quinta-feira, 10 de julho de 2025

Trump, o chantagista

 

Richard Jakubaszko
A iniciativa trumpista de taxar em 50% os produtos brasileiros exportados para os EUA vai dar com os burros n'água. Nenhuma das anunciadas taxações das importações americanas contra países como China, Índia, Rússia ou Europeus se concretizaram até o momento, estão todas em negociação, canceladas por acordos bilaterais ou proteladas pela Justiça americana.

Ontem e hoje a mídia brasileira fez um estardalhaço sobre o tema, abordando questões econômicas, políticas, jurídicas, diplomáticas, ideológicas e comerciais sobre a ameaça de Trump, com asneiras a granel. E raras inserções de brilhantismo.


Vejamos algumas das questões do problema:

1 - A carta de Trump para Lula é um pacote de acusações disparatadas e com abordagens e citações de cunho impreciso, além de algumas serem distorcidas ou mentirosas. Não é verdade que a balanças comercial Brasil-EUA seja favorável ao Brasil, pelo contrário, o Brasil tem déficit nesse fluxo, de centenas de milhões de dólares. Trump está muito mal informado pela sua assessoria. Ou distorce fatos de acordo com sua conveniência.

2 - Trump cita na carta a "falta de democracia" brasileira, onde se faz censura, segundo ele, especialmente por parte da Justiça do STF, ao proibir e mandar retirar das plataformas de algumas redes sociais de origem americana conteúdos mentirosos, as chamadas fakenews, como responsável pela taxação dos produtos brasileiros. Pode isso? Não, não pode, mas Trump age como garoto mimado e birrento, e recorre a outra faceta, a de acusar o Brasil de "caça às bruxas" com o desenrolar do processo que o STF contra Jair Bolsonaro, na opinião dele "um líder internacional" (pausa para gargalhadas...). Com certeza Trump se espelha na situação de Bolsonaro, pois foi também acusado na Justiça americana pelos mesmos atos, ação que foi protelada para prosseguir depois que terminar o mandato dele, pois um Presidente dos EUA não poder ter ações na Justiça enquanto exerce o cargo.

3 - Trump ameaça o Brasil de atribuir novas (iguais) taxas aos produtos brasileiros se o Brasil usar da clássica e tradicional reciprocidade de taxar produtos americanos importados. Uma simples questão de chantagem comercial que a OMC (Organização Mundial do Comércio) pode arbitrar se o Brasil efetuar uma queixa formal. Apesar de lembrarmos que esses julgamentos demorar meses ou anos. O comportamento de Trump não se sustenta, seria interessante alguém desvendar qual o objetivo real de Trump nessa patacoada.

4 - Na mídia o foco tem sido o de apontar agronegócio como o setor mais prejudicado. Não é verdade. O agro será prejudicado, sem dúvida, mas não esqueçam que o Brasil é exportador de petróleo bruto para os EUA, o item maior de nossas exportações e importa diesel e gasolina, pagando por serviços de refinaria, e as taxas do Trump impactariam o preço desses produtos no Brasil, a partir de agosto, a não ser que a Petrobras desenvolva nesse meio tempo um novo prestador de serviços de refino de petróleo em outro país, no curto prazo. Quem diria, a danada da Dilma teve a visão de fazer a Petrobras comprar uma refinaria em Pasadena, mas deu no deu, e agora podemos ficar com a calça nas mãos...

5 - Dentro do agro brasileiro o produto mais exportado são as madeiras (US$ 7,4 bilhões por ano) e seus subprodutos. Isso é boa notícia para os ambientalistas, pois reduziria a pressão por mais desmatamento na Amazônia. Mais do que o dobro do segundo lugar, que é o café, com US$ 2,3 bilhões dólares anuais. O   terceiro lugar da nossa pauta é o suco de laranja, do qual o Brasil é o maior produtor e exportador do mundo. Trump vai ter de obrigar os americanos a mudar o breakfast deles, ao retirar café e suco de laranja com uma canetada só, afora os ovos brasileiros que têm sido exportados para lá por causa da gripe aviária que grassa nos EUA há uma década. Ou seja, sem café, suco de laranja e (quase) sem ovos, como será que vai ficar o desjejum dos gringos? Só vai ter umas fatias de bacon, cereais e pão torrado... Isso é uma perda de ativo político de Trump com seus eleitores, mas acho que ele não atentou para isso quando decidiu de forma imperial taxar os produtos brasileiros.

6 - O que não aparece na carta de Trump são os objetivos anunciados pelo BRICS, de criar uma moeda forte para substituir o dólar nas transações comercias internacionais que não envolvam os EUA. E o BRICS não está longe disso. No início, uns 16 anos atrás, quando era apenas a sigla inicial (de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), tornar viável esse sonho era distante, mas o BRICS cresceu e incorporou Arábia Saudita, Indonésia, Uruguai, Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, um total provisório de 12 membros que representam 40% do PIB do planeta. Reparem que não há nenhum país europeu nessa história. Se entrar, entra o bloco inteiro, e chegam a mais de 65% do PIB internacional. Trump, evidentemente, sabe disso, e os EUA têm brigado feio e violentamente contra vários membros do BRICS, agora chegou a vez do Brasil.

7 - A questão das bigtechs é periférica no contexto comercial, mas Trump tem interesse pessoal nisso, pois uma de suas empresas (Trump Mídia) está com problemas na Justiça brasileira por publicar conteúdos falsos e difamatórios, e por não ter um representante legal no Brasil para responder judicialmente. Além de ficar proibida de publicar conteúdo no Brasil vem aí uma multa salgada que Trump não tem nenhum interesse em pagar.

8 - Para comprovar que tudo é uma farsa, hoje apareceu na mídia um entrevista de Steve Bannon, um ex-assessor marketeiro de Trump, dizendo que se o Brasil derrubar o processo contra Jair Bolsonaro os EUA também anulam as taxas de nossas exportações. Chantagem na cara dura, mais uma, como se isso fosse importante, ou pior, como se isso fosse possível, de o Executivo ou Legislativo chegarem ao STF e dizer, "ei, Xandão, cancela o Jair pra salvar o Brasil". Uma piada, né não?

9 - No mundo inteiro, de líderes europeus, até mesmo o americano Paul Crugman, Nobel de Economia, caíram a pauladas em cima de Donald Trump, por causa da desatinada decisão.

10 - Lula sai forte dessa briga (aconteça o que acontecer) toda para enfrentar a reeleição em 2026, se é que ele vai querer mesmo isso. O bolsonarismo perde, porque será acusado de irresponsável por aplaudir essa inaudita palhaçada de Trump.




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