta aberta ao mundo, da mãe de Julian Assange

Richard Jakubaszko  
Subscrevo de forma incondicional o apelo da mãe de Julian Assange, que abaixo reproduzo, ao mesmo tempo envergonhado, como jornalista e blogueiro, por assistir a vergonhosa perseguição feita pelo governo dos EUA a um jornalista e blogueiro australiano por ele ter publicado documentos verdadeiros, mas considerados secretos, contendo terríveis verdades sobre, afinal, quem são os maiores terroristas do planeta.


Carta aberta ao mundo, da mãe de Julian Assange
"A dor de ver o meu filho, que arriscou a vida para denunciar a injustiça, inculpado e privado do direito a um julgamento justo, reiteradamente".
Christine Ann Assange [*]

Há cinquenta anos, quando dei a luz pela primeira vez como jovem mãe, pensei que não podia haver dor maior, mas logo a esqueci quando segurei meu belo bebé nos braços. Chamei-o Julian.

Agora percebo que estava equivocada. Há uma dor maior. A dor incessante de ser a mãe de um jornalista premiado e respeitável, que teve a coragem de publicar a verdade sobre crimes governamentais de alto nível e sobre a corrupção.

A dor de ver o meu filho, que tentou publicar verdades importantes, manchado a nível mundial.

A dor de ver o meu filho, que arriscou a sua vida por denunciar a injustiça, inculpado e privado do direito a julgamento justo, reiteradamente.

A dor de ver um filho saudável deteriorar-se lentamente, porque foi-lhe negada a atenção médica e sanitária adequada em anos e anos de prisão.

A angústia de ver o meu filho submetido a cruéis torturas psicológicas, numa tentativa de romper o seu imenso espírito.

O constante pesadelo de que seja extraditado para os EUA e a seguir passe o resto dos seus dias enterrado vivo em isolamento total.

O medo constante de que a CIA possa cumprir seus planos para assassiná-lo.

A onda de tristeza quando na última audiência vi seu corpo frágil cair exausto por um mini derrame cerebral, devido ao stress crônico.

Muitas pessoas ficaram traumatizadas ao ver uma superpotência vingativa que usa seus recursos ilimitados para intimidar e destruir um indivíduo indefeso.

Quero agradecer a todos os cidadãos decentes e solidários que protestam globalmente contra a brutal perseguição política sofrida por Julian.

Por favor, continuem a levantar a voz aos seus políticos até que seja a única que ouvirão.

Sua vida está nas suas mãos.

#YoSoyAssange
#JusticiaPorJulian

30/Dezembro/2021
[*] Mãe de Julian Assange.


O original encontra-se em https://www.lahaine.org/mundo.php/carta-abierta-de-la-madre

 

 

sábado, 18 de dezembro de 2021

Justiça Federal afasta presidente do IPHAN

Richard Jakubaszko   

A Justiça Federal afastou hoje a ainda presidente do Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Larissa Peixoto Dutra.

Lembrando que Bolsonaro, semana passada, provocou gargalhas de empresários, ao dizer que trocou parte da direção do Iphan depois de receber reclamações do empresário Luciano Hang, após a descoberta de peças históricas coloniais de indígenas em um canteiro de obras de uma nova loja do empresário na cidade de Rio Grande, no RS. Como a obra foi paralisada pelo Iphan, Bolsonaro demitiu o presidente e colocou em seu lugar Larissa Peixoto Dutra, agora demitida pela Justiça, e que havia autorizado o andamento das obras.

A determinação foi da juíza federal substituta Mariana Cunha, da 28ª Vara Federal do Rio de Janeiro.

Depois da ação da Anvisa, nesta semana, de desobediência civil às ordens tresloucadas de Bolsonaro, espero que o Brasil caia na real.

Bolsonaro precisa entender que não é rei do Brasil, que é apenas um presidente comum e que não pode tudo que passa pela tresloucada cabeça dele, e menos ainda seus filhotes, de 01 a 04 não são príncipes e nunca serão seus sucessores.


 

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

A Doutrina Legal dos “Crimes de Carbono” - Lei de Tortura e Razão para Livrar o Planeta dos Negadores das Mudanças Climáticas

Prof. Dr. Lucas Bergkamp*, ​​LL.M.

O autor explica como o direito penal, na visão do movimento climático, deve complementar o direito civil e administrativo para eliminar toda e qualquer oposição aos seus planos para a realização de uma utopia climática.


Resumo
O movimento climático descobriu o direito penal como uma ferramenta para conduzir a política climática. Para complementar os processos civis contra estados e corporações, os ativistas do movimento pretendem invocar a tortura e um recém-proposto crime de "ecocídio" para atingir executivos corporativos, políticos e outros que estejam no caminho de suas políticas preferidas. Ao promover sua agenda, esses ativistas recebem assistência do judiciário - especificamente, do Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

O uso do direito penal para buscar políticas climáticas é mais um passo na radicalização do movimento climático e representa uma ameaça às liberdades econômicas e políticas, ao Estado de Direito e à democracia. Se o movimento for capaz de realizar seus planos, todos aqueles que não apóiam políticas climáticas ambiciosas terão que temer processos judiciais e prisão. Por outro lado, ameaçar com sanções criminais contra políticos e executivos corporativos criará incentivos poderosos para a adoção de políticas climáticas ambiciosas e a narrativa pró-clima dominante.

Governo europeu de juízes
Ao longo de várias décadas, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (CEDH) evoluiu para um governo europeu. Com base em doutrinas destinadas a permitir-lhe expandir os seus poderes à sua discrição, o Tribunal promulgou uma série de mandatos para novas leis e políticas para a Europa. Há pouco controle democrático sobre o papel do Tribunal no avanço da política progressista. Depois que a Corte se pronuncia, os parlamentos nacionais não podem desfazer sua pontificação porque um direito humano prevalece sobre a lei nacional; os tribunais nacionais são obrigados a executar as decisões do Tribunal, mesmo que a sua própria legislação nacional disponha de outra forma.

Embora imponha suas altas exigências morais aos governos executivos, a Corte acredita estar totalmente isenta de quaisquer restrições morais ou legais. Em uma contribuição anterior, discuti como os litígios sobre mudanças climáticas perante a Corte minaram o Estado de Direito, a separação de poderes e a democracia. Neste artigo, concentro-me no papel do Tribunal na criminalização do debate sobre o clima. Seu descuido desrespeito à imparcialidade judicial, ao direito a um julgamento justo e à contenção judicial é outra manifestação do apoio do Tribunal ao movimento progressista.

Criminalizando a “negação do clima”
Uma década atrás, um advogado americano argumentou que a negação do clima é indiscutivelmente punível como engano criminal e fraude de acordo com a lei existente. Em 2015, Al Gore disse que “os negadores da mudança climática devem ser punidos”. A retirada do presidente Trump do Acordo do Clima de Paris foi vista como um crime contra a humanidade: “Isso é assassinato”.

Um livro recente, Carbon Criminals, Climate Crimes, descreve "o que as empresas da indústria de combustíveis fósseis, o governo dos EUA e a comunidade política internacional fizeram ou deixaram de fazer em relação ao aquecimento global". No site da UNESCO, um artigo de destaque proeminente defende que "crimes climáticos devem ser levados à justiça" e que "Estados e empresas devem ser responsabilizados por suas ações ou omissões em relação às mudanças climáticas."

A justificativa que apoia a criminalização
O argumento para criminalizar a "negação do clima" normalmente se resume ao seguinte argumento articulado por Jeremy Williams:

Dado o que sabemos e descobrimos há décadas sobre as mudanças climáticas, negar a ciência, enganar o público e obstruir deliberadamente qualquer resposta séria à catástrofe climática é permitir que países e culturas inteiras desapareçam. É roubar... os mais pobres e vulneráveis ​​do planeta de suas terras, suas casas, seus meios de subsistência, até mesmo suas vidas - e as vidas de seus filhos, e as vidas dos filhos de seus filhos. Com fins lucrativos. E para, poder…. São crimes. Eles são crimes contra a terra e são crimes contra a humanidade.

Esse clamor emocional não é apenas um amálgama impenetrável de raciocínio factual e moral, mas também pressupõe o que deve ser provado. Para evitar desastres, a racionalidade precisa ser trazida de volta à análise. Infelizmente, como demonstra a CEDH, não podemos contar com o judiciário para o fazer.

O “Tribunal Europeu para as Alterações Climáticas”
Em 2020, a CEDH sinalizou para a comunidade de direitos humanos que estava aberta para receber inscrições de ativistas do clima. O Tribunal e o Conselho da Europa realizaram uma conferência, “Direitos Humanos para o Planeta”, na qual vários juízes, incluindo o presidente do Tribunal, desempenharam papéis importantes. Os discursos proferidos pelos juízes do Tribunal foram corretamente percebidos como um convite aberto aos ativistas.

Vários casos climáticos estão agora pendentes no Tribunal. Como esperado, a retórica da emergência climática domina os argumentos apresentados pelos demandantes. A Corte já demonstrou até onde está disposta a ir para reescrever a lei para salvar o planeta.

“Emergência climática”
O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, ao qual o seu presidente se refere como o “Tribunal Europeu das Alterações Climáticas”, aproveitou a oportunidade apresentada pelo litígio sobre o clima que convidou para assumir a liderança na criminalização do debate sobre o clima. Tem feito isso de várias maneiras. Em primeiro lugar, o presidente do Tribunal e um de seus vice-presidentes declararam publicamente que "estamos enfrentando uma emergência terrível que requer uma ação conjunta de toda a humanidade" e que "enfrentaremos o colapso de tudo o que nos dá a nossa segurança". Assim, os líderes do Tribunal endossaram aberta e sem reservas a retórica alarmista do movimento climático. Eles fizeram isso não com base na ciência, mas em declarações alarmistas de Sir David Attenborough, um conhecido biólogo e ativista climático.

Em segundo lugar, para evitar qualquer discussão sobre os fatos, os juízes acrescentaram: “Ninguém pode legitimamente questionar que estamos enfrentando uma emergência terrível que requer uma ação conjunta de toda a humanidade”. Também comprometeram o Tribunal com a causa: “Por sua vez, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem desempenhará o seu papel dentro dos limites das suas competências como tribunal de justiça, sempre ciente de que as garantias da Convenção devem ser eficazes e reais, não ilusórias.”

Nenhum direito a um julgamento justo para os negadores
Ao emitir essas advertências, a Corte efetivamente encerrou qualquer debate sobre mudança climática e ciência do clima antes mesmo de qualquer julgamento ter começado. Ao fazê-lo, privou os Estados réus de um argumento importante para se defenderem das alegações de que suas políticas climáticas são inadequadas para combater a suposta crise climática. Antes que pudessem apresentar as evidências científicas relevantes mostrando que não existe emergência climática ou crise climática, os principais juízes do Tribunal disseram aos estados réus que eles não deveriam ousar negar.

Ao rotular qualquer argumento de que não há crise climática "ilegítima", esses importantes juízes europeus, que deveriam servir como exemplos de imparcialidade judicial, endossaram a retórica de negação do clima do movimento climático. Essa retórica é um jogo inapropriado e antiético sobre a negação do Holocausto. Simultaneamente, e diretamente relevante para o assunto desta contribuição, o rótulo de "ilegitimidade" do Tribunal também levanta o espectro do processo criminal.

Não há crise climática
É difícil pensar em qualquer conduta judicial que mostre maior partidarismo e desrespeito pelo princípio da imparcialidade judicial do que a conduta desses juízes europeus de direitos humanos. O direito a um julgamento justo, garantido pelo artigo 6 da Convenção Europeia de Direitos Humanos, foi efetivamente reservado para os negadores do clima. Deve-se questionar se, dadas as opiniões expressas por seus líderes, a CEDH pode legitimamente governar em qualquer caso climático.

A negação de justiça do Tribunal é ainda mais chocante à luz da ciência, que não apoia a proposição de que há uma crise climática. A Comissão Europeia declarou: “O termo‘ emergência climática ’expressa a vontade política de cumprir as obrigações decorrentes do Acordo de Paris.” Em quase 4.000 páginas, o recente relatório AR6 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) não emprega uma única vez os termos “crise climática” ou “emergência climática” porque esses termos não pertencem à terminologia científica (eles ocorrem apenas em uma seção descritiva na comunicação). Pelo contrário, são slogans políticos, como sugeriu a Comissão. Ao ponto, a indefinida “emergência climática” é uma invenção de ativistas.

Tortura
Surpreendentemente, mesmo a acusação de negação do clima percebida não foi suficiente para a CEDH. No primeiro caso climático pendente perante si, o Tribunal decidiu, por sua própria vontade, adicionar “tortura” às acusações contra 33 estados que supostamente não fazem o suficiente para combater as mudanças climáticas, conforme exigido pelo Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas de 2015. O Tribunal sugere que esses estados podem ter cometido “tortura” ao adotar “políticas climáticas inadequadas”.

A tortura, é claro, é um crime grave. O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI) estabelece que a tortura, “quando cometida como parte de um ataque generalizado ou sistemático”, é um crime contra a humanidade. Consequentemente, não implementar uma política climática adequada seria um crime contra a humanidade que pode ser processado pelo TPI. O que as vítimas de tortura real pensariam do uso indevido deste termo pelo Tribunal por razões políticas?

Ameaças judiciais
Executivos corporativos de empresas consideradas responsáveis ​​pelas emissões de gases de efeito estufa, políticos que não apóiam políticas climáticas ambiciosas e todos os outros que defendem a agenda do movimento climático estariam expostos a processos criminais e prisão de até 30 anos. Esta não é uma interpretação rebuscada da lei relevante, mas, conforme explicado abaixo, uma aplicação bastante direta. Obviamente, a CEDH estava bem ciente do que estava fazendo ao cair na “tortura”, mas, mesmo assim, se sentiu confortável em proceder dessa maneira.

Desnecessário dizer que a ameaça de prisão perpétua é um desincentivo muito poderoso. Como disse um autor acadêmico da UNESCO:

As sanções criminais são as ferramentas mais potentes de que dispomos para definir uma conduta que está além de todos os limites de tolerância. A conduta criminosa viola direitos básicos e destrói a segurança humana. Nós nos reservamos o duro tratamento de punição por conduta que danifique as coisas que consideramos mais fundamentalmente valiosas. A mudança climática está causando exatamente esses danos.

Isso parece ser exatamente o que os juízes da CEDH acreditam. Os executivos corporativos terão que pensar duas vezes sobre as políticas climáticas corporativas e estarão inclinados a ceder às demandas dos ativistas. Da mesma forma, os políticos céticos em relação às políticas climáticas atuais podem se sentir compelidos a desistir de sua resistência. Todos os outros dissidentes também podem estar inclinados a escolher a segurança pessoal em vez da honestidade. A liberdade econômica, a liberdade política e a liberdade de expressão seriam destruídas. É isso que o presidente do Tribunal quer dizer quando afirma que as garantias da Convenção Europeia devem ser “eficazes e reais, não ilusórias”? A inexplicável decisão da Corte de adicionar tortura às acusações no primeiro caso climático apenas aumenta a preocupação de que os direitos humanos protegem apenas aqueles que endossam causas progressistas, não aqueles que têm outras preferências políticas.

Ecocídio
Ao invocar o crime de tortura no debate sobre o clima, a CEDH também pode ter pretendido auxiliar os esforços para que o ecocídio fosse reconhecido como crime. “Ecocídio” se refere à “devastação e destruição do meio ambiente”, mas ainda não existe uma definição legal oficial. Por décadas, os verdes vêm tentando fazer com que o ecocídio seja reconhecido como um crime internacional - mas até agora, sem sucesso. Nos últimos dois anos, no entanto, devido ao surgimento da narrativa da crise climática, eles fizeram progressos significativos. Existem agora muitas atividades destinadas a persuadir as organizações internacionais a legislar sobre o ecocídio. Em maio de 2021, a União Interparlamentar (UIP), uma organização global que afirma dar poderes aos parlamentares nacionais para promover, inter alia, o desenvolvimento sustentável, adotou uma resolução apelando a todos os “Parlamentos para reforçar o direito penal para prevenir e punir os danos generalizados, de longo prazo e graves ao meio ambiente” e “examinar a possibilidade de reconhecer o crime de ecocídio para prevenir as ameaças e conflitos decorrentes dos desastres climáticos e suas consequências" (grifo nosso).

Em junho de 2021, um painel de especialistas convocado pela Fundação Stop Ecocide publicou uma definição de “ecocídio” destinada a servir de base para uma emenda ao Estatuto de Roma do TPI. Assim que o Estatuto de Roma for emendado para incluir o ecocídio, os indivíduos suspeitos de terem cometido ecocídio podem ser julgados pelo TPI.

A amplitude da emenda
Com esta emenda, a proibição da negação do clima torna-se redundante porque o Estatuto de Roma ameaça a prisão não apenas contra aqueles que cometem um crime, mas também qualquer pessoa que "induz a prática de tal crime", "ajuda, incentiva ou de outra forma auxilia na sua prática ou sua tentativa de cometimento ”ou“ de qualquer outra forma contribui para o cometimento ou tentativa de cometimento de tal crime por um grupo de pessoas ”. Além disso, o Estatuto de Roma se aplica igualmente a todas as pessoas, sem qualquer distinção baseada na capacidade oficial; especificamente, os representantes eleitos e funcionários do governo não estão isentos de responsabilidade criminal.

Assim, políticos, executivos corporativos, líderes de pensamento e qualquer outra pessoa podem estar sujeitos a processo criminal se expressarem uma opinião ou seguirem uma política considerada “anti-climática” que, portanto, pode resultar em ecocídio. Na luta contra a negação do clima, essa ferramenta seria de valor incalculável.

“Liderança” da União Europeia
O Parlamento Europeu referiu-se ao ecocídio em dois relatórios recentes e manifestou o desejo de o reconhecer ao abrigo da legislação e da diplomacia da UE. Para preparar a adoção de uma diretiva da UE sobre ecocídio, o Instituto de Direito Europeu lançou um projeto sobre ecocídio. Aproveitando o momento, mesmo antes de este projeto ser concluído, o movimento ecocídio está agora pressionando para incluir o ecocídio na Diretiva de Crimes Ambientais da UE, que está sendo revisada.

Os estados membros da UE controlam uma parte significativa dos votos necessários para uma emenda ao Estatuto de Roma e podem fornecer incentivos para garantir os votos adicionais necessários para a adoção do crime de ecocídio. As consequências de tal emenda podem ser enormes se o TPI seguir o exemplo da CEDH e pular na onda dos ativistas do clima.

Mudança climática é ecocídio
Não se engane: embora a definição de ecocídio seja ampla e vaga, o alvo principal do movimento ecocídio são as mudanças climáticas. A lei de responsabilidade civil e a lei de direitos humanos fornecem aos ativistas do clima as ferramentas para forçar governos e empresas a cumprir suas demandas, mas esse tipo de litígio é caro e leva tempo. O novo crime de ecocídio daria a eles um instrumento poderoso para encurtar o processo, ameaçando com sanções criminais contra diretores e executivos de empresas, bem como políticos e líderes de opinião relutantes, e para forçá-los a mudar de atitude.

Os ativistas climáticos também acreditam que o termo “ecocídio” terá um efeito emotivo e estigmatizante que “causar mudanças climáticas” não tem. Como disse um autor:

O termo “ecocídio” parece dramático. É mais emocionante do que “contribuir para a poluição” ou “aumentar as emissões de gases de efeito estufa” ou “investir em combustíveis fósseis”. Comunica a gravidade e a urgência da destruição irreversível que está sendo infligida ao meio ambiente. Ele inequivocamente classifica os principais poluidores como “vilões”, perpetradores de um crime (grifo nosso).

Sem proteção
As leis nacionais não protegem os suspeitos. De acordo com a definição proposta do painel internacional, ecocídio significa "atos ilegais ou arbitrários cometidos com o conhecimento de que há uma probabilidade substancial de danos ambientais graves e generalizados ou de longo prazo causados ​​por esses atos". Observe que “ilegal”, que é mais amplo do que “ilegal”, é a porta de entrada para desconsiderar as licenças de emissões e a conformidade de atividades e produtos com as leis nacionais.

O truque principal é que essa definição não exige nenhum dano real; o conhecimento dos prováveis ​​danos no futuro é suficiente - o que é um fato, à luz da “ciência consolidada” apresentada nos relatórios do IPCC. Os princípios fundamentais do direito penal são apenas uma reflexão tardia, se é que estão na tela do radar.

Torturando os direitos humanos e o direito penal
Escusado será dizer que a sugestão da CEDH de que os governos “torturam” os seus cidadãos implementando uma “política climática inadequada” é um insulto e ilegal para as vítimas de tortura. A inclusão da tortura em um processo de política climática é o culminar da mudança progressiva do Tribunal de um juiz de direitos humanos para uma instituição de formulação de políticas sociais. Este ativismo não só prejudicou a reputação do Tribunal como um tribunal imparcial, mas também criou sérios problemas para as legislaturas nacionais confrontadas com os mandatos de política muitas vezes confusos impostos pelo Tribunal.

É verdade que temos um problema de tortura, mas não são os formuladores de políticas climáticas europeias que estão cometendo a tortura. Em vez disso, o próprio Tribunal torturou a lei para que se encaixasse em sua própria ideologia. O Tribunal torturou a Convenção Europeia dos Direitos do Homem até confessar que se trata de um programa de política progressista. Torturou o direito à vida e vários outros direitos humanos até que eles concordaram em incluir em seu escopo toda uma série de obrigações ditas positivas, que só a Corte pode definir. Talvez o mais flagrante seja o fato de a Corte torturar a Convenção até que ela conceda à Corte o direito de renunciar aos requisitos essenciais impostos pela Convenção para eliminar quaisquer limites à sua jurisdição, o que permitiu à Corte avançar com o primeiro caso de mudança climática, que é tão desesperadamente desejado.

O crime da mudança climática
O uso da lei criminal para buscar políticas climáticas é um novo capítulo na saga de litígios climáticos. Os ativistas do clima descobriram que o direito penal é uma ferramenta extremamente eficaz para a política climática. Governos e corporações podem ser subordinados por meio de leis de direitos civis e humanos, mas para pressionar executivos e políticos corporativos, o direito penal é muito mais eficaz. O direito penal é o pé-de-cabra que abre as portas das salas de reuniões e das câmaras onde as decisões políticas são tomadas.

O que é notável é que os ativistas incluem não apenas as organizações não governamentais que afirmam "lutar pelo clima", mas também os mais altos juízes da Europa no Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Os limites de sua autoridade foram realmente levantados pela crise autodeclarada?

Prenda-os!
Em estados totalitários, os dissidentes políticos são controlados de três maneiras: são retirados da vida pública como um “perigo para a ordem pública”; são internados em hospitais psiquiátricos, por sofrerem de doença mental; ou estão presos porque cometeram crimes. O movimento mais recente do movimento climático segue esta terceira via de "deslegitimação" e "desnormalização" de seus oponentes políticos e daqueles que discordam do movimento.

De acordo com o movimento climático, a suposta crise climática exigiria ações urgentes para evitar a catástrofe iminente e salvar o planeta e a humanidade. Em sua opinião, isso exige que a democracia, os princípios fundamentais do direito e os limites do poder judicial sejam deixados de lado. Nesta luta pela sobrevivência, o movimento climático concluiu que as emissões de gases de efeito estufa devem ser criminalizadas para que os negadores do clima possam ser presos. Infelizmente, a CEDH foi vítima do apelo emocional da retórica do movimento.

Ameaças à liberdade
A estratégia do movimento climático é clara: a tortura e o ecocídio devem fazer parte de sua caixa de ferramentas para que os pecadores possam ser convertidos, os negadores possam ser punidos e a utopia climática possa ser realizada. Inevitavelmente, porém, o “climatismo” resulta na supressão da liberdade e abre o caminho para o totalitarismo climático. Ironicamente, a CEDH, que foi criada após a destruição do regime totalitário nazista para atuar como um baluarte legal de salvaguarda da liberdade individual, se posicionou como o facilitador judicial desse processo.

* sobre o autor: Lucas Bergkamp é médico, advogado e consultor de políticas sênior baseado em Bruxelas. Ele é conselheiro judicial da Clintel. Publicou recentemente o relatório Climate Politics Disguised As Human Rights At ‘The European Climate Change Court’, que está disponível gratuitamente em www.echrexposed.eu

Publicado em inglês em https://clintel.org/the-legal-doctrine-of-carbon-crimes-torturing-law-and-reason-to-rid-the-planet-of-climate-change-deniers/

Postagem original em holandês: https://www.wyniasweek.nl/rechters-en-activisten-criminaliseren-klimaatontkenning/

 

COMENTÁRIOS ADICIONAIS DO BLOGUEIRO:
Conforme coloquei em debate em meu livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?", os céticos, dentro em breve, poderão ser taxados de criminosos, apesar de apenas desejarem o debate sobre "a maior mentira do século XXI", que é o aquecimento. O aspecto perverso que o jurista europeu
Lucas Bergkamp descreve está na forma política e jurídica no artigo acima. A antecipação do que ele pensa, aplicado ao que pretendem os juristas europeus favoráveis à disseminação da histeria climática, provocarão a adoção do chamado "compliance" para as corporações multinacionais e as entidades associativas que são suas representações no planeta. A partir daí teremos a concretização internacional do "politicamente correto", que, como definido em meu livro acima citado é "pegar um pedacinho de merda pela parte mais limpinha da coisa".

Ou seja, a inação dos omissos viabiliza a existência e até mesmo permite a criação das ditaduras, sejam elas políticas ou religiosas, e isso pode ser observado e conhecido na fábula "O rei está nu". Com isso, entenda que você, leitor, se discorda do artigo acima, ou mesmo concordando permanecerá em silêncio, está presenciando a escrita da história e de como essa narrativa é mentirosa, simplesmente porque ela é escrita pelos vencedores.

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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Sérgio Moro: a construção de um juiz acima da lei (Documentário)

Richard Jakubaszko

O documentário acima foi produzido e é apresentado pelos jornalistas Luís Nassif e Marcelo Euler. É uma antevisão do julgamento a ser feito pelo STF a partir de março próximo, que decidirá sobre a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro nos casos em que julgou e presidiu na vara de Curitiba tendo o ex-presidente Lula como réu.

Quem acompanha o caso antevê a condenação de Moro, o cancelamento das duas condenações de Lula (casos do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia) e a recuperação dos seus direitos políticos, possibilitando sua candidatura nas eleições de 2022.

O vídeo, de toda forma, relata o jeito incomum e "excêntrico" de Moro de fazer "justiça" com as próprias mãos. Lamentavelmente a grande mídia tem escondido o problema em seu noticiário.

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Notas torpes sobre um quase adeus ou até breve ao GGN

Armando Coelho Neto *
Não há luta entre esquerda e direita, mas sim luta da civilização contra a barbárie.

Quando comecei a escrever neste espaço não trouxe grandes novidades, exceto quanto mergulhava um pouco nas entranhas da Polícia Federal, sobre o desserviço dela à Nação, seu papel de capitã do mato nos golpes de 1964 e 2016, e, mais recentemente na vergonhosa formação de seus novos jagunços… “Mito mito! ”

Minhas palavras geraram revolta dentro da PF e seus calhordas, enquanto os policiais sérios quedavam amordaçados sujeitos a um regime jurídico decadente, com regras de valas comuns nos quais seus servidores são enquadrados, conforme humores administrativos. Aos inimigos a lei é a regra número zero.

Por conta delas (minhas palavras), sofri interpelações, já que para a PF é mais fácil conviver com mentiras e hipocrisia do que com a verdade. Ela nega até mesmo os bons préstimos da gestão petista em seu favor e que lhe deram projeção. Entre eles, mais autonomia, instrumentos legais, recursos materiais e humanos (1).

Segui o desafio de dizer algo às segundas-feiras, quando já se havia dito tudo sobre tudo, e com muita propriedade, na verve de jornalistas, juristas, cientistas políticos… a respeito das escrotices promovidas pela elite sabuja, com a proteção do Supremo Tribunal Federal e das covardes Forças Armadas – pátria amada raio que o parta!

Ao começar a escrever nos primórdios do golpe de 2016, tinha ilusão de mostrar o reduzido contingente na PF ávido por justiça social, honesto, preocupado com direitos humanos. Gente séria para quem direitos humanos protegem o cidadão contra a tirania do Estado. Mas, para a maioria é mesmo proteção de bandidos.

Para se ter ideia, a unidade que trata do meio ambiente é chamada de “Delebambi” (2). A ambientalista mirim Greta Thunberg só perde para Lula em termos de ironias. Isso mostra o sentimento retrógrado sobre uma importante questão mundial. É coisa para inglês ver, com as ressalvas obrigatórias quanto às honrosas exceções.

Assim era, assim é, mas era preciso dizer que havia gente refletindo na instituição. Desse modo, à exceção das particularidades da PF, tudo o quanto mais registrei neste GGN repercutia muito mais em razão de quem (um delegado federal) estava dizendo, escrevendo, do que mesmo pelo ineditismo ou contribuição ao debate.

É como se um delegado federal dizendo “é golpe, foi golpe” fizesse alguma diferença. Sempre chamei de Farsa Jato a maior tramoia jurídica da história, urdida por entreguistas, corruptos, por capitães do mato da elite do atraso. Parecia fazer a diferença chamar o herói da TV Globo de Zé Roela, hoje a serviço de corruptos.

Se fez ou não fez diferença, não se sabe. Mas, já deu. Bateu o cansaço, parecido com o de Álvaro de Campos (“O que há em mim é sobretudo cansaço — Não disto nem daquilo; Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço… infecundo, cansaço; Um supremíssimo cansaço, Íssimo, íssimo, íssimo”).

Ocupar nossa precária massa cefálica com histrionices, macaquices, pouca vergonha, com a horda de assassinos e ladrões da gangue do Planalto é demais. Chega de reverberar a hemorroida do Bozo, o pinto mal lavado dos adolescentes, gripezinha, ambientalistas maricas, e daí (?), não sou coveiro, jacaré…

Basta de o … da tua mãe, enfia no… fdp, ela quer dar o furo, chicletes, leite Moça, alfafa, o compromisso diário com a podridão aplaudida por insanos. Às favas o culto ao ódio, à família nepotista, o processo de imbecilização de uma sociedade doente, programada para sê-la, por que a alienação é a galinha dos ovos de ouro deles.

Não há luta entre esquerda e direita, mas sim luta da civilização contra a barbárie. Esquerda, já o disse, é concessão da direita para que ela, a direita, apareça limpinha e cheirosa na fita, como quem dá direito de defesa num processo aberto para condenar. O “golpichimam” de Dilma e o justiçamento de Lula falam por si (3).

A imprensa bate de mentirinha no Bozo, pois sabe que vitimizando Bozo ele ganha apoio popular. Enquanto reverbera sandices e maldades do Bozo, Paulo Guedes passa a boiada. Alimenta o embate futuro entre Bozo e Dória (o cocô puro contra o cocô com chantili) com Supremo, FFAA, Transparência Internacional et caterva.

A rigor, cansei de falso “Brazil quebrado”, de ver ladrão chamando Lula de ladrão, farsas jurídicas no Supremo, bandidos julgando inocentes (como a gangue de Eduardo Cunha), juízes larápios com “juridiquês” empolado livrando a barra das elites, com autoridades querendo furar a fila da vacina. Vão todos às favas!

Sob silêncio sepulcral das exceções, grassa a covardia e sabujice das Forças Armadas sempre a serviço do sistema, e que só apareceram na história para derrubar governos populares e pintar meio-fio. Aos quintos dos infernos também!

Acho que já deu. Por certo farei como Adriana Calcanhoto, e escreverei “cartas pra ninguém”, já que o inverno no Leblon é quase glacial.

Aliás, não só no Leblon. Na Praça Roosevelt também, onde a inútil e assassina Polícia Militar de S. Paulo, na cara de pau, cínica e autoritariamente rouba centímetro a centímetro o espaço público, com a cumplicidade de sua omissa “corregedoria” e do Ministério Público.

São essas minhas notas torpes de um quase adeus ou até breve ao GGN. É possível que eventualmente, reapareça por aqui, talvez em razão do que se diz ou se possa dizer, e, não mais em razão de quem diz… É possível que me dedique a um livro ou a uma saudade intensa que dói, dói, dói por que ser nervo exposto é fo…

* Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal, ex-representante da Interpol em São Paulo.

Publicado no Jornal GGN: https://jornalggn.com.br/artigos/notas-torpes-sobre-um-quase-adeus-ou-ate-breve-ao-ggn-por-armando-coelho-neto/

Referências citadas pelo autor:

1- https://jornalggn.com.br/artigos/desculpas-delegados-da-pf-mas-foi-dilma-quem-fortaleceu-voces-por-armando-coelho-neto/
2- https://www.youtube.com/watch?v=hI2WnEPXAFY
3- https://jornalggn.com.br/crise/e-o-golpe-da-maconha-intrujada-lewandowski-por-armando-coelho-neto/

 

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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Fachin e o direito da perversidade

Fernando Brito *  
O senhor Luiz Edson Fachin tem, com toda a certeza, um lugar na galeria das almas mesquinhas.

É que não lhe falta conhecimento para compreender a monstruosidade jurídica que está propondo ao sugerir o sobrestamento (vale dizer, a paralisação) das ações a serem julgadas nas Turmas do STF quando faltar – por vacância ou licença – um dos juízes e o resultado apontar um empate entre os presentes.


Fachin é, de fato, um pontapé em todos os princípios desde que, na Grécia, 500 anos antes de Cristo, o dramaturgo Ésquilo figurou o ato de inteligência de Minerva, a deusa da sabedoria, dando o voto pela absolvição de Orestes no julgamento, até então empatado, sobre a morte de Clitemnestra.


Apolo, o deus do Sol, defende Orestes; as Fúrias – Tisífone (Castigo), Megera (Rancor) e Alecto (Inominável) – querem sua condenação e Minerva, a sábia, decide que, igualadas as razões para condenar e absolver, seu dever era o de praticar o que viria a ser o quase universal princípio do in dubio pro reo,/em>: havendo dúvida, prevalecia a inocência do acusado.


Fachin, de uma só tacada, pede a violação de dos princípios constitucionais: o da presunção da inocência e o da duração razoável do processo, porque a justiça que se atrasa é, ela própria, violadora do que é justo.


Ao propor que se pare um julgamento – e julgamentos já levam intermináveis meses e anos para acontecer – à espera que se complete um colegiado com alguém “terrivelmente punitivista” (exceto, claro, contra queirozes e wauntrábios) – a proposta do ministro que um dia já foi combatido por ser “advogado do MST” renega o inciso LVII do artigo 5° da Constituição e, aproveitando que já está avacalhando a Carta Magna, salta para espezinhar o inciso LXXVIII, que estabelece a duração razoável do processo como princípio da prestação jurisdicional.


Traduzindo, como li num comentário feito em um site jurídico, temos um novo princípio – in dúbio, “pau” no réu, que se é réu boa coisa não é – e um novíssimo dispositivo processual: deixa este cara mofando aí que depois a gente decide.


Bem, claro que Fachin toma o cuidado de excluir de sua proposta o habeas corpus, para não se poder argumentar com o fato de que sua proposta significaria manter alguém preso por meses ou até anos a fio esperando que uma vaga no STF fosse preenchida ou que um ministro voltasse de um hospital.


Mas não é a prisão a única restrição de direito que sofre quem está lutando contra uma sentença que considera injusta ou contra um processo que se desenvolve com flagrantes violações.


Já que andei falando em mitologia grega, Fachin – que foi levado ao Olimpo por Dilma e pelo pensamento jurídico garantista, talvez devesse se interessar pela história de Íxion – o primeiro homem a derramar o sangue de um parente – que trai seu benfeitor, Zeus, e quer sua mulher, Hera. Íxion, depois de seduzir um nuvem, que Zeus fez passar por Juno, tem como maldição voltar à Terra e ser pai de filhos centauros, metade homens, metade cavalos.


Ah, sim, em “segunda instância”, Íxion, por gabar-se de sua felonia, acaba lançado no Tártaro, poço onde o crime encontra seu castigo, a sofrer numa roda de fogo.


* o autor é jornalista e editor do blog Tijolaço.
Publicado em https://tijolaco.net/fachin-e-o-direito-da-perversidade/


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