Richard Jakubaszko
Recebi por e-mail enviado por Edgar Pera, mais conhecido como Degas, diretor de arte lá da DBO, que anda indignado com os acontecimentos deste país tupiniquim, o desafio de endossar a bronca do jurista Maierovitch nos desmandos da justiça brasileira, pois, dizia o Degas, "vai encarar"?
Resposta do blogueiro: Pois aí está!
“QUE PAÍS É ESSE ?”
Wálter Fanganiello Maierovitch
Nos EUA, cerca de 40 estados-federados escolhem, pelo voto, os seus magistrados e os seus promotores de justiça.
Os juízes federais e os procuradores federais norte-americanos são
escolhidos pelo presidente da República e entram na função depois de
aprovação pelo Senado. Idem com relação aos procuradores.
O sistema tem a lógica democrática, pois o juiz é órgão do poder,
cujo detentor é o povo. O sistema europeu, que me parece melhor, mistura
magistrados concursados publicamente e jurados leigos.
No Brasil, os juízes são concursados, exceção aos que ingressam pelo
chamado quinto-constitucional (advogados de notório saber e reputação
ilibada e membros do Ministério Público), os escolhidos para o cargo de
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e os participantes do
Tribunal do Júri, que julgam apenas os crimes dolosos contra a vida.
Mas uma coisa é certa e incontestável. Qualquer que seja o sistema
— americano, europeu ou brasileiro —, um juiz, ao julgar ou dar
liminares, atua como representante do povo.
Ontem, um espetáculo grotesco e inusitado foi protagonizado pelo
Judiciário no chamado bairro do Pinheirinho. A juíza que concedeu
reintegração — precipitadamente, pois não exauriu a via
conciliatória nem exigiu dos poderes públicos uma responsável solução
para alojar os despojados de suas residências — recebeu, no local e
solenemente, o mandado cumprido pela tropa de choque da Polícia Militar.
Essa conduta é inusitada no Judiciário. Como regra, os mandados
judiciais cumpridos são comunicados por ofício protocolado no Fórum. E
os juízes os recebem pela mão do escrivão ou juntados em autos
processuais.
Faltou, lógico, um fundo musical. Com a banda Legião Urbana a perguntar: Que país é esse ?
Sim, que país é esse que a Justiça, que decide em nome do cidadão, joga o povo ao léu.
Com efeito. Ontem foi concluída a reintegração na posse, determinada
por ordem judicial da 6ª Vara da comarca de São José dos Campos, no
chamado bairro Pinheirinho, com 1,3 milhão de metros quadrados de área
ocupada por cerca 6 mil moradores desde 2004.
A reintegração deu-se em favor da massa falida da Selecta Comércio e
Indústria S/A, uma holding administrada, até a quebra em 2004, pelo
megaespeculador Naji Nahas.
Naji Nahas jamais foi condenado pela Justiça brasileira. A propósito
de alguns escândalos noticiados pela imprensa, Nahas não foi
responsabilizado criminalmente quando acusado de quase quebrar a Bolsa
de Valores do Rio de Janeiro. Preso preventivamente, beneficiou-se da
liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes em favor do banqueiro
Daniel Dantas. E também da decisão, ainda não definitiva, do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) que anulou a Operação Satiagraha: uma
anulação fundada na canhestra conclusão da participação, ainda que
burocrática, de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Contra essa decisão anulatória votaram os ministros Gilson Dipp e
Laurita Vaz.
Com a reintegração de posse concluída, restará prejudicado, pela
perda de objetivo, o pedido feito ao Supremo Tribunal Federal (STF) de
suspensão da operação militar conduzida pela tropa de choque da Polícia
Militar de São Paulo e com cerca de 1.500 famílias sem ter onde ir.
Mais ainda, a liminar foi indeferida pelo presidente Peluso, do STF.
Como se nota, não houve tempo oportuno para ser apreciado, em sede
liminar e pelo STF, o pedido de suspensão da reintegração. Em São Paulo,
a decisão foi mantida e o ministro presidente do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) — já acusado de assédio moral a estagiário e de fazer
lobby para garantir uma cadeira no STJ para a sua cunhada — entendeu não
ser da Justiça federal a competência para suspender a reintegração.
Essa decisão de Ari Pargendler foi dada liminarmente, quando a Polícia
Militar desalojava, com bombas, balas de borrachas e cães, os moradores
do Pinheirinho.
Juntamente com a ação da Polícia Militar, máquinas cuidaram da
derrubada de casas de alvenaria e de madeira que abrigaram os antigos
moradores e residentes há mais de 8 anos na área.
Num grotesco espetáculo mostrado pelas televisões, a juíza
responsável pela decisão de reintegração compareceu ao Pinheirinho para
receber, solenemente, a notícia do cumprimento do mandado judicial.
Agora a área esta pronta para ser vendida e a sobra vai para o bolso
dos sócios da Selecta, ou seja, de Naji Nahas. Os créditos trabalhistas,
que podem já ter sido negociados por valor irrisódio, serão quitados.
Idem os especiais, que vão para os cofres da Prefeitura de São José dos
Campos.
O prefeito de São José dos Campos, cuja insensibilidade chegou a
ponto de não se preocupar em alojar as famílias tiradas
violentamentemente do Pinheirinho, vai ter um bom caixa para promover o
populismo. Enquanto isso, com o ritmo de “lesma reumática”, o governador
Geraldo Alckmin afirma que cuidará de verbas para a locação de casas
aos expulsos do Pinheirinho, pois não existem casas populares
disponíveis. Os radicais do PSTU, que apostavam numa tragédia maior,
certamente contabilizam futuros ganhos eleitorais.
Pano rápido. “QUE PAÍS É ESSE?”
Fonte: http://maierovitch.blog.terra.com.br/2012/01/26/o-ultimo-escarnio-no-pinheiro-e-sem-refrao-da-banda-legiao-urbana/
COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO:
Que país é esse? É isso, né Alpino?
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