quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Receita de nostalgia com alienação caramelada e delírio.

Carlos Eduardo Florence *

Que amanheça em bemol, se escute o então, silêncio, o desistir de viver, o entretanto.

Sequer lave a alma com esperança, presente do subjuntivo, resignação ou premonição.

Salpique medo ou sonho. Adjetivos, crianças brincando de amarelinha, agregue logo.

Ponha as ansiedades, sem precaução, e o sol entardecido para desidratarem brandos.

Adicione pitada de fantasia, mais manteiga de garrafa, enquanto atina alterne a nota.

Pela janela entreaberta escute dois cavalos pastando na solidão, sua, com as manias.

O tempo chegou, esparrame entropias pela soleira, descortine o impossível, descreia.

Capte tais inexplicáveis pelo afetivo, esparja com moderação até começarem a sorrir.

Observe o tempo entornar capcioso, triste, como as dúvidas, intrigas e as apreensões.

Do lado do coração há um borralho, da alma, o colibri assiste, da saudade paira névoa.

Mexa os sustenidos, cuidado com o rastro do finito a pedir explicações às suas cismas.

Angustiado amadureça uma penca graúda de imprevisto enquanto nega a melancolia.

Não anote os infinitivos que não rimarem na receita com o tom maior do verbo amar.

São os fortuitos para se começar a desestruturar a sintaxe, o portanto e o tino de será.

Sinta o odor azul das sete andorinhas adentrando pelo amém trazendo a volúpia.

A janela se fecha, os cavalos findam entre os tendo sidos, a noite estrupa o entardecer.

Provoque movimentos pendulares de forma a hipnotizar o nada entre o sim e o ciúme.

É sinal que o desejo intenta parir euforia e a solidão aborta antes da sina magoá-lo.

Não esqueça que a receita de nostalgia embala o ser enquanto o sofrer aguarda o vir.

Procriando, as lamúrias pedem dois caprichos, aplique-as com instigações sensuais.

Confira se as emoções estão exaltadas e deixe fermentar as ilusões de suas fantasias.

Sua metamorfose e transe endoidarão, o subjetivo meandrará às evidências e rimas.

Brotando calmo chega ao ponto, desespero. Grite. Deixe aflorar para que a ânsia seja.

Ponha em fervura até dourar o orgasmo, despreze a censura, avive o imaginário.

Envase no inconsciente, acomode no agora, estraçalhe o passado, acalante no porvir.

Receita de nostalgia com alienação caramelada e delírio, paradoxo de desejo e pecado.

* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos.
Publicado em http://carloseduardoflorence.blogspot.com/2020/10/de-nostalgia-com-alienacao-caramelada-e.html

 



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