sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O português praticado no Brasil...

Richard Jakubaszko
A língua portuguesa é uma das mais difíceis do mundo, até para nós!
Vejamos o português praticado no Brasil...


 

Aconteceu na recepção de um salão de convenções, em Fortaleza, CE.
- Por favor, gostaria de fazer minha inscrição para o Congresso.
- Pelo seu sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de onde?
- Sou de Maputo, Moçambique.
- Da África, né?
- Sim, sim, da África.
- Aqui está cheio de africanos, vindos de toda parte do mundo. O mundo está cheio de africanos.
- É verdade. Mas se pensar bem, veremos que todos somos africanos, pois a África é o berço antropológico da humanidade...
- Pronto, tem uma palestra agora na sala meia oito.

- Desculpe, qual sala?
- Meia oito.
- Podes escrever?
- Não sabe o que é meia oito? Sessenta e oito, assim, veja: 68.
- Ah, entendi, *meia* é *seis*...
- Isso mesmo, meia é seis. Mas não vá embora, só mais uma informação: a organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar com o material: DVD, apostilas, etc., gostaria de encomendar?
- Quanto tenho que pagar?
- Dez reais. Mas estrangeiros e estudantes pagam *meia*.
- Hmmm! Que bom. Ai está: *seis* reais.
- Não, o senhor paga meia. Só cinco, entende?
- Pago meia? Só cinco? *Meia* é *cinco*?
- Isso, meia é cinco.
- Tá bom, *meia* é *cinco*...

- Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e meia.
- Então já começou há quinze minutos, agora são nove e vinte.
- Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e meia.
- Pensei que fosse as 9:05, pois *meia* não é *cinco*? Você pode escrever aqui a hora que começa?
- Nove e meia, assim, veja: 9:30 horas
- Ah, entendi, *meia* é *trinta*...
 

- Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa, senhor, tenho aqui um folder de um hotel que está fazendo um preço especial para os congressistas, o senhor já está hospedado?
- Sim, já estou na casa de um amigo.
- Em que bairro?
- No Trinta Bocas.
- Trinta Bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria no Seis Bocas?
- Isso mesmo, no bairro *Meia* Boca.
- Não é meia boca, é um bairro nobre.
- Então deve ser *cinco* bocas.

- Não, Seis Bocas, entende, Seis Bocas. Chamam assim porque há um encontro de seis ruas, por isso seis bocas. Entendeu?
- Acabou?
- Não. Senhor, é proibido entrar no evento de sandálias. Por favor, coloque uma meia e um sapato...

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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Aberrações da humanidade

por Marcelo Rubens Paiva   

Sachê
Você sabe muito bem do que estou falando. Onde estão aqueles recipientes com mostarda e ketchup com que estávamos habituados, e aprendemos a espremer antes de escrever? E o saleiro, o açucareiro, a maionese no pratinho, com uma espátula apropriada? É mais raro encontrá-los do que guardanapos de linho. A Vigilância Sanitária, o lucro insano das corporações e o capitalismo selvagem nos obrigam a conviver com desagradáveis e minúsculos sacos plásticos não biodegradáveis que, dizem, contêm o condimento necessário para a nossa refeição. Como abrir? Com unhas? Dentes? Dentadas e unhadas? Imaginam que andamos com canivete suíço no bolso? Como abrir sem escorrer a metade do condimento? Como abrir sem espalhar pela mesa ou pelo colo ou, pior, espirrar no rosto do garçom, um saco que não fora planejado para ser aberto, mas para apenas armazenar uma porção que alguém arbitrariamente julgou a necessária. Bem, minhas fritas precisam de dezenas daqueles saquinhos. E tiveram a cara de pau de inventar sachê com azeite, vinagre e até shoyu. Queria que o inventor dessa barbaridade almoçasse numa cantina tradiça com a minha família italiana e tentasse temperar a salada, entre as polêmicas e discussões de sempre de domingo. Sem usar os dentes.

Protocolo de Atendimento
Outra aberração da humanidade. Já tive quatro protocolos de atendimento numa reclamação para o SAC de uma telefônica num telefonema de 30 minutos. Média: um protocolo a cada sete minutos e meio. No quarto, me perguntei o que foi feito com o coitado do primeiro, perdido, esquecido solitário no buraco negro que eles nomearam "sistema". E se precisamos de quatro, por que nos soletram três antes. Nossa vingança é quando fingimos que anotamos o protocolo de atendimento. "Senhor, por favor, anotar o protocolo de atendimento." Claro, querida, pode falar, estou anotando no meu álbum de protocolos de atendimento, que coleciono desde quando inventaram o protocolo de atendimento, meses depois de inventarem o atendimento. E repetimos em voz alta um número infindável, enquanto checamos e-mails, postagens nas redes sociais, confirmamos presença em eventos em que não daremos as caras... Se tivessem a mesma eficiência nos atendimentos que no exercício de dar protocolos de atendimento, o mundo seria com bem menos protocolos. E os consumidores ligariam bem menos para o atendimento.

Controle Remoto
Foi uma bela invenção. Que piorou a saúde da humanidade, aumentou o sedentarismo e nos deixou mais atordoados. Invenção que, com o tempo e o avanço tecnológico, piorou, como o relógio digital que está até em eletrodomésticos de linha branca, piscando teimosamente no 00:00, já que não sabemos programá-lo. Tá. Não bastam os botões de ligar, desligar, volume e canal. Existem dezenas deles, com números que não são parte de uma calculadora e símbolos que não fazem sentido, indicações e termos que só conseguem ser lidos com a ajuda de um microscópio. O controle da minha TV, comprada no Brasil, tem as opções power, source, ch, pre-ch, mute, ch.list, w.link, tools, return, info, exit, cc, mts, p.mode, e.mode, p.size, fav/ch, números e flechas... E, claro, um enter que, cuidado, se você apertar, a TV não funcionará por sete dias, até seu sobrinho geek fazer uma visita. Como se não bastasse, precisamos de três deles, às vezes mais, para assistir àquele filminho água com açúcar com a família. E sincronizar operações, como abaixar o volume da TV, aumentar o do Blu-Ray e mudar para modo HDTM3. Muitas vezes, quando acertamos e, milagre, o volume está OK e a legenda sincronizada, parte da família ronca ao lado. Mais fácil pilotar um caça sueco. Quer uma dica quando der pau? Uso aqui em casa: tira da tomada, conta até 15 e coloca novamente. Geralmente dá certo.

Renovação do Passaporte
Na Europa é de 15 em 15 anos. Nos EUA, de dez em dez. No Brasil, de cinco em cinco anos. Gênio. E lá vamos nós, com fotos, DARFs pagas, digitais, enfrentar filas para pegar senhas que nos levam a outras filas. E rezarmos para o sistema, aquele labirinto obscuro de informações, o entorpecente do burocrata descontente, não cair. O que costuma acontecer justamente nas vésperas das férias. Quando a categoria não entra em operação tartaruga ou greve. Por que não uma renovação de 20 em 20 anos? Aí, sim, os policiais federais poderiam trocar o cabo de um carimbo pelo de um revólver e ocupar o tempo com operações contra o crime organizado. Sem se preocuparem em organizar filas de turistas, sacoleiros, crianças ansiosas pela Disney, gente do bem sem antecedentes criminais.

Insulfilm
Serve para ocultar aquele barbeiro que nos fecha ou buzina sem parar. Protegido pelo anonimato, nos intimida. Caso contrário, xingaríamos quatro gerações da sua família. Se tivéssemos certeza de que dentro daquele carro popular com insulfilm não está a seleção brasileira de jiu-jítsu. O insulfilm aumenta a anarquia no trânsito. Incentiva a má-educação, a imprudência e o hábito tão cordialmente brasileiro de "não dar passagem". Tenho certeza de que, por trás daquele vidro escuro, está um fracote que desconta seu complexo de inferioridade no trânsito. Caso contrário, por que precisaria de um insulfilm? Pode apostar: no dia em que o proibirem, o buzinaço em todas as esquinas diminuirá.

Radiador
Aquilo que sempre esquecemos de checar se está completo. Como uma máquina tão evoluída, com computador de bordo, injeção eletrônica, radar traseiro, câmeras, que faz a baliza sozinha, GPS, MP3, freios ABS, airbag, precisa ser resfriada por um punhado de água engradada? A mesma água que esfriou as engrenagens de catapultas romanas e apaga as churrasqueiras do tiozinho do churrasco. Engradado que, a cada três anos, fura, e nos leva à loucura, aquecendo a máquina e nos deixando na mão e a pé. Tem mais computador num carro hoje em dia do que na Apolo 11, que levou o homem à Lua. Mas se ele aquecer... Houston, we have a big problem.

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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Chegou à cidade

Rogério Arioli Silva

Demorou mas aconteceu. Finalmente a insanidade das ampliações de reservas indígenas perpetradas pela Funai em todo território nacional chegou às cidades. Estas, até então permaneciam incólumes ao clima de insegurança jurídica que vem tomando conta do campo brasileiro. E veio pelo lado certo, bem pertinho do Palácio do Planalto que, assim como todo o país, foi objeto da perambulação de povos autóctones desde tempos imemoriais

O Juiz Federal Paulo Cruz entendeu que há mesmo evidências de que a comunidade indígena Fulni-ô Tapuya é tradicional ocupante de área distante 15 km do gabinete da presidente Dilma. A área reivindicada pela comunidade indígena e seus defensores é de apenas 50 ha o que destoa das pretensões em outros locais do país. É muito modesta a reivindicação dos índios brasilienses. Estes devem estar muito mal assessorados, pois deveriam pretender milhares de ha que, segundo os laudos antropológicos modernos, são necessários para garantir a sobrevivência desses povos.


Na verdade não é apenas uma etnia a reivindicar a área em questão. São três, mas parece que duas delas já aceitaram receber áreas em outro local do DF. Nada disso! Devem ficar é ali mesmo, a exemplo do que tem ocorrido nos demais contenciosos patrocinados pelas diversas ONGs indigenistas envolvidas na questão. Além disso, como foi divulgado, aquele local faz parte do cinturão cósmico da América do Sul, uma faixa de terras que, segundo a tradição indígena, possui grande força espiritual assim como a cidade de Cuzco no Peru. A terra conhecida como “Santuário dos Pajés” já foi inclusive tese de mestrado na área de Antropologia da Universidade de Brasília.


A comunidade indígena Fulni-ô habita ainda hoje uma aldeia de 11.500 ha no município de Águas Belas no estado de Pernambuco. São considerados os únicos indígenas do Nordeste que ainda mantêm viva sua língua nativa.  Segundo estudos antropológicos alguns indivíduos deslocaram-se daquela região no ano de 1950 com destino a nova capital federal que iniciava sua construção. Fato curioso é que descende desta etnia o jogador Garrincha (1933-1983) um dos maiores craques brasileiros de futebol de todos os tempos. Na aldeia maranhense dos Fulni-ô existe uma discordância entre a FUNAI e os próprios índios que não consideram seus descendentes aqueles membros que não participam do ritual Ouricuri, uma espécie de retiro religioso sagrado. Muitos se dizem descendentes embora não praticantes, o que é uma forma de garantir seu acesso à terra.

O que está acontecendo atualmente em Brasília já vem ocorrendo, sistematicamente, há vários anos em muitas regiões do país. Centenas de áreas são reivindicadas pela FUNAI em quase todos os estados brasileiros levando a intranquilidade a muitos proprietários de boa-fé. O acirramento dos ânimos chegou ao extremo no estado do Mato Grosso do Sul onde são quase uma centena as áreas invadidas, configurando-se num verdadeiro barril de pólvora pronto a ir pelos ares, levando consigo sonhos e, quem sabe, algumas vidas. Era lógico e previsível que essas ampliações de reservas chegassem também às cidades. Nada mais justo, pois o ambiente urbano uma vez também foi rural e, portanto, sujeito às perambulações dos ameríndios que aqui habitavam quando Cabral aportou. Muitos habitantes das cidades assumiram um discurso indigenista sem saberem que as ampliações de reservas não garantem melhores condições de vida aos indígenas, pois estes já detêm 13% do território brasileiro.


Agora, quando a ameaça das ampliações atingirem também as cidades desalojando proprietários urbanos, por certo haverá um entendimento mais coerente e menos apaixonado. Será que existirão também parcelamento de casas, lotes urbanos e apartamentos como forma de acomodar alguma etnia indígena que tenha sido prejudicada por ocasião da demarcação de suas terras? Certamente no ano de 2014 terá que haver o enfrentamento dessa questão que apenas atingia os proprietários rurais, muitas vezes demonizando-os como se fossem intrusos em sua própria terra.


Lá em Brasília a polícia foi extremamente eficaz na retirada de manifestantes simpáticos aos indígenas, fato que não acontece em outros locais do país, onde inclusive muitos mandados de reintegração de posse de áreas invadidas ficam eternamente engavetados com o argumento de evitar-se o confronto. Enquanto o debate segue infrutífero, sem que nada de concreto seja resolvido, fico imaginando o Ministro da Justiça tentando convencer a presidente Dilma a escolher um novo local para instalar seu gabinete. De preferência um local onde não haja nenhum indício da presença indígena em tempos imemoriais.


* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural no MT
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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O incrível gráfico da Globonews sobre inflação

Richard Jakubaszko  
Precisa analisar o exótico gráfico com acuidade jornalística, para avaliar a qualidade da informação isenta da Globonews, no programa Conta Corrente:


Saiu no blog Cafezinho: http://www.ocafezinho.com/2014/01/13/um-incrivel-grafico-que-diz-muita-coisa/
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domingo, 12 de janeiro de 2014

Trens em miniatura

Richard Jakubaszko    
O que diferencia os adultos das crianças é o valor dos brinquedos. Assistindo aos dois vídeos abaixo  você terá duas visões (uma australiana e outra americana) de trens em miniaturas, com locomotivas movidas a vapor. Impressiona a precisão de cada uma dessas máquinas, coisa de gente apaixonada pelo hobby.
A versão australiana:

E a versão americana, ao estilo country:

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sábado, 11 de janeiro de 2014

A campanha da moda



por Janio de Freitas *
Quem não discute gosto anda na moda, que é um modo de não ter gosto (próprio, ao menos). Até por solidariedade aos raros que não se entregam à moda eleitoreira de dizer que 2013 foi um horror brasileiro e 2014 será ainda pior, proponho uns poucos dados para variar.

Com franqueza, mais do que a solidariedade, que tem motivo recente, é uma velha convicção o que vê importância em tais dados. Um exemplo ligeiro: todo o falatório em torno de PIB de 1% ou de 2% nada significa diante da queda do desemprego a apenas 4,6%. Menor que o da admirada Alemanha. Em referência ao mesmo novembro (últimos dados disponíveis a respeito), vimos as manchetes consagradoras “EUA têm o menor desemprego em 5 anos: cai de 7,3% para 7%”. O índice brasileiro, o menor já registrado aqui, excelência no mundo, não mereceu manchetes, ficou só em uns títulos e textos mixurucas.

Mas o índice não pode ser positivo: “O índice caiu porque mais pessoas deixaram de procurar emprego”. Se mais desempregados conseguiam emprego, como provava o índice antes rondando entre 5,6% e 5,2%, restariam, forçosamente, menos ou mais desempregados procurando emprego? PIB horrível, falta de ajuste fiscal, baixa taxa de investimentos, poucas privatizações, coitado do país. E, no entanto, além do emprego, aumento da média salarial, a ponto de criar este retrato do empresariado de São Paulo: a média salarial no Rio ultrapassou a dos paulistas.

A propósito: com as alterações do Bolsa Família pelo Brasil sem Miséria, retiraram-se 22 milhões de pessoas da faixa dita de pobreza extrema. Com o Minha Casa, Minha Vida, já passam de um milhão as moradias entregues, e mais umas 400 mil avançam para a conclusão neste ano. A cinco pessoas por família, são 7 milhões de beneficiados com um teto decente, água e saneamento.

Sobre dados assim e 2014, escreve o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale: “Infelizmente, veremos mais promessas de ampliação do Bolsa Família e do salário mínimo, que, no frigir dos ovos, é o que tende a reeleger a presidente”. Da qual, aliás, acha que em 2014 “deverá se apequenar ainda mais”. Da mesma linhagem de economistas – a que domina nos meios de comunicação –, Alexandre Schwartsman dá à política que produziu aqueles resultados o qualificativo de “aposta fracassada”, porque só deu em “piora fiscal, descaso com a inflação e intervenção indiscriminada, predominando a ideologia onde deveria governar o pragmatismo”.

“Infelizmente” e “aposta fracassada” para quem? Para os 22 milhões que saíram da pobreza extrema, os 7 milhões que receberam ou receberão um teto em futuro próximo, os milhões que obtiveram emprego, os milhões ainda mais numerosos que tiveram melhoria salarial?

E, claro, ideologia existe só no que se volta para os problemas e possíveis soluções sociais. Quem se põe de costas para o que não interesse à elite financeira e ao poder econômico, não o faz por ideologia, não. Por esporte, talvez.

Foi a esse esporte, quando praticado orquestradamente nos meios de comunicação, que Dilma Rousseff se referiu como uma “guerra psicológica”, e gerou equívocos críticos. Não se trata de “expressão antidemocrática”, nem própria dos tempos da ditadura. É a denominação, técnica ou científica, como queiram, de métodos de hostilidade não militares, diferentes das campanhas por não serem declarados em sua motivação e seus fins, e buscando enfraquecer o adversário por variados tipos de desgaste.

Não é o caso da pregação tão óbvia em seu propósito de prejudicar eleitoralmente Dilma Rousseff. E prática tão evidente que, já no início de artigo na Folha, o empresário Pedro Luiz Passos definiu-a como “o negativismo que permeia as análises sobre a economia brasileira, em contraste com a percepção de bem-estar especialmente da base da pirâmide de renda”. Ou seja, há um negativismo, intenção de concentrar-se no negativo, real ou manipulado, e a desconsideração do que deu à “base da pirâmide” social alguma percepção de bem-estar.


O elemento essencial na existência de uma Nação é o povo. Não é o território, não é o Estado, ambos inexistentes em várias formas de nação ao longo da história e ainda no presente (os curdos, diversos povos nômades, povos indígenas). O PIB e os ajustes feitos ou reivindicados nunca fizeram nada pelos brasileiros que são chamados de povo. A cliente do PIB, dos gastos governamentais baixos e dos juros bem altos são os que compõem a mínima minoria dos que só precisam, para manter o país, do povo.


Publicado na Folha de São Paulo
* Jânio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve na versão impressa do caderno "Poder" aos domingos, terças e quintas-feiras.

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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Merda, a palavra mais rica do nosso idioma.



Richard Jakubaszko  
Nem o Aurélio definiu tão bem...
Merda: esta versátil palavra pode mesmo ser considerada um coringa da língua portuguesa. 

Vejam os exemplos a seguir:


Como indicação geográfica: onde fica essa merda?

Ou

Vá à merda!

Ou

Vou embora dessa merda!


Como substantivo qualificativo: você é um merda!


Como auxiliar quantitativo: trabalho pra caramba e não ganho MERDA nenhuma!


Como indicador de especialização profissional: ele não entende de MERDA nenhuma.


Como sinônimo de covarde: seu MERDA!


Como indicador visual: não se enxerga MERDA nenhuma!


Como questionamento dirigido: fez MERDA, né?


Como especulação de conhecimento e surpresa: que MERDA é essa?


Como constatação da situação financeira de um indivíduo: ele tá numa MERDA total.



Como indicador de ressentimento natalino: não ganhei MERDA nenhuma de presente!


Como indicador de admiração: puta MERDA1!


Como indicador de espécie: o que esse MERDA pensa que é?


Como indicador de continuidade: tô na mesma MERDA de sempre...


Como indicador de desordem: isso aqui tá uma MERDA!


Como constatação científica dos resultados da alquimia: tudo o que ele toca vira MERDA!


Como resultado aplicativo: deu MERDA!


Como indicador de performance esportiva: meu time não está jogando MERDA nenhuma...
Como constatação negativa: que merda!


Como classificação literária: êita textinho de MERDA!!!


Como situação de 'orgulho/metidez': ela se acha e não tem 'MERDA nenhuma!'

e a melhor de todas as definições:

Como indicativo de ocupação: para você ter lido até aqui, é sinal que não está fazendo MERDA nenhuma!!!
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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Marido obediente

Richard Jakubaszko  

Marido: querida, precisa de ajuda?

Mulher: sim, querido, você vê aquele saco de batatas? Descasque metade delas e coloque-as na panela!

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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Onde foi parar o helicóptero com cocaína dos Perrella?


O estranho caso do helicóptero engavetado: a mídia não quis investigar o caso do helicóptero dos Perrella.

Paulo Nogueira, via Diário do Centro do Mundo (DCM)

Se você me pergunta qual foi o maior papelão da mídia brasileira em 2013 respondo com meia tonelada de motivos que foi o caso do helicóptero dos Perrella. Só no Brasil 500 quilos de cocaína não são notícia.

Na Indonésia, uma senhora britânica de 56 anos foi condenada à morte, por fuzilamento, por ser presa com cinco quilos de cocaína: 100 vezes menos, portanto. Na mídia de Londres, ela é chamada de “Vovó Inglesa”, por ter netos. Sua defesa ainda luta para transformar a pena de morte em prisão perpétua.

Na Indonésia, como na China, a lei é extraordinariamente severa com o tráfico de drogas em consequência dos traumas sofridos no século 19, quando os britânicos impuseram, na base dos canhões, aos asiáticos o consumo de ópio. Essa página obscena do império britânico passaria à história como as Guerras do Ópio, sobre as quais escrevi algumas vezes no DCM.

Longe de mim sugerir rigor asiático no combate ao tráfico. Mas, jornalisticamente, 500 quilos de cocaína não são nada? Pelo comportamento da mídia brasileira, não são nada. Ninguém se esforçou, então, para trazer luz para o escândalo. Ao contrário, todo mundo tentou esconder a notícia, provavelmente para preservar Aécio Neves, amigos dos Perrellas e conhecido festeiro.

Todos sabem o que teria ocorrido caso os donos do helicóptero fossem amigos não de Aécio, mas de Lula, ou Dirceu.

Na ausência de qualquer esforço investigativo, o assunto foi minguando e hoje é quase nada. O helicóptero foi, simplesmente, engavetado.
No futuro próximo, a internet terá recursos suficientes para bancar investigações que a mídia corporativa não quer fazer. Ou o crowdfunding – o financiamento da comunidade de leitores – ou a publicidade trará dinheiro que hoje é escasso. Até lá, as pessoas interessadas em jornalismo independente e informação isenta terão de conviver com coisas estapafúrdias como este caso.

Notícia, para a mídia “livre”, é aquilo que é favorável a ela ou a seu grupo de amigos e parceiros, e desfavorável para seus desafetos. Compare a cobertura dada ao helicóptero com a cobertura dada a uma oferta de emprego para Dirceu, e você vai entender o que move a mídia.

Por isso ela é tão desacreditada. E por ser tão revelador do espírito bipolar das grandes companhias jornalísticas, o caso do helicóptero é o fracasso do ano da mídia brasileira.

Publicado no blog Limpinho & Cheiroso: http://limpinhoecheiroso.com/2014/01/01/onde-foi-parar-o-helicoptero-com-cocaina-dos-perrella/

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