segunda-feira, 18 de maio de 2015

O pulo do gato da soja

Richard Jakubaszko
Circulando a Agro DBO de maio, recheada de novidades.
No editorial, escrevi:

O Brasil caminha aos trancos e barrancos.
Parece estar sob “nova direção”, desde que se iniciou o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, eis que o principal partido da base governamental assumiu de fato o poder, diante de uma presidente reeleita por mínima maioria, mas, agora, fragilizado por denúncias nas manchetes, capítulos intermináveis de uma novela repetitiva a que já assistimos em outros momentos históricos da nação, parece capitular ante a coalizão.

Neste clima, o Congresso Federal vota leis e propostas, temas polêmicos são aprovados apressadamente, à revelia de um necessário debate aprofundado.
Exemplos disso são a PEC 215, que transfere do executivo para o legislativo a gestão e responsabilidade pela demarcação de terras indígenas e de quilombolas.

Da mesma forma a lei que terceiriza a contratação de trabalhadores, urbanos ou rurais, sem trazer soluções legais para as diferenças nas formas de trabalho de um e de outro. Ou ainda a votação da chamada Lei dos Caminhoneiros, e pior, o emplacamento de tratores e máquinas agrícolas. A sucessão de vazios legais trará, inevitavelmente, maior insegurança jurídica ao agro.

O governo promete, para 19 deste mês, um Plano Safra com validade para 4 ou 5 anos, a juros compatíveis, e com dinheiro suficiente de crédito agrícola. A conferir, pois.

Agro DBO traz na reportagem de capa, da jornalista Marianna Peres, “A soja abre caminho”, duas questões fundamentais para o agro. De um lado, a discussão técnica mostra o alto nível dos sojicultores do Brasil Central, que exigem melhor padrão técnico das cultivares de soja, eis que os preços deste insumo, incluídos os royalties da biotecnologia, alcançam níveis elevados em descompasso com a qualidade insatisfatória nos índices de germinação. De outro lado, o movimento associativo desses sojicultores, através da Aprosoja, indica que a evolução das espécies, enunciada por Darwin no século XIX, continua a ocorrer ad eternum, pois há um notável crescimento político no debate em questão, e demonstra que há muito espaço para os produtores rurais brasileiros evoluírem e se profissionalizarem, como já fizeram americanos e europeus; assim, é lícito projetar para o agro brasileiro uma competitividade imbatível diante dos concorrentes do hemisfério norte, caso esse espírito associativo prevaleça. Desde a primeira edição da Agro DBO, 12 anos atrás, o associativismo no agro tem sido nossa bandeira para impulsionar os agricultores brasileiros para a modernidade, e o debate técnico e político sobre a qualidade das sementes é exemplo disso.

Que venham outras campanhas!

Agro DBO traz outros temas importantes, como o café de Minas Gerais e sua evolução tecnológica e qualitativa, em reportagem do jornalista Rogério F. Furtado, ou o amadurecimento do uso das terras do Pantanal, em matéria do jornalista Ariosto Mesquita, e a entrevista com o engenheiro agrônomo Orlando Carlos Martins, então presidente do CESB, que profetiza para o Brasil médias de 100 sc/ha de soja para dentro em breve.

Para manifestar sua opinião, envie e-mail para redacao@agrodbo.com.br


Abaixo vídeo no Portal DBO onde José Augusto Bezerra, o Tostão, faz comentários sobre os destaques da edição de maio da Agro DBO:
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domingo, 17 de maio de 2015

Parceria estratégica com a China


Marcos Sawaya Jank (*)
A China já é o primeiro parceiro comercial do Brasil, com um comércio total que supera US$ 78 bilhões, ligeiramente superavitário em nosso favor (US$ 3,3 bilhões). O país asiático já responde por quase um quinto das exportações brasileiras.

Do lado brasileiro, o fantástico crescimento de 27% ao ano nas nossas exportações desde 2000 baseou-se essencialmente em duas commodities –soja e minério de ferro–, que representam, juntas, 72% da pauta.

Ocorre que o setor mineral foi afetado negativamente pelo menor crescimento da China e pela mudança no modelo de desenvolvimento, antes pautado por grandes investimentos em infraestrutura.

Já o setor de produtos agropecuários tem sido beneficiado pela nova política de estimulo ao consumo interno e bem-estar das famílias. O problema é que, com exceção da soja e do algodão, produtos em que a China assumiu a necessidade de importar, nos demais segmentos do agronegócio o país adota uma política de estímulo à autossuficiência que se traduz em elevadas barreiras ao comércio. No caso das carnes, por exemplo, o sistema de habilitação de plantas industriais para exportar para a China é lento e opaco.

O sucesso do modelo pautado pelo comércio de commodities é evidente, mas tem limites claros à frente. São poucos produtos de baixo valor adicionado, alta volatilidade, margens apertadas e transporte ineficiente. Certamente há formas mais inteligentes para organizar as cadeias produtivas entre a oferta de Mato Grosso e a demanda na China, seja nos aspectos relacionados a custos e valor adicionado, seja para diversificar suprimentos e reduzir riscos (climáticos e sanitários, por exemplo), seja para obter um melhor balanço de água, energia e carbono.

O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, chega ao Brasil na segunda-feira (18) para reuniões da maior importância, menos de um ano após a visita do líder Xi Jinping. Além dos assuntos usuais de comércio, no agronegócio temos neste momento a oportunidade de posicionar as relações bilaterais em um novo patamar, realmente estratégico.

De um lado, a China fatalmente terá de diversificar a origem de seus alimentos e busca freneticamente alternativas para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos que chegam ao consumidor. No fim de abril, foi aprovada uma nova e rígida Lei de Segurança do Alimento. Do outro, o Brasil precisa desesperadamente de investimentos em infraestrutura e pode agregar disponibilidade, diversidade, qualidade e segurança aos alimentos que chegam ao consumidor chinês.

O pano de fundo são a nova rota de seda (repaginada na iniciativa denominada "One Belt, One Road"), o novo Banco de Investimento e Infraestrutura, a possibilidade de parcerias estruturadas entre os grandes players brasileiros e chineses e a importância que os dois países têm dado à ideia dos Brics, que precisa deixar de ser retórica.

A China sabe olhar os seus interesses seculares como ninguém, de forma obcecada. Nossas sinergias e complementariedades são imensas. É hora de aproveitar o momento e estruturar uma parceria estratégica inteligente e de longo prazo entre os dois países.

* o autor é especialista em questões globais do agronegócio.

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sábado, 16 de maio de 2015

River Plate passa para quartas de final da Libertadores

Richard Jakubaszko
A Conmebol anunciou agora no início da noite, em Assunción (Paraguai) a decisão de penalizar o Boca Juniors com a perda do jogo interrompido quando o placar estava em 0 x 0 diante do River Plate, sem no entanto impor penas maiores ao clube, além de uma multa de US$ 200 mil. Desta forma o River Plate passa para as quartas de final da Copa Bridgstone Libertadores de América de 2015 e vai enfrentar o Cruzeiro na próxima semana, com jogo de ida em Buenos Aires.

Um dos jogadores do River Plate foi internado hoje com diagnóstico de encefalite (inflação no cérebro) em decorrência dos gases aspirados. Segundo o jornal El Clarin, de Buenos Aires, o produto utilizado não foi o gás de pimenta, mas outro, um ácido que também provoca queimaduras.
Foi este o comunicado distribuído á imprensa:
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Tesla lança bateria que mudará estrutura energética do mundo

Richard Jakubaszko

Pioneira dos carros elétricos, a Tesla revelou uma bateria para casas que o fundador da empresa, o norte-americano Elon Musk, garantiu que vai ajudar a mudar a "infraestrutura energética de todo o mundo".

Na foto o norte-americano Elon Musk, CEO da Tesla, apresenta a bateria para casas Tesla Powerwall.

A bateria Tesla Powerwall pode armazenar energia a partir de painéis solares, da rede elétrica à noite - quando é mais econômica - e proporciona um backup seguro em caso de uma queda de energia.

Na teoria, o dispositivo, que se encaixaria na parede da garagem de uma casa, pode tornar as casas completamente independentes da energia elétrica tradicional, usando apenas energia solar.

"O objetivo é completar a transformação da infraestrutura de energia do mundo inteiro para conseguirmos o 'carbono zero' sustentável", disse Musk a repórteres, antes de revelar na quinta-feira o Powerwall em um armazém nos arredores de Los Angeles.

Exemplos do dispositivo "sleak", disponível em várias cores, foram alinhados em um lado do corredor. "Parece uma bela escultura na parede", apontou Musk.

Toda a energia da apresentação - ansiosamente aguardada por centenas de meios de comunicação e representantes do mundo tecnológico - veio da nova bateria, conectada a painéis solares no telhado, disse o fundador da Tesla.

O dispositivo, que vai custar 3.500 dólares, estará inicialmente à venda nos Estados Unidos ainda este ano, mas o objetivo é que ele chegue a mercados internacionais em 2016.

A Alemanha é vista como um mercado-chave para o produto, que tem 15,24 centímetros de espessura, 1,22 metros de altura e 91 cm de largura, já que o país europeu está entre os maiores receptores de energia solar do mundo, destacou Musk.

"Boom" para países pobres
Também poderia ser um grande "boom" para as regiões menos desenvolvidas, onde o fornecimento de eletricidade não é confiável, apesar da energia solar abundante.

Musk comparou o potencial desta situação com a maneira que a tecnologia celular tem se expandido.
"É semelhante à forma como o celular saltou em relação aos telefones fixos", afirmou ele. "Isso vai ser realmente grande para as comunidades mais pobres do mundo".
"Isso permite que a rede seja completamente desconectada", acrescentou.

Musk ressaltou que tirar as economias avançadas, como os Estados Unidos, da dependência dos combustíveis fósseis não sustentáveis ​​é um objetivo-chave. "Eu acho que, coletivamente, devemos fazer algo sobre isso (...), já que temos este fantástico reator de fusão no céu, chamado Sol".

O Powerwall vem em ciclos semanais de 10 quilowatts-hora (kWh) e em modelos de ciclos diários de 7 kWh, ambos garantidos por 10 anos e suficientes para abastecer a maioria das casas durante o horário de pico de consumo de energia no período da tarde.

Musk evitou responder à pergunta de se a Tesla Energy vai se tornar um negócio maior que a Tesla Motors, pelo qual ele é mais conhecido.

No ano passado, a Tesla anunciou a construção no estado norte-americano de Nevada da maior usina com bateria de lítio-íon no mundo, uma "megafábrica" de 5 bilhões de dólares em parceria com a gigante japonesa Panasonic.

A Tesla iniciará as operações, enquanto seu parceiro japonês fará baterias projetadas para a fábrica e investirá em equipamentos e máquinas, de acordo com uma declaração conjunta quando a "megafábrica" foi anunciada.

Embora a Tesla ainda produza relativamente poucos veículos elétricos, tornou-se a estrela do mercado pela alta demanda e sua reputação de alta qualidade.

Publicado no Yahoo: https://br.noticias.yahoo.com/tesla-apresenta-bateria-mudar%C3%A1-estrutura-energ%C3%A9tica-mundo-185536016--finance.html


COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO:
Tenho minhas dúvidas sobre o equipamento da Tesla. Os problemas clássicos da energia solar estão nas baterias que não conseguem acumular energia elétrica para fornecimento durante o período noturno. Se os acumuladores conseguem se recarregar à noite, através da energia elétrica das redes, o problema não foi solucionado, pois a fonte primária de energia elétrica deverá ser fóssil (carvão, ou diesel, ou nuclear, pois nos EUA e Europa eles não possuem rios que permitam hiroelétricas). E à noite precisa-se de energia elétrica nas residências e nas empresas que continuam funcionando à noite (hotéis, redes de TV, internet, restaurantes, cinemas, iluminação das ruas). Haveria portanto, apenas uma transferência de horário de consumo.
No caso, o sistema da Tesla, assim me parece pela leitura do texto, seria apenas um consumidor a mais a consumir energia elétrica no período noturno, já que durante o dia o consumo de energia elétrica nas residências é muito menor.
A energia solar somente vai decolar quando garantir, durante o dia, energia elétrica proveniente do sol, e também à noite, quando não há sol. O resto é enganação ou simples paliativo, que não soluciona nada.
Todo o resto é propaganda enganosa.
O que eu não quero, mesmo, é um reator nuclear a menos de 2.000 km de onde vivo e trabalho.
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sexta-feira, 15 de maio de 2015

Giancarlo Civita deveria fazer o caminho inverso do avô e ir embora para os EUA

Paulo Nogueira *
Seu avô ganhou tanto dinheiro no país para o qual emigrou que você mesmo nunca precisou trabalhar a sério.
Que relação você teria com este país?
De gratidão, com certeza.
Mas não é este o caso de Giancarlo Civita, dono da Editora Abril, que publica a infame Veja.

Gianca, pela Veja e seus colunistas digitais e impressos, publica diariamente insultos ao Brasil.
Somos a Banânia, diz um deles, triunfal. Outro se gaba de ter mudado para Miami. Este é tom geral: cusparadas no Brasil.
E mais uma vez recordo o avô de Gianca, Victor Civita, fundador da Abril.
Victor tinha uma frase que gostava de repetir: “É mais fácil fazer diferença no Hemisfério Sul que no Hemisfério Norte.”

Ele pensava nele próprio.
Era um italoamericano que, nos Estados Unidos, trabalhara como mecânico e vendedor.
Teria chances zero, ou abaixo de zero, de fazer qualquer coisa de sucesso na área editorial ali, nos Estados Unidos. Não tinha talento para isso, e sua educação era escassa.
E então veio para o Brasil nos anos 1950. Aqui, as coisas são mais fáceis. Montou um império, e não apenas editorial.
No apogeu, fora as revistas, a Abril tinha uma rede de hotéis, editora de livros, frigoríficos.

Ainda em vida, VC, como era chamado, dividiu o patrimônio entre os filhos Roberto e Richard. Temia que os dois destruíssem a Abril numa eventual briga pela herança.
Roberto ficou com as revistas, e Richard com as outras coisas. Richard, atrapalhado, confuso, logo transformaria em nada a bandeja de pratas que recebeu.

Roberto demorou um pouco mais para fazer o mesmo que Richard. Editorialmente, Roberto começou a matar a Veja quando Lula ganhou a eleição.
Uma revista respeitada e guiada por conceitos universais de bom jornalismo bruscamente se transformou num panfleto ignominioso de direita tosca.
A credibilidade foi destruída, e os leitores mais qualificados intelectualmente abandonaram a revista.

A Veja já estava de joelhos quando a internet transformou revista em objeto em extinção.
Roberto jamais esqueceu a frase do pai.
Numa palestra para formandos em administração na USP, em meados da década de 2 000, ele repetiu-a.
“É mais fácil fazer diferença no Hemisfério Sul que no Hemisfério Norte, como meu pai gostava de dizer.”
(Eu estava presente naquele dia.)
Tudo isso posto, como explicar o ódio do Brasil que emana da principal revista de Giancarlo Civita?

Não fosse o Brasil, ele talvez estivesse agora batalhando como vendedor ou mecânico nos Estados Unidos, como o avô antes de se mudar para São Paulo.
Pioramos nós, ou foram os Civitas que pioraram?
Pensei nisso ao ler um texto que repercutiu ontem no DCM. Um jovem blogueiro britânico, depois de seis meses de Brasil, disse não entender a rejeição dos brasileiros pelo próprio país, “de invejável reputação no exterior”.
Dá para ver em seu relato que o blogueiro circulou no país em ambientes fortemente influenciados pela Veja.

Não é o todo, naturalmente, mas uma parte que, sob a inspiração da Veja, despreza o Brasil e idolatra os Estados Unidos.
Depois de ler o blogueiro, me perguntei: por que, então, Giancarlo Civita não faz o caminho inverso do seu avô e volta para os Estados Unidos?
Graças ao Brasil e aos brasileiros, ele e a família poderiam levar uma vida mansa e luxuosa em Miami.

Sem os Civitas, a Veja – no resto de tempo que a internet lhe permitir — talvez pare de cuspir no Brasil e de jogar para o abismo a autoestima dos brasileiros que a leem.
Os Civitas fazem mal ao Brasil hoje. Uma vez que gratidão não têm mesmo, que, pelo menos, poupem o país de sua pregação tão nociva, tão injusta e tão desonesta.

* o autor é jornalista

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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Bye, bye, corintianos e sãopaulinos...

Richard Jakubaszko
Até qualquer Libertadores no futuro longínquo, quem sabe a gente se vê...
O Internacional vai em frente, só faltam 6 jogos para avermelhar as Américas, mais uma vez...

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quarta-feira, 13 de maio de 2015

Água para comer

João Rebequi *
Segundo a FAO-ONU, o mundo tem um grande desafio pela frente. Produzir alimentos para 9 bilhões de pessoas até 2050 e, ao mesmo tempo, ser sustentável. Unidos, podemos conquistar esse objetivo: alimentar e preservar o planeta. Mas isso só será possível quando considerarmos a utilização da irrigação na agricultura e entendermos o seu papel.

Neste ano, diante da gravidade da crise hídrica que vive o país, a população urbana, por falta de conhecimento, acabou condenando a irrigação agrícola como uma grande vilã. Entretanto, é fundamental que a sociedade saiba que, sem áreas irrigadas, não há como fazer crescer a produção, principalmente sem aumentar as áreas de cultivo. Só podemos fazer mais com o mesmo (ou menos) usando irrigação.

Além disso, o desenvolvimento técnico dos equipamentos nos últimos anos comprova ser possível utilizar água na agricultura com racionalidade e sem desperdício. Em diversos debates no Brasil e no mundo sobre o gerenciamento dos recursos hídricos, foi demonstrado que a irrigação é um instrumento efetivo para auxiliar a produção de alimentos que a futura e crescente população mundial demandará. O que podemos discutir, a partir daí, é a eficiência de aplicação hídrica para cada cultura. Imaginar o mundo sem irrigação seria aceitarmos a falta de alimento, pessoas passando fome e aumento nos preços.
 

O que a população urbana precisa entender é que água na irrigação não é consumida, é utilizada dentro do melhor ciclo hidrológico possível e que os equipamentos de irrigação, são como a torneira dentro de casa, bem utilizados, não desperdiçam sequer uma gota de água e, o mais importante, é que a grande maioria dos irrigantes brasileiros tem essa consciência e usam seus equipamentos de maneira adequada e sustentável, ou seja, aplicam somente a quantidade de água que a planta precisa e, em alguns casos, até menos trabalhando no limite do estresse hídrico de cada cultura. Voltando a comparação com a água consumida em casa, a agricultura usa bem suas “torneiras”, e a água utilizada, além de produzir alimentos, volta ao ciclo hidrológico devidamente filtrada, sem a necessidade de tratamento.

Um diferencial é a utilização das boas práticas de manejo agrícola. Com elas, é possível racionalizar a água utilizada nas fazendas. Essa racionalização depende das culturas nas quais serão utilizadas com irrigação, e passa, também, pelos métodos utilizados para tal. É importante usufruir da infraestrutura e tecnologias já disponíveis no mercado, para utilizar somente a quantidade de água que a cultura necessita ou até menos.

A irrigação por pivôs, por exemplo, é uma alternativa econômica e rentável, além de eficiente, que aplica a água de maneira uniforme, evitando o desperdício. A água é aplicada na hora certa e na exata quantidade que a planta necessita. Tanto o pivô central quanto outros métodos de irrigação têm excelentes níveis de eficiência de aplicação, alcançando índices que variam entre 95% a 98%.

O foco profissional do setor, desta forma, deve recair sobre um triângulo agronômico de eficiência na produção (fazer mais com menos), atender à planta em sua necessidade hídrica e escolher o método adequado de irrigação. Entendendo esse processo, é incorreto atribuir culpas ao agronegócio e à irrigação na questão da crise hídrica nacional.

* João Rebequi é presidente da Valmont e vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos)
 

Comentário do blogueiro: em fevereiro último publiquei aqui no blog artigo sobre a água, sob o título “A água e as imbecilidades. Leia aqui: http://richardjakubaszko.blogspot.com.br/2015/02/a-agua-e-as-imbecilidades.html
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terça-feira, 12 de maio de 2015

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.



Marina Colasanti *
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez irá pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


* a autora é jornalista e escritora.
O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pg 9.
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