Richard Jakubaszko
Os 90 dias do governo são completados neste fim de semana.
Ninguém está satisfeito, nem eles, ainda continuam no palanque eleitoral.
Podem até comemorar a ditadura hoje, dia 31, mas deveriam mesmo é rememorar no 1º de abril, e depois pedir o boné, sair de cena, pois nada aconteceu desde que Bolsonaro tomou posse.
Não há governo, não há nada, só fofoca nos jornais e TVs sobre o que pipoqueia diariamente no Twitter, cuja audiência deve estar batendo recordes. Espalha-se e estimula-se o ódio entre irmãos e brasileiros, estamos no estágio do "pouca farinha, meu pirão primeiro".
Publiquei aqui no blog o texto “Deus morreu”, em janeiro último, finalmente concordei com Nietzsche, e pouca gente entendeu ou se manifestou. O Brasil está pior, está sem Deus, sem governo, é a lei das selvas, a lei do mais forte, e a anarquia imbecilizada tomou conta de tudo: https://richardjakubaszko.blogspot.com/2019/01/deus-morreu.html
Na sexta, 29/3, pela primeira vez tive de concordar com o ministro e atual presidente de STF, Dias Toffoli, quando afirmou que as instituições brasileiras estão em colapso, e é por isso que qualquer coisa provoca apelos judiciais ao STF. O terrível da questão é que teríamos, afinal de contas, de concordar com a tuitada do filho Eduardo, de que basta um cabo e um soldado pra “resolver” o Brasil, então é isso, vamos fechar o supremo e aproveitar o fim-de-semana.
Não dá mais pra aguentar tanta papagaiada, o Brasil e os brasileiros perderam o rumo de casa, porque do desemprego já nos descolamos. Enquanto algumas vozes do mercado (a mídia incentiva isso) tentam estimular a aprovação da reforma da previdência, aquela que ninguém quer, para equilibrar o déficit público, estrupícios políticos e expoentes medíocres do governo xingam a inteligência dos brasileiros com afirmações toscas e imbecis, tipo “fascismo e nazismo é coisa da esquerda”, ou, já esqueceram(?), que “menina veste rosa e menino azul”, ai meu Deus, pior que isso, “Jesus subiu na goiabeira... Teve o “vamos invadir a Venezuela”, e as maluquices do Olavão de Carvalho, que atropela o bom senso de todos ao dizer que a terra é plana, que vacina não funciona, e que o planeta não é heliocêntrico, afora outras patetadas políticas, mais próprias de um astrólogo frustrado do que de um filósofo.
Ora, se houvesse um mínimo de bom senso, tentariam aprovar uma reforma de Previdência para acabar com privilégios. Primeiro, teriam de provar que a mesma é, de fato, deficitária, e, portanto necessária, o que já se sabe que não é verdade, foi o atual nível de desemprego e a redução das contribuições que tornou a Previdência deficitária.
Segundo, que desejam eliminar privilégios, o que também não é verdade, porque as propostas do governo federal ao Congresso são para reduzir o valor dos benefícios dos futuros aposentados CLT, via aumento da idade mínima para se aposentar a partir de 65 anos de idade, quando até hoje é pelo tempo de trabalho, de 35 anos, e proporcional para quem tem menos de 65 de idade, caso contrário vigora o Fator Previdenciário, que reduz o valor dos benefícios.
Nos privilégios, de funcionários do executivo, legislativo e judiciário, onde aposentadorias de R$ 20 ou R$ 30 mil mensais são comuns, nesses a reforma não vai meter o dedo. Nem daqueles que acumulam 3 ou 4 aposentadorias.
Na verdade, o governo, tutelado pelos interesses dos bancos, deseja tornar não obrigatória a contribuição oficial, e com isso os bancos abririam um excepcional mercado para a venda de serviços de Previdência Privada, sistema em que o trabalhador paga o que desejar e depois opta por aposentar-se ou não, sistema de previdência complementar que funciona razoavelmente bem em alguns países nórdicos, na Europa e nos EUA, mas só os que poupam valores altos conseguem uma aposentadoria mínima razoável, porém têm de apostar na sua longevidade individual, e na média os bancos ganham sempre, com base nas estatísticas demográficas de longevidade da população.
No Chile deu tudo errado, na Grécia também, e os sistemas de aposentadorias privadas dos bancos quebraram, deixando velhinhos aposentados sem nada. Entre os que tinham filhos, estes sobreviveram como arrimos, os que não tinham filhos foram parar embaixo das marquises ou se suicidaram. Houve milhares de suicídios registrados no Chile, drama que a nossa grande mídia finge ignorar, e continua apostando na reforma da previdência privada, pois estes serão futuros anunciantes de peso no faturamento publicitário, da mesma maneira que os seguros de saúde hoje em dia. Enfim, mídia engajada e com interesses comerciais é o que temos no Brasil.
Já que você não vai ter aposentadoria decente, vamos tuitar bobagens, é dessa maneira que o governo se comporta, fala-se sobre tudo na rede social dos 140 caracteres, especialmente acusações e fake news, demonstrando o estado de ingovernabilidade. Um dia vamos invadir a Venezuela, no outro vamos instalar embaixada brasileira em Jerusalém, para apoiar o governo de Israel, e cutucar os árabes, depois xinga-se os chineses de comunistas, fingindo esquecer que a China importa hoje cerca de 80% das exportações brasileiras de soja e sem isso o Brasil se tornaria, novamente, dependente do FMI, pois as nossas reservas do fundo soberano se esgotariam em menos de 2 anos.
Estamos em festa, festa de memes e piadas nas redes sociais, mal iniciou o governo, mas o ágape tem cheiro e clima de final de governo, pois o vice-presidente desfila entre adeptos de última hora, promete do alto daquilo que já se tornou banal afirmar como palavras e soluções de “bom senso” e de uma "serenidade" ímpar. É a síndrome dos vices, mal que o Brasil padece desde Floriano Peixoto. Daqueles tempos para cá somente Juscelino, FHC e Lula foram eleitos presidentes e retransmitiram seus cargos a outros presidentes eleitos. Os demais integram uma estatística perversa de vices assumindo, seja por morte, golpes e ditaduras, todos privatistas e entreguistas. É uma triste democracia!
Vai que é tua, Bolsonaro! Torna este Brasil um imenso país colonial, vassalo dos interesses americanos, dependente da casa grande e senzala, dos bancos e dos rentistas. Já se vendeu tudo o que tínhamos de empresas de mineração, e também o petróleo do pré-sal para os insaciáveis americanos, os bancos estatais estão a caminho, as telefônicas e as empresas distribuidoras de água e luz já foram privatizadas, as estradas pedagiadas, o seguro saúde deixou de ser do SUS e agora vamos privatizar a previdência, com propaganda via Twitter.
A partir dos 100 dias de governo completados teremos propostas inéditas e inusitadas para fazer o Brasil ir em frente, crescer e gerar empregos e renda. Vai ter proposta de impeachment, e do vice assumir, vai ter proposta de irmos para o parlamentarismo, de reforma ministerial, e outras, as mesmas de sempre...
Definitivamente, o Brasil não é um país sério, e não é para não entendidos.
Ler que Nana Caymmi aplaude o governo Bolsonaro e critica Chico, Caetano e Gil, é tão ruim que me provoca ânsias estomacais violentas.
Brasil, mostra a tua cara! Tem gente que ainda acredita que tudo vai melhorar...
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