domingo, 14 de junho de 2015

Obedeçam o livrinho, senhores

Delfim Netto


O maior problema de parte da sociedade brasileira é a sua indisposição de aceitar as restrições impostas pelo mundo físico no qual ela tem que viver, simplesmente porque não há outra alternativa. Não se impõe uma "ortodoxia" ou uma particular "visão do mundo" quando se afirma, por exemplo, que seja qual for a sociedade, "capitalista" ou "socialista real", é impossível violar as identidades da contabilidade nacional. A história é testemunha que, nas duas, a tentativa de fazê­-lo leva, no fim do dia, a uma situação trágica que combina:

1) a redução do crescimento econômico. Na organização "capitalista", leva a rápida queda do emprego e do salário real. Na "socialista real", a um empobrecimento geral talvez maior, mas mais equanimemente distribuído;

2) o aumento, na "capitalista", da dificuldade para prosseguir na necessária política de igualdade de oportunidade num "ambiente" de relativa liberdade de iniciativa. Na "socialista real", por definição (mas não na realidade), já são todos iguais, mas com liberdade controlada;

3) a aceleração da inflação no "capitalismo" e aumento da inflação "escondida" pelo racionamento no "socialismo real", destruindo ainda mais a liberdade de escolha do consumidor; e

4) no "capitalismo", produz déficits no balanço em conta corrente, o que leva ao aumento da taxa de câmbio real para corrigi­-lo e acentua a dificuldade crescente de controlar a inflação. No "socialismo real", leva ao aumento dos problemas de abastecimento da demanda, e o controle do câmbio prejudica a exportação. Levado ao limite, o processo termina quando não há mais financiamento externo. Tudo isso bem temperado ­ nos dois regimes ­ com um bom desequilíbrio fiscal. Como as consequências sempre chegam depois, mais cedo (no "capitalismo"), ou mais tarde (no "socialismo real"), uma correção terá de ser imposta.

A situação é mais complicada quando, tomado de perplexidade, o Poder Executivo perde a capacidade de determinar sua agenda, como agora no Brasil. Fica à mercê de um "parlamentarismo de coalização", que nem "governa" nem "coaliza" e que, por isso mesmo, estimula o Legislativo e o Judiciário, a organizarem­-se para predá-­lo.

Como se isso não bastasse, há um grande número de "intelectuais" e alguns partidos exóticos que fazem do socialismo "idealizado" o seu fundo de comércio. São aprendizes de feiticeiros: supõem conhecer o caminho alternativo para sair da crise "sem lágrimas". Ignoram as lições da história. A verdade é que sequer suspeitam dos insolúveis problemas de coordenação de uma sociedade complexa. Esquecem como terminou o generoso projeto iniciado por Lênin em 1917. Infelizmente, é preciso reconhecer que até agora o socialismo "realizado" foi muito inferior ao "capitalismo", ao qual não faltam, aliás, sérios defeitos...

Parece que caiu a ficha. O governo federal, que estava aparentemente perdido, concentrado apenas na defesa do necessário "ajuste fiscal" (sem apoio do seu partido, o PT, que foi o principal beneficiado do "desajuste" fiscal), tenta recuperar a iniciativa preparando bons projetos de concessões e estimulando as exportações.

Começou com o excelente Plano de Safra para 2015/16, lançado no dia 2. A competente ministra Katia Abreu mostrou a que veio. O governo reafirmou que existe prioridade também para as atividades produtivas e a retomada do crescimento. Os agricultores revelaram seu apoio através de suas lideranças mais representativas. Afinal, são quase R$ 190 bilhões alocados ao setor para custeio, investimento e comercialização da safra 2015/16.

Houve pequeno aumento da taxa de juro real, mas ela ainda continua muito próxima de zero, o que significa uma redução do subsídio. Isso revela a preocupação com o equilíbrio fiscal que foi compensada com um aumento de 20% na alocação de recursos ao setor quando comparado com a safra 2014/15. Continuou o apoio à integração lavoura-­pecuária-­floresta, à agricultura de baixo carbono e ao Moderfrota. Deu sinais que o governo entendeu a tragédia que produziu no setor sucroalcooleiro e tenta reavivá-­lo.

O único senão foi a redução do avanço do seguro rural, que cresceu quase 20% ao ano no primeiro mandato de Dilma. É uma pena, porque seu custo é pequeno diante dos benefícios que produz. Em compensação, a coordenação revelada pelas decisões simultâneas do Banco Central garantirá a fluidez do crédito na hora certa.

O Plano de Safra de 2015/16 é muito bom. Esperemos que seja o primeiro sinal que o governo sairá da defensiva e dará ênfase ao fato que o "ajuste fiscal" é apenas a preliminar de um jogo cujo objetivo é a construção da sociedade civilizada inscrita na Constituição de 1988. Nela, é o Poder Executivo forte, e por ela regulado, que tem o protagonismo da agenda nacional respeitando a coordenação e a harmonia com o Legislativo e o Judiciário.
 

Não há, portanto, como aceitar que esses promovam aumento de despesa sem responsabilizarem­-se pelo aumento simultâneo de receita não fictícia para pagá­-las. Da mesma forma, é inaceitável que o Executivo promova despesa permanente financiada com receita aleatória ou contabilidade "criativa".
Nossa crise não existiria se ouvíssemos o conselho do ex-­presidente Dutra: "Obedeçam o livrinho, senhores. Apenas o livrinho."

Do Valor
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA­USP, ex­-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento

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quarta-feira, 10 de junho de 2015

Agro DBO: Se correr o bicho pega...

Richard Jakubaszko
Agro DBO de junho circulando: "Se correr o bicho pega...", matéria de capa que mostra as estratégias dos produtores do Brasil Central para escapar das inúmeras dificuldades, seja da colheita da safrinha, e dos gargalos da lucratividade, como a logística, transporte e das pragas e doenças, porque aumentar a produtividade é o que importa.

Na entrevista do mês Santin Gravena revela os caminhos a serem perseguidos pelos produtores para fazer o MEP - Manejo Ecológico de Pragas, o novo nome do antigo MIP, Manejo Integrado de Pragas. São sistemas que admitem o uso de todas as armas disponíveis para proteção da lavoura, químicos e biológicos, mas andam um pouco esquecidos dos agricultores no dia a dia da lavoura.

Chamo ainda a atenção para artigo do engenheiro agrônomo Decio Gazzoni, que nos conta sobre as "Bactérias do bem", o novo inoculante do milho. E também do agrônomo e cafeicultor Hélio Casale, que dá uma bronca enorme nos estatísticos, os oficiais e os das cooperativas, que projetam uma safra de café entre 40 e 50 milhões de sacas, ou seja, de forma clara tentam manipular os preços no mercado.

Mas a Agro DBO tem muitas outras novidades, assista no vídeo abaixo:

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terça-feira, 9 de junho de 2015

Nostradamus: o livro perdido e o Apocalipse

Richard Jakubaszko
As previsões de Nostradamus provocam ainda calorosos debates entre teólogos, cientistas e estudiosos. Um livro, atribuído a Nostradamus, foi encontrado na Biblioteca de Roma, no final do século XX, e o vídeo abaixo, produzido pelo History Channel, é um documentário interessante sobre os debates que se seguiram, pois parte do livro não teria sido escrito pelo vidente francês. De toda forma, suspeitam os adeptos de que no livro consta a previsão de quando acontecerá o Apocalipse, previsto também pela Bíblia.

Produzido na década dos anos 2000 o vídeo (90 minutos, dublado) correlacionou Osama Bin Laden ao 3º anticristo, e 2012 como o início do fim do mundo, conforme previsões dos Maias, mas devemos entender que essas foram as interpretações dos estudiosos que analisaram o livro. A Igreja Católica, evidentemente, está retratada nas previsões de Nostradamus através de sua história e na afirmação de que encontra-se em crise, situação que prenuncia um desenlace misterioso, antes que o fim dos tempos se inicie.
Assistir o vídeo é, no mínimo,
conhecer quais são essas previsões e compartilhar um pouco dessa expectativa humana.

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segunda-feira, 8 de junho de 2015

As simpatias das corujas

Richard Jakubaszko
Há quem ache as corujas como aves de mau agouro. Crendices populares, nada mais que isso. O que é inegável é a simpatia delas, sem contar a beleza, vejam no vídeo.



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domingo, 7 de junho de 2015

CBF: o abuso do cartão amarelo

Richard Jakubaszko
A instrução do quadro de direção de arbitragens da CBF é para que os juízes de futebol apliquem cartões amarelos aos jogadores (e técnicos e dirigentes) que venham a reclamar de suas decisões (e indecisões) em campo.

Ou seja, se o jogador reclamar que levou uma pancada malvada, pode levar um cartão amarelo, enquanto que o jogador adversário, nesse caso um agressor antiesportivo, sai impune.
Dar pontapé, pode. Reclamar, não.
O que a CBF pretende? Desacreditar e vulgarizar o cartão amarelo?

A regra do cartão foi criada como símbolo para mostrar a todos, jogadores, torcedores da arquibancada e da televisão, que aquele jogador foi seriamente advertido. Se, no mesmo jogo, vier a cometer outra infração, e receber novo cartão amarelo, é obrigatória a apresentação do vermelho, e a expulsão.

O cartão amarelo é justo, para tentar coibir o jogo violento, antiesportivo, antiético, ato que pode causar fraturas no jogador adversário, e até mesmo inutilizar um profissional para a prática desportiva.

Os cartões amarelos, numa mesma competição, se aplicados 3 vezes, proíbem automaticamente a participação do jogador no jogo seguinte. Ao mesmo tempo, o cartão amarelo, e o vermelho também, já são símbolos internacionais reconhecidos, permitem que juízes que falem outros idiomas apitem jogos internacionais, sem a necessidade de ter de advertir verbalmente um jogador.

Entretanto, a CBF entendeu que deveria estender a ditadura da aplicação do cartão amarelo, diferentemente do que estabeleceu-se pela Fifa e é regra internacional. O leitor deste blog pode observar nos jogos do brasileirão deste ano, os juízes atribuem mais cartão amarelo por reclamação do que por jogada violenta.
Os juízes se protegem de quê? Por que a CBF instruiu essa norma imbecil? Isso estraga uma partida de futebol, arrebenta com o campeonato, fazendo com que jogadores importantes sejam proibidos de jogar a partida seguinte ao acumularem 3 amarelos. Se os juízes não aplicarem cartões amarelos aos jogadores que reclamam, eles serão punidos com "folgas" de trabalho, essa a ameaça da CBF aos juízes.

Se a CBF deseja "manter o respeito" aos juízes, que estes distribuam o amarelo por reclamação, mas estes não se somariam à serie de 3 amarelos por falta violenta ou antiesportiva. Mas valeria como antecipação ao jogador, naquela partida, de que, mais uma reclamação leva outro amarelo e tá expulso, É apenas uma ideia, para aplacar o furor distributivo de amarelos contra jogadores que se sentem injustiçados, levaram uma pancada, o juiz não marca a falta, não pune o adversário, mas envia um amarelo contra quem reclamou.

O critério do cartão amarelo tem razão de ser, mas se está utilizando mal a punição. Na Libertadores da América, por exemplo, o cartão amarelo vale só para a partida corrente, depois é transformado em multa ao time, se não me engano de US$ 100.00 por cada cartão. Não existe o acúmulo de 3 cartões em partidas de um mesmo campeonato. O vermelho, sim, pune o jogador de forma automática por uma partida, independentemente de julgamento, se a falta for muito grave.

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sexta-feira, 5 de junho de 2015

Debate entre Michel Foucault e Noam Chomsky

Richard Jakubaszko
Um debate de intelectuais. Se não me engano é do início dos anos 1980, até porque Foucault morreu em 1984.
O histórico debate entre esses dois gigantes pensadores ocidentais foi transmitido pela TV holandesa (legendado). O filósofo francês Michel Foucault — historiador das ideias, teórico social, filólogo e crítico literário — discute com o judeu americano Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político sobre a natureza humana de ser assim, digamos, previsível e ao mesmo tempo inconstante.

Como qualifiquei, é um debate em alto nível entre intelectuais.

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quarta-feira, 3 de junho de 2015

A Geometria da Natureza

Richard Jakubaszko
Quando somos estudantes, muitas vezes detestamos a matemática ensinada na escola, pois não encontramos conexão entre ela e a vida real.

Porém, não nos damos conta que o mundo natural utiliza a matemática o tempo todo, e as formas destas plantas e animais são prova disso.
Dizem que a linguagem de Deus é a matemática, e talvez seja verdade. A Geometria da Natureza, vejam esta beleza toda nas fotos abaixo!

As fotos e o texto foram enviados pelo amigo Hélio Casale.

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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Commodities versus valor adicionado

Marcos Sawaya Jank *



Ao tratar das relações Brasil-China na coluna de 16 de maio, fiz a seguinte colocação: "O sucesso do modelo pautado pelo comércio de commodities é evidente, mas tem limites claros à frente. São poucos produtos de baixo valor adicionado, alta volatilidade, margens apertadas e transporte ineficiente". Recebi comentários antagônicos e achei que deveria hoje retomar o assunto, sempre polêmico e atual.



O primeiro comentário foi: "Nossa pauta de exportações para a China é paupérrima em produtos de valor agregado, o que faz do nosso comércio bilateral uma reedição canhestra do chamado pacto colonial".



O segundo foi: "Discordo da sua afirmação de que commodities não têm alto valor agregado. Por trás de cada grão – soja, café e até das carnes – há muita tecnologia e valor agregado, que reúne uma cadeia gigantesca de tecnologias de Primeiro Mundo".



Aproveito os comentários para analisar os desafios do modelo agro exportador brasileiro. De um lado, não tenho a menor dúvida de que agregamos valor em nossas commodities, e muito. Somos um dos países que mais ganharam competitividade e eficiência nesses produtos, graças ao uso de tecnologias tropicais modernas, a ganhos de escala e à presença de produtores capacitados e motivados. As commodities agropecuárias de hoje – intensivas em capital e alta tecnologia – pouco ou nada têm a ver com as commodities intensivas em trabalho do período colonial. Além disso, nossos grandes concorrentes nesse segmento não são países pobres, mas sim Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Argentina.



Contudo, por outro lado, é fato que mais da metade das exportações brasileiras está concentrada em dez commodities básicas com pouca ou nenhuma diferenciação, cujo grande vetor de competitividade é o custo baixo. Exportamos nossas carnes por US$ 2 a US$ 6 por quilo. Recentemente vi carnes locais, altamente diferenciadas, sendo vendidas a até US$ 100 o quilo em supermercados de Seul, na Coreia do Sul.



Creio que a melhor explicação para essa realidade está na sutil diferença entre "valor agregado nas commodities" e "valor adicionado nos alimentos". Somos bons em agregar valor em commodities básicas, cujo diferencial competitivo são altos volumes e baixos custos. Mas ainda estamos engatinhando no processo de adição de valor dos produtos para clientes e consumidores internacionais.



Marcas reconhecidas internacionalmente, variedade de produtos, atendimento a diferentes segmentos de mercado, entrega rápida e segura, domínio de canais de comercialização, certificação e denominação de origem são alguns elementos usados para a diferenciação de produtos, todos ainda pouco explorados pela maioria das empresas brasileiras.



Estamos falando de conceitos básicos que geram diferentes vantagens competitivas no mercado. França e Itália são fortes e competitivas na oferta de alimentos e bebidas de alto valor adicionado, mas fracas em commodities básicas, setor no qual dificilmente serão competitivas no mundo (apenas com pesados subsídios).



O Brasil é o contrário, forte em commodities, fraco em valor adicionado. Mas tem todas as condições para atuar nos dois segmentos com eficiência. Só que o país e as empresas têm de sair da zona de conforto e se globalizarem, de verdade.



* o autor é especialista em questões globais do agronegócio.

COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO:
Já que o segundo comentário destacado por Marcos Jank no artigo acima é deste blogueiro, e por discordar em gênero, grau e número dessa questão de que commodities não têm valor agregado, então vejamos:


1 - é pura semântica essa discussão, além de um desiderato inútil. Na medida em que soja, milho, algodão (OGMs, especialmente), café, açúcar e etanol, carnes bovinas e de aves e suínos - principais itens de nossa pauta de exportação - usam altíssima tecnologia para sua produção, e por serem renováveis, portanto com "sustentabilidade", elas têm valor agregado, sim, dão lucros ao país e aos produtores, geram muitos empregos em toda a cadeia. Não é por acaso que Sorriso e Lucas do Rio Verde, ambas no Mato Grosso, são duas cidades com o mais alto IDH no Brasil.

2 - As críticas da falta de valor agregado parecem comparar nossas commodities com as commodities europeias, onde o leite tem valor altamente agregado ao ser transformado em queijos, ou a uva em vinho. Aí sim, é alto valor agregado, nisso concordo, mas se fizéssemos tal marketing para quem exportaríamos? Para a Europa e EUA? Somente eles teriam poder aquisitivo para remunerar o valor agregado. A escolha brasileira pelas commodities é natural diante das nossas imensas áreas de produção ao privilegiar altos volumes de exportação, e não baixos volumes com alto valor agregado. Para desmistificar isso basta comparar os valores de exportação de queijos e vinhos da França e Itália, cujas somas não chegam a 20% das nossas exportações de commodities em termos de valores. Portanto, essa história de valor agregado a commodities é retórica de economistas.

3 - Há, sim, caminhos alternativos para agregar valor às nossas commodities, por exemplo: exportar apenas farelo ou óleo refinado de soja, café torrado e moído, açúcar, cachaça (o que já fazemos, com muita competência), artigos de couro, carnes processadas ou com cortes especiais, mas quem compraria nossos altíssimos volumes produzidos? Não esqueçamos que a China importa soja, milho e algodão, apenas porque são culturas altamente mecanizadas e não exigem grandes volumes de mão de obra, fator que contraria a política chinesa de gerar empregos.

4 - Os EUA, sim, cometeram a burrice estratégica do século ao exportar suas indústrias para a China, na expectativa de que iriam gerar alto valor agregado em produtos industriais com alta tecnologia embutida. As commodities industriais chinesas, hoje em dia, dominam o mundo no comércio internacional, como artigos do vestuário, brinquedos, automóveis, aparelhos de TVs, produtos químicos, eletrodomésticos em geral, e toda a parafernália da informática, como monitores, mouses, teclados e demais peças dos computadores, exceto os processadores. Os EUA, com isso, geraram desemprego em casa e proporcionaram emprego e riqueza na China e Índia. Ou seja, se é fabricado na China, é commoditie!

5 - A Europa continua encalacrada, e sem saída. Os produtos são de altíssimo valor agregado, como Marcos Jank registra no artigo, não têm chances de produzir em escala como nós, e, por isso, têm poucos clientes mundo afora. O marketing é uma ferramenta de "dois legumes", agrega valor as produtos de um lado, torna-os exclusivos, mas reduz o tamanho do mercado na outra ponta. E precisa de muita propaganda para isso funcionar.

6 - Ainda sobre valor agregado a commodities agrícolas, o que nos falta no Brasil, conforme registrei em meu livro "Marketing da Terra" (Editora UFV -  Viçosa-MG, 2005), é o processamento fabril de produtos da terra (frutas, grãos, leite e derivados, carnes, algodão), porém com a participação de cooperativas agrícolas no processo, ou em indústrias regionais, agregando valor à produção dos pequenos e médios produtores rurais, para fixar população na área rural, gerando empregos e riquezas. Foi assim que nasceram empresas internacionais como Parmalat, Nestlé, Batavo, Sadia, Perdigão (hoje BR Foods) etc., e muitas outras. O que me leva a concordar com Marcos Jank de que temos de sair da zona de conforto, nisso sim, estamos atrasados, pois podemos trabalhar nas duas vertentes, com muita categoria.
Espero ter contribuído ao debate.
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sábado, 30 de maio de 2015

Fifa e CBF: se gritar pega ladrão...

Richard Jakubaszko

Desde que estourou o escândalo das investigações do FBI e da Justica dos EUA, com as prisões de dirigentes da Fifa, e também do ex-presidente da CBF, José Maria Marin, acusados de corrupção e de receber propinas, percebi que eram jogadas políticas transversais, e levariam a um desenlace de proporções gigantescas, com reflexos aqui no Brasil. E tudo o que estamos vendo é só o começo do que vem aí pela frente.

Em minha modestíssima opinião, é estranhíssima (e indevida, até mesmo ilegal) a ingerência americana em organismos internacionais como a Fifa, cuja sede é na Suíça, eis que, absolutamente nada se passou em território americano, nem mesmo houve sonegação ao fisco do Tio Sam. A não ser que já tenham alguma prova da fonte da corrupção, ou seja, do corruptor, que seria, quem sabe, a Nike, gigante americana fornecedora de material esportivo, patrocinadora de muitos times de futebol e de seleções. Mas a Nike nem foi mencionada diretamente nessa história toda, e as alegações americanas para essa atuação dos xerifes do mundo, é de que a sede da Concacaf fica nos EUA (Miami), além de muito dinheiro dessa corrupção ter sido movimentado em bancos americanos. Para os EUA vale as leis deles, aplicadas ao mundo conforme a conveniência deles.

Portanto, os americanos, mais uma vez atacam de xerifes do mundo, atropelam fatos (a corrupção no futebol) fora de sua jurisdição, sem nem gostar de futebol, talvez por desejar enfraquecer a posição da Rússia, que será a sede da próxima Copa do Mundo de Futebol, em 2018, mas é também um membro do chamado grupo dos Brics, que os EUA andam bombardeando. Como se sabe, em política não há coincidências, e não foi mera coincidência a prisão dos dirigentes da Fifa, às vésperas da eleição de Blatter, reconduzido ao cargo pela 5ª vez consecutiva.

Depois das prisões teve o anúncio de que serão "investigados" os processos da decisão da Fifa em levar o próximo campeonato mundial de futebol para a Rússia. Tudo muitíssimo estranho.
Os EUA não aceitaram perder o direito de sediar a Copa do Mundo de 2022 para o Catar, depois de uma eleição atropelada por denúncias de suborno, corrupção e compra de votos.


Na CBF anda rolando um terremoto, quem sabe um tsunami, entre seus atuais dirigentes, pois os ex-dirigentes João Havelange, Ricardo Teixeira e José Maria Marin, deixaram rastros, e se alguém gritar "pega ladrão!" não sobra um, meu irmão, conforme a canção nos informa... Faço votos de que, afinal, isso sirva para fazer uma faxina nos corruptos da CBF.

O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, voltou rapidinho da Suíça para o Brasil, mas brasileiros como J. Háwilla, e outros, já estavam mergulhados até  o pescoço nessa sujeirada toda, inclusive com admissão de culpa e devolução parcial de vultosas parcelas de dinheiro da corrupção recebida, e que envolve muita gente poderosa no Brasil, a começar pela Rede Globo e do seu executivo Marcelo Campos Pinto, diretor da área responsável pelas negociações de compra dos direitos das transmissões exclusivas da emissora, seja da Copas do Mundo ou do Campeonato Brasileiro, e da Fórmula 1.

Consta que a empresa Sport Promotion, do empresário José Francisco Coelho Leal, o Kiko (ex-parceiro de Luciano do Valle na Luqui Participações) tem envolvimento. Assim como Kiko, intermediário em associação com a Traffic, de J.Háwilla – nos direitos de transmissão da Copa do Brasil (citada pelo FBI como fonte de propinas), teriam, portanto, ligação direta com a Rede Globo. Vai ser difícil afirmar que "a gente não sabia de nada disso"...

O fato é que os EUA estão determinados a julgar os dirigentes da Fifa e das entidades filiadas, pois a procuradora americana, Loretta Lynch, afirmou que a operação e as prisões na Suíça foi "só o começo". Pretendem agora que a Suíça extradite os dirigentes, 7 dirigentes e 5 integrantes do Comitê da Fifa, para serem julgados em território americano, o que vai gerar uma discussão jurídica e política sem fim, pois a turma presa não é "café pequeno", e vai recorrer. Portanto, o precedente jurídico é interessante.

Os rumos que podem tomar a investigação do FBI contra dirigentes corruptos do futebol mundial, da América Latina e do Brasil, ainda vão trazer surpresas pra muita gente, além de muita discussão política.

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