domingo, 21 de dezembro de 2014

8 agricultores de 8 países: são 8 heróis.

Richard Jakubaszko
Competente comercial da New Holland, valorizando o trabalho dos heróis agricultores que produzem alimentos para o mundo. No vídeo, lindas cenas do cotidiano, capturadas por câmeras sensíveis. Pertence à "The Seeds of Life Series".
É mais uma iniciativa da CNH Industrial para divulgar a Expo Milão 2015 (maio/outubro2015 - Milão-Itália), onde se debaterá a produção sustentável de alimentos para uma população crescente.

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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Querida neta, o Alckmin quer proibir você de visitar seus avós

Richard Jakubaszko
Imaginei enviar e-mail pra minha neta de 11 anos, a Beatriz, que mora lá em Cuiabá, começando o texto pelo título deste post.

Desisti da tresloucada empreitada, com receio de ser mal interpretado, ou de parecer um avô desnaturado. É que ela ainda não entende de política...

Acontece que, por decisão do (des)governo do estado de São Paulo, talvez tenha de ser obrigado a tomar outra atitude, eis que é prática e tradição da nossa única neta, pelo menos uma visita anual aos seus avós, junto com seus pais, justo no Natal, Ano Novo e mais alguns dias a título de férias.
Ocorre que o (des)governo de São Paulo ameaça aos usuários de água (da multinacional Sabesp) que ultrapassarem 20% do consumo de água, com uma multa de 20%, adicional ao valor da água consumida, evidentemente. E, se o consumo ultrapassar os 20% a multa poderá ser de 50% adicionais. Val faltar dinheiro pra pagar tanta multa, pois não poderei proibir a neta e seus pais de tomarem banho, por exemplo. Em pleno verão de São Paulo, com todo esse calor, como dizer pra neta que hoje não vai poder tomar banho?

Ou seja, a conta vai estourar, como acontece todo final de ano lá em casa. Porque onde vivem duas pessoas, e o consumo é de 11 a 14 m3/mês, quando chegam mais três pessoas, esse consumo sobe para 18 a 20 m3, o que é absolutamente normal e todo ano é assim. Mas a Sabesp e o (des)governador não sabem disso, evidentemente, nem os burocratas que são os assessores do (des)governador. Por tabela, eles já avisaram, vai ter multa. E assim, proíbem aos paulistanos, por tabela, receber visitas em casa, mesmo que sejam netas únicas.
Tudo isso porque o (des)governo de São Paulo não planejou aumentar a área de captação de água para consumo da população crescente. Porque deixa vazar água nas tubulações do centro velho da capital paulista, por onde se perde mais de 40%, talvez 60% da água tratada que é originária do sistema Cantareira.
Excesso de gestão do (des)governo de São Paulo.

Cadê a água Geraldo Alckmin?
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Chuvas de verão

Fernando Penteado Cardoso *
Toda a água que escoa pelas bacias do Rio Amazonas, Rio Tocantins, Rio São Francisco e Rio da Prata se origina do deslocamento de massas incomensuráveis de vapor d'água formadas sobre o oceano Atlântico Equatorial aquecido pelo sol.
A rotação da terra de oeste para leste, que origina os ventos alísios soprando do leste, coloca a extensa planície amazônica debaixo dessa imensa calota úmida.
Ao encontrarem o obstáculo da cordilheira dos Andes e as áreas de alta pressão atmosférica sobre o oceano Pacífico, bem como por efeito da rotação, essa volumosa corrente gasosa sofre uma deflexão à esquerda e prossegue até alcançar o sul do país.

Ao longo desse percurso, prosseguindo para o sul como ventos noroeste, rumo esse bem conhecido como “chovedor”, muita água se precipita como chuva, parte formando rios, parte tornando a se evaporar em um processo natural de reciclagem.
 
Ao se encontrarem com as frentes frias procedentes do sudoeste, formam-se as “zonas de convergência” nas quais chove pela condensação da água atmosférica vaporizada, toda provinda do mar e a ele retornando como rios caudalosos. Não existe produção de água no território continental, seja ou não florestado.

Tanta água das chuvas pode ser avaliada pela vasão dos rios que a devolvem ao mar. O volume conjunto dos quatro rios mencionados soma a 7,61 quatrilhões de metros cúbicos por ano, suficiente para formar um lençol d´água de 90 cm se o Brasil fosse plano e murado. A comparação das vazões mostra a imensidão do Rio Amazonas com 209.000 metros cúbicos por segundo - m3/s, Rio Tocantins - 11.000 m3/s, Rio São Francisco - 1.500 m3/s; Rio da Prata - 20.000 m3/s.

Navegadores em nosso litoral relatam que a temperatura da superfície do mar (TSM), ao longo da costa dos estados do RJ e SP, está acima da normal o que provocou a proliferação de algas coloridas tornando rosadas grandes extensões marítimas. Afirmam ainda que estão pouco ativas as correntes marítimas frias, que surgem das profundezas, aflorando em Cabo Frio e a leste da Ilha Bela.
Haveria correlação entre esses fatos e a “bolha” de alta pressão atmosférica que vem dificultando a entrada das correntes úmidas mencionadas, ditos “rios que voam”, fazendo que despejem sua água no meio do caminho, provocando inundações regionais e a atual falta de chuvas no sudeste do país?

Estamos enfrentando uma situação inédita, com precipitação de 723 mm nos 12 meses findos em Outubro pp, a menor dos últimos 123 anos, 48% inferior à média de 1.395 mm (Campinas/SP).

* Eng. Agr. sênior, USP-ESALQ, 1936.
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O último castrati da história

Alessandro Moreschi, 1875
Richard Jakubaszko
Alessandro Moreschi (1858-1922) era proveniente de uma família pobre e numerosa, e aos 7 anos de idade foi submetido a uma cirurgia de castração em 1865 para curá-lo de uma hérnia inguinal. Aparentemente, esse era um procedimento comum na Itália da época para solucionar tal problema. Também era comum a castração de crianças com voz e talento, para que mantivessem a voz de soprano, sem a interferência dos hormônios. Moreschi, portanto, foi o último
castrati da história.

Aqui, a voz de Moreschi, em gravação de 1902 ou 1904:

Iniciou seus estudos de canto em 1871 na escola de Salvatore di San Lauro, sob a direção de Gaetano Capocci - organista e compositor de música sacra, mestre de capela da Basilica di San Giovanni in Laterano, em Roma. Capocci promoveu a aceitação de Moreschi no coro da Capela Sistina, em 1883. A castração infantil para fins artísticos fora proibida em 1870, mas à época alegou-se que a castração de Moreschi ocorrera antes da proibição. Assim, Alessandro tornou-se solista do coro entre 1883 e 1898, ano em que assumiu a diretoria do coro, cargo no qual manteve-se até 1913, exercendo, além das atividades artísticas, funções administrativas.


Chegaram até os dias atuais gravações que realizou entre 1902 e 1904, nas quais interpreta dez obras compostas especificamente para sua tessitura vocal. Essas gravações têm excepcional valor, pois são o único registro do canto dos castrati. Segundo a crítica, porém, Moreschi, apesar do timbre marcante, mostra sua técnica marcada pelo gosto do século XIX (com uso abundante de portamenti), muito distante da ópera barroca, não podendo, portanto, ser considerado como equivalente aos castrati do século XVIII - época em que esses cantores tiveram seu auge. O último deles, Giovanni Battista Stracciavelutti - mais conhecido como Giovanni Battista Velluti (1780-1861) - já se aposentara trinta anos antes do nascimento de Moreschi.

O "Anjo de Roma" teve entretanto muito sucesso em sua época. Cantou durante os funerais de Napoleão III, interpretando a parte do soprano solista na Missa da Requiem de Verdi em Ravena. Vivia em Roma, numa bela casa, na zona do Trastevere (via della Lungara).

Nos seus últimos anos, porém, Alessandro Moreschi foi esquecido e viveu solitário. Faleceu em Roma, sem a companhia de seu filho adotivo, Giulio (Giulietto) Moreschi, que atuava como tenor, sobretudo na Basilica di Santa Maria Maggiore, e também como ator de cinema, em filmes como, por exemplo, Lo sceicco bianco de Fellini. Sua sepultura está localizada no cemitério Campo di Verano.

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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O Big Bang brasileiro

Rogério Arioli Silva *
O advento da delação premiada para o Brasil pode ser comparado com a descoberta do bóson de Higgs para o restante do mundo. A existência desta partícula - que havia sido prevista em 1964, foi confirmada em 14 de março de 2013, e reafirmou algumas teorias que necessitavam da sua comprovação para serem legitimadas. A delação também fez isso. Todo mundo falava, todo mundo sabia da presença da corrupção. Entretanto, ninguém tinha a coragem (?) de assumi-la, como sendo o cordão umbilical das relações incestuosas com o estado brasileiro.

Somente existiram condições tecnológicas de provar a existência do bóson após a construção, em 2008, do Grande Colisor de Hádrons. Esse imenso laboratório de 27 km de extensão e 175 m de profundidade, localizado na fronteira entre a França e a Suíça é uma espécie de pista de corrida de partículas. Postas a correr numa velocidade próxima à da luz elas irão colidir, simulando o que ocorreu no Big Bang, ou seja, no momento da criação do universo.

Certamente os túneis escavados pelas grandes construtoras brasileiras por onde, historicamente, transitam os bilhões surrupiados serão bem maiores do que estes míseros 27 km. Saem de Brasília e se ramificam para todos os locais do país onde alguma obra pública esteja prevista. São canais subterrâneos imensos onde habitam ratos de terno e gravata, sejam empresários, políticos e autoridades de governos que se esgueiram nas sombras fétidas do esgoto brasileiro. Graças a isso faltam esgotos no país e pessoas morrem de doenças ligadas à falta de saneamento básico.

Essa quadrilha tem seu “modus operandi” aperfeiçoado ao longo de décadas de vida nas sombras. Historiadores dizem que o país já começou mal e a corrupção veio junto com as caravelas portuguesas. Não importa se é verdade ou não. O que importa é que agora, com a delação, ela possa diminuir, embora seja muito difícil que termine nesta geração. Na ânsia de salvar a própria pele os corruptos viraram delatores. Essa é a característica dos roedores. Alteram seus hábitos alimentares de acordo com as circunstâncias, podendo tornar-se predadores uns dos outros. É o caso, agora. Se alguém imaginava existir alguma ética nesses assaltantes do dinheiro público, enganou-se.

Não cabe a indignação com aquele advogado que, na defesa do seu cliente, afirmou não ser colocado nenhum paralelepípedo no Brasil sem o devido pagamento de propina. A única ressalva é o termo usado. Propina é um termo pesado demais. Que tal comissão? Ou quem sabe “agrado”? De todo modo, apesar da crueza do termo, ele está coberto de razão. Ao invés da justiça criticá-lo, pela exposição de tão dura realidade, seria melhor enquadrá-lo. Aliás, por que não enquadrar todo o advogado que defende o corrupto, se este for efetivamente condenado?

Todo cidadão tem o direito à defesa, é o que dirão os arautos dos direitos humanos. Entretanto, aqueles humanos que não são corretos devem pagar pelos seus crimes, e essa responsabilidade deveria também atingir alguns advogados, sim. Se eles também são pagos com o dinheiro oriundo da corrupção, não há porque não enquadrá-los. Pode ser a garantia de que pelo menos os mais caros e famosos declinarão da defesa de alguns figurões corruptos e endinheirados.

A partícula de Deus, como é popularmente conhecido o bóson de Higgs, tem potencial para destruir o universo, alertou o famoso físico inglês Stephen Hawking. Segundo ele, apesar de improvável, ao atingir elevados níveis de energia, a partícula poderá tornar-se instável, provocando uma decadência do vácuo e um colapso do espaço-tempo. Seja lá o que isso signifique, não se imagina que a delação premiada tenha o mesmo poder. Todavia, contém o potencial de provocar grandes danos a um governo que está apenas começando. Dependendo da postura assumida, se houver leniência, ou qualquer tipo de interferência dos poderes constituídos no aprofundamento das investigações, haverá resposta das ruas.

A parte da sociedade que age com honestidade e retidão de princípios não consegue mais conviver com a carne putrefata daqueles que, ao invés de servir o cidadão, servem-se dele de maneira gananciosa e imoral. Essa doença contagiosa que metastaseou-se em grande parte dos órgãos brasileiros precisa ser tratada com o devido rigor, nem que isso signifique sua extirpação pura e simples. Pelo menos a parte restante viverá com a devida dignidade. O mundo descobriu a partícula de Deus. A delação premiada levou o Brasil a descobrir, sem querer, a linguagem do Diabo.


* o autor é engenheiro agrônomo e produtor rural no MT.
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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Meu orgulho com o Brasil (II): o nosso IDH

Richard Jakubaszko
Fala a verdade, caro leitor, ver o nosso IDH melhorar esse tanto que melhorou, nos últimos 12 anos, não traz orgulho a todos nós brasileiros? Perceba que os dados são de1991 a 2010, de lá pra cá melhorou um tiquinho mais...
Só não vê quem não quer ver.
Pode crer, vai melhorar mais ainda.
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domingo, 14 de dezembro de 2014

Impeachment? O que vem por aí?

Richard Jakubaszko
Não haverá nada. A mídia e os tucanos só têm uma intenção, a velha estratégia de sempre, sangrar o governo, gota a gota. Ao mesmo tempo, desvalorizam a Petrobras, o que facilitará sua posterior privatização, e a entrega do pré-sal às multinacionais.
Dilma e Lula precisam resgatar a nossa brasilidade, reagindo.

Verdades cristalinas.
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Imbecilidades (II)

Richard Jakubaszko 
São imbecilidades exclusivas dos brasileiros, todas cometidas neste ano da graça de 2014:

A maior de todas:
O deputado Jair Bolsonaro (PP/RJ) é, definitivamente, um caso psiquiátrico perdido. Afrontou o Código Penal e o ordenamento jurídico brasileiro, num simples caso de quebra de decoro parlamentar. Ao declarar, da tribuna do parlamento, dia 9/12, que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT/RS):

“Não sai não, dona Maria do Rosário, fica aí. Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias você me chamou de estuprador, no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui pra ouvir.” 

É difícil ordenar ou priorizar a importância e a gravidade, da estrambólica mensagem do moderno brucutu, de tão inusitada que foi a agressão. Seja porque foi contra uma mulher, seja porque é uma mãe de família, seja por ser deputada federal, tudo isso em palavras proferidas no plenário da Câmara dos Deputados, diante de outros legisladores, com tudo gravado em vídeo.
 

Cassar o mandato desse estrupício, que ameaça estuprar uma mulher, é o mínimo que os deputados devem fazer. Já existe uma representação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, feito pelo PT, PCdoB, PSB e PSOL.

É uma imbecilidade, mais uma, desse deputado que foi eleito pelo estado do Rio de Janeiro, e que vai ficar na história do legislativo e do anedotário tupiniquim.


"Não é Deus"

O juiz João Carlos de Souza foi parado numa blitz da Lei Seca em 2011. Ele dirigia um carro sem placas e estava sem habilitação. Após a agente Luciana informar Souza de que o veículo seria rebocado, ele se identificou como juiz. A agente de trânsito respondeu que “ele era juiz, não Deus”. Na sequência, o magistrado deu voz de prisão, mas a funcionária do Detran não o acatou.

Depois, o juiz processou Luciana por desacato a autoridade. Aí, a primeira instância da Justiça atendeu ao pedido do magistrado e condenou Luciana a pagar R$ 5 mil. Ela apelou à segunda instância. Dia 12/11, a 14ª Câmara Cível do TJ-RJ confirmou a sentença.

Será isso uma imbecilidade coletiva do judiciário?

A OAB vai pedir o afastamento do juiz João Carlos de Souza, por abuso de autoridade. A decisão de ir ao Conselho Nacional de Justiça foi tomada pelos conselheiros da OAB-RJ em sessão de 13/11.

Juiz perde voo e manda prender funcionários da TAM
Após perder o horário de embarque de um voo com destino a São José do Rio Preto (SP), o juiz Marcelo Baldochi, titular da 4ª Vara Cível de Imperatriz, no Maranhão, deu voz de prisão a dois atendentes da TAM. O caso aconteceu em 6 de dezembro último. O magistrado chegou ao aeroporto atrasado, mas insistiu em embarcar. Após ser impedido pelos atendentes da companhia, acionou a Polícia Militar, que levou todos para a delegacia da cidade. Baldochi, no entanto, não apareceu para registrar a ocorrência e eles foram liberados.

Essa não é a primeira polêmica envolvendo o juiz Marcelo Baldochi. Em 2009, ele foi denunciado por manter 25 pessoas em situação de trabalho escravo na Fazenda Pôr do Sol, na cidade de Bom Jardim, interior do estado.

Em bom português: cuidem-se os brasileiros, a qualquer momento podemos nos deparar com um juiz desses pela frente.

Agora, Banco Eletrônico passa nota falsa
Aconteceu comigo. Semanas atrás, retirei de um caixa eletrônico o valor máximo permitido, de R$ 1.000,00 - para deixar em casa, com o objetivo de cobrir despesas corriqueiras do dia a dia, e que invariavelmente não podem ser pagas em cartão de débito, como um taxi, uma gorgeta ao entregador de pizza, ou remunerar a diarista. Nesta semana, com pouco mais de R$ 100,00 em casa, fiz nova retirada de mais R$ 1.000,00 e juntei com a sobra. Não sei dizer se da retirada anterior, ou desta semana, o fato é que uma das notas de R$ 100,00 é falsa. Reclamei do banco. Não dá para provar, evidentemente, que essa nota falsa me foi fornecida pelo caixa eletrônico. Como não recebi nenhum dinheiro em espécie, de ninguém, fora depósitos diretos feitos em minha conta corrente, fica claro, pelo menos para mim, que o dinheiro falso veio do caixa eletrônico.

Minha mulher pagou mico na hora de fechar as despesas na quitanda. A moça do caixa, depois de recusar a nota, ainda deu a entender que minha mulher estava bancando a "esperta", ao tentar repassar (propositalmente) a nota falsa...
A informação que recebi no banco é que o prejuízo é meu, por não ter conferido, pois o Banco Central não troca a nota falsa, apenas recolhe, quando a mesma é identificada como tal.

Fiquemos espertos, pois os imbecis, na verdade, somos nós os cidadãos brasileiros, especialmente os honestos.
Banco passando nota falsa, garanto isso, é só no Brasil. Em Portugal eles vão contar isso como piada de índio brasileiro...
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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O novo sistema de poder

Luciano Martins Costa – Observatório da Imprensa
O Facebook não tem obrigação de revelar como manipula o sistema de notícias e tem se tornado um novo sistema de poder sem controle social.

As empresas de jornalismo estão perdendo o controle do que é notícia. O domínio de empresas de tecnologia na produção e distribuição de conteúdo informativo e opinativo está criando uma nova esfera pública, cujos controladores não estão especialmente preocupados com transparência e ética.

Esse é o tema de publicações recentes sobre a maneira como a mídia tradicional ajuda, por omissão, a consolidar no mundo contemporâneo o poder quase absoluto dos tecnólogos que inundam o planeta com uma enxurrada ininterrupta de aplicativos cujas possibilidades as pessoas desconhecem. Uma das análises mais interessantes é feita por Emily Bell, diretora do Centro Tow de Jornalismo Digital, instituto de pesquisas da Escola de Jornalismo da Universidade Columbia, e foi considerada pelo Fórum Mundial de Editores como o mais importante texto sobre o futuro do jornalismo divulgado neste ano (ver aqui, em inglês, a versão editada para o Instituto Reuters, de Oxford, publicada em 2/12/14). Sua principal qualidade está em marcar o esvaziamento do poder do jornalismo em definir sua própria natureza.

Emily Bell observa que as principais decisões que impactam o espaço público da comunicação estão sendo tomadas por engenheiros que raramente pensam em jornalismo, em impacto social da informação ou na responsabilidade sobre como notícias são geradas e disseminadas. “Jornalismo e liberdade de expressão se agregaram como parte de uma esfera comercial onde as atividades de notícias e jornalismo se tornaram marginais”, alerta a pesquisadora.

Apontada como responsável pelo renascimento do grupo britânico Guardian, do qual foi diretora de conteúdo digital, ela lembra também que nenhuma das principais iniciativas tecnológicas que dominam o serviço de relacionamentos e interações entre pessoas foi criado ou pertence a empresas jornalísticas.

Como as plataformas de mediação social não estão interessadas em contratar jornalistas ou criar estruturas para a tomada de “decisões editoriais”, atividade altamente complexa e custosa – conclui –, o espaço público fica à mercê dos interesses do mercado de tecnologia.

Onde mora o perigo
Emily Bell comenta que o Facebook usa um conjunto de complicadas fórmulas para decidir como as notícias vão para o alto das páginas pessoais dos usuários; esses mecanismos não apenas determinam o que o indivíduo vai ver, mas também definem, pela constância do uso, o modelo de negócio das plataformas sociais. Esses algoritmos são secretos, não são alcançados pelas regulações que asseguram as liberdades básicas inerentes ao direito à livre informação e à privacidade e, pior, podem ser alterados sem aviso prévio.

A diretora do Centro Tow lembra que nenhuma outra plataforma na história do jornalismo criou tal concentração de poder, o que faz do jovem Gregory Marra um dos mais poderosos executivos do mundo. Ele é diretor de produto do sistema de notícias do Facebook e tem apenas 26 anos de idade. Recentemente, Marra repetiu no New York Times o refrão dos tecnólogos segundo o qual a tecnologia é neutra, porque não faz julgamento editorial sobre o conteúdo postado nas redes sociais. Pois é justamente aí que mora o perigo, diz Emily Bell.

Ainda que os engenheiros acreditem que não estão tomando decisões editoriais, é isso que fazem suas fórmulas matemáticas. Por exemplo, ela lembra, em junho deste ano pesquisadores registraram que o Facebook manipulou as fontes de notícias de 700 mil usuários para observar como diferentes tipos de informação poderiam afetar o humor das pessoas. A resposta: boas notícias deixas as pessoas mais felizes. A questão dos pesquisadores: como o Facebook ousa brincar, literalmente, com as emoções das pessoas?

Em 2010, a rede social fez outra experiência, para verificar como a inserção de notícias sobre eleição estimula pessoas a votar no sistema americano de voto facultativo. Um professor de Harvard pondera que o mesmo recurso pode convencer milhões de eleitores, por exemplo, a escolher determinado candidato.

Emily Bell conclui o artigo alertando que o Facebook não tem obrigação de revelar como manipula o sistema de notícias. Ela afirma também que a imprensa tradicional deveria parar de se deslumbrar com as filas para comprar o novo iPhone e olhar mais para a tecnologia como um novo sistema de poder sem controle social.
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Quem vai pagar a sustentabilidade?

Richard Jakubaszko 
A rastreabilidade é um benefício moderno prometido por empresas a seus clientes, mas ninguém quer pagar pelos seus custos.



Fast food com rastreabilidade?
Vivemos em uma época de sobrecarga de informações, com uma avalanche de notícias desabando sobre nós, todos os dias. Sofremos uma luta íntima para decidir quais informações devemos aceitar e seguir, ou julgar quais dessas novas notícias devem ser desconsideradas.
 

São questões contemporâneas inerentes a praticamente todas as profissões e atividades humanas, desde agricultores, engenheiros agrônomos, até mesmo jornalistas, médicos, comerciantes ou veterinários. Se considerarmos a internet em língua portuguesa, o volume de informações equivale a várias enciclopédias, diariamente servidas aos consumidores de notícias, em ritmo implacável, intermitente e perversa. Sabemos que é impossível acompanhar tudo, quanto mais avaliar a credibilidade do que se lê.

Assim, obter informações ou opiniões confiáveis é um desafio, pois estamos todos à procura de inovações para melhorar a eficiência de nosso trabalho. Engano do leitor se imaginar que não é impactado pelas notícias da mídia. Essas informações vão chegar a quase todos através de conversas na fila do banco, no balcão da cooperativa, em reuniões caseiras, ou pelas visitas na fazenda. Tenhamos a certeza, entretanto, que vão chegar distorcidas, pois quem conta um ponto esquece um tanto e aumenta outro tanto.

Parece ser esse o caso da sustentabilidade. Saibamos que as distorções podem ser planejadas maquiavelicamente para vender algo aos crédulos, e bater a carteira dos distraídos. A questão começa por “vender um conceito”, e, à medida que essa ideia vai sendo “vendida”, convencendo as pessoas de sua credibilidade e verossimilhança, mais gente e interesses são agregados, reforçando o conceito original e facilitando a vida dos convivas.

Em novembro último aconteceu o 11º Congresso de Marketing Rural, em São Paulo, onde diversos palestrantes convidados pela ABMR&A – Associação Brasileira de Marketing Rural e Agribusiness proferiram palestras e deram seus recados corporativos, especialmente no que diz respeito a marketing, aos desejos dos consumidores, e à tal da sustentabilidade. O conceito do evento foi “Agronegócio brasileiro: do campo à mesa. Pensando o futuro hoje”.

Daniel Boer, brasileiro, que é diretor de Proteínas América Latina no McDonald's, nos EUA, foi um dos palestrantes, com o tema “O Agronegócio preparado para atender um consumidor mais exigente”. Boer mostrou a grandeza dos números do McDonald’s no mundo, com presença de mais de 700 lojas em 35 países. Depois, revelou que os consumidores andam exigentes, a ponto de colocar empresas em situações difíceis se estas não atenderem suas idiossincrasias, e destacou que, na questão de carnes, os consumidores dos hambúrgueres de suas lojas não aceitam carnes de aves ou bois que tenham consumido antibióticos e hormônios, ou que tenham recebido maus tratos. Solução: para satisfazer seus clientes o McDonald’s vai exigir rastreabilidade de seus fornecedores de carnes e vegetais. E não irá pagar nada a mais aos fornecedores, que terão de arcar com os custos que a rastreabilidade acarreta.

A questão, dita pelo diretor do McDonalds, lembra o início do plantio da soja transgênica no Brasil, quando importadores europeus exigiam soja convencional, mas não se dispunham a pagar um prêmio aos fornecedores, mesmo cientes de que a soja convencional apresentava custo de produção mais elevado, quando comparado à soja GM. Com o plantio avassalador da soja GM, os importadores europeus caíram na realidade, e hoje em dia já oferecem um prêmio pela soja convencional.

Qualquer empresa pode fazer o marketing que desejar e pode prometer aos seus clientes tudo o que considerar possível. Entretanto, os benefícios prometidos, se representarem custos aos fornecedores, por questão de bom senso, devem ser assumidos por quem promete, e não por quem nada tem a ver com a pendenga. O que o McDonalds faz é dar presentes aos seus clientes, com chapéu alheio.

O tal do marketing da sustentabilidade chegou ao fast food e quem vai pagar a conta será o produtor rural? Boa essa, conta outra.

Publicado na revista Agro DBO 62, de Dez/14-Jan/15. Permitida a reprodução desde que citada a fonte.

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domingo, 7 de dezembro de 2014

O novo capitalismo que se inicia

Daniel Strutenskey Macedo

Atualmente, as pessoas ligam a palavra capital ao dinheiro. Ter capital é ter dinheiro. Quando se trata de religião, temos pecados capitais, aqueles graves, para os quais não há atenuantes. Capita é cabeça, este parece ser o significado mais antigo da palavra e o entendimento é o de que é a cabeça que manda, o corpo obedece. A capital de um país ou de um estado é a sede do seu governo, a cabeça do território todo, de onde emanam as ordens, o comando sobre o corpo da nação. Capitalismo tem, portanto, a ver com cabeça, comando. Quem não tem cabeça é subordinado, comandado pelos instintos, e quem é comandado não decide, tem liberdade limitada. Cabeça tem a ver com liberdade.

O poder tribal se assenta sobre dois pilares: o poder familiar, que é representado pelo número e pela força de seus membros e que o torna capaz de opor aos interesses de outras famílias e vencê-las, e o poder de liderança e associação com famílias menores, o que amplia sua capacidade de luta e defesa de seus interesses.

O poder da aristocracia, o poder real, foi possível graças à união de chefes tribais e o estabelecimento de uma hierarquia de comando e de privilégios. A associação dos chefes tribais propiciou uma ajuda externa, fora da família, para afastar as pretensões de outros parentes no comando tribal. O rei, como chefe supremo de todas as tribos, forma um exército próprio e autônomo e se torna a cabeça suprema que governa todas as tribos. A consequência é o enfraquecimento do poder das famílias e o aumento do poder do rei, o acumulo de bens na capital do reinado. Os reis acumulam tantos bens que podem contratar exércitos mercenários estrangeiros para atacar tribos descontentes e manter a ordem estabelecida. A fartura de bens concentrados pelos reis possibilita negócios externos, bens de outras regiões, outros reinos. O passo seguinte é a aproximação de reinos e a formação de famílias aristocratas que defendem privilégios associados. Aos agricultores, industriais, comerciantes, artesãos e artistas restará uma única opção: pagar impostos, aceitar o governo e a proteção dos aristocratas.

As cidades crescem, a densidade populacional aumenta muito, o controle das polícias do rei se torna difícil. O comércio se intensifica, riquezas escapam através das fronteiras. Para manter o controle, os reis se associam aos homens que controlam grandes negócios, os quais exigem privilégios. Nasce o parlamento. Agora, o rei governa com leis submetidas à aprovação de uma assembleia composta por aristocratas e detentores de grandes negócios, os barões. O que os barões têm? Recursos: terras, instalações, mão de obra, metais preciosos. Em suma, os barões passam a decidir, discutem formas de poder, votam leis e, mais numerosos que os aristocratas, inventam outra forma de poder e governo: manda quem acumula mais capital. É o capitalismo. As cabeças da nação não são apenas escolhidas entre os familiares reais, mas entre os que detêm poder de fato: recursos. O capitalismo inventa a república.

Os barões capitalistas se associam entre si, aos governos, dentro dos países e fora. Multiplicam-se as corporações multinacionais. Agora, é preciso formar parlamentos mundiais que ordenem os negócios, as relações internacionais, as moedas e o câmbio. A população continua crescendo e forma-se o mercado de consumo de massa. A grande empresa que não crescer e atender a demanda do mercado perderá escala e preço e precisará ser vendida, incorporada por outra (Pão de Açúcar, Bom Bril, Cica Unibanco etc., já eram). O crescimento exige a captação de investimentos externos: poupadores individuais, fundos de pensão, fundos comerciais. Criam-se novas castas de agentes de mercado: os investidores. O processo inclui leis, controles, burocracias e tecnologias e outras altas castas de poder: a dos técnicos, executivos, gestores, administradores, controladores, juízes, soldados, policiais. São tantos poderes interdependentes, que ninguém, nenhum grupo manda sem o respaldo de muitas castas. O capitalista já não decide como antes, depende de conjunções de fatores, sobre os quais há pouca e às vezes nenhuma influência. A dificuldade de gestão e controle pode levar a medidas extremas e provocar guerras, como aconteceu no Iraque e na Síria. Só que as guerras de agora não conquistam territórios, mas destroem o mercado de massa e junto com ele as empresas. O capital já não tem nada a ganhar com a guerra, só perde. A massa, desiludida, toma o poder de modo tribal, com extrema violência. Há um retrocesso civilizatório (Síria e Iraque).

As guerras foram soluções para um mundo ainda rural. Hoje, o capital depende do mercado de massa, precisa servi-lo e dele usufruir. Os consumidores reclamarão mais renda e mais direitos, mais e mais. Os desejos não conhecem limites. Entramos numa nova fase da civilização. O capitalismo somente será possível se voltado para atender os desejos da massa, compartilhado, decidido através de conselhos e consultas à população. As grandes empresas não conseguirão ser controladas por famílias, mas por fundos. Os fundos, os conselhos dos grandes fundos, serão as cabeças da nova ordem. O poder pessoal, da família, ficará restrito aos pequenos negócios e terão que rezar pela cartilha das grandes corporações.

Qual o nome que daremos a este novo capitalismo? Capitalismo dos Conselhos?
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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A Biblioteca Digital Mundial

Richard Jakubaszko

A Biblioteca Digital Mundial (BDM) é um presente da Unesco para a humanidade! Está disponível na Internet, através do link www.wdl.org
(O link leva para uma página da BDM em português).

É uma informação que vale a pena divulgar! E usar!

A BDM reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos e explica em sete idiomas as joias e relíquias culturais de todas as bibliotecas do planeta. “Tem, sobretudo, caráter patrimonial", antecipou ao jornal La Nación, Abdelaziz Abid, coordenador do projeto impulsionado pela Unesco e outras 32 instituições.

A BDM não oferecerá documentos correntes, a não ser "com valor de patrimônio, que permitirão apreciar e conhecer melhor as culturas do mundo em idiomas diferentes: árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português. Mas há documentos em linha em mais de 50 idiomas".

“Entre os documentos mais antigos há alguns códices pré-colombianos, graças à contribuição do México, e os primeiros mapas da América, desenhados por Diego Gutiérrez para o rei de Espanha em 1562", explicou Abid.

Os tesouros incluem o Hyakumanto darani, um documento em japonês publicado no ano 764, considerado o primeiro texto impresso da história; um relato dos astecas que constitui a primeira menção do Menino Jesus no Novo Mundo; trabalhos de cientistas árabes desvendando os mistérios da álgebra; ossos utilizados como oráculos e esteiras chinesas; a Bíblia de Gutenberg; antigas fotos latino-americanas da Biblioteca Nacional do Brasil e a célebre Bíblia do Diabo, do século XIII, da Biblioteca Nacional da Suécia.

Fácil de navegar: cada joia da cultura universal aparece acompanhada de uma breve explicação do seu conteúdo e seu significado.

Os documentos foram passados por scanners e incorporados no seu idioma original, mas as explicações aparecem em sete línguas, entre elas o português.

A biblioteca começa com 1.200 documentos, mas foi pensada para receber um número ilimitado de textos, gravados, mapas, fotografias e ilustrações.

O acesso é gratuito e os usuários podem ingressar diretamente pela Web, sem necessidade de se registrar. Permite ao internauta orientar a sua busca por épocas, zonas geográficas, tipo de documento e instituição.

Com um simples clique, podem-se passar as páginas de um livro, aproximar ou afastar os textos e movê-los em todos os sentidos.

A excelente definição das imagens permite uma leitura cômoda e minuciosa.

Entre as joias que contém no momento a BDM está a Declaração de Independência dos Estados Unidos, assim como as constituições de inúmeros países; um texto japonês do século XVI, considerado a primeira impressão da história; o jornal de um estudioso veneziano que acompanhou Fernão de Magalhães na sua viagem ao redor do mundo; o original das "Fábulas" de La Fontaine; o primeiro livro publicado nas Filipinas em espanhol e tagalog; a Bíblia de Gutemberg; e pinturas rupestres africanas que datam de 8.000 a.C.

Duas regiões do mundo estão particularmente bem representadas: América Latina e Oriente Médio. Isso se deve à ativa participação da Biblioteca Nacional do Brasil, à biblioteca de Alexandria no Egito e à Universidade Rei Abdulah da Arábia Saudita.

Desse modo, é possível, por exemplo, estudar em detalhe o Evangelho de São Mateus traduzido em aleutiano pelo missionário russo Ioann Veniamiov, em 1840.

A estrutura da BDM foi decalcada no projeto de digitalização da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que começou em 1991 e atualmente contém 11 milhões de documentos em linha.

Os seus responsáveis afirmam que a BDM está, sobretudo, destinada a investigadores, professores e alunos.

A importância desse site vai muito além da incitação ao estudo das novas gerações, jovens que vivem num mundo audiovisual superficial, que pouco usufruem do aprendizado da história e da cultura da humanidade.

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Dilma lamenta morte de Chaves

Richard Jakubaszko 
Faz sucesso na internet um vídeo com montagens a partir de pronunciamentos diversos da presidente Dilma Roussef, com humor e respeito ao grande humorista mexicano Roberto Bolaños (que foi o criador da personagem Chaves), que morreu dias atrás. A presidente discursa, lamenta, dança, só faltou cantar...

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Porque votei em Dilma Rousseff


Rogério Cezar de Cerqueira Leite *
Votar em Aécio seria optar pela prevalência do princípio da desigualdade, da contenção da ascensão social e pela manutenção do "status quo". Sociedades, tanto as primitivas como as modernas, adotam um de dois possíveis princípios organizacionais, paradoxalmente antagônicos: ou o preceito da igualdade ou o da desigualdade.

Nas sociedades modernas e em algumas ditas primitivas, o princípio da igualdade prevalece, se não na prática, pelo menos como utopia. Exceção clamorosa é a Índia, onde castas estabelecem desigualdades intransponíveis.

Os dois princípios organizacionais buscam reduzir conflitos entre membros individuais ou grupos no seio da própria sociedade. E ambos podem ser eficientes, embora divirjam decisivamente quanto à compatibilidade com um valor também essencial, tal seja, a justiça social.

Enquanto o princípio da desigualdade privilegia a busca da eficiência e da meritocracia, o seu antagônico, o da igualdade, rejeita esses objetivos. Apesar disso, esses dois princípios fundamentalmente irreconciliáveis convivem na sociedade moderna, encontrando em diferentes países ou regiões diferentes pontos de equilíbrio.

A chamada igualdade de oportunidades é um exemplo desse compromisso. A busca de um contrato social aceitável é frequentemente não mais que a construção de uma conciliação entre esses dois princípios, embora Jean-Jacques Rousseau não tenha percebido isso.

Escolher PSDB-Aécio Neves para a Presidência da República seria, consciente ou inconscientemente, uma opção pela prevalência do princípio da desigualdade, pela manutenção da imensa disparidade de renda, pela contenção da ascensão social, enfim, pela manutenção do "status quo". É a história de Aécio Neves, a sua ascendência, a sua cultura e a daqueles que o circundam, a do PSDB. Ninguém foge à própria natureza.

Não há comentarista ou estudioso da sociedade brasileira, seja de esquerda ou de direita, que não reconheça que o grande mal social brasileiro é a disparidade de renda (uma Bélgica inserida em uma Índia, dizem).

Votei no projeto PT-Dilma Rousseff porque reconheço, como todo cidadão pensante, que essa era a opção capaz de melhor equilibrar os dois princípios antagônicos, reservando espaço adequado para a justiça social.

O contraste entre as administrações PSDB nacional (Fernando Henrique Cardoso) e de Minas Gerais (Aécio Neves, Antonio Anastasia) e a nacional do PT (Lula-Dilma) é revelador, tanto com relação ao esforço para dirimir diferenças de renda como à criação de oportunidades de ascensão social.

Enquanto nos governos do PSDB não houve qualquer esforço para reduzir a disparidade de renda nem o nível de pobreza, durante a administração do PT não somente houve um aumento do salário mínimo de 80% em seu valor real como também foram criados e expandidos inúmeros programas sociais.

O que melhor revela a importância dada pelos governos Lula-Dilma à justiça social, todavia, foi a absoluta prioridade dada à oportunidade de ascensão social que só é legitimamente conquistada por meio da educação e, principalmente, do ensino superior. Pois foi quadruplicado o número de alunos nesse nível durante estes últimos 12 anos.

Portanto, votei em Dilma porque é degradante a condição nacional de país com uma das mais injustas disparidades de renda de toda a Terra. Porque ela, Dilma, e somente ela, me traz a esperança de ser cidadão de um país civilizado.

* ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, 83, físico, é professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da Folha.


Publicado na Folha de SP:  http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/197429-por-que-votei-em-dilma-rousseff.shtml
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