sábado, 28 de junho de 2008

Para a mídia imagem de usineiro é pior que a de bicheiro

Richard Jakubaszko 
A imagem dos usineiros também é muito pior do que a dos banqueiros. Historicamente a grande mídia sempre elegeu "inimigos" e "culpados" por tudo o que acontecia de ruim. Não é de hoje que existe nas redações o aforismo si hay gobierno, soy contra – e dê-lhe pau no governo! 

Agora, seja no jornalismo econômico, político, ambiental e até mesmo social, a bola da vez são os usineiros. Em outros tempos já foram as multinacionais. Em passado recente algumas palavras chaves bem colocadas ao longo de um texto definiam o "inimigo", imaginário ou real: globalização foi e ainda é uma palavra básica, assim como banqueiro; já nos anos da ditadura militar brasileira havia o "comunista" – personagem que comia criancinha –, inimigo oculto que teve momentos de brilho. 

Na imprensa americana há "personagens" que se destacam, entre elas "comunistas", ao lado de "terroristas", ou serial killer, religioso messiânico, xiita etc. A questão é atávica, mas existem desdobramentos interessantes.  

Jeca Tatu 
Para entender melhor a questão que envolve os usineiros há que se conhecer a síndrome do Jeca, ou, mais precisamente, do Jeca Tatu, personagem na ficção do genial escritor e nacionalista Monteiro Lobato, que nos legou uma obra literária de inequívoca criatividade e altíssimo valor cultural. 

A referida obra foi recriada e adaptada pelo ator e diretor Mazzaropi, chegando primeiro ao cinema e depois à publicidade nos anos 50 e 60, com grande impacto. Com a fama instalada, a síndrome permitiu e até mesmo incentivou um viés de interpretação dentro da chamada intelectualidade brasileira e entre os jornalistas urbanos, como formadores de opinião. Isto porque associou e materializou uma imagem pública do produtor rural brasileiro típico ao Jeca Tatu, personagem simplório, inculto, matreiro, caipira e tabaréu. 

A distorção de imagem persistiu até o início dos anos 2000, quando se iniciou um desvanecimento desses sintomas, em função do espetacular crescimento da agricultura brasileira, com repercussões notáveis na geração de renda, no crescimento do emprego e nas exportações. Excluídos desse perfil de imagem desfocada dos jecas, sempre estiveram os usineiros, grandes pecuaristas e também os antigos barões do café. 

Algum tempo atrás, e aos poucos, já na década de noventa, foram incluídos nessa pequena relação de exceções os citricultores e a esses se juntam agora os sojicultores e cotonicultores, conforme registrei no livro Marketing da Terra (Editora UFV - Universidade Federal de Viçosa, MG, 282 pg, 2005). 

No dia-a-dia, usineiros, grandes fazendeiros, pecuaristas e "barões do café" – uma figura que nem existe mais, pois a cafeicultura é feita por pequenos e médios produtores – ainda são as personagens poderosas nos filmes e telenovelas que retratam cenários rurais, e são invariavelmente poderosos e 'malvados'. 

Há uma nítida melhoria da imagem pública do produtor rural, de uma forma geral, perante populações urbanas, o qual é visto como um sujeito trabalhador e empreendedor. Corre-se até o risco de permitir e criar novas distorções se o agro-ufanismo persistir na grande mídia em amplas reportagens e entrevistas, com fotos de alguns dos gigantes e grandes produtores que geram enormes fortunas e impérios à sua volta. Pode até incitar à violência, tornando certos produtores personalidades "seqüestráveis" potenciais, o que de fato ocorreu em 2004 com um conhecido produtor do MT, logo após aparecer numa entrevista em uma revista noticiosa de circulação nacional. 

A chamada bancada ruralista, no Congresso Federal, hoje em dia menor que a bancada ambientalista, ajuda a mídia a formar uma imagem deformada dos produtores rurais, e também dos usineiros, pois tem atuação nitidamente reivindicatória, de "obter vantagens e benesses para os interesses do setor", o que é mal visto pela grande mídia, e esta se esquece, ou não sabe, que é um setor que produz alimentos, portanto, é vital à sobrevivência dos urbanos. Além disso, é uma atividade que tem contra si os maus humores da economia e do clima, com excesso ou falta de chuva. Portanto, é negócio de alto risco. 
 
Usineiros e mulher de malandro 
Nesse quadro, os usineiros viraram saco de pancada da grande mídia. Quando se fala em "trabalho escravo", invariavelmente tem usineiro "envolvido", mesmo que seja um fornecedor terceirizado de cana para a usina e que tenha contratado mão-de-obra temporária para a colheita. 

Quando a mídia cobre questões ambientais, as queimadas de cana preparatórias para a colheita são responsáveis pela poluição e pelo aquecimento do planeta ou aumentam o buraco da camada de ozônio. 
Porém, se o usineiro adota colheita mecânica, que colhe cana crua, sem queimar, desemprega milhares de trabalhadores e é responsável pelo desemprego no agronegócio, causa o êxodo rural. 

Ainda na questão ambiental existem colegas mal informados, que repercutem e replicam incansavelmente opiniões de personalidades políticas ou ambientalistas sobre o plantio da cana "roubar" áreas de plantio de alimentos. Há um medo generalizado de que no futuro breve tenhamos de nos alimentar apenas de rapadura. Sobretudo, a monocultura da cana também é alvo de muita crítica, pois a mídia argumenta que altera a biodiversidade, sem a qual não se tem a sustentabilidade, que é uma outra palavra mágica para a mídia, e também embute outra grande mentira, pois qualquer monocultura é sempre poluição, não apenas a de cana. 

Ressalte-se que lamentavelmente nós urbanos temos que comer, enquanto a mídia se alimenta de outras fontes e entre essas estão as fontes críticas e polêmicas, afora as fontes midiáticas carentes de holofotes. 
Como se pode ver parece que há antipatia generalizada entre os jornalistas para com os usineiros. No foco da mídia os usineiros apanham como mulher de malandro, pois este não sabe porque está batendo, mas imagina que a mulher saiba porque está apanhando. A mulher do malandro não reclama, nem faz queixa na polícia, assim como os usineiros, que ficam quietos, parecem acreditar que o bom cabrito não deve berrar.

Inegavelmente há uma simbiose muito interessante entre imprensa e usineiros que parece ultrapassar os muros da simples relação de ódio existente entre ricos e pobres.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Tira esse cotovelo de merda daqui!

Richard Jakubaszko

Foi um enorme e retumbante berro, dado como ordem imperativa. O desaforo veio lá do meio do avião e apesar do barulho das turbinas todos a bordo escutaram. Deu para entender algumas palavras, berradas isoladamente, como folgado!, malcriado!, espaçoso!, pára com isso!, e ainda o ameaçador vou meter a mão na sua cara! Foi um corre-corre nervoso das aeromoças e comissários dentro do avião, e a turma do deixa-disso logo conseguiu serenar os ânimos. Comentários posteriores esclareceram que a bagunça iniciara-se pela recusa de dois passageiros, um na janela e outro no corredor, de tirarem seus cotovelos da braçadeira dos seus assentos, fazendo com que o passageiro da poltrona do meio ficasse encolhido, ou melhor, espremido, entre os seus dois gordinhos e folgados vizinhos. Deu uma cotovelada em cada um, ao mesmo tempo, e recebeu dois cotovelaços simultâneos, iniciando o entrevero verbal que se ouviu em todo o avião. Os ânimos foram acalmados com a mudança de poltrona do passageiro espremido, até porque estava em nítida e flagrante desvantagem, eram dois contra um...

Ora, pensei com os meus botões, não é exatamente o que acontece com as pessoas hoje em dia? Virou espetáculo rotineiro assistirmos, sem mais nem menos, uma polêmica discussão que se inicia já acalorada, com acusações e xingamentos, seja na fila do supermercado (anda aí, ô lesma!), na porta do elevador ou do metrô (sai da porta, folgado!), dentro do cinema (desliga essa porra desse celular!), ou no balcão do cafezinho (não foi assim que eu pedi!). Fui adiante em minhas reflexões, e me perguntei: afinal, o que terá acontecido com o brasileiro cordial pintado a sete cores e mil palavras por Sérgio Buarque de Hollanda, ou o brasileiro gentil de Darci Ribeiro? Acho que morreram, concluí, ou desistiram de gentilezas depois de inúmeras crises, de tantas incertezas nesses tempos competitivos de globalização. Quem sabe o brasileiro cansou, desde que se anunciou que o fim do mundo está próximo com esse tal de aquecimento? Ou então aprendeu também a ser malcriado, de tanto assistir filmes americanos em que mocinhos e malvados primam por competir em quem é o mais mal humorado e carrancudo.

A situação anda tão precuária – misto de situação preocupante na pecuária – que é perigoso você dirigir a um colega de trabalho um singelo como vai?, pois pode receber uma tijolada de volta, tipo o que é que você tem com isso?, ou ainda um não te interessa!

No trânsito das cidades maiores há que se ter cuidado em não chamar ninguém de barbeiro, pois a gente pode se ver com um trintoitão na cara. Esbarrão na rua, então, raramente alguém se vira para pedir desculpas e ainda pode ouvir um xingamento inesperado.

Até recentemente – no máximo uns 10 anos - os brasileiros cometiam suas indelicadezas não retornando um recado telefônico, ou não respondendo a um e-mail, mas hoje em dia isso virou lugar comum. Eu, como diz meu amigo Carlão, da Publique, que dou resposta até para spam, ainda acho um desaforo, mas as pessoas consideram isso normal, tamanho o volume de e-mails que se recebe hoje em dia. E vem mais mudança de comportamento pela frente.

Jornalistas como eu já sabem, estamos acostumados a receber mensagens ou e-mails de todo tipo, pedindo mais informações, elogiando algum artigo ou reportagem, mas hoje em dia o que mais tem é crítica e paulada. Parece que o brasileiro saiu do armário, assumiu uma postura mais agressiva. Por culpa de alguns dos últimos artigos aqui publicados recebi e-mails com xingamentos, uns até me acusando de vendido para as multinacionais dos transgênicos e dos agrotóxicos. O que eu não havia recebido até hoje, em toda a minha vida profissional de mais de 40 anos, eram ameaças. Ameaça de processos judiciais tive muitas, nenhuma concretizada. Alguns colegas envaidecem-se por serem processados, particularmente acho um assunto aborrecente, mas ser ameaçado como fui, de "não atravesse na minha frente numa faixa de pedestres, pois sou capaz de atropelá-lo", essa foi nova. Não tenho receios, sei nome, sobrenome e endereço do ambientalista ameaçador, mas que é uma situação esdrúxula, sem dúvida que é. Pelo sim e pelo não, vou começar a colocar um pouco mais de pimenta nos próximos artigos, podem acreditar, é só esperar para ver. Como tenho dito a alguns amigos jogo no time do nóis capota, mais nóis não breca...

Independentemente dos entreveros pessoais e profissionais me ocorreu que vivemos hoje no Brasil, e pelo mundo afora também é assim, a um processo que está se tornando crônico pela animosidade demonstrada pelas pessoas no convívio com seus pares, sejam familiares, colegas profissionais, clientes, e em especial com os desconhecidos. Coloca-se para fora toda a raiva contida, numa facilidade jamais imaginada em outros tempos. E dê-lhe cotovelaço!

Tudo parece encerrar uma genérica e permanente discussão ideológica. Uma conversa sobre política ou questões cambiais, sobre poluição do planeta, ou da violência que campeia nas cidades, pode redundar num amplo e generalizado bate-boca contra o governo de Lula, o atual e o anterior, ou tudo é culpa do ex-presidente FHC. Depende com quem se está falando, mas se a sua opinião não coincidir com a do seu interlocutor, muito cuidado, pode estar a caminho um conflito de proporções temerárias. É quase um confronto de torcidas organizadas de são paulinos x corintianos x palmeirenses, ou os equivalentes regionais Brasil adentro. Não tem simpatia, e nem moleza, e assim cotovelo neles! - pois são os únicos culpados, os outros são os inimigos.


Um amigo recentemente me afirmou, depois de uma conversa sobre o tema dessa crônica, que eu deveria estar sofrendo muito com esse novo modus comportamental dos brasileiros, na medida em que muitos conhecidos e colegas profissionais me consideram polêmico. Concordei em parte, porém não sofro como vítima do problema, mas que tenho entrado em entreveros intermináveis isso é verdade. Se a gente diz uma coisa, outra é interpretada, e lá vem cotovelaço! O mesmo amigo avaliou que o problema era esse, eis que me considera um cara mal compreendido, porém jamais polêmico. Pensei sobre o assunto e tive que concordar integralmente, ainda que intimamente, pois o problema está na incapacidade das pessoas se comunicarem, sejam intenções ou sentimentos e opiniões, e por isso se trumbicam, como dizia o velho guerreiro. E acabam dando cotovelaços uns nos outros, o tempo inteiro. De um lado porque não têm paciência para ouvir uma opinião contrária, e de outro porque não querem mudar de opinião.


Um grande exemplo do novo e contemporâneo mau humor dos brasileiros está nos blogs brasileiros. Os comentários de alguns visitantes geram caóticas brigas virtuais. Algumas vezes os comentários são melhores do que os próprios artigos publicados, mas a questão assume proporções hilárias quando dois ou três dos comentaristas resolvem brigar entre si. Nunca te vi, mas sempre te odiei...

Falta ao brasileiro a cultura da democracia, a experiência do debate de idéias. Partem de premissas diferentes para debater um problema, mas terminam se estapeando, verbal ou fisicamente, porque os argumentos não importam mais, tudo é uma questão de simpatia ou antipatia, e exacerbam-se as posições. Ao invés de discutir as idéias e os conceitos desqualifica-se o oponente, o que é muito tupiniquim. Lamentável o clima, essas situações têm registros históricos, costumam antecipar-se aos tempos negros de ditaduras radicais, sempre xiitas, soberanas e fundamentalistas, recheadas de intolerância, seja qual for a cor política ou desculpa social, ou ainda religiosa.
Mas espero estar enganado.


sexta-feira, 30 de maio de 2008

Analfabetismo gerencial

Richard Jakubaszko 
Estamos em plena era do conhecimento e quem não entender esse aspecto pode ser excluído do mercado de trabalho antes que consiga dizer sazham!
Outro dia fui num evento promovido pela Bunge Fertilizantes, que comemorava seus 70 anos de atividades. Reuniu convidados e personalidades ilustres num fórum de altíssima qualidade. 
Entre os palestrantes Alvin Tofler, John Naisbitt (que foi ministro de John Kennedy), Rubens Ricúpero, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, além do presidente da Bunge, Mário Barbosa. Tudo feito na maior competência por gente, como se diz, do ramo, nas palestras e na organização do fórum. 
Uma questão que me chamou a atenção foi a palestra do futurólogo Alvin Tofler, autor de mais de uma dúzia de livros, entre eles os best sellers O choque do futuro e A terceira onda, e que fez uma análise interessante a respeito do conhecimento no mundo moderno. 
Tofler desenhou figurativamente o conhecimento como um automóvel que segue por uma estrada a 100 km / hora. Há outros automóveis nessa estrada, evidentemente, alguns trafegam a 60 km / hora e podem até atrapalhar a ultrapassagem daquele que está a 100. Alguns concorrentes andam a 80, outros a 50 km / hora. 
Os carros representam governo, consumidores, funcionários, fornecedores, clientes, acionistas, todos em diferentes velocidades, porém, mais lentos. É claro que não é uma estrada comum, mas a estrada da vida, numa competitiva e maluca corrida contra o tempo em que os “vencedores” serão os que estão na frente, ou melhor, aqueles que alcançam maior velocidade. 
Na análise de Tofler a distribuição do conhecimento é desigual, mas isso todos nós estamos carecas de saber. O que me tocou é sobre como, afinal, isso tem a ver com o nosso dia-a-dia e com a nossa vida pessoal e profissional. 
Saí de lá ruminando as idéias e juntei pensamentos e sentimentos meus em relação a isso. Lembrei-me de uma conversa que tive no cafezinho, dias atrás, com um colega lá na redação da DBO, sobre essa questão do conhecer e desconhecer. As chamadas tecnicalidades, as tecnologias, o conhecimento, avançam numa velocidade alucinante, mas a maioria das pessoas parece não perceber isso. 
O exemplo prático estava num colega que tinha uma dor na perna e queria saber que tipo de médico (especialista) deveria visitar. Houve sugestões de visita a um neurologista, outro sugeriu consulta com ortopedista e um terceiro a um fisicultor. Outro ainda resolveu complicar a vida do colega sugerindo um hematologista. Coitados de todos que, se ignorantes sobre as próprias dores, devem descobrir ou adivinhar qual especialista visitar, pois praticamente não existe mais o clínico geral, o generalista, agora todo mundo é especialista. 
Mas que raios de especialistas são esses que conhecem apenas sobre a sua especialidade? Tenho visto profissionais especialistas de medicina, e de outras áreas do conhecimento, cometerem erros absurdos de diagnóstico e, ao mesmo tempo, não darem importância alguma a outros problemas do paciente ou cliente. 
Ou seja, tratam o problema da especialidade deles, pouco importa se o tratamento ou solução dada pode trazer problemas ou efeitos colaterais, ao doente ou à empresa onde trabalha. Não há uma análise sistêmica do problema, olha-se apenas dentro do limitado campo de visão da especialidade. O resto é problema dos outros. O médico especialista preocupa-se em tratar a febre, que é sintoma, e não a causa da febre. 
Nas empresas preocupa-se com suas aspirações íntimas e pessoais, egoístas, com o balanço do trimestre e não com a vida e continuidade da empresa. 
Avancei nos meus pensamentos e me lembrei de uma premissa que pratico comigo mesmo para definir especialistas. Afinal, como se reconhece um especialista, para podermos dizer que o dito cujo merece essa qualificação? Costumo dizer que um especialista é aquele possuidor de conhecimentos numa determinada área que consegue falar ao menos por 15 a 20 minutos com outros especialistas e sem dizer nenhuma bobagem. E ainda deve contar uma ou mais novidades aos seus iguais. 
Bom, talvez esse daí já seja um hiper-especialista, ou no mínimo um cara muito bem informado. De outro lado os não especialistas, se presentes nesse grupo, ficariam sem entender nada, enquanto que se houvesse algum generalista no grupo sairia com o conhecimento ampliado. Isto me levou à conclusão de que há uma carência absoluta de generalistas e excesso de ‘especialistas’. 
É isso, especialistas, porém com limitações. É bom que se entenda que o volume de conhecimentos técnicos e científicos teve uma evolução gigantesca nos últimos 30 anos. A questão é que a velocidade aumenta de forma espantosa. Uma edição dominical do The New York Times tem mais informação e conhecimentos do que um homem do Século XIX conseguiria acumular em toda a sua vida. Os 100 km / hora aludidos por Tofler já é coisa do passado, hoje se anda a mais de 300 km / hora, como na Fórmula 1. E acontecem trombadas cinematográficas pela vida afora. 

E o que é um generalista? 
É alguém com boa cultura e nível de conhecimentos muito acima da chamada média de mercado. Está muito próximo, em conhecimento de algumas questões, aos chamados especialistas. É óbvio que os chamados generalistas, na grande maioria dos casos, são especialistas em alguma coisa, e muitas vezes em 2 ou 3 áreas cruzadas. Profissionais com esse caldo cultural costumam estar à frente de empresas e projetos, e ganham os melhores salários. 
Por exemplo, um médico que é clínico geral, e especialista numa área afim, e ainda com especialização em informática e altos conhecimentos de um idioma, ou mais. Ou agrônomo generalista, especializado em agroquímicos, e com alta tecnologia em herbicidas, com elevados conhecimentos de marketing, informática e com mais um idioma estrangeiro. Vai longe. 
Ou seja, precisa do conhecimento genérico, e tem de ser ainda generalista em cultura geral, música, literatura, cinema, história, tudo isso sem deixar de ser especialista. 
O especialista pode passar pelo vexame do padre que deu uma carona a uma bela freirinha na estrada. A freirinha entrou no carro, cruzou as pernas e deixou mostrar seu belo par. Sentindo-se incentivado o padre colocou as mãos nas mesmas, ao que a freirinha disse: Padre! Lembre-se do Salmo número tal. O padre tirou as mãos e ficou envergonhado. Logo em seguida a freirinha desceu do carro, chegara a seu destino. O padre se foi e ao chegar à paróquia abriu a Bíblia e leu os salmos: estava lá, Salmo tal, “se persistires alcançarás a glória!”. 
Mas a moral da história é melhor que a piada: se não conheceres (olha aí o especialista!) tudo sobre a sua profissão perderás grandes oportunidades... 
Donde se conclui que se o padre fosse um generalista, além de especialista, tiraria melhor proveito da situação, e não perderia o "negócio." 
O especialista no mundo moderno é uma necessidade, e até mesmo uma vantagem competitiva. Mas ser especialista e ao mesmo tempo generalista leva a vantagens competitivas adicionais. 

E o analfabeto gerencial? 
O que existe muito hoje em dia no mercado é analfabeto gerencial. É o especialista que só se preocupa com sua área de conhecimentos e não tem a curiosidade de ver e conhecer outras áreas do conhecimento humano. Será defenestrado do mercado antes de completar 40 anos de idade. Nessa idade já será taxado como antigo e ultrapassado, e será superado e substituído por jovens também especialistas, que aceitam ganhar menos. 
É a regra do jogo. 
Ocorre aí o fenômeno que muitos jovens já conhecem: não arrumam um bom emprego porque não têm experiência. Quando adquirem a tal experiência, e atingem o status de generalistas, já passaram dos 40 e serão “velhos”. E aí não serão mais contratados, mesmo que sejam especialistas e generalistas, porque o jovem especialista que irá entrevistá-lo, de menos de 40, jamais irá contratar um generalista e especialista ‘melhor’ que ele próprio, e tê-lo como subalterno. 
Lembrei de um comentário do jornalista Demétrio Costa, diretor responsável da DBO, que acha enorme graça nos currículos recebidos diariamente, alguns com moderníssimas apresentações nos seus memoriais descritivos, que revelam as geniais e criativas realizações pregressas de seus autores. Isso leva Demétrio a sentir uma tristeza imensa pelas empresas que perderam o talento de tais profissionais em seu quadro de funcionários. 
A situação se  auto-explica porque há tanta gente talentosa sem emprego, e dá razão a alguns empresários que afirmam haver emprego; o que não há é gente com a qualificação necessária. 
Portanto, meus amigos leitores, dediquem-se às especialidades, mas sejam bons generalistas.  
O texto acima é um capítulo resumido do livro “Meu filho, um dia tudo isso será teu”, que se encontra em finalização.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Somos todos culpados

Richard Jakubaszko 
Tenho lido e ouvido bobagens inqualificáveis nos últimos meses que não podem ser chamadas senão de absurdos. Destaca-se entre os absurdos a tentativa europeia de colocar culpa na produção de biocombustíveis pela alta dos alimentos. Já se demonstrou cabalmente que, se há responsabilidade dos biocombustíveis nessa inflação, ela deve ser creditada ao etanol que os americanos estão produzindo do milho e não ao etanol da cana-de-açúcar que produzimos no Brasil.

A questão, entretanto, se torna menor diante de uma série de outros problemas que correm em paralelo e do qual os governos, os organismos internacionais e mesmo a grande imprensa parecem não se dar conta como a causa real dos problemas. 

Trata-se da superpopulação planetária, hoje em 6,7 bilhões de pessoas, ao mesmo tempo em que ocorre a já conhecida “inclusão social” em vários países e regiões do planeta, transformando em consumidores urbanos parte dessa imensa população que antes era rural e produzia alimentos para seu próprio consumo. Há mais de dois anos venho escrevendo sobre isso. Em 15 de agosto de 2007 publiquei em diversos sites, inclusive neste blog, cujo link está na aba lateral, o artigo “O que será do agronegócio daqui a alguns anos”, onde previa com minha “bola de cristal” o futuro aumento dos preços dos alimentos, commodities em especial, e arriscava dizer que o agronegócio teria tempos risonhos pela frente. 

Em dezembro de 2007 The Economist saiu com matéria de capa e a chamada “The end of cheap food”. A partir daí os absurdos nacionais e internacionais se amplificaram. Do lado internacional o absurdo da acusação aos biocombustíveis, esquecendo o tremendo aumento de demanda por alimentos, principalmente o chinês. 

Para piorar a situação os fundos de investimentos descobriram as commodities, um ambiente quase virgem de especulações no fantástico cassino em que se tornou o mundo contemporâneo, com petróleo inflacionado nessa cesta básica de alternativas especulativas, já que a crise do subprime americano limitou o campo de trabalho dos especuladores.

Seria até desejável que se apresentasse a crise mundial. Em caso contrário teremos situações inusitadas e nunca imaginadas.

Agricultores no mundo inteiro prepararam-se para plantar mais, seja aumentando as áreas de plantio seja investindo em tecnologias para melhorar a produtividade. A excessiva demanda de fertilizantes gerou um gargalo na produção e oferta destes e os preços estouraram, por absoluta incapacidade de se atender a todos os consumidores. Levará no mínimo 3 anos para que investimentos em novas fábricas e de aumento de capacidade produtiva amadureçam e permitam atender as novas demandas dos agricultores. Portanto, chegamos ao limite dentro das atuais condições de jogo. Como declarou recentemente o Engenheiro Agrônomo Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz de 1970, “sem fertilizantes é fim de jogo”.

E nisso somos todos culpados. Até porque, em média, para produtores de milho, soja e trigo, a relação de troca com os fertilizantes ainda é equilibrada, desde que a lavoura esteja perto dos portos. Se estiver lá no fundão do Brasil empata ou dá prejuízo.

Assim, chegaremos a uma situação inusitada: carestia planetária, falta de alimentos e incapacidade de se produzir mais, com estoques de segurança alimentar cada vez mais baixos. Atingimos neste início de ano os mais baixos estoques de milho, soja, trigo e arroz dos últimos 20 anos. Mas observem que a população mundial teve um aumento considerável de consumidores nesse período, seja por nascimentos, seja por inclusão social, seja por menor mortandade das pessoas, já que a expectativa média de vida aumenta em todo o planeta. Ou colocamos um freio no aumento populacional ou vamos para uma inflação planetária sem precedentes na história humana. Com os atuais contingentes humanos, em todos os continentes, veremos em breve migrações gigantescas por conta de secas e outras intempéries. E isso não é uma previsão fatalista ou catastrófica, e nem tampouco pessimismo.

O excesso populacional já nos dá pistas no trânsito de cidades como São Paulo, que sempre foi caótico, mas anda insuportável. “Culpa do presidente Lula que propiciou a melhoria de vida das classes C e D, que melhorou a renda e comprou automóvel”. Esse foi mais um dos absurdos que ouvi de um tucano radical esta semana, como se fosse desejável que aqueles trabalhadores permanecessem na pobreza, sem incomodar no trânsito os ricos e a classe média alta.

O excesso populacional nos dá outras pistas, como a absoluta incapacidade dos governos – federal, estaduais e municipais – de praticar políticas públicas de inclusão social, seja rede de esgoto, água tratada, asfalto nos subúrbios, escolas públicas, hospitais, transporte público e segurança, por absoluta falta de dinheiro. 
A carga tributária já é quase insuportável. Não há e nem haverá imposto suficiente a ser arrecadado para atender essas demandas, nem mesmo para o Bolsa Família, se a população continuar com o atual crescimento populacional. Com crescimento zero se levaria pelo menos uma geração, ou 25 a 30 anos, para colocar o atual contingente de pobres em condições humanas e decentes de sobrevivência.

Com tudo isso de problema ainda vai haver inflação mundial, mesmo que a taxa Selic nacional atinja níveis preventivos de 40% ou 50% anuais, para regozijo dos especuladores e dos banqueiros nacionais e internacionais. Critica-se a febre (o aumento dos preços e falta de matérias primas) como o principal problema e causa da doença que acomete o planeta, seja no Brasil ou nos países do primeiro mundo, esquecendo que a febre não é a causa da verdadeira doença (o excesso populacional), e sim um sintoma de que alguma coisa vai mal.

O planeta mostra sinais de esgotamento, pelo suposto aquecimento, pela poluição, pela falta de terras ou indisponibilidade de água para plantar mais alimentos, pela previsível e anunciada incapacidade de se produzir mais combustível fóssil como petróleo, carvão e outros minerais, eis que agora temos os fertilizantes na marca do pênalti. Os produtores de milho e soja dos EUA estão usando esterco suíno para substituir fertilizantes na lavoura. Começam a correr atrás do próprio rabo, pois a barriga do porco é o melhor saco para o milho. Um dos dois vai faltar. Sem milho na barriga do porco não vai haver esterco. E sem esterco não vai ter milho. 

E nós na América Latina? 
A economia da América Latina expandiu-se ao ritmo médio de 5% nos últimos 5 anos, mas a China cresce 10% há quase 30 anos. Os índices de crescimento da Índia são de 8% há uma década e os da Europa Oriental, de 6%. Em comparação com outras partes do mundo em desenvolvimento, a economia da América Latina está ficando para trás. Se considerarmos a redução da pobreza o contraste é gritante.

Na Ásia a parcela da população vivendo na pobreza caiu de 50% em 1970 para 19% hoje, na América Latina, no mesmo período, a redução foi de 43% para 36%, segundo a ONU, e conforme matéria publicada no Estadão, de onde tirei alguns desses dados. Lamento e peço desculpas, mas não anotei o nome do autor.

Enquanto os países asiáticos e do Leste Europeu produzem engenheiros e cientistas em massa, a América Latina produz apenas psicólogos, sociólogos, jornalistas, publicitários, professores e cientistas políticos, quase todos mal formados. Por que tudo isso é importante? Porque numa economia baseada no conhecimento, não são as matérias-primas que fazem alguém rico, mas os serviços, o marketing e os cérebros.

Um bom exemplo: de cada xícara de café plantado na América Latina, que os consumidores compram na Europa, menos de 1% do preço vai para os agricultores. Os 99% restantes vão para os que trabalham com engenharia genética, processamento, marketing das marcas, comércio varejista, atacadistas, traders, produção de insumos e outras atividades baseadas no conhecimento que ajudam a produzir uma xícara de café.

Não será produzindo commodities que vamos tirar a barriga da miséria. Até porque, o horizonte risonho que se mostrava antes aos agricultores brasileiros agora se mostra escurecido pelo encarecimento dos fertilizantes. Não foi à toa a mais recente matéria da The Economist, de abril último: “The silent tsunami”, e que mostra a crise mundial dos alimentos e de como solucionar o problema, e que na opinião deles apenas o Brasil está com o passo certo.

Somos todos culpados enquanto não fizermos a lição de casa e se não reduzirmos o crescimento populacional. Os governos e a Igreja não tomarão partido nessa briga quixotesca. Pessoas rendem votos e almas a serem cabalados.

A sociedade e a imprensa devem debater a fundo esse grave e antipático problema, caso contrário a tese de Thomas Malthus prevalecerá. Poderemos chegar, dentro em breve, ao episódio relatado de um otimista que, desejando mexer com os brios de um pessimista radical, lançou-lhe a pior das previsões, a de que no futuro breve teríamos apenas pílulas confeccionadas com estrume humano e animal para nos alimentar. Após pensar por um breve momento o pessimista vaticinou: “um dos dois vai faltar”.

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quinta-feira, 17 de abril de 2008

Alergia: decifra-me ou te devoro.

Richard Jakubaszko 
O desafio milenar da esfinge tem origem na filosofia grego-romana, teatralizada por Sófocles na peça Édipo Rei através do oráculo, e ressurge mais atual e futurista a cada dia que a humanidade avança em direção ao futuro. 
A proposta em si encontra respaldo em relação às alergias humanas que permanecem em quase completo desconhecimento pela moderna medicina em pleno século XXI. 
Ou seja, as alergias nos devoram vivos diariamente. 
De certa forma escrevo em causa própria, por ser um alérgico desde que me conheço por gente, mas o desabafo aqui descrito tem a companhia de pelo menos metade da população do planeta. Com a complacência da medicina, médicos e indústria farmacêutica, e até mesmo da grande imprensa, pois aparentemente jornalistas não sofrem de alergias, exceto as ideológicas, já que o assunto é completamente ignorado pela mídia, pois apenas excepcionalmente é abordado an passant por algumas revistas femininas, e de forma muito superficial. 
Como sou alérgico a um monte de coisas, sempre dei extrema importância aos alimentos, pois 95% das alergias são de fundo alimentar. Da mesma forma, talvez 90% das doenças humanas tenham como causa a alimentação inadequada, além do modus vivendi de cada um, mais poluição, stress etc. 

Assim, não me é novidade (me desculpem o tom pedante e a empáfia, mas é verdade) a descoberta da Universidade John Hopkins em relação às causas do câncer, de que grande parte deles é causada por alimentação inadequada, conforme anunciado recentemente, e que circulou amplamente pela Internet em forma de power point de auto-ajuda.
De toda forma coloco em dúvida que tais informações tenham saído da Hopkins do jeito que veio no power point encaminhado por amigos, sabe como é, quem conta um ponto aumenta um ponto, e no décimo sujeito que nos conta a mesma história, a pergunta original que era "O que é que o c... tem a ver com as calças?", já virou um questionamento ornitológico do tipo "O que é que o urubu tem a ver com as garças?". Nesse caso manteve a mística de querer dizer a mesma coisa, mas o sentido, obviamente, é diferente. Sempre se acrescenta e sempre se retira alguma coisa nesse ponto a ponto. 

No livro Marketing da Terra (Editora UFV – Universidade Federal de Viçosa, 2006, 282 p.), de minha autoria e de um bando de três amigos agrônomos e doutores da Embrapa (Ariovaldo Luchiari Jr., Décio L. Gazzoni e Paulo C. Kitamura, este in memoriam), editado pela Universidade Federal de Viçosa, MG, há um capítulo sobre as carnes vermelhas em que mostro a minha opinião sobre a medicina, as universidades americanas, o FDA e, principalmente, a poderosa indústria farmacêutica com seus interesses nem sempre confessáveis.

Não é uma opinião das mais saudáveis, a iniciar-se pela idéia fixa dos médicos em limitar o consumo de carnes vermelhas, um dos raros alimentos naturais que contém Zinco, um dos maestros dos nossos micros elementos (lembra da Lei do Mínimo?), e que é o que segura infecções e inflamações, ou por outra, é o combustível do nosso exército de glóbulos brancos para combater infecções e outras doenças, inclusive câncer. 
Porém, separemos e entendamos o que é o câncer, em suas diversas manifestações. Quando são células que se reproduzem de forma tresloucada, instaladas em algum órgão como cérebro ou pulmão, têm uma causa. Quando na pele ou no estômago são outras causas, e podem ser ou não atribuídas a viroses, excesso de sol ou má alimentação, conforme o caso. 
O câncer de próstata e útero é sempre de viroses, e por isso é quase sempre uma DST, mas os médicos não falam. O de pulmão é adquirido por cigarro, poluição e outras químicas aspiradas no dia-a-dia. Mas não é generalizado, não quer dizer que todo fumante vai adquirir câncer porque fuma. O câncer de estômago (fígado é por bebida ou remédio: cirrose = câncer), invariavelmente, é por alimentação inadequada, muitas vezes de alergias que são ignoradas e / ou desconhecidas pelo dono do corpo alérgico. 
De alergia acho que entendo alguma coisa, mas antes tive que estudar um pouquinho desse trem de medicina. Tive a sorte, lá pelos meus 18 anos, quando morava em Porto Alegre, de ouvir de um médico, então octogenário, de que era um alérgico, e também de que a medicina nada sabia sobre o assunto, além de algumas poucas teorias, e que eu teria de saber e conhecer sobre as minhas. 

Sou alérgico a batata, leite, chocolate, banana, feijão preto, vários produtos industrializados, em especial os que têm conservantes e acidulantes, vários tipos de remédios, inclusive antibióticos, sulfas, e a um monte de coisas que ainda não descobri, mas continuo observando e pesquisando, e sempre desconfio de tudo. Quando estou num período agudo de alguma alergia, pois o organismo se defende de forma exacerbada, se eu comer algo a que era moderadamente alérgico (e nem sabia disso), posso ficar altamente alérgico a esse alimento. 
A idade aumenta e os perigos idem... Não há coisas definitivamente proibidas, como querem os americanos, há um meio termo, uma moderação que devemos praticar para o bem de nossa própria saúde. E saber se somos ou não alérgicos. E a que somos alérgicos. Quase todo mundo é, apenas não sabe... 

O fator RH é, provavelmente, uma das nossas defesas na questão das alergias, por exemplo, mas involuntária, porque nascemos com isso. Nos viventes com fator RH negativo parece que a coisa é pior. As alergias nós nascemos com elas e as adquirimos durante a vida. São atípicas as defesas do nosso organismo para nos defender. É o conhecido caso em que o remédio mata o paciente, mas cura o mal... ficou claro? 
A psoríase, outro exemplo, e que é de etiologia desconhecida para a medicina, com toda a certeza tem causa alimentar e emocional associadas. Sorte que se manifesta de vez em quando. Pior é o Mal de Alzheimer, quando se manifesta fica tudo danado, é tarde demais para remediar. Nos dois casos, Alzheimer e Psoríase, e também o Mal de Parkinson, suspeitas científicas crescentes cada vez mais sólidas apontam para causas como metais pesados (no Alzheimer a desconfiança do alumínio se acentua cada vez mais) acumulados ao longo da vida. Lá em casa já abolimos panelas de alumínio faz muito tempo, mas o problema apresenta, estatisticamente, heranças genéticas... Então, vai saber... 
Aprendi que cada alérgico tem manifestações muito individuais com suas alergias. Em alguns casos pode ser uma simples ou até grave e perturbadora flatulência, ou desarranjos intestinais inexplicáveis, mesmo assim abomináveis. Outro tipo comum de manifestação alérgica são as coceiras, vergalhões e erupções de pele, acnes, perebas de pele, que podem ser de causa alimentar, stress (por causa do suor), ou de contato com metais como cobre, níquel, zinco etc., que revestem as bijuterias que usamos, inclusive fivelas de pulseiras de relógio. Uso fivelas de plástico e quando são metais, e se desgastam, provocando irritação da pele, costumo passar umas duas demãos de esmalte incolor de unha para proteção. A gente vai usando de criatividade e jeitinho para driblar as vicissitudes. 
Sofro de um tipo de manifestação alérgica relativamente comum, sinusite e rinite, que me deixam com a voz tão fanhosa quanto a dos fanhosos das piadas. Parece uma gripe forte, mas que ataca apenas as partes respiratórias superiores. É provocada por alimentos com presença de fungos, ou algum outro tipo de alergênico contido no alimento. Alimentos já citados, como feijão, banana, chocolate, leite e alguns de seus derivados, me levam a usar o “afogamento simulado” quando os sintomas surgem. 
É uma técnica de aspirar água com sal pelo nariz, e cuspir fora pela boca. Isso acontece quando a gente fica em posição de “L” diante da pia e pratica essa auto-imolação para limpar as comunicações nasofaringes, cuja obstrução por catarro provoca a voz fanhosa. E vamos vivendo, com muito cuidado e observação, porque os médicos nada sabem dos males que nos achacam. E nem de como acontecem as conseqüências que nos afligem. Quando a gente se queixa empurram-nos remédios, que podem nos fazer maior mal ainda. O pior é que são remédios para o resto da vida, ou seja, é parte do marketing da indústria farmacêutica, de fidelizar o freguês, nem que seja à força, com a desculpa politicamente correta de que é para nos dar uma certa “qualidade de vida”. 
Ao invés de remédios prefiro submeter a testa e o nariz ao sol, e outras fontes de calor (uma lâmpada ou compressa quente, por exemplo), que são os maiores inimigos da sinusite e rinite. 
Costumo me consolar com a desgraça dos outros, nessas situações. Lembro que quando vim morar em São Paulo tive em casa uma empregada doméstica que era alérgica a camarão. Tão alérgica que nem precisava comer, bastava abrir o pacote de camarões frescos, recém chegados da feira, e os beiços da infeliz inchavam de tal forma que precisava ir tomar com urgência algum tipo de antialérgico, caso contrário vinha febre e até mesmo convulsões, tal a violência aguda da crise, fruto da reação exacerbada de seus linfócitos, que são os nossos exércitos defensores chamados de glóbulos brancos, e também da histamina. 
Por isso toma-se anti-histamínico quando se está em crise alérgica, sendo a mais comum a cortisona. Outra manifestação alérgica é a dor-de-cabeça. Pode ser causada pela poluição ou pelo stress. Na verdade a causa é falta de oxigênio, pois quando ela aparece é porque tivemos a vaso-constrição, e como o sangue circula mal nesses momentos, para irrigar o cérebro, acontece a dor-de-cabeça. 
Como sou alérgico à maioria dos remédios indicados, como o ácido acetilsalisílico, que me causam gastrites, ataco com a hiper oxigenação, ou seja, estimulo a vaso-dilatação respirando profundamente muito oxigênio, pelo menos uns 4 ou 5 minutos. Nesses momentos não fumo, pois isso aumentaria a vaso-constrição. E evito o remédio vaso-dilatador, a aspirina. 
E assim se vai vivendo e sobrevivendo como alérgico, paciente e atento a tudo o que possa ser culpado como inimigo do nosso bem estar, que nos retira qualidade de vida. 
Entretanto, não vá o caro leitor pensar que sou o típico hipocondríaco. Longe disso, estes adoram remédios, médicos e exames, enquanto de minha parte detesto isso tudo. Procuro seguir a recomendação da esfinge, e tento decifrar as questões para não ser devorado.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Humor & caipirices

1 - Cuidado com o estresse, por que "mais vale chegar atrasado neste mundo... do que adiantado no outro".
2 - Um índio foi ao cartório e pediu para alterar seu nome.
- O escrevente perguntou: e como você se chama?
- Grande nuvem branca que leva mensagem pelo mundo, disse o índio (americano, é claro).
- E como quer se chamar agora?
- E-mail.
3 - Se ao sair de casa um pombo cagar na sua cabeça, relaxe e pense na perfeição da mãe natureza, que deu asas aos pombos, e não às vacas.
4 - "Uma amizade tem que ser igual a uma bunda: tão unida, tão unida, que merda nenhuma separa."
5 - Prás muié: não fique à procura do Príncipe Encantado. Procura logo o Lobo Mau, ele te ouve mió, ele te vê mió, e ainda te come, menina!"

domingo, 16 de março de 2008

Uma idéia para o Brasil

Richard Jakubaszko

Um “case” que alterou comportamentos * 

O produtor rural é um conservador por necessidade, mas é um inovador por convicção. Da mesma forma que as populações pobres e carentes espalhadas pelo Brasil adentro. O grande problema dessas populações é que faltam recursos financeiros e conhecimentos. Com base nessa característica, em relação às experiências dessas pessoas, criou-se no Brasil, na década de 1960, o programa dos “Clubes 4 S”. Os quatro “S” significavam: saber para sentir, saúde para servir. Era o equivalente tupiniquim dos “Clubes 4 H”, implantados nos anos de 1920 e 1930 nos Estados Unidos, de tradução literal, ao menos na forma de atuar.

Os “Clubes 4 S”, entidades sem fins lucrativos, tinham como objetivo principal melhorar as condições socioeconômicas de populações rurais, ou melhor, não urbanas. Eram mantidos por intermédio e através de contribuições financeiras de empresas como a Sears Roebuck, IBM, Massey Ferguson, e, se não me engano, o International Basic Economic Corporation (IBEC), um braço dos investimentos do Chase Manhattan Bank (Fundação Rockfeller) para a América Latina, que na época tinha participação acionária na Agroceres, na Avisco Rações e Avicultura, no Banco Lar Brasileiro, entre outras empresas.
A visão era de médio e longo prazo e teve efeitos altamente positivos. As empresas mantenedoras, nos discursos de justificativas a seus acionistas, alegavam que estariam desenvolvendo e criando futuros novos consumidores para seus produtos e serviços, porque na situação de miserabilidade em que viviam algumas dessas populações não urbanas, elas nunca teriam condições de consumir nada. Mas os investimentos, em verdade, eram muito pequenos.
Os “Clubes 4 S”, em essência, desenvolviam um trabalho de extensão cultural. Levavam experiências e ensinamentos básicos a pequenos grupos em microrregiões carentes, a partir de necessidades previamente detectadas, fosse economia doméstica, higiene básica ou preventiva, cooperativismo, artesanato e, principalmente, produção agropecuária. Trabalhavam com estudantes e recém formados voluntários, que tinham, assim, a possibilidade de viajar e também de aplicar e colocar em prática seus conhecimentos acadêmicos e teóricos.
Na área rural atuavam os formandos em Agronomia, Veterinária e Zootecnia, que ensinavam aos jovens filhos de pequenos produtores rurais como produzir com maior nível de produtividade, e sempre na mesma atividade de seus pais. Os pais eram “convencidos” a ceder uma parte pequena de suas terras e, a partir da orientação recebida, os filhos usavam técnicas mais modernas de plantio ou criação, porém sem grandes sofisticações nem investimentos, já que os recursos eram escassos. Invariavelmente obtinham produtividade três a cinco vezes maior que aquela que seus pais conseguiam com técnicas antigas e obsoletas. Essa experiência funcionava como uma bomba-relógio de efeito retardado, mas de grande eficácia, afinal de contas o filho jovem, tabaréu e imberbe, inexperiente, dava mostras de inteligência, sapiência e competência. Com rima ou sem rima, num primeiro momento o pai ficava meio abobado ou estupefato, como se dizia antigamente.
Mas, ao se recobrar da zonzeira, entre curioso e orgulhoso, ele se chegava mais perto e queria saber como é que aquilo tinha sido possível, pois ele “tava na roça” havia mais de 15, 20 ou 25 anos e nunca tinha visto nada igual. Pronto, ele estava fisgado e maduro o suficiente para abolir velhos preconceitos e as antigas práticas culturais herdadas de seus pais e avós, que se vinham repetindo desde o final do século XIX ou desde o início do século XX.
Conseguia-se o mais difícil de tudo: velhos métodos caíam por terra, possibilitando-se a partir daí, com a melhoria da renda, a introdução de técnicas de produção mais modernas ainda e, simultaneamente, criando-se um novo consumidor em potencial para produtos e serviços urbanos. Aquele produtor, a partir daquele momento, começava a ter renda. Não sei não, mas o pessoal de antigamente – década de 1950 e 1960 – me parecia mais inteligente e mais capitalista do que hoje em dia.
O que importa saber, para quem não conhecia esse programa dos “Clubes 4 S”, é que dezenas de técnicas modernas foram introduzidas (ou tiveram grande reforço na divulgação) na agropecuária brasileira, e também na norte-americana, por intermédio dos valentes extensionistas. Entre outras grandes contribuições pode-se destacar a introdução e popularização do uso de herbicidas e das sementes de milho híbrido.
Houve um programa brasileiro semelhante aos “Clubes 4 S”, estabelecido pelo governo militar, nas décadas de 1960 e 1970, chamado de “Projeto Rondon”, que teria sido criado pelo Marechal Rondon, militar, desbravador e indigenista, e que levava para populações carentes, da Amazônia e do Centro Oeste brasileiro, alfabetização básica, informações sobre higiene, economia doméstica, saúde etc. Foi um programa que chegou a contar pontos para universitários, na medida em que médicos e odontologistas, entre outros profissionais, podiam substituir o período de residência pelas atividades no Projeto Rondon.
Em minha opinião, seria altamente inteligente e produtivo reeditarem-se programas dessa natureza nos anos dois mil aqui no Brasil, mesmo que substituindo os chamados períodos de residência para médicos, por exemplo, e deveria ser obrigatório a todo universitário que viesse a se formar em faculdade pública. Seria uma forma de o universitário ressarcir à sociedade os investimentos feitos nele. Alguém aí acha essa idéia exeqüível? Pois que a divulgue, e faça-a chegar até deputados, ministros, enfim, alguém que tenha condições de levar isso adiante. 

* Este é um capítulo adaptado e resumido do livro “Marketing rural: como se comunicar com o homem que fala com Deus”, 208 p., autoria de Richard Jakubaszko, e que está em sua 2ª edição (2007) pela Editora UFV, da Universidade Federal de Viçosa – MG www.livraria.ufv.br veja sinopse do livro na aba deste blog.

domingo, 2 de março de 2008

Cooperativismo ou associativismo?

Richard Jakubaszko
A pergunta é relevante e oportuna. Isto porque agricultores desunidos estão sempre em dificuldades. Vemos que os sojicultores intensificaram vendas antecipadas da maior parte da produção da safra 2007/08. Em Mato Grosso cerca de 60% da safra foi comprometida com esse tipo de negociação, enquanto em igual período de 2007 as vendas naquele estado representavam 40%, conforme pesquisas do Cepea. Lembramos que na safra anterior os preços eram normais, mas o produtor estava em crise, ainda por causa da defasagem cambial.
Considerando que nesta safra a soja atingiu os maiores preços da história, o sojicultor vendeu para pagar dívidas ou fazer caixa. Entretanto, já havia comprometido parte da colheita antecipadamente, antes de plantar, a valores bem abaixo dos atuais. Em média recebeu entre US$ 6 e US$ 8 o bushel, sendo que hoje o bushel vale US$ 14 na bolsa de Chicago. É o maior preço já registrado na história dessa commodity.
Muitos produtores perderam grandes chances de recuperar perdas anteriores. Na próxima safra muita gente vai antecipar menos vendas. Esta não é uma avaliação, é uma análise histórica do que ocorre, safra após safra.
O mercado para soja é altamente promissor até 2010, os estoques de passagem e as previsões de colheita para esta safra e a próxima safra americana não indicam alterações significativas. A demanda ainda supera a oferta. Vejam o artigo “O que será do agronegócio daqui a alguns anos”, escrito em 15 de agosto último, onde rascunhei a previsão de que tudo isso aconteceria.
Nesta safra o campo não teve prejuízo, mas existe um sentimento de que se poderia ter feito o dobro de dinheiro na mesma safra. O Centro-Oeste em especial tem um passivo gigantesco a quitar, e desde 2004 o produtor não conseguia negociar preços acima de R$ 30 a saca (60 quilos), valor alcançado em junho do ano passado. Hoje o mercado remunera R$ 40 a saca. Em 2005, esse limite estava em R$ 20 a saca.
Apesar de lamentar as perdas nos ganhos alguns produtores concordam com a estratégia de fixar preço no cedo, e garantem que continuarão com o mesmo comportamento. Não devemos chorar sobre o leite derramado, é verdade. Entretanto, como se poderiam corrigir essas distorções?
Simples: organizando-se e unindo-se os agricultores teriam condições de maior segurança para enfrentar o mercado consumidor. Se vende antecipado, se aumenta área de plantio ou reduz. O melhor caminho para isso são as associações de produtores. A soja tem a APROSOJA, com sede em Cuiabá-MT, e talvez pela localização da sede enfrenta resistência para conquistar novos associados em outros estados, principalmente do Sul e Centro-Sul. O milho tem a partir de 2007 a ABRAMILHO, com sede em Brasília, e seu presidente Odacir Klein promete dinamismo e trabalho para congregar os produtores. Todavia, falta “cultura” e tradição entre os produtores rurais brasileiros em se filiar a uma associação.
O curioso, conforme relatam alguns diretores de associações como a APROSOJA, é que os produtores gostam de participar das reuniões, principalmente se a mesma terminar num churrasco, mas são resistentes a pagar uma taxa anual, mesmo que proporcional à sua área de produção. Nem mesmo chegam a perguntar quais os propósitos e objetivos da associação, perguntam antes em quanto custará a filiação.
É importante informar que uma associação abriga especialistas e estes trabalham com dedicação integral. Estarão atentos a tudo o que acontece no mercado internacional, em termos econômicos, sociais e políticos. Com isso podem recomendar, ou não, a venda antecipada, a redução ou aumento da área plantada, e evitar prejuízos ou perdas de lucros como observamos na presente safra. Adicionalmente as associações podem também detectar tendências no mercado consumidor, enfim, nas entressafras planejariam novos usos e conquista de novos mercados. Para isso deve haver dinheiro, investimento do próprio produtor, uma pequena parte de cada um, para que a associação possa investir, de forma organizada e planejada, e beneficiar o próprio produtor, independentemente da região onde planta.
Há uma série de outros aspectos na questão entre cooperativismo ou associativismo. Por exemplo, já não há dúvidas de que o futuro nos obrigará a estabelecer novos paradigmas para a necessária produção de alimentos. Ao mesmo tempo em que as ciências agrárias desenvolvem tecnologias inovadoras para o aumento da produtividade os consumidores exigem a “sustentabilidade” do meio ambiente, os europeus com maior ênfase. As discussões que assistimos pela mídia, sobre as barreiras alfandegárias impostas às nossas exportações de carne bovina, em breve devem atingir grãos, frutas e até mesmo os biocombustíveis. Esses consumidores exigem a “sustentabilidade”, com visão e ótica urbana, é verdade, mas temos de reconhecer que muitos agricultores e pecuaristas brasileiros têm negligenciado as terras de lavoura, devido ao fator abundância. Há que se preservar o nosso maior valor, além da fartura de água e energia solar: o solo fértil desta terra pátria-mãe Brasil.
E quem faz isso? Quem defenderia o produtor rural nos entreveros que irão ocorrer no futuro breve? As cooperativas?
Se o produtor ficar na espera da cooperativa nada obterá, até porque essas não são funções de cooperativas, e elas são centenas, espalhadas Brasil adentro. Do governo menos ainda. As soluções devem sair de dentro dos seus principais interessados, os agricultores. Caso contrário, ano a ano, safra após safra, assistiremos sempre as notícias de perdas dos agricultores, seja pelo mercado, seja pelo clima, seja pela vontade dos compradores.
Este é um hábito e uma mania que o agricultor brasileiro deve repensar, pois a união faz a força. Sozinho o agricultor pode, no máximo, aumentar a produtividade, mas os ganhos obtidos com os investimentos em tecnologia vão parar nas mãos dos consumidores, porque não há união entre os interessados. É assim que vemos o custo da cesta básica para os consumidores urbanos, cada vez mais baixos.
Não é bom parar e pensar nesse assunto?

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Nada a declarar

Richard Jakubaszko

Para quem é cidadão brasileiro, para quem tem opinião própria, para quem é consciente, para quem procura a verdade, recomendo a leitura da série de reportagens publicadas pelo jornalista Luís Nassif em seu blog ( www.projetobr.com.br ), em que acusa a revista Veja e diversos de seus editores de praticarem um “jornalismo de esgoto”. Leiam e tirem suas próprias conclusões.
Não houve, até o momento em que publico esse post, qualquer resposta da revista Veja ou da Editora Abril, sobre as acusações feitas. Há um “nada a declarar” que está incomodando muita gente. Fora isso há notícias postadas em blogs e sites de que os acusados na série do Nassif "estariam entrando na justiça".
O jornalismo ganha e perde com isso. Não tenho dúvidas. Dependendo dos rumos que a questão tomar o jornalismo poderá ganhar muito mais do que perder. Num primeiro momento jornalismo e jornalistas perdem credibilidade, pois as acusações feitas por Nassif apontam a revista Veja, maior revista nacional em termos de tiragem, e sem dúvidas a mais influente, como praticante contumaz de um jornalismo engajado, vinculado a interesses comerciais e políticos, e por conta disso muitas notícias e informações publicadas seriam falsas e mentirosas, conforme acusa Nassif, inclusive de dossiês que tiveram repercussões em caráter internacional.
O “dossiê Nassif” contra Veja, representado por várias reportagens postadas no próprio blog do jornalista, tem como fonte a própria revista Veja e as notícias já publicadas em suas páginas. Nassif parece dizer que “Deus não joga, mas fiscaliza”, frase dita por um famoso locutor esportivo na Copa do Mundo de 1962 no Chile, quando tentavam roubar a seleção canarinho em campo, com arbitragens comprometidas, mas os jogadores brasileiros souberam superar as adversidades, como a história registra.
Ao colega Nassif bato palmas pela iniciativa de publicar a série, pois lava a alma, parabenizo pela coragem, e desejo sucesso na empreitada.
Nassif já tinha uma página na história do jornalismo brasileiro, mas vai ganhar mais espaço com as suas denúncias, independentemente de onde vá parar ou de como vai terminar essa pendenga.
Para quem deseja acompanhar a série clique nos endereços a seguir:
Aqui, a série em PDF, preparada pela Dinheiro Vivo.
Momentos de catarse e a mídia Em PDF
A mudança de comando Em PDF
A guerra das cervejas Em PDF
O caso André Esteves Em PDF
O caso COC Em PDF
Primeiros ataques a Dantas Em PDF
Assassinatos de reputação Em PDF
O quarteto de Veja Em PDF
Os primeiros serviços Em PDF
O caso Edson Vidigal Em PDF
O dossiê falso
O bookmark de Mainardi

domingo, 20 de janeiro de 2008

Você é de esquerda ou de direita?

Richard Jakubaszko
A questão é mais confusa que ninho de minhoca, e ninguém sabe onde começa ou termina, onde fica a cabeça ou a ponta do rabo. Afora o posicionamento físico propriamente dito, de estarmos no lado esquerdo ou à direita de algo, essas expressões carregam significados místicos de posições políticas ditas radicais, ideológicas por assim dizer.

Se você perguntar a inúmeras pessoas de onde surgiram tais expressões, verá que a esmagadora maioria não imagina nada, não tem a mínima ideia de onde surgiu esse negócio de esquerda ou direita. Entretanto foram preferências que, cada uma em seu tempo, e conforme a latitude ou longitude, seja em relação a qualquer paralelo ou ao meridiano de Greenwich, ou à linha do Equador, poderiam levar seus simpatizantes a serem guilhotinados, ou simplesmente perfurados por balas diante de um paredón, ou esfolados pelo macartismo politicamente correto, quem sabe enforcados ou queimados em fogueiras dos encapuzados da Klu Klux Klan, ou asfixiados nas câmaras de gás dos nazistas. É isso aí, caro leitor, o ser humano já viveu dias perigosos na história da humanidade, apenas por adotar posições políticas sobre as quais grupos dominantes tivessem discordância.

No Brasil esse negócio de ser adepto da direta ou da esquerda tropicalizou-se, ou seja, esculhambou-se o que era pretensamente sério. Nas últimas eleições presidenciais tivemos uma guerra sem sangue, limpa e civilizada, via Internet. Como tudo que fazemos dentro desse espírito, e considerando a especialidade nacional na sofisticada técnica do deboche, acabou por se banalizar, ao mesmo tempo em que se criou, importou e incorporou eufemismos para minimizar ou exacerbar a importância dos posicionamentos. E dizem lá fora que somos cordiais e avessos ao radicalismo.
Lembro que, antigamente, dez ou vinte anos atrás, neoliberal era um adepto da direita, e hoje se transforma para a autodenominação de progressista, ou desenvolvimentista, que já foi prerrogativa de uso da esquerda, e ser da esquerda podia ser humanista. Direita já significou ser nazista, também fascista, que se imaginavam superiores e purificadores das raças, enquanto seguidor da esquerda era comunista, mais conhecidos como comedores de criancinhas. Uma simples questão de semântica, como se vê, mas em algum momento da mutação tropical virou xingamento, e embute nessa tragicomédia o milenar questionamento da teologia agostiniana do bem e do mal, denominada maniqueísmo, ou seja, só haveria duas posições, a favor ou contra, ou do bem ou do mal, dependendo da ótica, é claro, e da posição em que se coloque o oponente.
Vemos que um pouco de cultura inútil é sempre interessante. Saibam que as expressões esquerda e direita surgiram logo no início da revolução francesa, após a queda da Bastilha, e eram plenas de significados. Para as ralés francesas, que acompanhavam com torcidas organizadas o debate acalorado da constituinte que se seguiu às decapitações, importava saber quem disse o quê. 

Como os interesses na constituinte eram polêmicos, teve muito bate boca, como é de se imaginar, com desaforos de parte a parte, demonstrando que não é apenas o brasileiro que sabe debochar de seus adversários. À esquerda do plenário do Gran Palais ficavam os jacobinos, radicais, libertários, xenófobos, liderados por Robespierre, e à direita do mesmo plenário ficavam os adeptos dos girondinos, representantes da então decadente oligarquia francesa, alguns monarquistas, abastados comerciantes, enfim, a burguesia, e eram, em verdade, dois “partidos políticos”, que ainda não recebiam essa denominação porque a democracia francesa estava em implantação. Os jacobinos eram xingados de “democratas radicais”, uma definição semântica que, à luz dos significados isolados de cada uma das duas palavras, demonstra certa incompatibilidade, mas devia ofender de fato, ou pelo menos se pretendia a tanto.
Modernizações linguísticas e o mundo contemporâneo introduziram a terceira via, o que vai deixar os futuros historiadores enlouquecidos para descobrirem o que isto significa exatamente. Temos posições de centro, afora as de centro esquerda e de centro direita, que são intermediárias entre o centro e a esquerda ou direita mais radicais, ou seja, nem é moderado e tampouco é da ponta radical. Para indicar radicalismos absolutistas recorre-se ao termo xiita, importado dos árabes, e a mídia adotou a exótica denominação fundamentalista, para designar os radicais posicionados em qualquer dos lados, na esquerda ou direita, sempre que haja alguma influência religiosa na posição política. Mas isso já existia na revolução francesa, pois os jacobinos eram formados por inúmeros grupos de dominicanos, democratas, mas radicais. Comprova ainda que Pasteur, posterior à Bastilha e antes do tropicalismo, sabia das coisas, pois nada se cria, tudo se transforma.
No Brasil, longe de ser xenófobo como os jacobinos, o brasileiro tropicalizou o radicalismo e adotou a xenofilia, expressão equivalente ao tupiniquim puxa-saco. A propósito, esse comportamento do puxa-saco é um amálgama da cultura luso-judaico-católico com hábitos de povos importados à força, e uma outra hora qualquer escreverei sobre isso, hoje o espaço não permite essa digressão. Então é por aí, seja de esquerda ou direita, tudo isso representa rigorosamente o linguajar de uma época. Para nós, que somos viajantes de outros tempos, significa rigorosamente nada, ou quase nada, pois os valores e significados se perderam, será apenas trabalho futuro para os historiadores.
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segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Vou parar de ler jornais

Richard Jakubaszko

Chega! Bastam-me meus próprios pânicos, medos, ansiedades e angústias. Não vou mais procurar sarna pra me coçar. Essa sarna que sai diariamente nos jornais é dos outros, não é minha, afora o fato de que são notícias mal escritas, fatos mal contados, histórias deturpadas do cotidiano, e repetidas ad nauseum por quase toda a mídia como verdades eternizadas. 
A realidade, assim me parece, é que quase tudo o que sai em jornal (e nas revistas e TVs), hoje em dia, é ideologizado. Extrapolou o paradigma do “se há governo sou contra”. É óbvio que existem altíssimos interesses em jogo. Seus autores, entretanto, parecem não se dar conta das bobagens que dizem. Como a preferência é pela “má notícia” todos primam pela procura insana de ver o lado mais negativo daquilo que noticiam. Afinal, é isso que vende jornal e que dá audiência. E tome-se notícia ruim! 

Na economia (os juros vão subir, existe o perigo da inflação aí na frente; como se houvesse demanda reprimida, ou como se a Taxa Selic tivesse alguma coisa a ver – no Brasil, é claro – com os juros reais de mercado) ou na questão ambiental (temos de economizar água, vai faltar; como se a água pudesse sumir do planeta!). Tem gente que não entende de quase nada, ou entende menos da metade, e dá entrevista para TV e jornal afirmando um monte de asneiras. Em alguns casos é para defender interesses escusos, noutros para simplesmente aparecer na mídia. E a mídia dá espaço apenas a quem interessa a seus propósitos. Leio o jornal e tenho pesadelos.

Isso não é de hoje  
Essa preferência humana pela “notícia ruim” é antiquíssima, vem de tempos imemoriais, talvez do milenar oriente. Chegou às plagas americanas, acompanhada da modernidade pela mídia, sempre entre o épico e o drama. O livro dos livros já registrava em detalhes a maior e derradeira tragédia, o Apocalipse. Pelo noticiário da mídia o Armagedon já começou lentamente a mostrar que vai efetivamente acontecer dentro em breve. Se havia ainda alguma dúvida sobre o vaticínio da Bíblia é só a gente ler os jornais ou assistir TV e, em especial, frequentar os sites dedicados às questões ambientais, para nos convencermos de que essa é uma possibilidade real. Até os press releases ultimamente andam contaminados por essa idiossincrasia humana na preferência pela notícia ruim. 

O único sinal otimista que se verifica é a procura por uma idealização chamada de “sustentabilidade”. Não vejo como é que a ciência vai “descobrir” a sustentabilidade, pois o problema maior não está na sujeira ou poluição causada pelos humanos, mas no excesso de consumo que tem como causa a explosão demográfica. Será que Malthus tinha razão quando fez suas previsões? O que verifico é que os jornalistas de hoje em dia, tão diferentes dos jornalistas de antigamente, também fazem suas previsões negativas, chegam a empatar com os vaticínios bíblicos. A diferença é que jornalista, antigamente, e estou falando de trinta anos atrás, era profissional ligado ao povo, preocupado com os anseios do povo. Hoje em dia os jovens jornalistas consideram-se partes integrantes das elites, pois possuem diploma, e pensam conforme as elites. Mas escrevem muito mal, e essa é outra questão que vai se deteriorando a fundo perdido. 

Ondas de negativismo 
Quando eu era moleque o grande medo era a bomba H, a ameaça é de que iríamos derreter devido ao calor provocado pelos mísseis nucleares lançados por americanos e soviéticos na busca pela hegemonia planetária. O mundo parou, no início dos anos sessenta, para acompanhar a briga dos mísseis em Cuba. Passado o perigo iminente da III Guerra Mundial veio a guerra fria. Ficou em cartaz por mais de duas décadas, uma espada de Dâmocles sobre nossas cabeças, permanentemente. Nem bem a guerra das estrelas foi saindo de cena chegou a AIDS para bagunçar a vidas das gerações futuras. Nostradamus era relembrado frequentemente. Na sequência ao pesadelo da AIDS, que continua vivo, entremeada por guerras de verdade e guerras ao tráfico de entorpecentes, mais as guerrilhas urbanas, com bala perdida para todos os lados, fomos brindados por manchetes que anunciavam sobre a vaca louca e a gripe aviária. Não esqueçamos ainda dos transgênicos que trariam mutações humanas jamais vistas e provocariam desequilíbrios ambientais inimagináveis. No momento somos atormentados pelo aquecimento global, líquido e certo de que vai acontecer. Temos de reduzir as emissões de CO2! Vai faltar água, combustível também, o petróleo vai acabar, os mares vão subir, e qualquer furacão ou terremoto se transforma em avant premiére apocalíptica. Leite adulterado é fichinha, assunto para uma semana, apenas.  

A negação do óbvio 
Os sinais do fim dos tempos estão nas causas das notícias, e não na notícia em si. Explico melhor: neste fim-de-ano assistimos na mídia brasileira um farto e repetitivo noticiário sobre os recordes de consumo do povão que foi às compras. Vimos todos os templos de compras com gente saindo pelo ladrão. Depois os congestionamentos em estradas e aeroportos, na ida e na volta. Nas praias o povão consumindo dava seu show, com filas de até duas horas para comprar pãozinho em padaria, ou mais tempo ainda na fila dos supermercados, tudo com ausência de vagas para estacionar, trânsito caótico, e a inefável falta de água em cidades despreparadas para receber tamanho fluxo de gente de uma só vez. Ilha Bela agora vai até cobrar pedágio e proibir a entrada de gente. Em resumo, não existem políticas públicas capazes de abastecer o povão quando este tem poder e capacidade de consumo. No caso brasileiro é só uma amostra grátis, imaginem o que anda acontecendo na China, que está fazendo inclusão social de trezentos milhões de chineses, trazidos do campo para as cidades para trabalhar nas indústrias de exportação. Essa multidão de gente quer comida! O resultado está nos preços dos commodities: recordes de preços em tempos de paz. Em mais de quarenta anos que acompanho o agronegócio jamais vi recordes de safras com recordes de preços. Lamentavelmente o planeta precisa, urgentemente, de um rígido controle demográfico. Senão vamos para o vinagre mais rapidamente. Estamos com 6,3 bilhões de pessoas e chegaremos aos 9,5 ou 10,0 bilhões em 30 ou 35 anos à frente. Sociólogos e geógrafos dizem que haverá declínio apenas a partir de 2.050. Não sei se a bola de cristal deles é tela em LCD. Sei que até lá vai piorar, e muito. Na Europa o controle demográfico se faz pelo alto custo de vida e pela busca de independência pessoal, sem obrigações para com os filhos. A China anda fazendo isso, mas a inclusão social, por seu lado, neutraliza esse esforço. Pior é na Índia, Bangladesh, Indonésia e Brasil, onde não existe controle demográfico, e nem incentivo para tanto, pelo contrário, incentiva-se o aumento das proles. Em paralelo, a inclusão social aumenta exponencialmente os consumidores. E o planeta vai se esgotando... 

Pessimismo 
A mídia, entretanto, não noticia as causas e nem debate essas questões. O que só nos faz acreditar que a Bíblia está correta. Está lá, escrito: “no final dos tempos não nascerão mais inocentes”. Não haveria manchete mais realista. Como desgraça pouca é bobagem qual a razão então para ler jornais? Aos que não me conhecem informo que alguns amigos me comparam ao otimista da piada, mas reconheço que tenho algumas recaídas, afinal, pesadelos são pesadelos.
Como poderia ser diferente diante do que se lê? Propositalmente, neste artigo, defenestrei o otimismo. Entretanto, penso que o jornalismo deve debater, repensar e reavaliar a sua função social, o que não deixa de ser uma proposição otimista.
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quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O que será do agronegócio daqui a alguns anos?

Richard Jakubaszko
(artigo publicado no Agrolink em 15-08-2007, e na DBO Agrotecnologia, ago/set/2007) 
Não é uma tarefa tão difícil assim a de projetar como será o agronegócio daqui para frente, digamos de 15 ou 20 anos. Nem precisa de uma fértil imaginação. Ocorreu-me escrever sobre esse futuro a partir do gentil convite do Agrolink, fato que muito me honrou, para comemorar 2.000 crônicas já publicadas.

Pensei então sobre um dos mais profundos anseios humanos de todos os tempos, o de prever o futuro, um tema sobre o qual valeria a pena uma abordagem para comemorar as 2.000 brilhantes colunas já publicadas por este pujante site do agronegócio. É exatamente isso que as pessoas mais querem saber. Vamos ao futuro, ora, pois, e vejamos algumas projeções daquilo que imagino que vai e pode acontecer, ou seriam profecias idealizadas?

Assim, participem, critiquem, comentem, tem um espaço democrático aí embaixo, no fim da coluna, para o leitor se manifestar. Não há pessimismo ou otimismo em nada do que passo a conjecturar. 
A mais importante, e talvez a mais polêmica das minhas "profecias": dentro em breve, coisa para 15 ou 20 anos, no máximo, os alimentos de uma forma geral terão excepcional valorização monetária, irão agregar altíssimo valor ao trabalho do homem do campo. Não haverá necessidade de se fazer marketing para vender mais, e com isso se tentar agregar valor.

Nos próximos 10 a 15 anos os compradores ainda terão o privilégio de fazer o preço daquilo que o produtor rural vende hoje, ao contrário do que acontece com a indústria, que determina o quanto vai receber. Mas isso vai acabar, pela simples razão de que o aumento populacional irá atropelar a produção de alimentos, e não se conseguirá manter grandes estoques reguladores, ou de segurança – no caso segurança para os agentes financeiros de mercado.

Os fundos de investimento descobriram nesta primeira década dos anos dois mil que comida pode gerar muito lucro em suas especulações. Pelo menos quatro ou cinco questões variáveis justificam essa "profecia", que nada tem a ver com a teoria de Malthus, conforme alguns apressadinhos poderiam imaginar.

Afora o aumento populacional, que é a mais importante, a primeira variável diz respeito à melhoria na qualidade de vida de populações até então excluídas do consumo, em especial chineses e indianos. Somente a China, nos últimos 10 anos, urbanizou mais de 300 milhões de trabalhadores rurais, e outro tanto deve ser urbanizado nos próximos 10 anos, inclusos nessa  outra conta os indianos, além de trabalhadores de outros países orientais como Indonésia, Vietnã, Coréia, etc., que deixarão de produzir para sua subsistência e serão apenas consumidores urbanos, com seus automóveis e outros bens de consumo.

A segunda questão diz respeito à falta de áreas novas para a produção agrícola, áreas que no planeta são existentes em grandes extensões apenas no Brasil, e sem os críticos e neuróticos "policies" ambientalistas, como ocorre na Europa. O crescimento da área de plantio de cana-de-açúcar, no Brasil, não há dúvidas, vai absorver áreas de pastagens e até mesmo de plantio de grãos, empurrando-as para novas áreas do cerrado no Brasil Central.

Nos USA o plantio de milho continuará a crescer, para produção de etanol, e roubará áreas da soja, que ficará cada vez mais tropical e brasileira. Já o biodíesel brasileiro deverá estabilizar a produção utilizando-se da nossa maior diversidade de fontes de matérias primas. A soja será o parâmetro, funcionará como baliza e fiel da balança em relação às matérias primas. Se o preço da commodity soja cair no mercado o seu uso cresce como matéria prima do biodíesel, e se o preço subir outras fontes substitutas serão usadas. 
Acho que as duas coisas, somadas, já seriam explosivas, até porque os estoques de grãos começam a se reduzir.

Outras variáveis
Vejamos, entretanto, as variáveis climáticas. No hemisfério Sul há os fenômenos El Niño e La Niña, com excessos de chuva e seca, o que já ocorre faz alguns anos, sendo de todos conhecidos e temidos. Deverão ser intensificados, não tenhamos dúvidas, por conta do tal do aquecimento ambiental do planeta. Com isso teremos safras frustradas com maior freqüência. Essas variáveis climáticas vão atingir de forma mais intensa o hemisfério Norte. Não precisa de bola de cristal para prever que os furacões americanos serão mais freqüentes e destrutivos.

O mercado é um animal arisco, medroso, e o que mais gosta de fazer é especular. Lembremos dos preços do milho na última safra e safrinha, apesar dos recordes de produção, brasileiro e americano. Em outros tempos os preços teriam despencado e haveria uma quebradeira geral, tipo efeito dominó, com tsunami de sobremesa. Foi a primeira vez, em mais de 40 anos que acompanho o agronegócio, que vi commodity batendo recorde de produção e recorde de preço ao mesmo tempo. Um espanto.

Outra variável diz respeito aos ambientalistas. Pelo andar da carruagem, por exemplo, os transgênicos ainda levam de 5 a 10 anos para ter liberação de plantio comercial no Brasil. Lamentavelmente o Brasil se distancia de seus competidores – USA e Argentina - como fornecedor de grãos, porque a nossa tecnologia começa a se atrasar, perdemos competitividade, a ciência está travada, e não será fácil conquistar a dianteira no quesito produtividade.

Para complicar mais a vida dos agricultores os ambientalistas arrocham a fiscalização no quesito irrigação. Eles "entendem e imaginam" que a água vai acabar. Alegam que irrigação na agricultura "gasta" água, portanto deve ter o uso restrito, seja pela burocracia, seja pela cobrança de taxas. Será mais um fator limitante da agricultura competitiva, em especial no Centro-Oeste. 
Com isso a oferta adicional de alimentos, proveniente do Brasil, não será tão substancial como desejaríamos para atender os novos consumidores urbanos, sejam chineses ou indianos.

Lei de Murphy
Por fim, dentre as minhas "profecias", destaco a Lei de Murphy como variável que colocará os preços dos commodities em alta, para daqui a 15 ou 20 anos. Ou seja, se alguma coisa poderá dar errado para o consumidor, isso vai acontecer, não há dúvidas, a diferença é que o fenômeno Lei de Murphy pode ocorrer no mês que vem, ou daqui a 2 ou 3 anos, e antecipar o cenário que estou prevendo para daqui uns 15 ou 20 anos. Além de guerras e conflitos, a Lei de Murphy se apresenta por problemas pontuais que "enlouquecem" os agentes de mercado: um foco de Aftosa, como o que ocorreu meses atrás na Inglaterra é um bom exemplo. Ou a vaca louca nos USA e Canadá, ou mesmo a Aftosa aqui no Brasil ou Argentina. Os preços atingem níveis nunca vistos.

Bom, não esqueçamos da gripe aviária, ela anda voando por aí nas migrações de aves, sem passaportes e apátridas. Sabemos que o ser humano tem "cutucado a onça com vara curta", de forma irresponsável na questão ambiental, como se já não bastassem os desastres climáticos do tipo El Niño ou La Niña, mas os desastres que prevejo não necessariamente implicam na ação da natureza, mas na ação do homem.

Imaginem, por exemplo, como mais uma interferência da Lei de Murphy, o estouro ou desmoronamento de uma única das 10 ou 12 eclusas existentes no rio Mississipi, que serve de transporte para mais de 80% da produção do Corn Belt americano. Imaginou? Pois os preços praticados pelo mercado iriam explodir, em dois ou três dias bateriam todos os recordes históricos. Essa é uma catástrofe anunciada por alguns setores agrícolas dos americanos, que não conseguem as autorizações legais para fazer a manutenção das tais eclusas, por conta das dificuldades impostas pelos ambientalistas.

Ou seja, ambientalista brasileiro ou americano é tudo igual, é do contra, por princípio, sem nem saber porque, a qualquer hidrelétrica, barragem, até mesmo poço artesiano. Mexeu com água? Então não tem conversa, eles são contra. 
E aí? Dá para acrescentar algo de novo nesses cenários?

Devo explicar que não acredito no aparecimento de novas tecnologias salvadoras da pátria, para aumentar a produtividade, salvo um ou outro produto pontual, em especial nos agroquímicos, estimulando especialmente a fisiologia das plantas. Podemos ter aperfeiçoamentos e evoluções em máquinas, novos cultivares, quem sabe alguma evolução dos transgênicos, e ainda novas técnicas de manejo, mas nada significativo se vislumbra no horizonte. Daqui para frente o aumento da produção terá de ser pela incorporação de novas áreas e pela melhoria das produtividades médias, que ainda andam baixas perto das médias americanas e argentinas. Será ver para crer. Acredito que o horizonte do agronegócio brasileiro é risonho e altamente positivo. Não sou especialista como o agrônomo André Pessôa, mas também faço minhas previsões. 

Em tempo: após as minhas “previsões” acima, feitas em agosto último (2007), os preços dos commodities grãos estouraram no mercado. Errei no prazo, previsto para daqui a 10 ou 15 anos. Pois já começou. A revista The Economist, de 6 de dezembro 2007, fez matéria de capa sobre o tema, reconhecendo o aumento dos preços como definitivo. Vejam também a capa na aba lateral este blog.  Tenho, assim, a íntima satisfação de ter dado um "furo" nos ingleses. Entretanto, sem querer ser pessimista, a situação vai piorar, e pode ser já em 2008. Poderá até haver um certo equilíbrio de preços nos anos seguintes, mas entraram no jogo fatores de enorme influência, e que são os fundos de investimento. Eles descobriram nos commodities um excelente foco de especulação.
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