Richard Jakubaszko
Raras vezes na vida indiquei publicamente a leitura de livros que li e gostei. Acho quase desnecessário, porque hoje em dia as gerações mais novas são menos afeitas às leituras, pelo menos é o que se comenta desbragadamente em qualquer lugar.
Entretanto, rompendo essa quase tradição, comento a seguir sobre um livro (Ensaios à solidão) que me encantou por muitas noites de leitura através de uma prosa peculiar e inteligente, obra do economista Carlos Eduardo Florence, meu amigo, um octogenário recém-adentrado, que se atreveu a escrever seu primeiro romance ambientado alhures, em algum ponto fictício do nosso Nordeste, provavelmente em zona de transição dos biomas do Cerrado com a Caatinga.
Florence é um paulista típico, porém mineiro de alma e costumes, que nos apresenta uma profunda crítica social diante das agruras climáticas há séculos sofridas pelos irmãos sertanejos. Não apenas isso, o texto é descritivo, sem diálogos, um estilo literário a que poucos escritores se atrevem a trilhar, o que tornou, provavelmente, tudo mais difícil de ser concretizado. Digo isso porque já escrevi um romance, ainda inédito, com esse estilo de narrativa, e quase abandonei o projeto lá pela metade da obra, tamanhas as dificuldades de passar a emoção das personagens. Mas isso, assim me pareceu, Florence tirou de letra, porque Ensaios à solidão tem emoção de sobra, do início ao fim. Tem amor e ódio, saudades e desprendimentos, sexos e sofrimentos, além de um sentido de humor de fina estirpe na narrativa de seu principal personagem, Cadinho, e de tudo o que ocorreu à volta desse sertanejo quase inquebrantável diante das vicissitudes da seca causticante, esta que é um detalhe da trama, mas foi a alavanca que provocou um turbilhão nas vidas de Cadinho e de sua família.
Por algumas semelhanças e aparências Florence lembra o texto e prosa de Graciliano Ramos, mas apenas lembra, sensorialmente, pois não é nem parecido, nem no estilo e nem na prosa, apenas talvez nos vocabulários e nos neologismos, alguns inventados, outros rebuscados de priscas eras, típicos do sertão nordestino, o que me fez visitar o Google, em meia dúzia de situações, para entender a aplicação e pertinência de alguns vocábulos em determinados contextos. Quem sabe por isso Florence provavelmente jamais consiga atingir o grau de romancista famoso, e tenho a certeza, pela sua simplicidade como ser humano, que jamais sonhou com essa projeção. Na leveza do texto de Florence, porém, há um profundo conhecimento da alma humana, seus anseios, desejos e sonhos, ainda que dentro de uma perspectiva simplória de um personagem pobre e analfabeto de letras, porém rico de sentidos humanos, muito próximo de um ser integrado com a natureza, mesmo que do indomável agreste, rústico e perverso diante do clima.
Se o título do livro fosse algo como a “Saga de um sertanejo”, poderia explicar de forma sucinta a história simples, bela e dramática, quase uma tragédia grega, poética e cruel, humana e animal, tudo isso ao mesmo tempo, da vida de Cadinho, um sertanejo de alma pura e comportamento humano quiçá desejado por deus, assim com minúscula, conforme grafou Florence em sua obra, pra lá de exótica, porque inventiva, criativa, cadenciada, em prosa e verso, o que me traz a necessidade de recomendar ao leitor do blog esta obra, como síntese desta "crítica literária".
As soluções narrativas encontradas pelo autor, do qual desconheço se se baseou em alguma história real, ou se inventou a história toda de cabo a rabo, mas seja ficção ou descrição de fatos devidamente dramatizados, se o drama de Cadinho caísse nas mãos de um Ariano Suassuna seria automaticamente alçado ao panteão de obra prima da literatura nacional.
Espero que Florence continue a escrever, deixe a preguiça de lado, apesar de o ato de escrever ser um esporte e atividade de caráter notoriamente solitário, mas vale a pena ao leitor, porque depois a gente comemora e corre pro abraço.
Para adquirir a obra:
Editora Labrador, com Rosângela pelo fone 11 3641.7446
E-mail: adm@editoralabrador.com.br
351 pg.
Mais informações: https://catavento.livreiros.com.br/produto/romance/ensaios-a-solidao/
Raras vezes na vida indiquei publicamente a leitura de livros que li e gostei. Acho quase desnecessário, porque hoje em dia as gerações mais novas são menos afeitas às leituras, pelo menos é o que se comenta desbragadamente em qualquer lugar.
Entretanto, rompendo essa quase tradição, comento a seguir sobre um livro (Ensaios à solidão) que me encantou por muitas noites de leitura através de uma prosa peculiar e inteligente, obra do economista Carlos Eduardo Florence, meu amigo, um octogenário recém-adentrado, que se atreveu a escrever seu primeiro romance ambientado alhures, em algum ponto fictício do nosso Nordeste, provavelmente em zona de transição dos biomas do Cerrado com a Caatinga.
Florence é um paulista típico, porém mineiro de alma e costumes, que nos apresenta uma profunda crítica social diante das agruras climáticas há séculos sofridas pelos irmãos sertanejos. Não apenas isso, o texto é descritivo, sem diálogos, um estilo literário a que poucos escritores se atrevem a trilhar, o que tornou, provavelmente, tudo mais difícil de ser concretizado. Digo isso porque já escrevi um romance, ainda inédito, com esse estilo de narrativa, e quase abandonei o projeto lá pela metade da obra, tamanhas as dificuldades de passar a emoção das personagens. Mas isso, assim me pareceu, Florence tirou de letra, porque Ensaios à solidão tem emoção de sobra, do início ao fim. Tem amor e ódio, saudades e desprendimentos, sexos e sofrimentos, além de um sentido de humor de fina estirpe na narrativa de seu principal personagem, Cadinho, e de tudo o que ocorreu à volta desse sertanejo quase inquebrantável diante das vicissitudes da seca causticante, esta que é um detalhe da trama, mas foi a alavanca que provocou um turbilhão nas vidas de Cadinho e de sua família.
Por algumas semelhanças e aparências Florence lembra o texto e prosa de Graciliano Ramos, mas apenas lembra, sensorialmente, pois não é nem parecido, nem no estilo e nem na prosa, apenas talvez nos vocabulários e nos neologismos, alguns inventados, outros rebuscados de priscas eras, típicos do sertão nordestino, o que me fez visitar o Google, em meia dúzia de situações, para entender a aplicação e pertinência de alguns vocábulos em determinados contextos. Quem sabe por isso Florence provavelmente jamais consiga atingir o grau de romancista famoso, e tenho a certeza, pela sua simplicidade como ser humano, que jamais sonhou com essa projeção. Na leveza do texto de Florence, porém, há um profundo conhecimento da alma humana, seus anseios, desejos e sonhos, ainda que dentro de uma perspectiva simplória de um personagem pobre e analfabeto de letras, porém rico de sentidos humanos, muito próximo de um ser integrado com a natureza, mesmo que do indomável agreste, rústico e perverso diante do clima.
Se o título do livro fosse algo como a “Saga de um sertanejo”, poderia explicar de forma sucinta a história simples, bela e dramática, quase uma tragédia grega, poética e cruel, humana e animal, tudo isso ao mesmo tempo, da vida de Cadinho, um sertanejo de alma pura e comportamento humano quiçá desejado por deus, assim com minúscula, conforme grafou Florence em sua obra, pra lá de exótica, porque inventiva, criativa, cadenciada, em prosa e verso, o que me traz a necessidade de recomendar ao leitor do blog esta obra, como síntese desta "crítica literária".
As soluções narrativas encontradas pelo autor, do qual desconheço se se baseou em alguma história real, ou se inventou a história toda de cabo a rabo, mas seja ficção ou descrição de fatos devidamente dramatizados, se o drama de Cadinho caísse nas mãos de um Ariano Suassuna seria automaticamente alçado ao panteão de obra prima da literatura nacional.
Espero que Florence continue a escrever, deixe a preguiça de lado, apesar de o ato de escrever ser um esporte e atividade de caráter notoriamente solitário, mas vale a pena ao leitor, porque depois a gente comemora e corre pro abraço.
Para adquirir a obra:
Editora Labrador, com Rosângela pelo fone 11 3641.7446
E-mail: adm@editoralabrador.com.br
351 pg.
Preço de capa: R$ 49,90
Mais informações: https://catavento.livreiros.com.br/produto/romance/ensaios-a-solidao/
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por participar, aguarde publicação de seu comentário.
Não publico ofensas pessoais e termos pejorativos. Não publico comentários de anônimos.
Registre seu nome na mensagem. Depois de digitar seu comentário clique na flechinha da janela "Comentar como", no "Selecionar perfil' e escolha "nome/URL"; na janela que vai abrir digite seu nome.
Se vc possui blog digite o endereço (link) completo na linha do URL, caso contrário deixe em branco.
Depois, clique em "publicar".
Se tiver gmail escolha "Google", pois o Google vai pedir a sua senha e autenticar o envio.