Carlos Eduardo Florence *
Partilhavam, competia ao relógio reger a preguiça atrasando pontualmente.
Cainha, prima, para pecar anoitando, espero, se Deus quiser, reza.
Tempos e tantos se marcavam pelo trem que avisaria à Vila assim, no repente.
Dois adverbiais, lentos, jogavam paciência nas mãos das minhas avós.
Mãe Dina fritava iscas de angústias antigas, calma, delicada, sem pressa.
Dentes escovados, sino das seis propôs, sono, resguardo, regados cravos.
Convido Cainha para visitar a bica, a boca, bolina, o beijo, anseios.
Escureceu. Uma nuvem queria brincar de garoa, amém, desmotivou.
Nos demos, sem cismas pelas ramas as mãos, eu o regalo, ela os seios.
O silêncio chamou o carinho, o carinho o motivo, o motivo enfeitiçou.
Cerra-se o portão da frente, quem chegou se deu, quem não, restou.
E por ser, sol, se despedia em furta-cores para deixar dormir motes e cantos.
Lembro, faço-me choro, foi-se. O futuro inútil sumira graças ao então delicioso.
Corria um riacho, entre os desejos, ao fundo a bica, o pequi, tais e encantos.
O porvir escondíamos nos menosprezos, era fútil, melhor o ali, caia moroso.
Atento, o galo, muito nosso, se fazia de alerta quando a intromissão surgia.
Mãos, lábios, sonhos subiam pelos silêncios e corpos, bem nos quer, a sós.
O sotaque mal afinado de um violão destoa, sei onde não, solfeja agonia.
Venta Noroeste para a estrela candente espionar o ouvir do que fazemos nós.
Caminho, frente, trota o atraso acavalado do tropeiro ao sem rumo ou motivo.
Presto atento, riacho brinca de salta-mula, assim marulho as pontas dos seios.
Sumimo-nos de dois ao sermos só um se dar, o restado foge no embora altivo.
O galo avisa que sombras saem do sobrado às catas nossas pelos entremeios.
Mãe Dina campeia-nos sumiços, trevas, suas velas, trovas, preces, chamas.
Fugimos pelo desejo, lado oposto, disfarçamos delongas com a realidade.
Havia só o por ser sendo, pois o tempo não semeava tristeza ou dramas.
Ânsia cala, vontades quietam, somem os seios, para só ver amanhã, risonho.
O curiango estica pelo além, Cainha, acha a porta da cozinha, eu uso a saudade.
Intuía tudo Mãe Dina, sorri ao galo para acalentar seu atino do nosso sonho.
Tempo deu-se a me esgarçar passados, a não ensinar esquecer. Tal choro
Ah! Deus; adeus. Digo, doido, doído ou oro?
* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos
Publicado em http://carloseduardoflorence.blogspot.com/2021/02/anatomia-da-solidao-em-re-maior-dantanho_16.html
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