terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Férias sem Direito


Jânio de Freitas *
A qualquer custo, férias. Fosse essa a atitude de funcionários dos quais dependesse parte do serviço público fundamental, o Judiciário, como já se testemunhou tanto, imporia a prioridade do interesse público. Assim é até quando o direito universal de greve, e não apenas férias, está em questão. As férias do Supremo Tribunal Federal, porém, são regidas por outro princípio desconhecido, como mais um dos casos do mal afamado "segredo de Justiça".

O Supremo Tribunal Federal deu prioridade ao início das férias, como previstas para a sexta-feira (18), a adiá-las por poucos dias para não deixar o país na baderna institucional, com sua Câmara deslegitimada como Poder Legislativo, sob direção virtualmente destituída a pedido da Procuradoria-Geral da República. E, apesar disso, ativa para as manipulações que desejar.

O Supremo satisfez-se em deixar assentado o ritual de um impeachment. As últimas semanas foram de confusão a respeito, com a colaboração do noticiário de imprensa, que prosseguiu informando que o Supremo deu ao Senado o poder de barrar o impeachment, e coisas assim. Isso mesmo está em mais de um artigo da Constituição há mais de um quarto de século, em textos curtos e claros, definidores de que a Câmara apenas admite (ou não) o processo de impeachment e, ao Senado, compete processar e julgar (ou não) o presidente. Ou seja, pode sustar ou dar ao processo as consequências possíveis.

No mais, onde o relator Luiz Fachin quis inovar, e fez a alegria apressada e efêmera dos impichadores, 8 dos 11 ministros preferiram os mais ponderados argumentos, expostos por Luiz Barroso, pela reprodução do ritual parlamentar usado no impeachment de Collor. Não é o melhor como regra, porque leva a um conservadorismo que exclui melhorias. No caso, porém, evitou mais conturbação com acusações de favorecimento e desfavorecimento, causadas pelas possíveis inovações. E as férias já na porta nem davam tempo para discussão de procedimentos ideais.

Foi um julgamento bonito, não só pelo avanço progressivo da reviravolta, quando o colunismo impichador anunciara "até quase unanimidade" na aprovação do relatório Fachin e do seu apoio às manobras de Eduardo Cunha. Foi bonito pelos princípios defendidos, com apenas 2 dos 11 ministros seguindo Fachin: Gilmar Mendes, pouco presente no julgamento, e o moço Dias Toffoli, cada vez mais tomado por um pensamento primário e mofado.

Toffoli considerou que o STF estava "tolhendo a soberania popular" ao reconhecer no Senado, como quer a Constituição, o poder exclusivo de processar e julgar o presidente em acusação de crime de responsabilidade. Mas Câmara e Senado são eleitos da mesma maneira, pelo mesmo eleitorado. Senadores, em geral, portam até mais representatividade do eleitorado soberano, tendo quantidade individual de votos quase sempre maior do que os deputados mais votados no mesmo Estado.

Transparência foi uma palavra muito citada e decisiva na confirmação do voto aberto sobre impeachment. A palavra já entrou no Supremo, pois, apesar de para uso externo. Situação bem mais promissora do que o respeito a prazo de vista em processo sob julgamento, isenção política de todos nos julgamentos e compostura expressa no comparecimento ao plenário. Em sessão de tamanha importância, Gilmar Mendes lá esteve por pouco mais do que o necessário para sua habitual diatribe. Chegou tarde e saiu cedo "para viajar", precipitando as férias. Ao que o presidente Ricardo Lewandowski apenas lhe dirigiu um curto e enfático "boa viagem". Que talvez não fosse, mas parecia do gênero "à vontade, não fará falta". Mais uma ideia ponderada no julgamento. 


ENTREGA
Acabou a discussão sobre a publicidade da carta de Michel Temer a Dilma. O vice decorativo se disse surpreso e contrariado com a publicação da carta, insinuando ser coisa da Presidência. Agora, sua nota de resposta ao ataque de Renan Calheiros foi logo divulgada com exclusividade pelo mesmo jornalista que teve exclusividade da carta. Com destinatários distintos, a origem das divulgações idênticas só pode ser a mesma. Temer mentiu.

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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

"Li e recomendo a leitura do livro".

Foto by Gazzoni
Décio Gazzoni *
em e-mail, enviado a amigos:
 

Companheiras e companheiros.
Por vezes falta inspiração para o presente de Natal.
Livro sempre parece demodê. Mas eu sou do tempo antigo, ainda devoro muitos livros.
E indico apenas aqueles que me acrescentaram alguma coisa.
 

Para o seu amigo (a) ativista, invista no livro "CO2, aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?" Obra do meu amigo Richard Jakubaszko, tão polêmica, intrigante, provocante e inteligente quando o próprio editor.

Mesmo que vc acredite piamente em mudanças climáticas antropogênicas, nunca esqueça que é importante conhecer os argumentos do outro lado e refletir sobre eles. O livro é uma coletânea de artigos sobre o tema.

Foi o que fiz nos últimos 15 dias. Valeu.

Para o seu amigo (a) intelectual ligadíssimo, que quer organizar na cabeça as ideias sobre as macrobesteiras econômicas que campeiam em Pindorama, a recomendação é o Guia Politicamente Incorreto da Economia Brasileira, obra do jornalista Leandro Nardoch.

Confesso que ao terminar a leitura, percebi que o livro não abordou quase nada que eu já não soubesse - afora as metáforas e exemplos que abundam no livro.

Mas ele organizou as ideias que estavam esparsas na minha mente, clarificou-as, exemplificou-as com o cotidiano e conectou-as.

O livro é didático, objetivo, gostoso de ler. No final, dá vontade de ler tudo outra vez. Foi o que fiz.
Em tempo: as indicações também servem de auto-presente, se vc se encaixar nos modelos acima.
Grande abraço
Decio Gazzoni


COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO:
Se gostaram da sugestão do Dr. Décio Gazzoni, saibam que o livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?" não está à venda em livrarias, mas apenas pelo fone 11 3879.7099 ou pela internet, através do e-mail co2clima@gmal.com - custa R$ 40,00 mais taxa postal.

* o autor é gaúcho (olha só a sutileza, manifesta na foto...), engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa-Soja, nome que dispensa apresentações para quem está de alguma maneira ligado à agricultura, especialmente soja.
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domingo, 20 de dezembro de 2015

O ENEM e a hipocrisia

Richard Jakubaszko  
Levando em conta que propaganda subliminar é proibida, o ENEM cometeu uma ilegalidade...

CCAS explica questão equivocada do ENEM sobre produção agrícola no Brasil

O Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) se pronuncia a respeito da questão que se refere à qualidade de hortaliças consumidas pela população na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), no dia 25 de outubro de 2015. Na charge há uma crítica quanto ao processo produtivo agrícola brasileiro colocando em questão o uso abusivo de defensivos agrícolas nas plantações.

Ao contrário do que sugere a pergunta, a ciência garante que os defensivos agrícolas são utilizados mundialmente, com segurança, para proteger as plantações das pragas e doenças. No Brasil, os produtos são analisados e aprovados por três ministérios: da Agricultura, do Meio Ambiente, e da Saúde, por meio da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O CCAS vê, dessa forma, um grave problema no sistema de ensino brasileiro que, ao aplicar um prova de conhecimento como o ENEM, induz erroneamente os estudantes sobre o assunto. Diante disso, os membros do conselho composto por pesquisadores e acadêmicos se colocam à disposição para explicar sobre a produção agrícola no Brasil, bem como esclarecer dúvidas de forma geral sobre o agronegócio, uma das poucas áreas do Brasil que foi minimamente afetada pela crise e é o maior responsável pelo PIB (Produto Interno Bruto), não permitindo mais estagnação na balança comercial do País.

Sobre o CCAS
O Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.

O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.

Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.
A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/

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sábado, 19 de dezembro de 2015

Nosso frágil planeta


WALTER WILLIAMS * 
Ocasionalmente, ambientalistas se entusiasmam além da conta e acabam inadvertidamente revelando suas verdadeiras intenções.

Examinemos algumas declarações que refletem uma visão tida como absolutamente inquestionável.

"O mundo em que vivemos é belo, mas muito frágil". Ou "A terceira pedra do sol, também conhecida como Planeta Terra, é um oásis bastante frágil". Eis algumas frases divulgadas no Dia da Terra: "Lembre-se de que a Terra tem de ser salva diariamente". "Lembre-se da importância de cuidar do nosso planeta. É o único lar que temos."

Tais declarações, sempre acompanhadas de previsões apocalípticas, são rotineiramente feitas tanto por ambientalistas extremistas quanto pelos não-extremistas. Pior ainda é o fato de que esta doutrinação sobre a "terra frágil" é infundida em nossa juventude desde o jardim de infância até a universidade. Sendo assim, examinemos o quão frágil a terra realmente é.

Em 1883 houve a erupção do vulcão Krakatoa, localizado onde hoje é a Indonésia. Tal erupção teve a força de 200 megatons de TNT. Isso é o equivalente a 13.300 bombas atômicas de 15 quilotons cada uma (15 quilotons é aproximadamente a capacidade explosiva da bomba que devastou Hiroshima em 1945).

Antes desta erupção, houve a erupção do vulcão Tambora, em 1815, também localizado onde hoje é a Indonésia. Esta ainda detém o recorde de ser a maior erupção vulcânica da história. Ela cuspiu tantos detritos na atmosfera, que a luz solar foi bloqueada. Consequentemente, o ano de 1816 passou a ser conhecido como o "Ano em Que não Houve Verão" ou "O Verão que Nunca Ocorreu". As consequências foram plantações completamente destruídas, perdas totais de safras agrícolas e a dizimação de animais em grande parte do Hemisfério Norte, o que gerou a pior fome do século XIX.

Já a erupção do Krakatoa no ano 535 d.C. foi tão violenta, que bloqueou quase que toda a luz e todo o calor oriundos do sol por 18 meses. Há quem diga que foi esse evento que deu origem à Idade das Trevas.

Geofísicos estimam que apenas três erupções vulcânicas — Indonésia (1883), Alasca (1912) e Islândia (1947) — jogaram na atmosfera mais dióxido de carbono e dióxido de enxofre do que todas as atividades humanas o fizerem ao longo de toda a nossa história.

E como o nosso frágil planeta lidou com dilúvios? A China provavelmente é a capital mundial das inundações colossais. A inundação de 1887 do Rio Amarelo matou entre 900.000 e 2 milhões de pessoas. Já as inundações de 1931 foram ainda piores, causando um morticínio estimado entre 1 e 4 milhões. Mas a China não detém o monopólio das enchentes.

Entre 1219 e 1530, a Holanda vivenciou enchentes que mataram aproximadamente 250.000 pessoas.

E o que dizer dos terremotos que assolam o nosso frágil planeta? Houve o terremoto de Valdívia, no Chile, em 1960. Foi o mais violento terremoto já registrado na história, chegando 9,5 graus na escala Richter, uma força equivalente a 1.000 bombas atômicas explodindo simultaneamente. Já o terremoto ocorrido em 1556 na província de Shaanxi, na China, foi o mais mortífero da história: matou 830.000 pessoas e devastou uma área de 1.300 quilômetros quadrados.

Mais recentemente, houve o terremoto de dezembro de 2004 no Oceano Índico, que alcançou uma magnitude 9,1 graus na escala Richter e gerou o devastador tsunami de 26 de dezembro, que atingiu majoritariamente a Indonésia, o Sri Lanka, a Índia, a Tailândia e as Maldivas e matou mais de 230 mil pessoas. E não nos esqueçamos do terremoto de 9 graus na escala Richter que devastou o leste do Japão em março de 2011 e matou mais de 28 mil pessoas.

Nosso frágil planeta também já teve de enfrentar terrores vindos do espaço. Dois bilhões de atrás, um asteroide atingiu a terra e criou a cratera de Vredefort, na África do Sul. Ela possui 300 km de diâmetro, o que faz dela a maior cratera de impacto do mundo. Em Ontário, Canadá, há a Bacia de Sudbury, a segunda maior cratera de impacto da terra, resultante da queda de um meteoro ocorrida há 1,8 bilhão de anos. Ela possui um diâmetro de 130 km. Já a cratera de Chesapeake Bay, no estado americano da Virginia, é um pouco menor, tendo um diâmetro de 85 km. E finalmente há a famosa, porém miúda, Cratera de Barringer, no Arizona, cujo diâmetro não chega nem a 2 km.

Citei aqui apenas uma ínfima fração de todos os eventos cataclísmicos que já atingiram a terra — e ignorei várias outras categorias, como tornados, furacões, queda de raios, incêndios, nevascas, avalanches, deslizamentos de terra, movimento de continentes, raios solares, manchas solares, tempestades magnéticas, inversão magnética dos polos, erosão, raios cósmicos e eras glaciais. Não obstante todos estes eventos cataclísmicos, nosso frágil planeta sobreviveu.

Logo, minha pergunta é: dentre todos estes poderes da natureza, qual pode ser igualado pelo homem? Por exemplo, conseguiria a humanidade reproduzir os efeitos poluidores da erupção do vulcão Tambora, ocorrida em 1815? Ou, quem sabe, reproduzir o impacto do asteroide que aniquilou os dinossauros? É o cúmulo da arrogância acreditar que a humanidade pode gerar alterações paramétricas significativas na terra ou que ela possa igualar as forças destrutivas da natureza.

Ocasionalmente, ambientalistas se entusiasmam além da conta e acabam inadvertidamente revelando suas verdadeiras intenções. O famoso biólogo eco-socialista Barry Commoner disse que "O capitalismo é o inimigo número um do planeta". Já Leo Marx, professor do MIT, disse que "Em termos ecológicos, a necessidade de termos um governo mundial dispensa debates".

* o autor é professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.

Tradução: Leandro Roque


Enviado ao blog pelo professor Marco Antônio Silva / USP.
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Já chega, diz em editorial a FSP sobre Cunha.


Cunha e seus fãs conspiradores de golpismo
Richard Jakubaszko 
Nem a Folha tucana aguenta mais Eduardo Cunha: Já chega, diz o jornal, em editorial de domingo, dia 13 de dezembro 2015.




Já chega.
A presença do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara é um problema que não se limita aos veementes indícios de corrupção e às claras evidências de mendacidade que pesam contra ele.

As acusações reiteradas de que recebeu propina; a reincidência em práticas destinadas a intimidar adversários; a mentira flagrante em uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), negando ter contas bancárias no exterior – esse conjunto probatório já seria suficiente para justificar a cassação de seu mandato.

Há muito mais, contudo. Sua permanência à frente da Câmara dos Deputados assume características nocivas para a ordem institucional do país, e não só porque sua rede de manipulações bloqueia as atividades do Conselho de Ética encarregado de julgá-lo.

Valendo-se de métodos inadmissíveis a alguém posicionado na linha de sucessão da Presidência da República, o peemedebista submeteu a questão do impeachment de Dilma Rousseff (PT) a um achaque em benefício próprio.

Seus expedientes infames conspurcam o processo em curso, que parece encarar como vendeta pessoal. Exacerbam-se com isso as paixões em um tema extremamente explosivo; alimenta-se a falsa versão de que tudo não passaria de lamentável confronto entre ele e Dilma Rousseff.

Já chega. O personagem que Eduardo Cunha representa, plasmado em desfaçatez e prepotência, está com os dias contados – ele próprio sabe disso. É imperativo abreviar essa farsa, para que o processo do impeachment, seja qual for seu desenlace, transcorra com a necessária limpidez.

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Lembranças de Dezembro - 2


Guilherme Cardoso
O ano era 1960. Belo Horizonte era uma Capital, com jeitão de cidade do interior. Como ainda é hoje, com seus 118 anos de existência.

Naquela época, pouco mais de 50 anos atrás, por incrível que pareça, a maioria da população ainda tinha medo de assombração, mula-sem-cabeça, almas do outro mundo. A violência que temos hoje, com assaltos a qualquer hora, à mão armada, na rua, no comércio e nas casas residenciais, praticamente não existia. Ladrão só roubava galinha.

O Brasil já dançava o rock, cantava os Beatles e os Rolling Stones, as mulheres começam a desfrutar a liberdade, jogam os soutiens fora, vestem minissaia e a calça comprida faroeste (jeans). Ainda existia o romantismo, nos versos, nas músicas, nos relacionamentos. Logo depois tudo acabou.

Era dezembro, não me lembro do dia, quem conta é meu irmão Ignácio. Morávamos na Pompeia, bondes, ele trabalhava como garçom até o restaurante fechar. Lá pelas onze da noite, saia correndo para não perder o último ônibus para o bairro. Uma noite perdeu.

E nesta noite, teve que pegar o bonde Santa Efigênia, que tinha o ponto final na Rua Santa Luzia, esquina de rua Niquelina. Uns cinco quilômetros antes de nossa casa na Pompeia. Era também o último bonde, o da meia-noite.

O bonde da meia-noite era o bonde dos atrasados, dos pinguços, dos boêmios, que esqueciam da hora de ir para casa. Normalmente ia com umas dez pessoas. Nesta noite, o bonde estava lotado, quase não havia lugar.

Ignácio estranhou, quem sabe era gente vinda de alguma festa, naquela hora. Sentou apertado, no último banco do bonde, que seguiu viagem. Ao chegar no ponto final, o bonde estava vazio, ele era o último passageiro. Não viu ninguém descer no trajeto, o bonde não parou em ponto algum, ele desconfiado, sem nada entender, perguntou ao motorneiro: ─ cadê o pessoal que pegou o bonde lá no centro?
O motorneiro, condutor do bonde, respondeu perguntando, se o Ignácio tinha bebido muito, que só ele veio no bonde, ninguém mais subiu ou desceu.

Apavorado com aquilo, não bebeu, nem dormiu dentro do bonde, agradeceu o motorneiro, desceu e subiu a rua Niquelina feito doido, nem olhar para trás ele teve coragem. Chegou em casa cabelo em pé, olhos arregalados, branco que nem leite, nunca mais andou naquele bonde, ainda mais à meia-noite.

Almas do outro mundo. Coisas de um tempo que não volta mais.

Publicado no http://guilhermecardoso.com.br/lembrancas-de-dezembro-2?lang=pt

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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Na Agro DBO: A natureza venceu.

Richard Jakubaszko 
Circulando a edição de dezembro-15/janeiro-16 da Agro DBO, onde o leitor encontrará muitas novidades sobre tecnologias agrícolas. A matéria de capa da edição é "A natureza venceu", onde relatamos os problemas existentes hoje nas lavouras, com pragas, doenças e ervas daninhas resistentes a agroquímicos e que também começam a desenvolver resistências aos OGMs. As soluções tecnológicas passam pelo inevitável uso da natureza para combater os problemas criados pelo desequilíbrio no agrossistema, sob risco de a agricultura brasileira ficar inviável tanto econômica como agronomicamente falando.
No vídeo abaixo, Tostão fala dos destaques da edição:


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