Richard Jakubaszko
Três vezes ao dia fumo meu palheiro, hábito adquirido faz muitos anos, e que me tornou mais afeito a reflexões do que já era quando jovem. Curto o momento das longas pitadas, e vou pensando sobre os desafios do cotidiano, resolvo problemas e conflitos mundiais, esclareço entreveros econômicos, desentendimentos sociais, disputas políticas, até mesmo mistérios de ordem religiosa.
Hoje pela manhã saí de casa já com o lambido aceso e fumegante. De casa ao metrô são uns 15 minutos de caminhada normal. Como passei rápido pela travessia da avenida, antes de chegar à estação do metrô, pois o sinal estava aberto aos pedestres, a caminhada foi mais curta do que o normal, e quando cheguei na entrada da estação havia ainda metade do palheiro para queimar. Fiquei em pé junto ao meio fio da calçada, de costas para a entrada da estação, e fui pitando as derradeiras tragadas.
Um sujeito, de uns 30 anos, me olhou do outro lado da rua e foi chegando devagar. Ao chegar me olhou firme nos olhos, depois disse, enquanto mexia ligeiramente com os olhos e a cabeça, como que tentando me fazer olhar para trás dele: o cara ali falou que vai me dar um tiro.
Olhei pensativo para o ameaçado, que não aparentava estar com medo. Enquanto não vinha a minha resposta os olhos do sujeito continuavam a se movimentar, empurrando levemente a cabeça dele para o mesmo lado. A solução me veio rápida, antes que ele me pedisse dinheiro para ir para longe dali, ou qualquer coisa nesse sentido. Respondi então que eu tinha duas coisas a fazer diante da inusitada ameaça. Primeiro, recomendar que ele fosse até a viatura policial que estava estacionada sobre a calçada, uns 50 metros de onde estávamos, e onde havia cerca de 4 policiais militares.
Em segundo, que eu ficara repentinamente apressado naquele exato instante, pois fui acometido de algum receio de que o sujeito da ameaça tivesse má pontaria e seria perigoso ficar ali ao lado dele.
Fui, sem esperar resposta.
Nessas horas não dá para ser solidário. Vai que era verdade...
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