Roberto Barreto, de Catende
Cansado de ser
Vulgarmente chamado
D'aquele tracinho
O hífen resolveu
Engrossar na reforma
Ortográfica em curso
Exigiu por exemplo
Novas composições
Entrar em gira-sol
Como linha-de-fé
Sair de tirateima
E de portarretrato
Pois tem mais afazer
Na quadra que advir
Re-escrever a história
Novo dicionário
Edições renovadas
De Brás Cubas e Amaro
Entre trapézio e crime
Novo vocabulário
Na bagunça prevista
Conversou com o k
Com o ípsilon
E o dáblio a quatro
Pra botar pra quebrar
Dar nó cego na língua
N'universo lusófono
Brasil e Portugal
Príncipe e Cabo Verde
São Tomé incluído
Hão de ver para crer
Ou dizendo melhor
Hão de ler pra escrever
E que trema aquele
Que ouse resistir
Vai cair sem perdão
Como folha já morta
No inferno linguístico
Que já bate à porta
E essa crase no a
É o hífen disfarçado
Amigos e igas
A situação é grave
(Texto enviado por Roberto Barreto, de Catende - jornalista e revisor free lancer)
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sexta-feira, 24 de outubro de 2008
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Una idea
Richard Jakubaszko
A internet é uma pândega! Já escrevi sobre isso. Circulam por ela boas e más idéias, bobagens e coisas inteligentes, algumas simples, mas inteligentes. A idéia abaixo é um exemplo, me foi enviada pelo jornalista e meu amigo, Roberto Barreto, de Catende.
A internet é uma pândega! Já escrevi sobre isso. Circulam por ela boas e más idéias, bobagens e coisas inteligentes, algumas simples, mas inteligentes. A idéia abaixo é um exemplo, me foi enviada pelo jornalista e meu amigo, Roberto Barreto, de Catende.
Una vez llegó al pueblo un señor, bien vestido, se Instaló en el único hotel que había, y puso un aviso en la única página del periódico local, que está dispuesto a comprar cada mono que le traigan por $10.
Los campesinos, que sabían que el bosque estaba lleno de monos, salieron corriendo a cazar monos.
El hombre compró, como había prometido en el aviso, los cientos de monos que le trajeron a $10 cada uno sin chistar.
Pero, como ya quedaban muy pocos monos en el bosque, y era difícil cazarlos, los campesinos perdieron interés,entonces el hombre ofreció $20 por cada mono, y los campesinos corrieron otra vez al bosque.
Nuevamente, fueron mermando los monos, y el hombre elevó la oferta a $25, y los campesinos volvieron al bosque,cazando los pocos monos que quedaban, hasta que ya era casi imposible encontrar uno.
Llegado a este punto, el hombre ofreció $50 por cada mono, pero, como tenía negocios que atender en la ciudad,dejaría a cargo de su ayudante el negocio de la compra de monos.
Una vez que viajó el hombre a la ciudad, su ayudante se dirigió a los campesinos diciéndoles:
- Fíjense en esta jaula llena de miles de monos que mi jefe compró para su colección.
Yo les ofrezco venderles a ustedes los monos por $35, y cuando el jefe regrese de la ciudad, se los venden por $50 cada uno-.
Los campesinos juntaron todos sus ahorros y compraron los miles de monos que había en la gran jaula, y esperaron el regreso del 'jefe'.
Desde ese día, no volvieron a ver ni al ayudante ni al jefe.
Lo único que vieron fue la jaula llena de monos que compraron con sus ahorros de toda la vida.
Ahora tienen ustedes una noción bien clara de cómo funciona el Mercado de Valores y la Bolsa.
Los campesinos, que sabían que el bosque estaba lleno de monos, salieron corriendo a cazar monos.
El hombre compró, como había prometido en el aviso, los cientos de monos que le trajeron a $10 cada uno sin chistar.
Pero, como ya quedaban muy pocos monos en el bosque, y era difícil cazarlos, los campesinos perdieron interés,entonces el hombre ofreció $20 por cada mono, y los campesinos corrieron otra vez al bosque.
Nuevamente, fueron mermando los monos, y el hombre elevó la oferta a $25, y los campesinos volvieron al bosque,cazando los pocos monos que quedaban, hasta que ya era casi imposible encontrar uno.
Llegado a este punto, el hombre ofreció $50 por cada mono, pero, como tenía negocios que atender en la ciudad,dejaría a cargo de su ayudante el negocio de la compra de monos.
Una vez que viajó el hombre a la ciudad, su ayudante se dirigió a los campesinos diciéndoles:
- Fíjense en esta jaula llena de miles de monos que mi jefe compró para su colección.
Yo les ofrezco venderles a ustedes los monos por $35, y cuando el jefe regrese de la ciudad, se los venden por $50 cada uno-.
Los campesinos juntaron todos sus ahorros y compraron los miles de monos que había en la gran jaula, y esperaron el regreso del 'jefe'.
Desde ese día, no volvieron a ver ni al ayudante ni al jefe.
Lo único que vieron fue la jaula llena de monos que compraron con sus ahorros de toda la vida.
Ahora tienen ustedes una noción bien clara de cómo funciona el Mercado de Valores y la Bolsa.
sábado, 4 de outubro de 2008
Qual é a maior hipocrisia brasileira?
Richard Jakubaszko
Pois é, hoje acordei com a macaca. Dormi com os pés de fora, como se diz no popular. Nada como o dia seguinte a uma noite encardida para se completar e dar um fecho de ouro ao que já começou mal.
Como conseqüência das minhas iluminadas desavenças noturnas resolvi abrir um debate público à luz do dia, mas sem diatribes pelo amor de Deus, eis que tenho muitas dúvidas sobre o bom senso dos brasileiros.
Desejo descobrir qual é a maior hipocrisia dos brasileiros. Temos muitas hipocrisias vigentes, dezenas delas, todas praticadas no dia-a-dia, idiossincrasias e preconceitos, todas heranças da secular miscigenação, um amálgama humano no qual as culturas lusitanas, católicas, judaicas, africanas, dos próprios índios, e de contrapeso os imigrantes europeus.
Somos todos, por conseguinte, um dos povos com um dos mais altos índices de perfeição na prática da hipocrisia.
Convivemos de forma harmônica, cotidianamente, com algumas pequenas ou grandes mentiras, num faz-de-conta monumental.
Assim, proponho uma votação, e logo abaixo estou sugerindo algumas hipocrisias cotidianas, individuais e coletivas, praticadas pelos brasileiros.
A votação pode ser numa das minhas sugestões, mas o leitor deste blog, democraticamente, tem direito a sugerir uma hipocrisia, desde que elegível, e se assim for prometo colocá-la na lista abaixo.
Esse elegível aí fica por conta do seu bom senso, se é que alguém que tenha bom senso concorda em participar de uma maratona maluca como essa que estou propondo. Pode ser maluca, mas pelo menos será divertida.
Vamos lá:
Candidaturas de hipocrisias, minhas sugestões:
1 – trabalhador brasileiro finge que trabalha, e o patrão finge que paga um bom salário.
2 – o brasileiro é católico não praticante, até o momento em que o calo aperta, e aí chega o momento de ir num templo evangélico pra dar um descarrego.
3 – doações a partidos políticos nenhuma empresa faz, e nem pode aparecer.
4 – no Brasil nenhuma empresa tem caixa dois.
5 – nenhum brasileiro sonega imposto de renda.
6 – nenhum brasileiro jamais subornou um guarda rodoviário, ou fiscal, nem jamais furou uma fila, nunca trafegou em alta velocidade e nunca estacionou em local proibido.
7 – brasileiro nunca cola em provas escolares.
8 – brasileiro não gosta de levar vantagem.
9 – preconceito racial no Brasil não existe, só o social, contra pobre.
10 – Serviços do SAC (essa é novíssima!): os (as) novos (as) atendentes sempre nos dão razão nas reclamações, mas nunca resolvem o problema. Isso quando o telefone atende, ou se você consegue transpor os degraus do disque 1 para... ou disque 2 para...disque 3 para...
Quem se habilita a votar, ou a sugerir uma nova ou antiga hipocrisia? Mande um comentário, e vote...
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Pois é, hoje acordei com a macaca. Dormi com os pés de fora, como se diz no popular. Nada como o dia seguinte a uma noite encardida para se completar e dar um fecho de ouro ao que já começou mal.
Como conseqüência das minhas iluminadas desavenças noturnas resolvi abrir um debate público à luz do dia, mas sem diatribes pelo amor de Deus, eis que tenho muitas dúvidas sobre o bom senso dos brasileiros.
Desejo descobrir qual é a maior hipocrisia dos brasileiros. Temos muitas hipocrisias vigentes, dezenas delas, todas praticadas no dia-a-dia, idiossincrasias e preconceitos, todas heranças da secular miscigenação, um amálgama humano no qual as culturas lusitanas, católicas, judaicas, africanas, dos próprios índios, e de contrapeso os imigrantes europeus.
Somos todos, por conseguinte, um dos povos com um dos mais altos índices de perfeição na prática da hipocrisia.
Convivemos de forma harmônica, cotidianamente, com algumas pequenas ou grandes mentiras, num faz-de-conta monumental.
Assim, proponho uma votação, e logo abaixo estou sugerindo algumas hipocrisias cotidianas, individuais e coletivas, praticadas pelos brasileiros.
A votação pode ser numa das minhas sugestões, mas o leitor deste blog, democraticamente, tem direito a sugerir uma hipocrisia, desde que elegível, e se assim for prometo colocá-la na lista abaixo.
Esse elegível aí fica por conta do seu bom senso, se é que alguém que tenha bom senso concorda em participar de uma maratona maluca como essa que estou propondo. Pode ser maluca, mas pelo menos será divertida.
Vamos lá:
Candidaturas de hipocrisias, minhas sugestões:
1 – trabalhador brasileiro finge que trabalha, e o patrão finge que paga um bom salário.
2 – o brasileiro é católico não praticante, até o momento em que o calo aperta, e aí chega o momento de ir num templo evangélico pra dar um descarrego.
3 – doações a partidos políticos nenhuma empresa faz, e nem pode aparecer.
4 – no Brasil nenhuma empresa tem caixa dois.
5 – nenhum brasileiro sonega imposto de renda.
6 – nenhum brasileiro jamais subornou um guarda rodoviário, ou fiscal, nem jamais furou uma fila, nunca trafegou em alta velocidade e nunca estacionou em local proibido.
7 – brasileiro nunca cola em provas escolares.
8 – brasileiro não gosta de levar vantagem.
9 – preconceito racial no Brasil não existe, só o social, contra pobre.
10 – Serviços do SAC (essa é novíssima!): os (as) novos (as) atendentes sempre nos dão razão nas reclamações, mas nunca resolvem o problema. Isso quando o telefone atende, ou se você consegue transpor os degraus do disque 1 para... ou disque 2 para...disque 3 para...
Quem se habilita a votar, ou a sugerir uma nova ou antiga hipocrisia? Mande um comentário, e vote...
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quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Entendendo a crise financeira americana...
Richard Jakubaszko
"Essa é uma forma didática de explicar a crise americana."
É assim:
O seu Bilu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça "na caderneta" aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Porque decide vender a crédito, ele aumenta um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito).
O seu Bilu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça "na caderneta" aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Porque decide vender a crédito, ele aumenta um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito).
O gerente do banco do seu Bilu, um ousado administrador formado, que tem curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo a pindura dos pinguços como garantia.
Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDBs, CDOs, CCDs, UTIs, OVNIs, SOSs ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer, e afinal isso nem é importante.
Esses adicionais instrumentos financeiros alavancam o mercado de capítais e conduzem a operações estruturadas de derivativos nas bolsas de valores, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Bilu). Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países. Até que alguém descobre que os bebuns da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e a bodega do seu Bilu vai à falência.
E toda a cadeia "sifu"!!!
Os US$ 700 bilhões do governo americano vai ser pra devolver a grana aos "investidores" que perderam ativos financeiros com as especulações nos derivativos do seu Bilu...
Agora ficou fácil de entender, não ficou?
Hehehehe
PS. Consta que o seu Bilu vai mudar de ramo, agora vai abrir uma agência de propaganda.
Grato pela colaboração da Cleunice Galetti Polezzi, do financeiro da DBO Editores, que simplifica a nossa vida todo dia.
Para entender melhor ainda essa estúpida crise, onde vigaristas, banqueiros e políticos ainda vão levar vantagem e ganhar muito mais dinheiro, veja o quadro de um programa humorístico inglês na TV, que é explícito, além de hilário:
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Para entender melhor ainda essa estúpida crise, onde vigaristas, banqueiros e políticos ainda vão levar vantagem e ganhar muito mais dinheiro, veja o quadro de um programa humorístico inglês na TV, que é explícito, além de hilário:
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quarta-feira, 17 de setembro de 2008
A encrenca está feita, e não tem associação pra defender a soja.
Richard Jakubaszko
Recebi em 16 de setembro último o press release da Secretaria da Agricultura de São Paulo.
O título é bombástico, tenho de reconhecer.
Ficou bem ao gosto da grande mídia sensacionalista, cujo objetivo parece ser apenas o de vender jornal e gerar audiência:
(Veja parte do release, os negritos são meus)
Título: "ITAL detecta compostos cancerígenos em óleo de soja". "Pesquisa do Instituto de Tecnologia de Alimentos, ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (Ital/Apta/SAA), verificou a presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) - compostos orgânicos cancerígenos e que podem provocar mudanças no material genético das células - em óleos de soja encontrados no mercado. As análises apontaram a contaminação de todas as amostras coletadas, que pertenciam a diferentes marcas. O ITAL é a única instituição no Brasil a realizar testes de detecção dos HPAs em alimentos”.
O texto esclarecia ainda que "No caso do óleo de soja, os resultados obtidos pela pesquisa - que avaliou 42 amostras coletadas ao longo de um ano - eram esperados. Os HPAs são formados, nesse caso, durante a secagem da soja, pois, no Brasil, ainda se utiliza a secagem pela queima da madeira. Eles se depositam no grão e passam para o óleo bruto. Durante o processamento, ocorre certa diminuição, mas não perde 100%”, diz a coordenadora do trabalho, Mônica Rojo de Camargo. A conscientização e a mudança de postura devem partir da indústria, já que o consumidor não tem como se proteger. Uma das alternativas é substituir o processo de secagem”.
Para complementar a informação havia um detalhe importante: "Os HPAs são gerados na queima incompleta de material orgânico. Essa importante classe de carcinogênicos (compostos cancerígenos) faz parte do dia-a-dia do homem, já que está presente na poluição ambiental e em muitos alimentos e bebidas, tais como hortaliças, carnes, café, chá, óleos e gorduras e grãos. Como conseqüência, sua presença em produtos alimentícios tem sido objeto de preocupação nos últimos anos. Eles oferecem risco à saúde caso sejam inalados, ingeridos ou se houver contato com a pele. Pára o baile! Desejam-se explicações...
Quer dizer que agora até o óleo de soja está na mira? Sim, está e estará! Sabe por que vai continuar? Porque não tem ninguém pra defender a soja.
Se houvesse uma associação de produtores de soja, mas representativa dos produtores, haveria uma defesa.
A explicação de toda essa questão feita pelo ITAL, assunto que nem polêmico é, pois está justificado no próprio press release.
Lembro aos leitores que apliquei os grifos e coloquei uma cor em cima da própria justificativa dada pela Secretaria da Agricultura.
Houve exagero da Secretaria da Agricultura? Nem tanto, mas talvez, isso sim, não se tenha dado relevância política, apenas relevância técnica para a notícia, que é espalhafatosa e dramática, até porque a soja deve estar lá pelo 10º lugar no Estado de São Paulo em termos de importância como lavoura plantada.
Defender interesses técnicos, econômicos e políticos dos produtores de soja seria uma das muitas tarefas de uma associação dos produtores de soja como sugeri nos artigos anteriores (Está tudo errado no agronegócio!), disponíveis aqui neste blog: http://richardjakubaszko.blogspot.com/
Enquanto os dirigentes de cooperativas se mantiverem calados – e se fingindo de mortos, pois acham que o assunto não é com eles – a situação vai continuar do jeito que está. A única coisa que podem fazer neste momento, isolada ou coletivamente, é calcular os prejuízos que poderiam advir se houver alguma ação dos consumidores em rejeitar o consumo de óleo de soja por conter os tais compostos carcinogênicos.
A grande imprensa nem deu bola para o assunto, saiu uma ou outra notinha de rodapé de página, ficou mais como notícia e clipping da grande maioria dos sites ligados ao segmento agropecuário e a um ou outro site ligado aos setores de alimentação. Uma busca no santo Google com as palavras “óleo de soja – carcinogênico – Ital”, me revelou que menos de 30 sites e blogs divulgaram a má notícia, o que já seria motivo para uma associação de produtores de soja vir a público e dar as devidas explicações.
Não vai ter explicações sobre o problema do óleo de soja porque não tem associação. Mas pergunto: e se fosse algo realmente importante, algo como uma contaminação conforme aconteceu recentemente com o leite e com outros alimentos? O leitor consegue calcular os prejuízos?
Para fazer uma associação precisa ter união dos produtores, e o caminho é fazer com que as cooperativas o representem, e através das cooperativas se estabeleçam associações, seja de soja ou de milho, para defender os interesses dos produtores, nesses e noutros assuntos relevantes.
Rezar e reclamar depois do leite derramado sempre dá muito mais prejuízo.
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Recebi em 16 de setembro último o press release da Secretaria da Agricultura de São Paulo.
O título é bombástico, tenho de reconhecer.
Ficou bem ao gosto da grande mídia sensacionalista, cujo objetivo parece ser apenas o de vender jornal e gerar audiência:
(Veja parte do release, os negritos são meus)
Título: "ITAL detecta compostos cancerígenos em óleo de soja". "Pesquisa do Instituto de Tecnologia de Alimentos, ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (Ital/Apta/SAA), verificou a presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) - compostos orgânicos cancerígenos e que podem provocar mudanças no material genético das células - em óleos de soja encontrados no mercado. As análises apontaram a contaminação de todas as amostras coletadas, que pertenciam a diferentes marcas. O ITAL é a única instituição no Brasil a realizar testes de detecção dos HPAs em alimentos”.
O texto esclarecia ainda que "No caso do óleo de soja, os resultados obtidos pela pesquisa - que avaliou 42 amostras coletadas ao longo de um ano - eram esperados. Os HPAs são formados, nesse caso, durante a secagem da soja, pois, no Brasil, ainda se utiliza a secagem pela queima da madeira. Eles se depositam no grão e passam para o óleo bruto. Durante o processamento, ocorre certa diminuição, mas não perde 100%”, diz a coordenadora do trabalho, Mônica Rojo de Camargo. A conscientização e a mudança de postura devem partir da indústria, já que o consumidor não tem como se proteger. Uma das alternativas é substituir o processo de secagem”.
Para complementar a informação havia um detalhe importante: "Os HPAs são gerados na queima incompleta de material orgânico. Essa importante classe de carcinogênicos (compostos cancerígenos) faz parte do dia-a-dia do homem, já que está presente na poluição ambiental e em muitos alimentos e bebidas, tais como hortaliças, carnes, café, chá, óleos e gorduras e grãos. Como conseqüência, sua presença em produtos alimentícios tem sido objeto de preocupação nos últimos anos. Eles oferecem risco à saúde caso sejam inalados, ingeridos ou se houver contato com a pele. Pára o baile! Desejam-se explicações...
Quer dizer que agora até o óleo de soja está na mira? Sim, está e estará! Sabe por que vai continuar? Porque não tem ninguém pra defender a soja.
Se houvesse uma associação de produtores de soja, mas representativa dos produtores, haveria uma defesa.
A explicação de toda essa questão feita pelo ITAL, assunto que nem polêmico é, pois está justificado no próprio press release.
Lembro aos leitores que apliquei os grifos e coloquei uma cor em cima da própria justificativa dada pela Secretaria da Agricultura.
Houve exagero da Secretaria da Agricultura? Nem tanto, mas talvez, isso sim, não se tenha dado relevância política, apenas relevância técnica para a notícia, que é espalhafatosa e dramática, até porque a soja deve estar lá pelo 10º lugar no Estado de São Paulo em termos de importância como lavoura plantada.
Defender interesses técnicos, econômicos e políticos dos produtores de soja seria uma das muitas tarefas de uma associação dos produtores de soja como sugeri nos artigos anteriores (Está tudo errado no agronegócio!), disponíveis aqui neste blog: http://richardjakubaszko.blogspot.com/
Enquanto os dirigentes de cooperativas se mantiverem calados – e se fingindo de mortos, pois acham que o assunto não é com eles – a situação vai continuar do jeito que está. A única coisa que podem fazer neste momento, isolada ou coletivamente, é calcular os prejuízos que poderiam advir se houver alguma ação dos consumidores em rejeitar o consumo de óleo de soja por conter os tais compostos carcinogênicos.
A grande imprensa nem deu bola para o assunto, saiu uma ou outra notinha de rodapé de página, ficou mais como notícia e clipping da grande maioria dos sites ligados ao segmento agropecuário e a um ou outro site ligado aos setores de alimentação. Uma busca no santo Google com as palavras “óleo de soja – carcinogênico – Ital”, me revelou que menos de 30 sites e blogs divulgaram a má notícia, o que já seria motivo para uma associação de produtores de soja vir a público e dar as devidas explicações.
Não vai ter explicações sobre o problema do óleo de soja porque não tem associação. Mas pergunto: e se fosse algo realmente importante, algo como uma contaminação conforme aconteceu recentemente com o leite e com outros alimentos? O leitor consegue calcular os prejuízos?
Para fazer uma associação precisa ter união dos produtores, e o caminho é fazer com que as cooperativas o representem, e através das cooperativas se estabeleçam associações, seja de soja ou de milho, para defender os interesses dos produtores, nesses e noutros assuntos relevantes.
Rezar e reclamar depois do leite derramado sempre dá muito mais prejuízo.
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terça-feira, 16 de setembro de 2008
Conheça antes o seu cliente
Richard Jakubaszko
Proposta sensata e coerente que me foi enviada por Antônio Augusto Borges, do Portal Agrolink.
O vendedor de aspirador de pó
Uma dona de casa, num vilarejo, ao atender as palmas em sua porta...
- Ó de casa, tô entrando!
Ela se depara com um homem que vai entrando em sua casa e joga esterco de cavalo em seu tapete da sala.
Apavorada a mulher pergunta:
- O senhor está maluco? O que pensa que está fazendo em meu tapete?
O vendedor, sem deixar a mulher falar, responde:
- Boa tarde! Eu estou oferecendo ao vivo o meu produto, e eu provo pra senhora que os nossos aspiradores são os melhores e mais eficientes do mercado, tanto que vou fazer um desafio: se eu não limpar este esterco em seu tapete, eu prometo que irei comê-lo!
A mulher se retirou para a cozinha sem falar nada.
O vendedor, curioso, perguntou:
- A senhora vai aonde? Não vai ver a eficiência do meu produto?
A mulher responde:
- Vou pegar uma colher, sal e pimenta, e um guardanapo de papel. Também uma cachaça para abrir seu apetite, pois aqui em casa não tem energia elétrica!
Moral da história: - Conheça o seu cliente antes de oferecer qualquer coisa.
Proposta sensata e coerente que me foi enviada por Antônio Augusto Borges, do Portal Agrolink.
O vendedor de aspirador de pó
Uma dona de casa, num vilarejo, ao atender as palmas em sua porta...
- Ó de casa, tô entrando!
Ela se depara com um homem que vai entrando em sua casa e joga esterco de cavalo em seu tapete da sala.
Apavorada a mulher pergunta:
- O senhor está maluco? O que pensa que está fazendo em meu tapete?
O vendedor, sem deixar a mulher falar, responde:
- Boa tarde! Eu estou oferecendo ao vivo o meu produto, e eu provo pra senhora que os nossos aspiradores são os melhores e mais eficientes do mercado, tanto que vou fazer um desafio: se eu não limpar este esterco em seu tapete, eu prometo que irei comê-lo!
A mulher se retirou para a cozinha sem falar nada.
O vendedor, curioso, perguntou:
- A senhora vai aonde? Não vai ver a eficiência do meu produto?
A mulher responde:
- Vou pegar uma colher, sal e pimenta, e um guardanapo de papel. Também uma cachaça para abrir seu apetite, pois aqui em casa não tem energia elétrica!
Moral da história: - Conheça o seu cliente antes de oferecer qualquer coisa.
sábado, 13 de setembro de 2008
O parto de uma nação
O parto de uma Nação
por Luis Nassif
O parto de uma nação
É extraordinário o que estamos testemunhando nesses tempos de Satiagraha: é o parto de uma Nação. Haverá ainda muita frustração pela frente, muita sensação de impotência, muito ceticismo se o país conseguirá ser alçado à condição de Nação civilizada. Mas a marcha da história é inevitável.
Está-se em plena batalha da legalidade contra o crime organizado. Os jovens juízes, procuradores, policiais que ousaram arrostar décadas de promiscuidade estão no jogo. Se eventualmente forem calados agora, a decepção geral será o combustível para a reação de amanhã. O país está submetido a duas forças que caminharam em paralelo mas, agora, começam a colidir.
Uma delas, a consolidação de valores republicanos – não necessariamente de práticas - como a impessoalidade no trato da coisa pública, a transparência cada vez maior, movimento acelerado pelo advento de novas tecnologias de informação, a reação contra a impunidade.
Ao mesmo tempo, tem-se um país institucionalmente refém de desequilíbrios enormes. A falta de transparência do ciclo que se esgota abriu espaço para amplos abusos em todos os poderes – Executivo, Legislativo, Judiciário e mídia, grande capital. Criou-se uma enorme Nação de rabo preso em um momento em que a disseminação de valores e de tecnologia definia novos níveis para a transparência.
Ao mesmo tempo, o mundo (e o Brasil) ingressou em um ciclo de financeirização que permitiu a expansão ampla do crime organizado. Descrevo em detalhes esse processo no meu livro “Os Cabeças de Planilha”. Já tinha descrito esse modelo no meu “O Jornalismo dos anos 90”, no capítulo referente à CPI dos Precatórios. A falta de regulação e controle nos mercados, a existência de paraísos fiscais, a complacência das autoridades reguladoras (e da mídia) criaram uma imensa zona cinzenta onde se misturou a contravenção fiscal com a corrupção política, a simbiose de “figuras notáveis” com o crime organizado. A falta de um regramento adequado e de instituições que combatessem os abusos, permitiu essa promiscuidade ampla.
Esse é o nó. Agora, as instituições estão aí. Mas há um pesado passivo que não interessa a muitos que venha à tona. O resultado dessa batalha de transição é que definirá os rumos do país: se submetido aos limites da lei; ou do crime organizado.
Os novos atores Aí entram dois atores. O primeiro, a mídia. Já escrevi várias vezes sobre o tema, e volto a ele. Nesse ambiente promíscuo, parte da mídia passou a se valer da denúncia não como um instrumento de melhoria dos hábitos econômicos e políticos, mas como instrumento seletivo de poder. O esgarçamento dos critérios jornalísticos abriu espaço para os abusos que, agora, chegam a um ponto de alto risco para imagem da mídia. Nesse movimento, papel essencial foi desempenhado pela diretoria de redação da Veja. Graças ao seu amadorismo, conduzindo uma operação de alto risco – os pactos com Daniel Dantas - escancarou um modelo que, em mãos mais hábeis, levaria mais tempo para ser percebido.
O segundo ator são os órgãos de repressão ao crime organizado, que surgem no início dos anos 90 e se consolidam a partir da gestão Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça. A maior parte do dinheiro do crime organizado transita pelo mercado financeiro, através de operações esquenta-esfria, de doleiros, de esquemas em paraísos fiscais, um universo intrincado que passa ao largo da compreensão do cidadão comum. Tenho muito orgulho em ter contribuído de alguma maneira para preparar esse terreno para o combate ao crime organizado.
No início dos anos 90 passei análises sobre o mercado financeiro para o juiz Walter Maierovitch, o primeiro brasileiro a estudar seriamente o fenômeno do crime organizado.
No início de 2003, a convite de Márcio Thomaz Bastos dei uma das duas palestras de abertura do Seminário que ocorreu em Pirinópolis, juntando Ministério Público Federal, Polícia Federal, COAF, Banco Central, Secretaria da Receita Federal.
Juntei as informações e análises que tinha coletado na cobertura da CPI dos Precatórios e dos esquemas de doleiros – que serviram de base para meu livro. Surpreendi-me ao me dar conta da extensão do trabalho que se propunha, essa integração necessária entre os diversos órgãos, a busca de ferramentas de análise, de equipamentos de monitoração, o entusiasmo dos jovens funcionários públicos e as figuras mais velhas, respeitáveis, de Cláudio Fontelles, Paulo Lacerda e Márcio Thomaz Bastos. Montou-se a organização, preparam-se os funcionários públicos e lhes foi conferida uma missão. E eles passaram a seguir o manual. Institucionalizava-se o combate ao crime organizado. E, institucionalizado, passava a se tornar, também, impessoal. Assim como em nações civilizadas, não havia mais intocáveis a serem preservados. Nesse momento, deu-se o choque com o Brasil velho.
O choque do antigo
No início havia convivência estreita entre os dois poderes: a nova estrutura de repressão ao crime organizado e a mídia. Houve muitos abusos, sim, invasão de escritórios de advocacia, vazamento de peças do inquérito. É possível que abusos continuem a ser cometidos.
Mas tudo era suportado, defendido pela mídia, na condição de aliada preferencial, tendo acesso aos “furos” e blindagem contra abusos. A convivência prosseguiu enquanto órgãos de mídia entendiam que a aliança lhes garantia salvo-conduto. Explodiu quando se revelou a extensão da Operação Satiagraha. Aparentemente, a Operação Satiagraha flagrou quatro grupos envolvidos com o crime organizado: advogados, juízes, políticos e jornalistas/empresas jornalísticas.
O que se pretende, agora? Julga-se ser possível varrer o processo para baixo do tapete? Em plena era da Internet, dos blogs, dos sites, do e-mail, julga-se ser possível passar em branco essa monumental manipulação das informações que se vê agora?
O jogo está no fim. Daqui para diante será esperneio. Continuarão assassinando reputações, promovendo factóides, manipulando ênfases. É possível que destruam Paulo Lacerda, Protógenes, De Sanctis e todos os que ousarem enfrentar esse tsunami. Mas não conseguirão parar a história. Desse lamaçal, vai emergir uma nova mídia, uma reavaliação na qual os jornais sérios entenderão, em algum momento, que não dá mais para se envolver até o pescoço por uma solidariedade corporativista com os que transigiram.
E não adianta tentar transformar essa guerra em um Fla x Flu, Lula x oposição, PSDB x PT. Não cola. É uma briga da lei contra o crime organizado. Há que se definir limites para evitar abusos. Mas o que está em jogo é a tentativa de desmonte dessa estrutura. Apostar que serão bem sucedidos, será apostar no atraso, na falta de leis, na manutenção dos abusos da mídia e dos grampos ilegais, no império do crime organizado, na promiscuidade entre poderes.
É esse o país que vamos entregar para nossos filhos?
É evidente que não.
por Luis Nassif
7 de setembro de 2008
(Richard Jakubaszko = meu comentário: Tom Jobim tinha certa razão quando dizia que o Brasil era um país de cabeça para baixo: isso se refletia literalmente em nossas lideranças e, inclusive, em nosso mapa geográfico.
Nos anos de 1960 Tom Jobim voltou ao Brasil após mais uma viagem aos USA, depois de cantar com Frank Sinatra. Acabara de recusar um contrato milionário com um estúdio de Hollywood para fazer 3 ou 4 filmes.
Questionado, e acusado por amigos de insanidade por recusar tanto dinheiro, que daria uma garantia de vida para ele, filhos e netos, de tanto dinheiro em jogo, Jobim alegou que "os USA era um bom país, mas que era uma merda" porque os gringos se achavam os tais. Ou seja, "o país é bom, mas é uma merda". Retrucaram que por isso não, ele estava voltando para o Brasil que "é um país de merda". Ele reconheceu, "é, o Brasil é um país de merda, mas é bom".
Em resumo, no texto abaixo, postado no blog do jornalista Luis Nassif, temos a constatação de que este país, efetivamente, "é uma merda, mas é bom".
Resta saber para quem é uma merda e para quem é bom. As elites o fazem assim, e nisto se inclui grande parte da mídia. Custa acreditar que a grande mídia, quase em bloco, saiu em defesa do banqueiro Daniel Dantas. Ou seja, não defende diretamente o banqueiro, suspeito de dezenas de maracutaias e ilegalidades, mas coloca em xeque a idoneidade dos juízes e investigadores responsáveis pelo inquérito instaurado. Tudo pela tentativa de tornar suspeitas as investigações, as escutas (grampos), e, com isso, na linguagem jurídica, "contaminar" o inquérito, anulando-o por completo. Mais uma vez se percebe a tentativa de jogar a sujeira para debaixo do tapete.)
Ao artigo do Luis Nassif, cujo link está também abaixo:
É extraordinário o que estamos testemunhando nesses tempos de Satiagraha: é o parto de uma Nação. Haverá ainda muita frustração pela frente, muita sensação de impotência, muito ceticismo se o país conseguirá ser alçado à condição de Nação civilizada. Mas a marcha da história é inevitável.
Está-se em plena batalha da legalidade contra o crime organizado. Os jovens juízes, procuradores, policiais que ousaram arrostar décadas de promiscuidade estão no jogo. Se eventualmente forem calados agora, a decepção geral será o combustível para a reação de amanhã. O país está submetido a duas forças que caminharam em paralelo mas, agora, começam a colidir.
Uma delas, a consolidação de valores republicanos – não necessariamente de práticas - como a impessoalidade no trato da coisa pública, a transparência cada vez maior, movimento acelerado pelo advento de novas tecnologias de informação, a reação contra a impunidade.
Ao mesmo tempo, tem-se um país institucionalmente refém de desequilíbrios enormes. A falta de transparência do ciclo que se esgota abriu espaço para amplos abusos em todos os poderes – Executivo, Legislativo, Judiciário e mídia, grande capital. Criou-se uma enorme Nação de rabo preso em um momento em que a disseminação de valores e de tecnologia definia novos níveis para a transparência.
Ao mesmo tempo, o mundo (e o Brasil) ingressou em um ciclo de financeirização que permitiu a expansão ampla do crime organizado. Descrevo em detalhes esse processo no meu livro “Os Cabeças de Planilha”. Já tinha descrito esse modelo no meu “O Jornalismo dos anos 90”, no capítulo referente à CPI dos Precatórios. A falta de regulação e controle nos mercados, a existência de paraísos fiscais, a complacência das autoridades reguladoras (e da mídia) criaram uma imensa zona cinzenta onde se misturou a contravenção fiscal com a corrupção política, a simbiose de “figuras notáveis” com o crime organizado. A falta de um regramento adequado e de instituições que combatessem os abusos, permitiu essa promiscuidade ampla.
Esse é o nó. Agora, as instituições estão aí. Mas há um pesado passivo que não interessa a muitos que venha à tona. O resultado dessa batalha de transição é que definirá os rumos do país: se submetido aos limites da lei; ou do crime organizado.
Os novos atores Aí entram dois atores. O primeiro, a mídia. Já escrevi várias vezes sobre o tema, e volto a ele. Nesse ambiente promíscuo, parte da mídia passou a se valer da denúncia não como um instrumento de melhoria dos hábitos econômicos e políticos, mas como instrumento seletivo de poder. O esgarçamento dos critérios jornalísticos abriu espaço para os abusos que, agora, chegam a um ponto de alto risco para imagem da mídia. Nesse movimento, papel essencial foi desempenhado pela diretoria de redação da Veja. Graças ao seu amadorismo, conduzindo uma operação de alto risco – os pactos com Daniel Dantas - escancarou um modelo que, em mãos mais hábeis, levaria mais tempo para ser percebido.
O segundo ator são os órgãos de repressão ao crime organizado, que surgem no início dos anos 90 e se consolidam a partir da gestão Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça. A maior parte do dinheiro do crime organizado transita pelo mercado financeiro, através de operações esquenta-esfria, de doleiros, de esquemas em paraísos fiscais, um universo intrincado que passa ao largo da compreensão do cidadão comum. Tenho muito orgulho em ter contribuído de alguma maneira para preparar esse terreno para o combate ao crime organizado.
No início dos anos 90 passei análises sobre o mercado financeiro para o juiz Walter Maierovitch, o primeiro brasileiro a estudar seriamente o fenômeno do crime organizado.
No início de 2003, a convite de Márcio Thomaz Bastos dei uma das duas palestras de abertura do Seminário que ocorreu em Pirinópolis, juntando Ministério Público Federal, Polícia Federal, COAF, Banco Central, Secretaria da Receita Federal.
Juntei as informações e análises que tinha coletado na cobertura da CPI dos Precatórios e dos esquemas de doleiros – que serviram de base para meu livro. Surpreendi-me ao me dar conta da extensão do trabalho que se propunha, essa integração necessária entre os diversos órgãos, a busca de ferramentas de análise, de equipamentos de monitoração, o entusiasmo dos jovens funcionários públicos e as figuras mais velhas, respeitáveis, de Cláudio Fontelles, Paulo Lacerda e Márcio Thomaz Bastos. Montou-se a organização, preparam-se os funcionários públicos e lhes foi conferida uma missão. E eles passaram a seguir o manual. Institucionalizava-se o combate ao crime organizado. E, institucionalizado, passava a se tornar, também, impessoal. Assim como em nações civilizadas, não havia mais intocáveis a serem preservados. Nesse momento, deu-se o choque com o Brasil velho.
O choque do antigo
No início havia convivência estreita entre os dois poderes: a nova estrutura de repressão ao crime organizado e a mídia. Houve muitos abusos, sim, invasão de escritórios de advocacia, vazamento de peças do inquérito. É possível que abusos continuem a ser cometidos.
Mas tudo era suportado, defendido pela mídia, na condição de aliada preferencial, tendo acesso aos “furos” e blindagem contra abusos. A convivência prosseguiu enquanto órgãos de mídia entendiam que a aliança lhes garantia salvo-conduto. Explodiu quando se revelou a extensão da Operação Satiagraha. Aparentemente, a Operação Satiagraha flagrou quatro grupos envolvidos com o crime organizado: advogados, juízes, políticos e jornalistas/empresas jornalísticas.
O que se pretende, agora? Julga-se ser possível varrer o processo para baixo do tapete? Em plena era da Internet, dos blogs, dos sites, do e-mail, julga-se ser possível passar em branco essa monumental manipulação das informações que se vê agora?
O jogo está no fim. Daqui para diante será esperneio. Continuarão assassinando reputações, promovendo factóides, manipulando ênfases. É possível que destruam Paulo Lacerda, Protógenes, De Sanctis e todos os que ousarem enfrentar esse tsunami. Mas não conseguirão parar a história. Desse lamaçal, vai emergir uma nova mídia, uma reavaliação na qual os jornais sérios entenderão, em algum momento, que não dá mais para se envolver até o pescoço por uma solidariedade corporativista com os que transigiram.
E não adianta tentar transformar essa guerra em um Fla x Flu, Lula x oposição, PSDB x PT. Não cola. É uma briga da lei contra o crime organizado. Há que se definir limites para evitar abusos. Mas o que está em jogo é a tentativa de desmonte dessa estrutura. Apostar que serão bem sucedidos, será apostar no atraso, na falta de leis, na manutenção dos abusos da mídia e dos grampos ilegais, no império do crime organizado, na promiscuidade entre poderes.
É esse o país que vamos entregar para nossos filhos?
É evidente que não.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Está tudo errado no agronegócio! Parte II - Proposta de soluções
Richard Jakubaszko
Conforme prometido no artigo anterior proponho neste um caminho para que o produtor rural tenha união através de entidades efetivamente representativas com o objetivo de conquistar solidez e sustentabilidade no seu negócio.
Conforme solicitado, amigos e leitores enviaram e-mails e propostas, provenientes do Brasil inteiro, algumas publicadas no blog HTTP://richardjakubaszko.blogspot.com ou no Portal Agrolink, e em outros sites e blogs que replicaram o artigo. O que se percebe é que, além da revolta com o atual status quo do produtor, de generalizada desunião, as propostas sugerem apenas caminhos específicos, sem uma visão holística ou sistêmica.
Relembrando
Já sabemos que o produtor rural depende única e exclusivamente da sua cooperativa agrícola regional. Estas são “unidas” apenas via OCB, que representa uma gama enorme de outras cooperativas, de crédito, emprego, consumo, agropecuária, e tem atividades limitadas ao cooperativismo. Isoladas regionalmente as cooperativas agrícolas são impotentes para enfrentar o mercado no jogo perverso em que se transformou a economia globalizada.
Se pretendermos que o produtor rural vá tomar alguma iniciativa, seja individual ou coletiva, para fazer união com seus pares, vai continuar tudo como sempre assistimos, ao Deus dará. Até porque ele não sabe fazer isso. O produtor rural, como acionista da cooperativa regional, é uma figura em três, uma espécie de ornitorrinco, ou seja, é dono e acionista da cooperativa, mas não manda nem quando está em grupo, especialmente nas cooperativas maiores.
Segue-se o eterno comportamento plácido e cauteloso da maioria. Como acionista, se a cooperativa não se sai bem no campo financeiro, nomeia-se uma diretoria profissional. Aí começam os problemas para as duas outras pessoas do produtor cooperado e acionista: como cliente e consumidor dos produtos e serviços da cooperativa é chamado a “colaborar”, e como fornecedor é também convocado a ser fiel.
Recebe menos pelo que vende, e paga a mais pelo que compra.
A cooperativa melhora sua situação como empresa, já o produtor piora a sua vida e o seu negócio. Evidentemente que há exceções de cooperativas bem administradas pelos próprios cooperados. Mas nem mesmo essas cooperativas, grandes ou não, conseguem transferir aos produtores as garantias de sustentabilidade e de lucratividade para contrabalançar as agruras climáticas ou mercadológicas.
Por não fazer parte de seus objetivos as cooperativas abdicam e se esquivam de fazer o principal para o negócio do produtor rural cooperado e da própria cooperativa: que é agregar valor, e de regular o mercado (mas a Cooperativa de Cotia sempre regulou o mercado de batata no Brasil), pelo menos regionalmente, influenciar nos preços, analisar, estudar, entender e prever as tendências do mercado comprador e dos consumidores.
Em outros campos possíveis de atuação temos ainda a necessidade de avaliar como está a concorrência em outros países, de fazer marketing. Mas aqui nos trópicos se pratica a união à brasileira, de forma superficial, e se planta e se cria do jeito que sempre se fez, contando com a sorte e com os bons humores da natureza e do mercado. E depois se reclama do governo.
Tendências
Se as cooperativas seguissem uma tendência internacional, que é a de diminuir o número de cooperativas, de somar esforços, seja por fusão ou incorporação, teríamos cooperativas estaduais e nacionais efetivamente representativas do produtor rural, e não em caráter regional e até municipal como temos hoje em dia.
O que predomina é o produtor rural líder de cooperativa que é cabeça de rato quando poderia ser um poderoso e eficiente rabo de elefante se houvessem cooperativas nacionais. Cada cooperativa 'nacional', de soja, milho, arroz, feijão, batata, deveria, em meu modo de entender a questão, praticar e fazer as questões acima como prioridade da sua atividade, sendo o comprar a produção, estocar, beneficiar ou pré-beneficiar os produtos dos cooperados, uma atividade secundária adicional, assim como intermediar a venda de insumos. Foi dessa forma que nasceram no passado as grandes empresas da área alimentícia mundo afora e que lideram o mercado mundial hoje em dia. Foi assim que nasceu a Batavo, lá no Paraná, para agregar valor à produção dos cooperados.
O que fazer?
Dada a impossibilidade prática de se criar uma 'cooperativa nacional', conforme já proposto anteriormente no livro Marketing da Terra, tenho a sugerir desta feita a criação de associações nacionais específicas para cada cultura importante.
Crie-se uma associação nacional da soja e outra do milho, para lutar e defender pelos direitos do produtor, para desenvolver oportunidades técnicas, políticas, e, principalmente, econômicas e mercadológicas. Sem dependência e filiação do governo, pelo amor de Deus! Tenho a certeza de que não há necessidade de paternalismos e politicalhas, como diz um amigo “não espere que o Governo faça algo pelo seu setor.... faça você mesmo".
Estabeleça-se um critério proporcional de contribuições fácil de ser controlado e arrecadado, algo como R$ por tonelada, e pau na máquina!
Para exercer atividades políticas existem inúmeras entidades, entre as quais CNA, SNA, SRB, além das federações estaduais. Juntas ou isoladamente quase nada conseguem resolver, até porque representam uma enorme pluralidade de interesses, difíceis de serem compatibilizados. Os mais apressadinhos poderão dizer que já existem a APROSOJA e a ABRAMILHO, e ainda a ABAPA (algodão) e também a ABBA (batata). Sim, existem, mas são regionais, inclusive a UNICA.
Entretanto, por ser associação já representativa dos associados, e por não ter vínculos ou dependência com o governo, a UNICA vem tendo uma projeção nacional e até mesmo internacional na postulação e defesa dos interesses dos associados. Não esqueçamos que os associados da UNICA são usineiros, são da agroindústria, e são poucos, mas dão o bom exemplo aos produtores rurais: união. As outras associações mendigam associadas, não conseguem recursos e não têm representatividade.
Como fazer?
Simples: união através das cooperativas (como representantes dos produtores) através de uma associação verdadeiramente nacional. Que se dê caráter nacional para a APROSOJA E ABRAMILHO, por exemplo. Isso ocorreria a partir do momento em que as principais cooperativas regionais se juntassem à APROSOJA e à ABRAMILHO, atualizando e reformando seus estatutos e objetivos se isso for necessário, elegendo um conselho de direção, mas profissionalizando (terceirizando) toda a diretoria executiva dessas associações, incorporando e contratando uma gama de profissionais especialistas para tratar de cada área de interesse da atividade. A começar por um Centro de Inteligência (com informação exclusiva para os sócios), e ainda para fazer investimentos em campanhas de marketing, em ações institucionais e políticas, de assessoria ou reivindicatórias, principalmente ao governo, na política agrícola, tarifas de impostos, armazenagem, logística, transporte, política internacional, sanidade, exportação etc.
É vital a existência de uma associação profissional para orientar a política externa do Governo Federal, ainda mais nesse momento em que nos preparamos para assumir a relevância que sempre sonhamos de ser o país do futuro, o celeiro do planeta.
Há ainda que se investir e desenvolver novos consumidores e novos mercados de consumo. Tudo para agregar valor aos produtos da terra. A referida associação deveria ter ainda como encargo estudar, analisar e sugerir ações regionais para as cooperativas de como agregar valor aos produtos dos cooperados seja beneficiamento do produto primário, seja para evitar exportação de produtos in natura, seja para importação de alguns insumos. O suporte financeiro para fazer tudo isso aparece de forma rápida se houver a união das principais cooperativas em torno de objetivos bem claros e definidos.
Se as diretorias da APROSOJA ou da ABRAMILHO não tiverem interesse ou possibilidade de nacionalizar suas associações, de incorporar as cooperativas nas suas diretorias, pois já estão estabelecidas, que as cooperativas instituam novas associações em paralelo, mas que sejam nacionais.
Por exemplo, a ASSOSOJA e a ASSOMILHO, ou qualquer nome que venham a criar, com presença dos sócios nos conselhos de administração, no caso as cooperativas. E que se nomeiem diretorias executivas, com vínculos empregatícios, profissionais, com missões pré-determinadas. Poderão até mesmo ter atividades políticas, mas ao primeiro sinal de que estariam agindo em proveito próprio, para lustrar vaidades, para plantar e conquistar cargos públicos, substituição imediata. Atrevo-me a sugerir que nenhum diretor ou presidente de cooperativa associada tenha cargo de diretoria executiva na associação nacional.
Deveria haver uma diretoria técnica e eminentemente profissional, de quem se cobraria resultados face aos objetivos propostos.
Estou à disposição dos dirigentes cooperativistas para debater o problema a fundo, se necessário. Acredito ainda que não haja necessidade de fazer como nossos hermanos argentinos, ir à greve ou fazer panelaços, mas apenas organizar a extrema bagunça instalada do cada um por si e ninguém por todos. Até porque, para fazer greve também precisa de organização e de lideranças.
Não é possível continuar no ritmo que estamos, sempre aos trancos e barrancos, safra boa e safra ruim, ano após ano. Caro leitor, se você é produtor rural e cooperado, encaminhe este artigo até o presidente de sua cooperativa e cobre por união em seu nome. Mas deixe aí embaixo sua mensagem, seu comentário de aprovação ou desaprovação dessa proposta. Se os gringos fazem tudo com união, nós também podemos fazer. Igual, ou até mesmo muito melhor.
Conforme prometido no artigo anterior proponho neste um caminho para que o produtor rural tenha união através de entidades efetivamente representativas com o objetivo de conquistar solidez e sustentabilidade no seu negócio.
Conforme solicitado, amigos e leitores enviaram e-mails e propostas, provenientes do Brasil inteiro, algumas publicadas no blog HTTP://richardjakubaszko.blogspot.com ou no Portal Agrolink, e em outros sites e blogs que replicaram o artigo. O que se percebe é que, além da revolta com o atual status quo do produtor, de generalizada desunião, as propostas sugerem apenas caminhos específicos, sem uma visão holística ou sistêmica.
Relembrando
Já sabemos que o produtor rural depende única e exclusivamente da sua cooperativa agrícola regional. Estas são “unidas” apenas via OCB, que representa uma gama enorme de outras cooperativas, de crédito, emprego, consumo, agropecuária, e tem atividades limitadas ao cooperativismo. Isoladas regionalmente as cooperativas agrícolas são impotentes para enfrentar o mercado no jogo perverso em que se transformou a economia globalizada.
Se pretendermos que o produtor rural vá tomar alguma iniciativa, seja individual ou coletiva, para fazer união com seus pares, vai continuar tudo como sempre assistimos, ao Deus dará. Até porque ele não sabe fazer isso. O produtor rural, como acionista da cooperativa regional, é uma figura em três, uma espécie de ornitorrinco, ou seja, é dono e acionista da cooperativa, mas não manda nem quando está em grupo, especialmente nas cooperativas maiores.
Segue-se o eterno comportamento plácido e cauteloso da maioria. Como acionista, se a cooperativa não se sai bem no campo financeiro, nomeia-se uma diretoria profissional. Aí começam os problemas para as duas outras pessoas do produtor cooperado e acionista: como cliente e consumidor dos produtos e serviços da cooperativa é chamado a “colaborar”, e como fornecedor é também convocado a ser fiel.
Recebe menos pelo que vende, e paga a mais pelo que compra.
A cooperativa melhora sua situação como empresa, já o produtor piora a sua vida e o seu negócio. Evidentemente que há exceções de cooperativas bem administradas pelos próprios cooperados. Mas nem mesmo essas cooperativas, grandes ou não, conseguem transferir aos produtores as garantias de sustentabilidade e de lucratividade para contrabalançar as agruras climáticas ou mercadológicas.
Por não fazer parte de seus objetivos as cooperativas abdicam e se esquivam de fazer o principal para o negócio do produtor rural cooperado e da própria cooperativa: que é agregar valor, e de regular o mercado (mas a Cooperativa de Cotia sempre regulou o mercado de batata no Brasil), pelo menos regionalmente, influenciar nos preços, analisar, estudar, entender e prever as tendências do mercado comprador e dos consumidores.
Em outros campos possíveis de atuação temos ainda a necessidade de avaliar como está a concorrência em outros países, de fazer marketing. Mas aqui nos trópicos se pratica a união à brasileira, de forma superficial, e se planta e se cria do jeito que sempre se fez, contando com a sorte e com os bons humores da natureza e do mercado. E depois se reclama do governo.
Tendências
Se as cooperativas seguissem uma tendência internacional, que é a de diminuir o número de cooperativas, de somar esforços, seja por fusão ou incorporação, teríamos cooperativas estaduais e nacionais efetivamente representativas do produtor rural, e não em caráter regional e até municipal como temos hoje em dia.
O que predomina é o produtor rural líder de cooperativa que é cabeça de rato quando poderia ser um poderoso e eficiente rabo de elefante se houvessem cooperativas nacionais. Cada cooperativa 'nacional', de soja, milho, arroz, feijão, batata, deveria, em meu modo de entender a questão, praticar e fazer as questões acima como prioridade da sua atividade, sendo o comprar a produção, estocar, beneficiar ou pré-beneficiar os produtos dos cooperados, uma atividade secundária adicional, assim como intermediar a venda de insumos. Foi dessa forma que nasceram no passado as grandes empresas da área alimentícia mundo afora e que lideram o mercado mundial hoje em dia. Foi assim que nasceu a Batavo, lá no Paraná, para agregar valor à produção dos cooperados.
O que fazer?
Dada a impossibilidade prática de se criar uma 'cooperativa nacional', conforme já proposto anteriormente no livro Marketing da Terra, tenho a sugerir desta feita a criação de associações nacionais específicas para cada cultura importante.
Crie-se uma associação nacional da soja e outra do milho, para lutar e defender pelos direitos do produtor, para desenvolver oportunidades técnicas, políticas, e, principalmente, econômicas e mercadológicas. Sem dependência e filiação do governo, pelo amor de Deus! Tenho a certeza de que não há necessidade de paternalismos e politicalhas, como diz um amigo “não espere que o Governo faça algo pelo seu setor.... faça você mesmo".
Estabeleça-se um critério proporcional de contribuições fácil de ser controlado e arrecadado, algo como R$ por tonelada, e pau na máquina!
Para exercer atividades políticas existem inúmeras entidades, entre as quais CNA, SNA, SRB, além das federações estaduais. Juntas ou isoladamente quase nada conseguem resolver, até porque representam uma enorme pluralidade de interesses, difíceis de serem compatibilizados. Os mais apressadinhos poderão dizer que já existem a APROSOJA e a ABRAMILHO, e ainda a ABAPA (algodão) e também a ABBA (batata). Sim, existem, mas são regionais, inclusive a UNICA.
Entretanto, por ser associação já representativa dos associados, e por não ter vínculos ou dependência com o governo, a UNICA vem tendo uma projeção nacional e até mesmo internacional na postulação e defesa dos interesses dos associados. Não esqueçamos que os associados da UNICA são usineiros, são da agroindústria, e são poucos, mas dão o bom exemplo aos produtores rurais: união. As outras associações mendigam associadas, não conseguem recursos e não têm representatividade.
Como fazer?
Simples: união através das cooperativas (como representantes dos produtores) através de uma associação verdadeiramente nacional. Que se dê caráter nacional para a APROSOJA E ABRAMILHO, por exemplo. Isso ocorreria a partir do momento em que as principais cooperativas regionais se juntassem à APROSOJA e à ABRAMILHO, atualizando e reformando seus estatutos e objetivos se isso for necessário, elegendo um conselho de direção, mas profissionalizando (terceirizando) toda a diretoria executiva dessas associações, incorporando e contratando uma gama de profissionais especialistas para tratar de cada área de interesse da atividade. A começar por um Centro de Inteligência (com informação exclusiva para os sócios), e ainda para fazer investimentos em campanhas de marketing, em ações institucionais e políticas, de assessoria ou reivindicatórias, principalmente ao governo, na política agrícola, tarifas de impostos, armazenagem, logística, transporte, política internacional, sanidade, exportação etc.
É vital a existência de uma associação profissional para orientar a política externa do Governo Federal, ainda mais nesse momento em que nos preparamos para assumir a relevância que sempre sonhamos de ser o país do futuro, o celeiro do planeta.
Há ainda que se investir e desenvolver novos consumidores e novos mercados de consumo. Tudo para agregar valor aos produtos da terra. A referida associação deveria ter ainda como encargo estudar, analisar e sugerir ações regionais para as cooperativas de como agregar valor aos produtos dos cooperados seja beneficiamento do produto primário, seja para evitar exportação de produtos in natura, seja para importação de alguns insumos. O suporte financeiro para fazer tudo isso aparece de forma rápida se houver a união das principais cooperativas em torno de objetivos bem claros e definidos.
Se as diretorias da APROSOJA ou da ABRAMILHO não tiverem interesse ou possibilidade de nacionalizar suas associações, de incorporar as cooperativas nas suas diretorias, pois já estão estabelecidas, que as cooperativas instituam novas associações em paralelo, mas que sejam nacionais.
Por exemplo, a ASSOSOJA e a ASSOMILHO, ou qualquer nome que venham a criar, com presença dos sócios nos conselhos de administração, no caso as cooperativas. E que se nomeiem diretorias executivas, com vínculos empregatícios, profissionais, com missões pré-determinadas. Poderão até mesmo ter atividades políticas, mas ao primeiro sinal de que estariam agindo em proveito próprio, para lustrar vaidades, para plantar e conquistar cargos públicos, substituição imediata. Atrevo-me a sugerir que nenhum diretor ou presidente de cooperativa associada tenha cargo de diretoria executiva na associação nacional.
Deveria haver uma diretoria técnica e eminentemente profissional, de quem se cobraria resultados face aos objetivos propostos.
Estou à disposição dos dirigentes cooperativistas para debater o problema a fundo, se necessário. Acredito ainda que não haja necessidade de fazer como nossos hermanos argentinos, ir à greve ou fazer panelaços, mas apenas organizar a extrema bagunça instalada do cada um por si e ninguém por todos. Até porque, para fazer greve também precisa de organização e de lideranças.
Não é possível continuar no ritmo que estamos, sempre aos trancos e barrancos, safra boa e safra ruim, ano após ano. Caro leitor, se você é produtor rural e cooperado, encaminhe este artigo até o presidente de sua cooperativa e cobre por união em seu nome. Mas deixe aí embaixo sua mensagem, seu comentário de aprovação ou desaprovação dessa proposta. Se os gringos fazem tudo com união, nós também podemos fazer. Igual, ou até mesmo muito melhor.
PS. Se você deseja postar um comentário sobre este artigo, há 3 alternativas:
1 - se tiver "gmail" clique em "comentários". Depois que abrir a janela faça seu comentário e aí coloque seu end. de e-mail no espaço logo abaixo, depois sua senha, assim receberei um e-mail direto aqui no Google e publico o texto.
2 - se não tiver gmail pode despachar um comentário como se fosse "anônimo", mas não deixe de registrar seu nome e cidade, no mínimo, caso contrário não publicarei comentários como "anônimo". Lamento, mas é uma norma que adotei para evitar comentários inapropriados ou sem saber de quem enviou.
3 - mande um e-mail para meu end. no Yahoo, que é:
( richardassociadosARROBAyahoo.com.br ) que está citado na aba lateral deste blog, no rodapé dos textos sobre os livros.
( richardassociadosARROBAyahoo.com.br ) que está citado na aba lateral deste blog, no rodapé dos textos sobre os livros.
Agradeço a compreensão, é que tenho recebido muitas reclamações de leitores com dificuldades para postar comentários, e não se trata de má vontade minha, mas de inadequação do Google que impõe regras que considero absurdas, como a de ter um end. "gmail" para não ser um "anônimo".
domingo, 17 de agosto de 2008
Está tudo errado no agronegócio brasileiro!
Richard Jakubaszko
Desde a primeira edição da revista DBO Agrotecnologia, da qual sou editor, tenho batido na mesma tecla: a falta de união entre os produtores!
Na edição anterior da revista, e também aqui neste blog, escrevi que aquilo que precisa ter sustentabilidade é o agricultor. O artigo foi replicado por dezenas de sites do agronegócio, sites de cooperativas, associações, sindicatos e empresas. Recebi dezenas de cartas, e-mails e telefonemas parabenizando pelo artigo. Lamentavelmente não é esse o caminho.
Constato, dessa forma, que só informação e conscientização não é suficiente, precisa de ação. O que precisa acontecer, antes de tudo, e de forma urgente, é a união entre os produtores. Sem essa união vamos continuar patinando, ou seja, dois ou três anos bons e dois ou três anos ruins, depois dois anos normais, aí vem uma crise dos diabos, quebra um monte de gente, espera mais um pouco até a situação normalizar... e assim se vai levando.
O mundo tem pressa. Será que o agricultor não tem pressa? Por que os produtores rurais na gringolândia conseguem ter união? Por que os brasileiros, não conseguem? O que falta? É liderança? São novas idéias? É um problema cultural? Quando se conversa sobre o tema com agricultores há plena concordância sobre a desunião ser um problema, mas a frase seguinte é desanimadora: “isso aí sempre foi assim, não tem jeito”.
Com toda a certeza, através de novas lideranças em associações e cooperativas, poderíamos acelerar os processos, em especial o de agregar valor aos produtos da terra. O agronegócio brasileiro como um todo, em vias de se tornar dentro em breve o maior e melhor do planeta, porque inegavelmente já é o mais competitivo, ainda patina na lucratividade, na falta de segurança do produtor.
Salvam-se os que investem alto em tecnologia para obter produtividade acima da média, porém estes também quebram em anos de preços ruins.
O Brasil precisaria exportar alimentos com valor agregado, e isto significa dizer que os produtos agrícolas, commodities logicamente, precisam ser exportados não in natura, mas com pelo menos algum processamento industrial, que é o que agrega valor, seja para o produtor, seja para as cooperativas. Abordei o tema sob vários ângulos e diferentes óticas no livro “Marketing da Terra”, mas houve pouquíssima ressonância.
É claro que para agregar valor precisa-se de investimentos. Como não existe esse dinheiro todo sobrando, a única maneira seria os produtores terem união, exercerem união para alcançar seus objetivos comuns, que é o de ter segurança na atividade, e lucro, pois lucro não é pecado.
Com a união, e um pouco do dinheiro de cada um, arruma-se um dinheirão para fazer o que deve ser feito. Que sejam defenestradas as antigas lideranças do agronegócio, que haja sangue novo e profissionalizado para reinventar o agronegócio, essa é a proposta. Do contrário não vai se chegar a lugar algum, mesmo que eles assim o desejassem, pois não poderiam, o sistema parece estar engessado, viciado.
É tempo de mudar, é tempo de reinventar e de recriar. Já se fez tudo de errado que era possível no agronegócio nessas últimas décadas. Tivemos acertos e sucessos, é verdade também, mas sempre foram breves bons momentos sucedidos por novas crises, que reaparecem cada vez mais virulentas. Continua tudo errado no agronegócio brasileiro, esperando a próxima crise. Um bom exemplo disso é a próxima safra de verão, pode vir a dar tudo certo, com bons lucros, mas pode ter uma quebradeira generalizada se o dólar vier a se desvalorizar ainda mais, e tudo iria piorar se acompanhado por novas quedas nos preços das commodities nas bolsas de mercadorias. Os especuladores estão de olho, para que possam obter lucro próprio, e não para encher as burras dos produtores.
As indústrias de alimentos internacionais, aparentemente, já se abasteceram, compraram nos mercados a futuro, e os picos dos preços sumiram. Não chegaram no topo, nem devem descer muito mais do que já desceram, mas a instabilidade vai continuar, não se tenha dúvida disso.
Para se livrar desse jogo especulativo e nervoso, só com união os produtores rurais obterão a segurança para trabalhar, até porque todo dia nasce um monte de novos consumidores pelo planeta afora, e ainda há a inclusão social que torna adultos pobres e esfomeados em consumidores de alimentos.
Os agricultores só precisam acreditar que é possível organizar essa bagunça em que se tornou o mercado de alimentos no planeta. Os produtores brasileiros, hoje em dia, têm a faca e o queijo nas mãos, é só uma questão de querer levar adiante e de acreditar que podemos ser líderes no agronegócio como vendedores de alimentos, e não como fornecedores de commodities.
Se for vender alimento precisa de uma marca. Falando nisso, cadê a marca “Brasil”?
No artigo publicado na DBO Agrotecnologia, que é quase um libelo, conclamo leitores e assinantes a que manifestem sua opinião, que participem dessa verdadeira maratona, que dêem sugestões e idéias de como podemos atingir esses objetivos. Quem souber com exatidão os caminhos para se atingir esse objetivo poderá ser um dos líderes dos novos tempos que chegam para o agronegócio brasileiro.
Evidentemente que tenho algumas idéias de como se poderia conquistar essa união, através de associações nacionais verdadeiramente representativas dos agricultores, sem esbarrar nos regionalismos ou nas politicagens, fugindo ainda de interesses individualistas.
Algumas dessas idéias estão no livro “Marketing da Terra”, mas voltarei em breve a escrever sobre o tema, prometo.
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Desde a primeira edição da revista DBO Agrotecnologia, da qual sou editor, tenho batido na mesma tecla: a falta de união entre os produtores!
Na edição anterior da revista, e também aqui neste blog, escrevi que aquilo que precisa ter sustentabilidade é o agricultor. O artigo foi replicado por dezenas de sites do agronegócio, sites de cooperativas, associações, sindicatos e empresas. Recebi dezenas de cartas, e-mails e telefonemas parabenizando pelo artigo. Lamentavelmente não é esse o caminho.
Constato, dessa forma, que só informação e conscientização não é suficiente, precisa de ação. O que precisa acontecer, antes de tudo, e de forma urgente, é a união entre os produtores. Sem essa união vamos continuar patinando, ou seja, dois ou três anos bons e dois ou três anos ruins, depois dois anos normais, aí vem uma crise dos diabos, quebra um monte de gente, espera mais um pouco até a situação normalizar... e assim se vai levando.
O mundo tem pressa. Será que o agricultor não tem pressa? Por que os produtores rurais na gringolândia conseguem ter união? Por que os brasileiros, não conseguem? O que falta? É liderança? São novas idéias? É um problema cultural? Quando se conversa sobre o tema com agricultores há plena concordância sobre a desunião ser um problema, mas a frase seguinte é desanimadora: “isso aí sempre foi assim, não tem jeito”.
Com toda a certeza, através de novas lideranças em associações e cooperativas, poderíamos acelerar os processos, em especial o de agregar valor aos produtos da terra. O agronegócio brasileiro como um todo, em vias de se tornar dentro em breve o maior e melhor do planeta, porque inegavelmente já é o mais competitivo, ainda patina na lucratividade, na falta de segurança do produtor.
Salvam-se os que investem alto em tecnologia para obter produtividade acima da média, porém estes também quebram em anos de preços ruins.
O Brasil precisaria exportar alimentos com valor agregado, e isto significa dizer que os produtos agrícolas, commodities logicamente, precisam ser exportados não in natura, mas com pelo menos algum processamento industrial, que é o que agrega valor, seja para o produtor, seja para as cooperativas. Abordei o tema sob vários ângulos e diferentes óticas no livro “Marketing da Terra”, mas houve pouquíssima ressonância.
É claro que para agregar valor precisa-se de investimentos. Como não existe esse dinheiro todo sobrando, a única maneira seria os produtores terem união, exercerem união para alcançar seus objetivos comuns, que é o de ter segurança na atividade, e lucro, pois lucro não é pecado.
Com a união, e um pouco do dinheiro de cada um, arruma-se um dinheirão para fazer o que deve ser feito. Que sejam defenestradas as antigas lideranças do agronegócio, que haja sangue novo e profissionalizado para reinventar o agronegócio, essa é a proposta. Do contrário não vai se chegar a lugar algum, mesmo que eles assim o desejassem, pois não poderiam, o sistema parece estar engessado, viciado.
É tempo de mudar, é tempo de reinventar e de recriar. Já se fez tudo de errado que era possível no agronegócio nessas últimas décadas. Tivemos acertos e sucessos, é verdade também, mas sempre foram breves bons momentos sucedidos por novas crises, que reaparecem cada vez mais virulentas. Continua tudo errado no agronegócio brasileiro, esperando a próxima crise. Um bom exemplo disso é a próxima safra de verão, pode vir a dar tudo certo, com bons lucros, mas pode ter uma quebradeira generalizada se o dólar vier a se desvalorizar ainda mais, e tudo iria piorar se acompanhado por novas quedas nos preços das commodities nas bolsas de mercadorias. Os especuladores estão de olho, para que possam obter lucro próprio, e não para encher as burras dos produtores.
As indústrias de alimentos internacionais, aparentemente, já se abasteceram, compraram nos mercados a futuro, e os picos dos preços sumiram. Não chegaram no topo, nem devem descer muito mais do que já desceram, mas a instabilidade vai continuar, não se tenha dúvida disso.
Para se livrar desse jogo especulativo e nervoso, só com união os produtores rurais obterão a segurança para trabalhar, até porque todo dia nasce um monte de novos consumidores pelo planeta afora, e ainda há a inclusão social que torna adultos pobres e esfomeados em consumidores de alimentos.
Os agricultores só precisam acreditar que é possível organizar essa bagunça em que se tornou o mercado de alimentos no planeta. Os produtores brasileiros, hoje em dia, têm a faca e o queijo nas mãos, é só uma questão de querer levar adiante e de acreditar que podemos ser líderes no agronegócio como vendedores de alimentos, e não como fornecedores de commodities.
Se for vender alimento precisa de uma marca. Falando nisso, cadê a marca “Brasil”?
No artigo publicado na DBO Agrotecnologia, que é quase um libelo, conclamo leitores e assinantes a que manifestem sua opinião, que participem dessa verdadeira maratona, que dêem sugestões e idéias de como podemos atingir esses objetivos. Quem souber com exatidão os caminhos para se atingir esse objetivo poderá ser um dos líderes dos novos tempos que chegam para o agronegócio brasileiro.
Evidentemente que tenho algumas idéias de como se poderia conquistar essa união, através de associações nacionais verdadeiramente representativas dos agricultores, sem esbarrar nos regionalismos ou nas politicagens, fugindo ainda de interesses individualistas.
Algumas dessas idéias estão no livro “Marketing da Terra”, mas voltarei em breve a escrever sobre o tema, prometo.
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domingo, 10 de agosto de 2008
Dia dos Pais - Pílula do dia seguinte
PÍLULA DO DIA SEGUINTE
(deve ser tomada no dia anterior)
Ser pai é "paidecer" no "pairaíso".
Enviado por RBdC - (Roberto Barreto, de Catende)
(deve ser tomada no dia anterior)
Ser pai é "paidecer" no "pairaíso".
Enviado por RBdC - (Roberto Barreto, de Catende)
sábado, 9 de agosto de 2008
100 anos de ABI - Associação Brasileira de Imprensa
Richard Jakubaszko
Muito boa a campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).
A vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere.
Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.
Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.
Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.
E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.
Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.
A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber. Não, queremos saber.
Uma vírgula muda tudo.
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.
Enviado por Fernanda Branquinho. Obrigado, Fernanda!
Ou seria: obrigado Fernanda. Mudou alguma coisa, dona vírgula?
Muito boa a campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).
A vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere.
Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.
Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.
Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.
E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.
Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.
A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber. Não, queremos saber.
Uma vírgula muda tudo.
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.
Enviado por Fernanda Branquinho. Obrigado, Fernanda!
Ou seria: obrigado Fernanda. Mudou alguma coisa, dona vírgula?
terça-feira, 8 de julho de 2008
A sustentabilidade do agricultor
Richard Jakubaszko
Todo mundo fala e escreve hoje em dia nessa tal de sustentabilidade, “desenvolvimento com sustentabilidade”, “sustentabilidade da Amazônia”, “produzir com sustentabilidade” etc., e tal. Nem sabem eles, muitos desses que falam e escrevem diariamente, ambientalistas e jornalistas, o que significa a palavra sustentabilidade, pelo menos é o que deixam a gente entender quando se lê a expressão, invariavelmente incrustada em frase feita carregada de modismos e críticas. Sai nos jornais diariamente.
Por trás, aparentemente, há um idealismo, mas as verdadeiras intenções das críticas dessas fontes nunca são reveladas. Nessas críticas o agronegócio é duramente apontado pela mídia por ser praticado de forma extrativa, enfim, explorado de forma irresponsável pelos produtores rurais.
Agronegócio é palavra que anda virando sinônimo de palavrão, xingamento mesmo, pelos urbanos que ignoram o que é o dia-a-dia rural. Acreditam esses detratores que todo agricultor, e também os pecuaristas, são poluidores, que desmatam, são quase uns “delinqüentes ambientais”, na definição da mídia.
Qualquer leitura mais atenta do noticiário mostra o desconhecimento urbano das coisas do rural. Mas a má fama vai sendo construída, tijolo por tijolo, e uma hora dessas, aí perdida no tempo futuro, vai ficar complicado explicar aos urbanos que não é nada disso do que eles estão pensando.
Antes de tudo o agronegócio tem que se defender, e explicar que é sustentável. É uma tarefa que não é impossível se cada agricultor, cada agrônomo, enfim, cada produtor rural, se dispuser a explicar aos urbanos o que é produzir alimentos, seja na dificuldade e na dureza do trabalho, seja no trabalho de preservação do solo e do meio ambiente, dos mananciais de água e das matas ciliares.
É um trabalho de formiguinha, individual, de boca em boca, para tentar impedir que essa má fama se consolide, para desconstruir uma imagem mais uma vez distorcida do produtor rural, que antes era a de um Jeca Tatu, pobre, atrasado, inculto, e agora está virando milionário, tubarão, especulador, explorador e destruidor do meio ambiente. A grande maioria dos agricultores é ambientalista nato, sabe que o solo é sua maior riqueza e é um direito inalienável das futuras gerações. E isso precisa ser conscientizado entre a população urbana e jornalistas mal informados. Com a situação dessa tal de crise que se pronuncia por aí, em que mesmo com os preços dos alimentos lá nas alturas, quando não se tem certeza de que plantar será um bom ou mau negócio diante dos custos dos insumos e da flutuação dos preços, há que se tomar cuidado com essas acusações urbanas quando eles falam em sustentabilidade.
Agricultor é quem precisa ser sustentável
Fica claro que aquilo que precisa ter sustentabilidade é o produtor rural, em primeiro lugar de tudo, e isso se faz com preços compensadores. O produtor, tendo sustentabilidade, dá garantias de produção dos alimentos que os urbanos consomem, garantindo a sustentabilidade dos acusadores, só que eles precisam ter essa exata noção do perigo que correm se agricultor virar espécie em fase de pré-extinção.
O número de produtores rurais caiu muito, mas ainda está longe disso. Ao mesmo tempo a idade média dos produtores elevou-se muito nos últimos anos, conforme pesquisas que já realizei entre cooperativas. Era de 43 anos no início da década de 1990 e no final dessa mesma década já passava dos 50. Isso traz conseqüências desastrosas para o segmento e, em especial, para os consumidores. Os jovens, filhos dos agricultores, não querem saber do trabalho duro na roça ou mesmo nas terras mecanizadas. As mulheres, principalmente, odeiam o duro trabalho na área rural, migram para as luzes da ribalta, e aonde a vaca vai o boi vai atrás...
Dessa forma recomendo aos leitores que eduquem os urbanos sempre que houver oportunidade. Informem dos riscos do agronegócio, da dureza do trabalho sol a sol no dia-a-dia, de que a natureza é amiga, mas também pode ser inimiga do produtor e da lavoura quando chove a mais ou de menos, digam sobre as invasões das pragas e doenças.
Informem aos urbanos que água de irrigação não é abuso e nem é um gasto, e que essa água, além de produzir alimento, é filtrada e vai para lençóis freáticos, ou rios e aqüíferos, seguindo seu curso para o mar, e que volta na forma de chuva. Chuva que, para o urbano é mal vista, mas necessária para a lavoura. Informem aos urbanos, verbalmente, um a um, que produzir alimento não é moleza não.
Expliquem que milho, soja, arroz e feijão, batata, não nascem em pencas na gôndola do supermercado, pois é mais ou menos isso que alguns imaginam, com exageros à parte é claro.
Informem que agricultura, lamentavelmente, é poluição sim. Onde uma lavoura for implantada não existe mais ecossistema, mas um agrossistema para produção de alimentos, porque o planeta tem gente passando fome. É isso que os urbanos precisam saber, antes de prosseguirem com suas críticas irresponsáveis, ridículas e inconseqüentes.
Por oportuno, você leitor sabe que do 1 euro ou 1 dólar pago por um consumidor por uma xícara de cafezinho, lá na Europa ou nos EUA, o quanto chega ao cafeicultor? Chega ao bolso do produtor de 0,1 a 0,3 centavos de real pelo equivalente de café produzido. E isso não é diferente do milho, soja, arroz, trigo ou qualquer outro alimento que seja industrializado.
Portanto, produtor, olho vivo! Tem gente nas urbes achando que o agronegócio só quer ganhar dinheiro na moleza. Fingem, ou desconhecem saber que são eles que ganham dinheiro nas costas do produtor.
Pra evitar essas coisas a gente tem de explicar tudo direitinho.
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domingo, 6 de julho de 2008
A informática é uma pândega
Richard Jakubaszko
Desde que surgiu, essa ferramenta chamada computador auxilia e facilita o trabalho, permite comunicação instantânea, ajuda na busca de informações e proporciona entretenimento e lazer, para aqueles que a conhecem.
Ao mesmo tempo atormenta e inferniza a vida daqueles que pouco a conhecem.
Chega a ser hilário, mas pode ser irritante.
Dizem que houve, no início deste Século XXI, uma famosa pendenga entre a Microsoft e a General Motors que ilustra bem a encrenca que a informática trouxe para o mundo moderno com seu famoso leque de alternativas intermináveis.
O pessoal da Microsoft, para se vangloriar, disse que os automóveis precisavam ser como a informática, ou seja, ter economia de escala, aprimorar-se e evoluir rapidamente ao mesmo tempo em que baixariam os preços de vendas para o consumidor.
A GM respondeu que ainda bem que automóvel era do jeito que era, pois se a cada lançamento de um novo produto o consumidor tivesse de reaprender a dirigir seria o caos.
Para nocautear a Microsoft a GM comparou vários quesitos, entre eles o que considero um tijolaço: “este programa detectou um erro e será fechado, reinicie (me nego a usar o reinicialize deles) o seu computador”, lembrando que se os automóveis dissessem isto ao motorista no meio de uma viagem, ou seja, “reinicie sua viagem, esse programa será fechado e você poderá perder tudo que não salvou, inclusive seus passageiros...”.
No meu início com a informática, lá pelos anos 90 e 91, apanhei muito, dei grandes cabeçadas, mas aos poucos fui me familiarizando.
Hoje em dia tenho um pacto civilizado com meu PC: se ele se comportar direitinho eu o trato carinhosamente e não faço uso de uma marreta que deixo depositada displicentemente ao lado da mesa.
A dita tem uns dois quilos...
O computador já sabe, se abusar do mau comportamento dou-lhe uma impiedosa marretada e resolvo o problema! Acabaria tendo que comprar outro computador e começar tudo de novo, porque há um longo aprendizado à frente, de parte a parte, é claro, mas a marreta está sempre lá, impoluta e soberana, lembra o STF – Supremo Tribunal Federal, pois tem sempre a última palavra. Depois que eles falam não há mais recurso possível, só o do Divino Espírito Santo.
Com o advento da Internet a informática nos enlouquece aos poucos. Dependemos do computador mais do que um filhote recém nascido depende da mãe. Para tudo e por tudo o que se possa imaginar.
Outro dia faltou luz na editora, e ficamos um par de horas olhando um para a cara do outro, sem ter o que dizer e sem ter o que fazer, pois nem telefone funcionava. Aliás, nem adiantaria se estivessem funcionando, a agenda de telefones é eletrônica, está no computador, pelo menos de quem se preza como informatizado, é claro. Na falta de luz e do micro as pessoas nem conversavam, ficaram apoplécticas, em estado de choque, como se tivessem sido acometidas de um novo e estranho tipo de AVC. E assim ficaram, entre um e outro cafezinho, alguns até fumaram um cigarrinho, depois de alguns meses de abstinência. Quando voltou a luz as pessoas voltaram a conversar normalmente.
Até então parecia que o mundo havia acabado, ou que se tinha partido para outra vida, e enquanto isso se procurava saber onde estávamos, ou o que teria afinal acontecido. Seria assim o purgatório?
Como já escrevi, a informática nos simplificou a vida, mas alguns iniciados desconhecem como facilitar a sua própria vida e a dos outros, e é nesse campo que desejo dar algumas dicas aos internautas e micreiros. Para facilitar a vida deles e a minha própria, é claro.
As duas coisas mais importantes, ligadas ao computador e à Internet, são o tempo e a praticidade.
Vamos a elas, então.
Quanto tempo você perde abrindo e lendo e-mails por dia? Imagine o tamanho do meu problema: recebo por dia, no mínimo, de 150 a 200 e-mails. Dessa avalanche de comunicação pelo menos 40% a 50% é lixo puro, pode ser deletada antes mesmo de ser aberta. Trata-se de spam, mala-direta com e-mail marketing, propaganda de viagra ou de faculdades americanas que prometem diplomas de cursos superiores sem necessidade de freqüência nas escolas, mesmo sem saber falar inglês, e até e-mails de instituições inglesas que nos informam que ganhamos 2 ou 5 milhões de libras esterlinas na Royal Lotery.
Tem também os e-mails from the desk of Mr. Kin Ogadodoo, director the Burkina Faso Federal Bank, um país africano que realmente existe, nos informando que um extravagante milionário alemão morreu num acidente de avião e deixou depositada no fundo de investimentos do banco uma quantia não reclamada pelos herdeiros, nada insignificante, coisa de 10 ou 15 milhões de dólares americanos, e dos quais 30% serão nossos se ajudarmos Mr. Ogadodoo a transferir esse valor para nossa conta corrente, imediatamente. Bastaria a gente informar nossos dados pela volta do e-mail. Para dar credibilidade à proposta citam o nome do alemão milionário morto, dão link para que a gente comprove a notícia do desastre, publicada em sites da CNN e do The New York Times, tudo muito bem organizado e crível.
Por que tudo isso? Para confirmar se seu endereço eletrônico de fato existe. E se possível, é claro, fazer ‘negócio’ com você. Negócio que você paga e jamais recebe nada, mais um desses golpes que a gente já ouviu falar, teu cunhado contou um caso parecido, semana passada, não foi?
Como a gente faz para se livrar disso? Usando a marreta? Não resolve. O problema não está no computador e nem na marreta, está em nós e em nossa curiosidade, ou na ingenuidade.
A dica para fugir dessas armadilhas é não responder e nem reenviar os e-mails como nos pedem, é claro, e nunca clicar nos links suspeitos (porque aí entram os vírus!).
Mas o estrago está feito, você já está no mailing dos bandidos, e será bombardeado impiedosa e diuturnamente por isso. Tudo porque enviou ou recebeu e-mails com uma generosa relação de nomes estampados na área de leitura, os “com cópia para”. Isso não se faz gente! Quando enviar e-mails para um monte de gente, e mais do que duas pessoas já é um monte de gente, envie sempre os e-mails para você mesmo, num outro endereço seu, e nunca envie “com cópia para”. Coloque os nomes dos destinatários no “cópia oculta”. Se for importante que os destinatários saibam para quem você enviou os e-mails coloque os nomes no corpo de texto do e-mail, mas apenas os nomes, sem os endereços contendo o fatídico sinal @. Aqueles e-mails “com cópia para” são capturados no mundo virtual e acabam integrando as tais listas, mailings piratas vendidos depois para os picaretas internacionais e nacionais entulharem a sua (e a minha) caixa postal.
Já reclamei com muita assessoria de imprensa, que são contumazes nisso, e também com muitos amigos de pouca prática no assunto, para não mais me enviarem e-mails tipo mala direta aberta. Parece não adiantar, fico com fama de chato e reclamão e o meu número de e-mails cada dia aumenta mais.
Mais uma dica: nunca abra links de desconhecidos, e principalmente se for de conhecido, em e-mails que digam que há uma charge, ou fotos nuas daquelas gatas, ou fotos de uma brincadeirinha sua que se seu pai ou mãe souberem você vai ver só... É garantia garantida de vírus ou spyware...
Outra dica: coloque em sua agenda de endereços um endereço eletrônico falso, algo como o seguinte: !alertavirus@virus.com.br e aí você saberá quando entrar um spyware em seu micro. O endereço estará na primeira linha da sua agenda, veja que o sinal de exclamação é também a primeira do teclado, e voltará um undelivery, de endereço desconhecido.
Pelo menos você ficará sabendo, em primeira mão, que algum vírus infectou seu computador, e pode tomar providências para deletar o invasor, mas mantenha o micro desligado, porque vai receber um monte de mensagens de volta de seus amigos e clientes avisando-o de que tem alguma coisa errada... pois tentaram abrir o link e nada aconteceu... é porque todo mundo já está infectado...
Nunca reenvie os e-mails que pedem ajuda a uma criança doente, pois “cada e-mail enviado alguém vai doar tantos centavos para a nobre causa”. O mesmo das mensagens de santos com orações miraculosas, para responder aos remetentes, isso é pura enganação, você está só alimentando a picaretagem.
Mais uma dica: tenha um antivírus desses distribuídos gratuitamente pela Internet. Uso um que é muito bom, o AVG, também chamado de Avira, do qual pode ser feito download no www.avira.com
Existem vários outros bons antivírus gratuitos, como o www.panda.com e ainda o www.avast.com Porém tenha apenas e exclusivamente só um antivírus. Dois programas de antivírus brigam entre si e seu micro vai ficar meio idiota...
A melhor dica é manter uma marreta depositada discretamente a uma distância segura, ao alcance do braço, e combinar antes as regras com o computador. Nunca pegue na marreta desnecessariamente, é como revólver contra bandido, se pegar no dito cujo já vai dando tiro, caso contrário vai passar vergonha, será assaltado e ainda vai ficar sem o berrante...
Dentro em breve todos esses nossos problemas vão acabar. Virá o cartão USB, acho que é esse o nome, e você nem vai mais precisar de computador. Assim como o atual pen drive, que é apenas memória ou um simples HD ambulante, a gente vai colocar o cartão USB e acessar diretamente a WEB, usando apenas teclado, monitor e mouse, sem computador. Será um cartão com 40 Gigas, imune a vírus, e todos os seus arquivos e e-mails serão virtuais. Vai tornar a minha marreta um elemento absolutamente dispensável.
A propósito, nunca precisei usar a marreta, ela está lá só como enfeite decorativo, mas não digam nada para o meu micro, ele pode ficar abusado.
sábado, 28 de junho de 2008
Para a mídia imagem de usineiro é pior que a de bicheiro
Richard Jakubaszko
A imagem dos usineiros também é muito pior do que a dos banqueiros. Historicamente a grande mídia sempre elegeu "inimigos" e "culpados" por tudo o que acontecia de ruim. Não é de hoje que existe nas redações o aforismo si hay gobierno, soy contra – e dê-lhe pau no governo!
Agora, seja no jornalismo econômico, político, ambiental e até mesmo social, a bola da vez são os usineiros. Em outros tempos já foram as multinacionais. Em passado recente algumas palavras chaves bem colocadas ao longo de um texto definiam o "inimigo", imaginário ou real: globalização foi e ainda é uma palavra básica, assim como banqueiro; já nos anos da ditadura militar brasileira havia o "comunista" – personagem que comia criancinha –, inimigo oculto que teve momentos de brilho.
Na imprensa americana há "personagens" que se destacam, entre elas "comunistas", ao lado de "terroristas", ou serial killer, religioso messiânico, xiita etc. A questão é atávica, mas existem desdobramentos interessantes.
Jeca Tatu
Para entender melhor a questão que envolve os usineiros há que se conhecer a síndrome do Jeca, ou, mais precisamente, do Jeca Tatu, personagem na ficção do genial escritor e nacionalista Monteiro Lobato, que nos legou uma obra literária de inequívoca criatividade e altíssimo valor cultural.
A referida obra foi recriada e adaptada pelo ator e diretor Mazzaropi, chegando primeiro ao cinema e depois à publicidade nos anos 50 e 60, com grande impacto. Com a fama instalada, a síndrome permitiu e até mesmo incentivou um viés de interpretação dentro da chamada intelectualidade brasileira e entre os jornalistas urbanos, como formadores de opinião. Isto porque associou e materializou uma imagem pública do produtor rural brasileiro típico ao Jeca Tatu, personagem simplório, inculto, matreiro, caipira e tabaréu.
A distorção de imagem persistiu até o início dos anos 2000, quando se iniciou um desvanecimento desses sintomas, em função do espetacular crescimento da agricultura brasileira, com repercussões notáveis na geração de renda, no crescimento do emprego e nas exportações. Excluídos desse perfil de imagem desfocada dos jecas, sempre estiveram os usineiros, grandes pecuaristas e também os antigos barões do café.
Algum tempo atrás, e aos poucos, já na década de noventa, foram incluídos nessa pequena relação de exceções os citricultores e a esses se juntam agora os sojicultores e cotonicultores, conforme registrei no livro Marketing da Terra (Editora UFV - Universidade Federal de Viçosa, MG, 282 pg, 2005).
No dia-a-dia, usineiros, grandes fazendeiros, pecuaristas e "barões do café" – uma figura que nem existe mais, pois a cafeicultura é feita por pequenos e médios produtores – ainda são as personagens poderosas nos filmes e telenovelas que retratam cenários rurais, e são invariavelmente poderosos e 'malvados'.
Há uma nítida melhoria da imagem pública do produtor rural, de uma forma geral, perante populações urbanas, o qual é visto como um sujeito trabalhador e empreendedor. Corre-se até o risco de permitir e criar novas distorções se o agro-ufanismo persistir na grande mídia em amplas reportagens e entrevistas, com fotos de alguns dos gigantes e grandes produtores que geram enormes fortunas e impérios à sua volta. Pode até incitar à violência, tornando certos produtores personalidades "seqüestráveis" potenciais, o que de fato ocorreu em 2004 com um conhecido produtor do MT, logo após aparecer numa entrevista em uma revista noticiosa de circulação nacional.
A chamada bancada ruralista, no Congresso Federal, hoje em dia menor que a bancada ambientalista, ajuda a mídia a formar uma imagem deformada dos produtores rurais, e também dos usineiros, pois tem atuação nitidamente reivindicatória, de "obter vantagens e benesses para os interesses do setor", o que é mal visto pela grande mídia, e esta se esquece, ou não sabe, que é um setor que produz alimentos, portanto, é vital à sobrevivência dos urbanos. Além disso, é uma atividade que tem contra si os maus humores da economia e do clima, com excesso ou falta de chuva. Portanto, é negócio de alto risco.
Usineiros e mulher de malandro
Nesse quadro, os usineiros viraram saco de pancada da grande mídia. Quando se fala em "trabalho escravo", invariavelmente tem usineiro "envolvido", mesmo que seja um fornecedor terceirizado de cana para a usina e que tenha contratado mão-de-obra temporária para a colheita.
Quando a mídia cobre questões ambientais, as queimadas de cana preparatórias para a colheita são responsáveis pela poluição e pelo aquecimento do planeta ou aumentam o buraco da camada de ozônio.
Porém, se o usineiro adota colheita mecânica, que colhe cana crua, sem queimar, desemprega milhares de trabalhadores e é responsável pelo desemprego no agronegócio, causa o êxodo rural.
Ainda na questão ambiental existem colegas mal informados, que repercutem e replicam incansavelmente opiniões de personalidades políticas ou ambientalistas sobre o plantio da cana "roubar" áreas de plantio de alimentos. Há um medo generalizado de que no futuro breve tenhamos de nos alimentar apenas de rapadura. Sobretudo, a monocultura da cana também é alvo de muita crítica, pois a mídia argumenta que altera a biodiversidade, sem a qual não se tem a sustentabilidade, que é uma outra palavra mágica para a mídia, e também embute outra grande mentira, pois qualquer monocultura é sempre poluição, não apenas a de cana.
Ressalte-se que lamentavelmente nós urbanos temos que comer, enquanto a mídia se alimenta de outras fontes e entre essas estão as fontes críticas e polêmicas, afora as fontes midiáticas carentes de holofotes.
Como se pode ver parece que há antipatia generalizada entre os jornalistas para com os usineiros. No foco da mídia os usineiros apanham como mulher de malandro, pois este não sabe porque está batendo, mas imagina que a mulher saiba porque está apanhando. A mulher do malandro não reclama, nem faz queixa na polícia, assim como os usineiros, que ficam quietos, parecem acreditar que o bom cabrito não deve berrar.
Inegavelmente há uma simbiose muito interessante entre imprensa e usineiros que parece ultrapassar os muros da simples relação de ódio existente entre ricos e pobres.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Tira esse cotovelo de merda daqui!
Richard Jakubaszko
Foi um enorme e retumbante berro, dado como ordem imperativa. O desaforo veio lá do meio do avião e apesar do barulho das turbinas todos a bordo escutaram. Deu para entender algumas palavras, berradas isoladamente, como folgado!, malcriado!, espaçoso!, pára com isso!, e ainda o ameaçador vou meter a mão na sua cara! Foi um corre-corre nervoso das aeromoças e comissários dentro do avião, e a turma do deixa-disso logo conseguiu serenar os ânimos. Comentários posteriores esclareceram que a bagunça iniciara-se pela recusa de dois passageiros, um na janela e outro no corredor, de tirarem seus cotovelos da braçadeira dos seus assentos, fazendo com que o passageiro da poltrona do meio ficasse encolhido, ou melhor, espremido, entre os seus dois gordinhos e folgados vizinhos. Deu uma cotovelada em cada um, ao mesmo tempo, e recebeu dois cotovelaços simultâneos, iniciando o entrevero verbal que se ouviu em todo o avião. Os ânimos foram acalmados com a mudança de poltrona do passageiro espremido, até porque estava em nítida e flagrante desvantagem, eram dois contra um...
Ora, pensei com os meus botões, não é exatamente o que acontece com as pessoas hoje em dia? Virou espetáculo rotineiro assistirmos, sem mais nem menos, uma polêmica discussão que se inicia já acalorada, com acusações e xingamentos, seja na fila do supermercado (anda aí, ô lesma!), na porta do elevador ou do metrô (sai da porta, folgado!), dentro do cinema (desliga essa porra desse celular!), ou no balcão do cafezinho (não foi assim que eu pedi!). Fui adiante em minhas reflexões, e me perguntei: afinal, o que terá acontecido com o brasileiro cordial pintado a sete cores e mil palavras por Sérgio Buarque de Hollanda, ou o brasileiro gentil de Darci Ribeiro? Acho que morreram, concluí, ou desistiram de gentilezas depois de inúmeras crises, de tantas incertezas nesses tempos competitivos de globalização. Quem sabe o brasileiro cansou, desde que se anunciou que o fim do mundo está próximo com esse tal de aquecimento? Ou então aprendeu também a ser malcriado, de tanto assistir filmes americanos em que mocinhos e malvados primam por competir em quem é o mais mal humorado e carrancudo.
A situação anda tão precuária – misto de situação preocupante na pecuária – que é perigoso você dirigir a um colega de trabalho um singelo como vai?, pois pode receber uma tijolada de volta, tipo o que é que você tem com isso?, ou ainda um não te interessa!
No trânsito das cidades maiores há que se ter cuidado em não chamar ninguém de barbeiro, pois a gente pode se ver com um trintoitão na cara. Esbarrão na rua, então, raramente alguém se vira para pedir desculpas e ainda pode ouvir um xingamento inesperado.
Até recentemente – no máximo uns 10 anos - os brasileiros cometiam suas indelicadezas não retornando um recado telefônico, ou não respondendo a um e-mail, mas hoje em dia isso virou lugar comum. Eu, como diz meu amigo Carlão, da Publique, que dou resposta até para spam, ainda acho um desaforo, mas as pessoas consideram isso normal, tamanho o volume de e-mails que se recebe hoje em dia. E vem mais mudança de comportamento pela frente.
Jornalistas como eu já sabem, estamos acostumados a receber mensagens ou e-mails de todo tipo, pedindo mais informações, elogiando algum artigo ou reportagem, mas hoje em dia o que mais tem é crítica e paulada. Parece que o brasileiro saiu do armário, assumiu uma postura mais agressiva. Por culpa de alguns dos últimos artigos aqui publicados recebi e-mails com xingamentos, uns até me acusando de vendido para as multinacionais dos transgênicos e dos agrotóxicos. O que eu não havia recebido até hoje, em toda a minha vida profissional de mais de 40 anos, eram ameaças. Ameaça de processos judiciais tive muitas, nenhuma concretizada. Alguns colegas envaidecem-se por serem processados, particularmente acho um assunto aborrecente, mas ser ameaçado como fui, de "não atravesse na minha frente numa faixa de pedestres, pois sou capaz de atropelá-lo", essa foi nova. Não tenho receios, sei nome, sobrenome e endereço do ambientalista ameaçador, mas que é uma situação esdrúxula, sem dúvida que é. Pelo sim e pelo não, vou começar a colocar um pouco mais de pimenta nos próximos artigos, podem acreditar, é só esperar para ver. Como tenho dito a alguns amigos jogo no time do nóis capota, mais nóis não breca...
Independentemente dos entreveros pessoais e profissionais me ocorreu que vivemos hoje no Brasil, e pelo mundo afora também é assim, a um processo que está se tornando crônico pela animosidade demonstrada pelas pessoas no convívio com seus pares, sejam familiares, colegas profissionais, clientes, e em especial com os desconhecidos. Coloca-se para fora toda a raiva contida, numa facilidade jamais imaginada em outros tempos. E dê-lhe cotovelaço!
Tudo parece encerrar uma genérica e permanente discussão ideológica. Uma conversa sobre política ou questões cambiais, sobre poluição do planeta, ou da violência que campeia nas cidades, pode redundar num amplo e generalizado bate-boca contra o governo de Lula, o atual e o anterior, ou tudo é culpa do ex-presidente FHC. Depende com quem se está falando, mas se a sua opinião não coincidir com a do seu interlocutor, muito cuidado, pode estar a caminho um conflito de proporções temerárias. É quase um confronto de torcidas organizadas de são paulinos x corintianos x palmeirenses, ou os equivalentes regionais Brasil adentro. Não tem simpatia, e nem moleza, e assim cotovelo neles! - pois são os únicos culpados, os outros são os inimigos.
Um amigo recentemente me afirmou, depois de uma conversa sobre o tema dessa crônica, que eu deveria estar sofrendo muito com esse novo modus comportamental dos brasileiros, na medida em que muitos conhecidos e colegas profissionais me consideram polêmico. Concordei em parte, porém não sofro como vítima do problema, mas que tenho entrado em entreveros intermináveis isso é verdade. Se a gente diz uma coisa, outra é interpretada, e lá vem cotovelaço! O mesmo amigo avaliou que o problema era esse, eis que me considera um cara mal compreendido, porém jamais polêmico. Pensei sobre o assunto e tive que concordar integralmente, ainda que intimamente, pois o problema está na incapacidade das pessoas se comunicarem, sejam intenções ou sentimentos e opiniões, e por isso se trumbicam, como dizia o velho guerreiro. E acabam dando cotovelaços uns nos outros, o tempo inteiro. De um lado porque não têm paciência para ouvir uma opinião contrária, e de outro porque não querem mudar de opinião.
Um grande exemplo do novo e contemporâneo mau humor dos brasileiros está nos blogs brasileiros. Os comentários de alguns visitantes geram caóticas brigas virtuais. Algumas vezes os comentários são melhores do que os próprios artigos publicados, mas a questão assume proporções hilárias quando dois ou três dos comentaristas resolvem brigar entre si. Nunca te vi, mas sempre te odiei...
Falta ao brasileiro a cultura da democracia, a experiência do debate de idéias. Partem de premissas diferentes para debater um problema, mas terminam se estapeando, verbal ou fisicamente, porque os argumentos não importam mais, tudo é uma questão de simpatia ou antipatia, e exacerbam-se as posições. Ao invés de discutir as idéias e os conceitos desqualifica-se o oponente, o que é muito tupiniquim. Lamentável o clima, essas situações têm registros históricos, costumam antecipar-se aos tempos negros de ditaduras radicais, sempre xiitas, soberanas e fundamentalistas, recheadas de intolerância, seja qual for a cor política ou desculpa social, ou ainda religiosa.
Mas espero estar enganado.
Foi um enorme e retumbante berro, dado como ordem imperativa. O desaforo veio lá do meio do avião e apesar do barulho das turbinas todos a bordo escutaram. Deu para entender algumas palavras, berradas isoladamente, como folgado!, malcriado!, espaçoso!, pára com isso!, e ainda o ameaçador vou meter a mão na sua cara! Foi um corre-corre nervoso das aeromoças e comissários dentro do avião, e a turma do deixa-disso logo conseguiu serenar os ânimos. Comentários posteriores esclareceram que a bagunça iniciara-se pela recusa de dois passageiros, um na janela e outro no corredor, de tirarem seus cotovelos da braçadeira dos seus assentos, fazendo com que o passageiro da poltrona do meio ficasse encolhido, ou melhor, espremido, entre os seus dois gordinhos e folgados vizinhos. Deu uma cotovelada em cada um, ao mesmo tempo, e recebeu dois cotovelaços simultâneos, iniciando o entrevero verbal que se ouviu em todo o avião. Os ânimos foram acalmados com a mudança de poltrona do passageiro espremido, até porque estava em nítida e flagrante desvantagem, eram dois contra um...
Ora, pensei com os meus botões, não é exatamente o que acontece com as pessoas hoje em dia? Virou espetáculo rotineiro assistirmos, sem mais nem menos, uma polêmica discussão que se inicia já acalorada, com acusações e xingamentos, seja na fila do supermercado (anda aí, ô lesma!), na porta do elevador ou do metrô (sai da porta, folgado!), dentro do cinema (desliga essa porra desse celular!), ou no balcão do cafezinho (não foi assim que eu pedi!). Fui adiante em minhas reflexões, e me perguntei: afinal, o que terá acontecido com o brasileiro cordial pintado a sete cores e mil palavras por Sérgio Buarque de Hollanda, ou o brasileiro gentil de Darci Ribeiro? Acho que morreram, concluí, ou desistiram de gentilezas depois de inúmeras crises, de tantas incertezas nesses tempos competitivos de globalização. Quem sabe o brasileiro cansou, desde que se anunciou que o fim do mundo está próximo com esse tal de aquecimento? Ou então aprendeu também a ser malcriado, de tanto assistir filmes americanos em que mocinhos e malvados primam por competir em quem é o mais mal humorado e carrancudo.
A situação anda tão precuária – misto de situação preocupante na pecuária – que é perigoso você dirigir a um colega de trabalho um singelo como vai?, pois pode receber uma tijolada de volta, tipo o que é que você tem com isso?, ou ainda um não te interessa!
No trânsito das cidades maiores há que se ter cuidado em não chamar ninguém de barbeiro, pois a gente pode se ver com um trintoitão na cara. Esbarrão na rua, então, raramente alguém se vira para pedir desculpas e ainda pode ouvir um xingamento inesperado.
Até recentemente – no máximo uns 10 anos - os brasileiros cometiam suas indelicadezas não retornando um recado telefônico, ou não respondendo a um e-mail, mas hoje em dia isso virou lugar comum. Eu, como diz meu amigo Carlão, da Publique, que dou resposta até para spam, ainda acho um desaforo, mas as pessoas consideram isso normal, tamanho o volume de e-mails que se recebe hoje em dia. E vem mais mudança de comportamento pela frente.
Jornalistas como eu já sabem, estamos acostumados a receber mensagens ou e-mails de todo tipo, pedindo mais informações, elogiando algum artigo ou reportagem, mas hoje em dia o que mais tem é crítica e paulada. Parece que o brasileiro saiu do armário, assumiu uma postura mais agressiva. Por culpa de alguns dos últimos artigos aqui publicados recebi e-mails com xingamentos, uns até me acusando de vendido para as multinacionais dos transgênicos e dos agrotóxicos. O que eu não havia recebido até hoje, em toda a minha vida profissional de mais de 40 anos, eram ameaças. Ameaça de processos judiciais tive muitas, nenhuma concretizada. Alguns colegas envaidecem-se por serem processados, particularmente acho um assunto aborrecente, mas ser ameaçado como fui, de "não atravesse na minha frente numa faixa de pedestres, pois sou capaz de atropelá-lo", essa foi nova. Não tenho receios, sei nome, sobrenome e endereço do ambientalista ameaçador, mas que é uma situação esdrúxula, sem dúvida que é. Pelo sim e pelo não, vou começar a colocar um pouco mais de pimenta nos próximos artigos, podem acreditar, é só esperar para ver. Como tenho dito a alguns amigos jogo no time do nóis capota, mais nóis não breca...
Independentemente dos entreveros pessoais e profissionais me ocorreu que vivemos hoje no Brasil, e pelo mundo afora também é assim, a um processo que está se tornando crônico pela animosidade demonstrada pelas pessoas no convívio com seus pares, sejam familiares, colegas profissionais, clientes, e em especial com os desconhecidos. Coloca-se para fora toda a raiva contida, numa facilidade jamais imaginada em outros tempos. E dê-lhe cotovelaço!
Tudo parece encerrar uma genérica e permanente discussão ideológica. Uma conversa sobre política ou questões cambiais, sobre poluição do planeta, ou da violência que campeia nas cidades, pode redundar num amplo e generalizado bate-boca contra o governo de Lula, o atual e o anterior, ou tudo é culpa do ex-presidente FHC. Depende com quem se está falando, mas se a sua opinião não coincidir com a do seu interlocutor, muito cuidado, pode estar a caminho um conflito de proporções temerárias. É quase um confronto de torcidas organizadas de são paulinos x corintianos x palmeirenses, ou os equivalentes regionais Brasil adentro. Não tem simpatia, e nem moleza, e assim cotovelo neles! - pois são os únicos culpados, os outros são os inimigos.
Um amigo recentemente me afirmou, depois de uma conversa sobre o tema dessa crônica, que eu deveria estar sofrendo muito com esse novo modus comportamental dos brasileiros, na medida em que muitos conhecidos e colegas profissionais me consideram polêmico. Concordei em parte, porém não sofro como vítima do problema, mas que tenho entrado em entreveros intermináveis isso é verdade. Se a gente diz uma coisa, outra é interpretada, e lá vem cotovelaço! O mesmo amigo avaliou que o problema era esse, eis que me considera um cara mal compreendido, porém jamais polêmico. Pensei sobre o assunto e tive que concordar integralmente, ainda que intimamente, pois o problema está na incapacidade das pessoas se comunicarem, sejam intenções ou sentimentos e opiniões, e por isso se trumbicam, como dizia o velho guerreiro. E acabam dando cotovelaços uns nos outros, o tempo inteiro. De um lado porque não têm paciência para ouvir uma opinião contrária, e de outro porque não querem mudar de opinião.
Um grande exemplo do novo e contemporâneo mau humor dos brasileiros está nos blogs brasileiros. Os comentários de alguns visitantes geram caóticas brigas virtuais. Algumas vezes os comentários são melhores do que os próprios artigos publicados, mas a questão assume proporções hilárias quando dois ou três dos comentaristas resolvem brigar entre si. Nunca te vi, mas sempre te odiei...
Falta ao brasileiro a cultura da democracia, a experiência do debate de idéias. Partem de premissas diferentes para debater um problema, mas terminam se estapeando, verbal ou fisicamente, porque os argumentos não importam mais, tudo é uma questão de simpatia ou antipatia, e exacerbam-se as posições. Ao invés de discutir as idéias e os conceitos desqualifica-se o oponente, o que é muito tupiniquim. Lamentável o clima, essas situações têm registros históricos, costumam antecipar-se aos tempos negros de ditaduras radicais, sempre xiitas, soberanas e fundamentalistas, recheadas de intolerância, seja qual for a cor política ou desculpa social, ou ainda religiosa.
Mas espero estar enganado.
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