terça-feira, 29 de setembro de 2009

Milho resistente

por Roberto Barreto, de Catende.

Nos Caminhos de Pedra, município de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, além da presença humana de origem marcadamente italiana, existem tesouros culturais, arquitetônicos e paisagísticos que, às vezes, oferecem aos visitantes surpresas que parecem retiradas d’algum baú imemorial. Imagine-se entrando numa propriedade, caminhando pacificamente, à procura de anfitrião, no cascalho de uma aléia formada por videiras que o convocam a visitar a embosqueirada adega, uma envelhecida construção de madeira cujas portas e janelas ficam permanentemente abertas em convite à degustação. A suave luz invernal, que apura os meios-tons para o fotógrafo amador, penetra no ambiente decorado por cestas de colheita da uva dependuradas nas vigas, pairando sobre os tonéis onde dormem os vinhos, a grapa, os licores. No exíguo quadrilátero de chão batido, dois tonéis servem de mesa, com sua fartura de garrafas, em dionisíaca oferta, a ser desarrolhadas pelo constrangido turista, que inevitavelmente acaba caindo em tentação. À saída, a alguns metros dali, na porta de uma casinha, uma senhora acena em cordial despedida.

O visitante retribui e vai em frente, com a sensação de que viveu uma experiência ilusória, mas só até chegar ao local onde funcionava o antigo moinho Cecconello, hoje a Casa da Erva-Mate, onde a produção também parece conduzida por fantasmas, que trabalham animados pelo barulho de cascata produzido pela roda d’água. No relógio está a explicação para a ausência humana: a hora é do sagrado almoço, acompanhado da indispensável sesta. Nos Caminhos, como os caminhantes, ao almoço, pois, na Cantina Strapazzon, onde o espera um pão caseiro com manteiga, de entrada, um bom vinho da casa, naturalmente, e uma inesquecível massa que pode ser recheada com uma pasta de abóbora, por exemplo.

Depois da refeição, continuar a caminhada para ampliar os conhecimentos sobre um dos primeiros núcleos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, com suas construções que conservam uma história mais que secular: casas de pedra centenárias, casas de madeira com três pisos, capelas, porões onde mulheres dão continuidade à arte de tecer herdada das avós. Um mundo formado por sete comunidades que compõem o Distrito de São Pedro (São Pedro, São Miguel, Barracão, São José da Busa, Cruzeiro, Santo Antônio e Santo Antoninho), resgatado por iniciativa do engenheiro Tarcísio Vasco Michelon e do arquiteto Júlio Posenato, a partir de um levantamento do acervo arquitetônico do município de Bento Gonçalves realizado em 1987. Nesse itinerário da cultura que os imigrantes italianos construíram na serra gaúcha a partir do século 19, encontrei Seu Bertarello, proprietário do moinho que carrega o nome centenário da família e é classificado, pela Associação Caminhos de Pedra, entre as maiores atrações do lugar.

RESISTÊNCIA
Fundado em 1856, o moinho passou, em 1911, para os Bertarello, família oriunda de Carrara, comuna italiana da região Toscana. O bisavô Jácomo nasceu por lá e veio em 1875 para o Brasil, onde nasceu o avô Giuseppe. Nas mãos da família, o empreendimento funcionou até 1977, quando surgiu o que Seu Bertarello chama de “a crise dos moinhos coloniais”, assim por ele descrita: “A ordem veio de cima, lá de Brasília, obrigando todo mundo a fazer um tipo de cadastramento no Ministério da Agricultura, uma coisa praticamente impossível, para a gente simples que trabalhava nesse recanto do mundo. No fundo, a idéia era acabar com os moinhos coloniais e entregar tudo nas mãos das grandes empresas, ou seja, uma história que já vimos se repetir muitas vezes contra quem não tem poder”.

O nome José Mário Bertarello tornou-se, por sua luta, uma espécie de Quixote às avessas, pois, ao contrário do famoso personagem de Cervantes, saiu do ventre do moinho para defender seu patrimônio, enfrentando monstros burocráticos ditatoriais que, na década do nosso famoso Milagre Econômico, tentaram – e quase conseguiram – eliminar todos os moinhos coloniais. Daqueles 368 pequenos moinhos que existiam na região, apenas 12 sobreviveram funcionando até hoje. “Naquele tempo, os agricultores plantavam o milho e o trigo que alimentavam os moinhos. Com a ação do governo e o abatimento total, a cultura foi sendo substituída pela fruticultura e os moinhos morrendo”, explica Seu Bertarello. Os Bertarello também foram obrigados a parar, mas, por iniciativa do filho, Ailor, retomaram as atividades em 1985 e estão no seu cantinho até hoje, moendo seus 1.200 quilos de milho, branco e amarelo, por dia. Na época em que existia o trigo, eles moíam 5.000 quilos por dia desse grão.

Ao voltar a São Paulo, veio-me a inspiração para compor uma letra que até hoje está à espera de melodia, assim como os Bertarellos estão a minha espera de braços abertos, para beber água na bica e comer uma polenta com frango caipira. Aí vai.

PEDRA 90
Milho, moinho, pedra.
Mói, mói, mói, mói,
Mói, mói, mói
O milho é antigo
A pedra muito mais
Mói, mói, mói, mói,
Mói, mói, mói

Nos Caminhos de Pedra
Resiste o moinho
Defendido à lança
Por certo imperioso
Quixote orgulhoso
A quem Deus retirou
Como um de Camões
Mas, decerto dobrou,
No que ficou bem visto,
A capacidade
Da percuciência
E mói, mói, mói, mói
Mói, mói, mói

Bertarello é pedra 90
Mói branco e amarelo
Pra bolo e polenta

Água nasce na serra
Vem pedra-ferro abaixo
Duetar com a moenda
Pro milho debulhado
Dançar cateretê
Até se desmanchar
Na alegria de ser
Esculento na vida
Fortuna de ouro
Uma festa na mesa
Ode ao Duradouro
E mói, mói, mói, mói
Mói, mói, mói

Bertarello é pedra 90
Mói branco e amarelo
Pra bolo e polenta

Acho, enfim que a resistência dos Bertarello valeu a pena, pelo menos para um jornalista saudosista como eu, que trouxe farinha de milho dos Caminhos e ganhei de Seu Bertarello, o Pedra 90, duas espigas enormes, uma de grãos amarelos, outra de brancos, incentivado a iniciar uma produção que poderia repetir a façanha dos pés de milho do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, dando ‘20 espiga em cada pé’, se porventura eu encontrasse uma nesga de terra, onde pudesse plantar, no meio do asfalto paulistano. Bom, ando pensando em adotar uma praça.
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domingo, 27 de setembro de 2009

O Brasil com "Z" dos tucanos

Richard Jakubaszko

O jornalista Paulo Henrique Amorim publicou hoje em seu site, o Conversa Afiada, que "ontem num encontro do PSDB que aconteceu em Natal (com a presença de Serra e Aécio) , eles resolveram 'sair do armário' e assumiram sua postura de tornar o Brasil uma neo-colônia".

Para aumentar a foto clique na imagem.




quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Pucinelli versus Minc, uma boa briguinha.

Por Roberto Barreto, de Catende.
 

PÍLULA DO DIA
(pode ser tomada à noite)

O sul-matogrossense, André Puccinelli, afirmou que estuprará o
Ministro Minc em público, uma séria ameaça, ele é o governador.


RBdC 

ET. Comentário do blogueiro: dou um doce pra ver essa briguinha esquentar... É evidente que o governador não precisava apelar para a violência sexual nesse caso, acabou por ser chamado pelo ministro de homossexual enrustido, e por aí a coisa vai, mostrando o alto nível dos debates.


domingo, 20 de setembro de 2009

Desfazendo

por RUBEM ALVES
(enviado por Daraitalo, a mulher que escreve, minha filha, a antropóloga e cientista social Andrea Jakubaszko)

 
Desfaço 76 anos...




Na contabilidade dos anos de vida, tudo que parece mais é menos; Chronos é o deus cruel que devora seus filhos


O PRIMEIRO filósofo que li ainda adolescente, um dinamarquês chamado Kierkegaard, escreveu que "a pessoa que fala sobre a vida humana, que muda com o decorrer dos anos, deve ter o cuidado de declarar a sua própria idade aos seus leitores". E isso porque não temos pela manhã as mesmas ideias que temos no fim do dia. Uma ideia dita de manhã abre um cenário. A mesma ideia dita no crepúsculo abre outro cenário diferente.
Monet sabia disso. Sabia que um monte de feno que as vacas identificavam como o mesmo através das horas do dia, sob as diferentes oscilações da luz, se tornavam outros. Assim, ele não pintava o mesmo monte de feno várias vezes: ele pintava os vários montes de feno que se revelavam sob as oscilações da luz. Apresso-me, portanto, a revelar a minha idade, para que os meus leitores vejam o que estou vendo. Hoje, dia 15 de setembro de 2009, estou desfazendo 76 anos. Minha idade pinta uma paisagem crepuscular.


O revisor se apressará a corrigir o meu erro. Eu devo ter me distraído, coisa compreensível na minha idade... Não há nem na literatura nem na linguagem comum exemplo desse uso estranho da palavra "desfazer" para se referir ao que acontece num aniversário. O certo é "fazer". Ato contínuo ele deletaria o "des" e o texto ficaria liso, sem causar tropeções no leitor: hoje, dia 15 de setembro, o Rubem Alves está "fazendo" 76 anos. Assim tem sido minha relação com revisores: desentendemo-nos sobre a vida e sobre as palavras...

Aí me veio à memória uma observação de Rolland Barthes que não consigo repetir por não ter encontrado o livro: ele disse (perdoem-me se me engano!) gostar dos textos que fazem tropeçar e não dos textos próprios para deslizar. O deslizamento deixa os pensamentos do jeito como estavam, enquanto que o tropeção e o tombo são ocasiões para o susto e a súbita iluminação.

É um equívoco contabilizar o número dos anos vividos na coluna da adição. Adição é a coluna do "mais". Diz que algo aumentou. Mas o que aumentou? A vida? Na contabilidade dos anos de vida, tudo que parece "mais" é, na realidade, um "menos". O número contabiliza os anos que foram desfeitos. Chronos é o deus cruel que devora os seus filhos...

O correto seria perguntar ao aniversariante: "Quantos anos você não tem? E ele responderia "Eu não tenho 42". "Quantos anos você está desfazendo hoje? Estou desfazendo 54..."
Lá estão as velinhas sobre o bolo, coroadas pelo fogo, maravilhoso símbolo da vida. Aí todos começam a bater palmas, a sorrir e a cantar: o aniversariante irá apagar as chamas com um sopro. No seu lugar ficarão os pavios negros, retorcidos, soltando fumaça, trevosos. Apagadas as velas, todos batem palmas e riem. Confesso que não entendo...

Bachelard o disse com delicadeza insuperável: "A vela que se apaga é um sol que morre. O pavio se curva e escurece. A chama tomou, na escuridão que a encerra, seu ópio. E a chama morre bem; ela morre adormecendo"...

Quero que minha chama se apague adormecendo. Não quero que um sopro forte apague o meu fogo. Espero que minha vela vá se desfazendo vagarosamente...

No meu aniversário não haverá velinhas a serem apagadas com um sopro bruto. Vou mesmo é acender uma vela bem grande que deverá ser acesa e ficar acesa até que o último amigo se despeça. Então eu e minha vela, sozinhos como dois amantes, nos despediremos... Até o ano que vem, se os ventos não forem fortes...
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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Uma entrevista histórica de Lula

Richard Jakubaszko
Parafraseando David Ogilvy, eu gostaria de ter escrito o texto abaixo.

Coluna Econômica - 18/09/2009 - Luís Nassif
A nova proposta de tributação da caderneta de poupança é mais simples do que a proposta anterior.
Há tempos, era possível vislumbrar o que seria a crise global do financismo e o que viria depois. No meu livro “Os Cabeças de Planilha” – lançado em 2005, mas com escritos de alguns anos antes – preconizo a volta do nacionalismo, da defesa da produção e do emprego nacional, como um dos elementos centrais da nova política do país. E, nessa linha, a convocação das grandes empresas brasileiras, das estatais, a articulação das pequenas em cima de um pensamento comum.

No seu primeiro mandato, Lula marcou passo, manteve a ortodoxia do Banco Central, avançou pouco em novas políticas. No segundo, pegou no breu, com a massificação de políticas sociais. Com a crise mundial, o ganho de competência na gestão (com PACs, Luz Para Todos etc) e, agora, o pré-sal, consolidou seu pensamento. No jornal O Valor de ontem, concedeu sua mais importante entrevista. Pela primeira vez, ficou claro o que o mundo viu em Lula.
Na entrevista, Lula sintetiza de forma singular qual o país que irá legar. Não foi uma lista de obras ou de feitos, mas uma conjunção de princípios econômicos e políticos que entrará para a história.

***

Em relação aos próximos passos, fala de um novo PAC para o período 2011-2015, uma lei consolidando todas as políticas sociais, a medida garantindo a universalização do acesso à Internet.

Mais importante são os conceitos exarados:
- um salto em direção à industrialização com o uso de ferramentas de política industrial. Como, por exemplo, na decisão de aproveitar o pré-sal para construir um novo pólo petroquímico;

- a responsabilidade das grandes multinacionais brasileiras em investir no país olhando o futuro e não o seu caixa. É quando cobra da Vale os investimentos em novas siderúrgicas para o país não se conformar em ser um mero exportador de minérios.

- acabar com essa história de que todo investimento deve se fixar exclusivamente nos custos (o que justificaria importar quase tudo): “quando começamos a discutir com a Petrobras a construção de plataformas, ela dizia “nós economizamos tantos milhões. Eu falava, e os desempregados brasileiros, e os avanços tecnológicos brasileiros?”

- sobre o papel do Estado, consolidou a ideia de que o Estado não pode ser o gerenciador, o administrador. Tem que ter o papel de indutor e de fiscalizador”.

- O papel das Estatais, passando por cima das conveniências políticas. Mostra que ao comprar a Nossa Caixa, perguntaram se não se incomodaria em fortalecer o candidato José Serra. Mas era importante para alavancar o crédito, especialmente na crise.

- Sobre o fortalecimento do Estado, rebateu a ideia de que basta uma reforma fiscal e arrochar salários do funcionalismo para resolver a questão. Mostrou como o setor público perdeu quadros preciosos por falta de salários. E a importância do reforço em áreas chave, como educação. O importante é analisar os serviços que o Estado presta e procurar aperfeiçoá-los.

- Rebateu a tentativa de alguns setores aliados de criar um “risco Serra”. Mostrou que, entre quem entrar, não haverá loucuras nem com o Banco Central nem com o mercado

Sobre Estadistas – 1
Um dos atributos do estadista não é apenas o de construir o futuro de um país. Por não ser um intelectual, não sofistica o discurso. Mas tem a capacidade de identificar o essencial e comunicar em linguagem clara e objetiva. No Brasil pós-ditadura, três políticos juntaram esses atributos. Mesmo sendo um desastre político, Fernando Collor teve insights brilhantes, definir o rumo para os quase vinte anos seguintes.

Sobre Estadistas – 2
De seu lado, o governador paulista Mário Covas conseguiu definir um discurso de casamento da política com o bem comum e da importância da responsabilidade fiscal, que seria uma das marcas dos anos 90. Junto com Sérgio Motta são os políticos que dão o tom da social democracia do PSDB, que se perde depois com a diluição do governo FHC e com sua liderança posterior, descaracterizando o partido.

Sobre Estadistas – 3
Na entrevista, Lula consolida definitivamente os valores que marcarão o país daqui para frente: responsabilidade fiscal; resistência total contra a inflação; defesa da produção nacional; extensão da responsabilidade sobre o país para todos os setores, não apenas o governo; a importância fundamental da inclusão social; a visão da política, sem as radicalizações de outros momentos e de outras campanhas.

Sobre Estadistas – 4
A maneira como se refere aos candidatos – Dilma, José Serra, Marina Silva e Heloisa Helena – mostra o político que prepara-se para sair de cena colocando-se acima das paixões da política diária. Qualquer um deles seria ótimo para o país, por casarem responsabilidade social com seriedade e visão próxima sobre o futuro. A maneira como desmonta o terrorismo contra Serra é exemplar.

Sobre Estadistas – 5
Deve-se ler várias vezes a entrevista para se acreditar nela. Não se trata de boa vontade com o sindicalista que fala errado mas se expressa bem. O que impressiona é a doutrina exposta, a capacidade de identificar os pontos essenciais na construção de um país, a lógica objetiva com que expõe os princípios. Enfim, uma aula de teoria política inimaginável a alguém com a formação de Lula.

Sobre Estadistas – 6
Com seu discurso, além disso, ele procura esvaziar a grande ameaça que poderia comprometer o futuro do país: a radicalização nas próximas eleições, criando um clima de divisão do país e expondo o vitorioso a quatro anos de guerra com a oposição. Depois o início atabalhoado de seu governo, do episódio do “mensalão”, da falta de traquejo inicial para alianças, Lula chega ao último ano como um dos presidentes fundamentais na história do país.

Blog: http://www.luisnassif.com.br/
E-mail: luisnassif@ig.com.br 

Comentário do blogueiro: para ler a entrevista na íntegra, publicada no jornal Valor Econômico de 17/9/2009, clique no link a seguir: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/9/17/lula-propoe-uma-consolidacao-das-leis-sociais

domingo, 13 de setembro de 2009

Morre Norman Borlaug

Richard Jakubaszko

Recebi e-mails do Prof. Antonio Roque Dechen, diretor da ESALQ, e do Dr. Fernando Penteado Cardoso, presidente da Agrisus, comunicando a morte de uma das maiores personalidades do século XX, o engenheiro agrônomo Norman Borlaug, prêmio Nobel da Paz em 1970. Minha profunda admiração por esse cientista se traduziu na publicação de inúmeros textos de sua autoria na revista DBO Agrotecnologia, o mais recente é o texto originalmente publicado no New York Times, em agosto último, sob o título “Os Produtores Podem Alimentar o Mundo”, com tradução do Dr. Cardoso, com chamada de capa, e cuja reprodução está no site da revista: http://www.dboagrotecnologia.com.br/
Abaixo o informe do Prof. Roque e do Dr. Cardoso:

O MUNDO PERDE UM APÓSTOLO DO ALIMENTO
por Fernando Penteado Cardoso
O Brasil Perde um Grande Amigo. Faleceu em Dallas/TX/EUA na noite de 12 de Setembro o insigne agrônomo e cientista, apóstolo mundial do alimento, Dr.Norman Borlaug, vitima de câncer e suas complicações.

Grande amigo do Brasil, visitou o país desde a década de 1940 quando se dedicava ao melhoramento de variedades de trigo e procurava plantas diversificadas por todo o mundo, inclusive no Rio Grande do Sul, onde Beckman e associados se dedicavam à seleção desse cereal. Na década dos anos 1990 viajou diversas vezes para Sete Lagoas/MG para colaborar com a Embrapa na genética da variedade do milho de proteína de qualidade, conhecido por "Opaco 2".

Em 1995, a convite da empresa Manah S.A. percorreu a região do cerrado e pronunciou palestra a funcionários e produtores convidados, ocasião em que emitiu o inédito elogio de que "o que acabava de ver na recuperação do cerrado, transformando terras fracas em solos férteis de alta produtividade, era o maior acontecimento na história da agricultura do século XX, a nível mundial".

Retornou ao Brasil no inicio de 2004 por iniciativa própria, pois queria ver o que havia acontecido no cerrado. Em companhia do Prof. Ed Runge da Universidade Texas A&M e do Presidente da Fundação Agrisus F.Cardoso, percorreu os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais em S.Paulo, tendo feito palestra na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz-USP em Piracicaba e visitado o Reitor da Universidade de S.Paulo. Após presenciar a colheita de soja em Sapezal/MT, seguida de plantio de milho, ele confidenciou "este foi um dos dias gratificantes de minha vida".

Esteve presente à cerimônia da outorga do Prêmio Mundial do Alimento (World Food Prize), instituído por sua iniciativa, quando três agrônomos foram distinguidos pelo trabalho de recuperação do cerrado brasileiro: Alysson Paulinelli (ex Ministro da Agricultura, idealizador do Programa do Cerrado-PROCER na década de 1980), Edson Lobato (EMBRAPA-Cerrado, Planaltina/DF) e o americano Colin McClung (IRI, Matão/SP).

Em recente artigo publicado pelo New York Times em Agosto último, sob o título “Os Produtores Podem Alimentar o Mundo” ele volta a manifestar sua confiança na tecnologia ao afirmar que “melhores semente e fertilizantes, não mitos românticos, permitirão que assim o façam”.

Borlaug recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1970 e em seu país foi homenageado com a Medalha Presidencial da Liberdade (1977), a Medalha de Ouro do Congresso (2006) e a Medalha Nacional da Ciência (2007).

O mundo chora a perda de tão distinto agrônomo/cientista, um idealista preocupado com a produção mundial de alimento no presente e no futuro.
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Carlos Minc, o ministro turrão.


Richard Jakubaszko
Melhor talvez seja chamar simplesmente de teimoso esse ministro Minc. As alternativas seriam quase xingamentos, como birrento, quem sabe burro ou ignorante. Pois o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, sugeriu esta semana, mais uma vez, seis alterações no Código Florestal atual, para valer quando entrar em vigor o novo Código no final do corrente ano. As mudanças propostas por Stephanes incluem a retirada da proibição do plantio de áreas consolidadas em morros, topos e encostas; a soma das reservas legais com APPs (Áreas de Preservação Permanente); a liberação da reserva legal, com o tamanho da propriedade sugerido pelo ministro em até 150 hectares. Com isso calcula-se atingir 95%, ou até mais, do total das propriedades. Além disso, Stephanes propõe a compensação em outras áreas, em obediência à legislação anterior e, por fim, que as penalizações e multas feitas fora do período devam ser automaticamente eliminadas.
Na avaliação do ministro, 70% do território nacional já é caracterizado hoje como reserva de alguma espécie. "Devemos atingir 80% em breve e esse território está todo congelado para qualquer atividade econômica". Falando frontalmente contra o ministério do Meio Ambiente a uma plateia formada basicamente por produtores rurais, Stephanes queixou-se de que o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, não aceita mudar nenhum ponto da atual legislação. "Pelo ministério do Meio Ambiente não se muda nada, mas precisamos de alterações no curto prazo ou teremos sérios problemas pela frente".
Não sei se o ministro Minc entendeu o que o colega da Agricultura falou, mas apresso-me a “traduzir” a mensagem: vai faltar comida, ou melhor, a oferta de alimentos vai ser drasticamente reduzida e estes vão ficar muito mais caros. Capisce ministro Minc?
Afinal, o que querem os ambientalistas? Preservar tudo? Agora investem até contra o Cerrado, lamentam através da grande mídia que quase 50% desse “magnífico” bioma, com vocação para ser uma imensa savana, portanto um solo degradado, já foi alterado para a implantação de lavouras e pastagens, e “acusam” que é tudo para se ter lucro... A mídia concorda com tudo, parece não ter competência para contestar o ministro que tem ideias mais curtas do que as mangas de seus coletes.
Ora, lucro agora é pecado? Talvez ganância, mas seria um pecado venial, até porque a acusação é dessas coisas politicamente corretas, para não dizer capenga e infantil, além de rasteira. O ministro Minc precisa saber que se faz agricultura para produzir alimentos e biocombustíveis, além de fibras, e que estes últimos, depois, viram coletes coloridos para enfeitar o sortido guarda-roupa dele. Alguém aí, que esteja lendo este texto, avise o ministro Minc que alimento não nasce na gôndola de supermercado. Alguém aí avise o ministro e seus amigos ambientalistas que para estancar a oferta de alimentos precisaria reduzir antes o número de bocas que gostam de comida, porque o planeta está com 6,7 bilhões de almas, ou melhor, bocas famintas, e vamos aceleradamente para 9 bilhões dentro de 25 anos. Alguém aí avise o ministro de que terá de reinventar a roda do crescimento da economia para garantir emprego aos que vão nascer no futuro breve.
Como vão fazer para reduzir o crescimento demográfico não é problema meu. Apenas sei que precisa fazer isso. Nesse sentido, por vezes me acusam de “catastrofista”, mas informo que tenho um amigo, fazendeiro, que se autointitula “otimista”, e diz acreditar que a natureza irá nos pregar uma peça inesquecível dentro em breve com uma hecatombe, virose, pandemia ou sabe-se lá o que, que irá extinguir de um só sopro mais de 2,5 bilhões de bocas do planeta, “solucionando” a questão ambiental, e mitigando os problemas para daqui a um século e meio, no mínimo.
Sei lá se vai ou não acontecer tal fatalidade, não tenho bola de cristal, mas talvez fosse melhor que acontecesse, o quanto antes, seja pela providência Divina, seja pela ação inconsequente da humanidade com o consumismo e com essa estranha mania de, todo dia, três vezes ao dia, ficar engolindo alimento. Que vício idiota esse, não é mesmo? Nessa marcha consumista não vai sobrar nenhuma árvore na Amazônia daqui a uns 50 anos, querem apostar? Pode colocar um exército de milhões de mincs de braços dados nas bordas de toda a imensa floresta, não vai sobrar uma só árvore para contar a história. Até porque, primeiro os madeireiros tiram as árvores de lá, e os fiscais do Ibama, subalternos do ministro Minc, não nos esqueçamos, não estão nem aí, ou eles deixam os caminhões passar, se ficar uma propina, evidentemente, ou a madeira é apreendida para efeito midiático do ministro dos coletes, que adora aparecer na mídia. Jamais vi uma árvore queimada, esturricada pelas queimadas. Porque os madeireiros passam por lá antes disso, uma eterna coincidência...
É, é melhor avisar o ministro Minc que ele é turrão, é birrento, é burro (porque pouco inteligente) e ignorante (no sentido lato de ignorar) das coisas da vida e do campo. Ou então há comprometimento com outros interesses, inconfessáveis por sinal, porque o que ele vai conseguir com essa birra e teimosia, é colocar um nó górdio no agronegócio e que depois será difícil de desatar, para não dizer impossível. Levem em consideração que não afirmei que o ministro é vigarista, ainda não tenho certeza de que ele mereça esse rótulo, apesar dele achar o contrário em relação aos produtores rurais que plantam a comida que ele come. Mas depois que come tenho certeza de que ele cospe no próprio prato, é claro, caso contrário seria um incoerente.
Já sugeri uma vez, e repito: pegue seu boné, mas não esqueça dos coletes, e vá tomar sol na sua praia do Leblon, senhor ministro da teimosia. Aproveite e relaxe, faça muita passeata em favor da liberação da sua maconha, talvez a única agricultura possível dentro de sua ótica.
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ET. Recomendo a leitura da matéria de capa da revista DBO Agrotecnologia, título "Corredores ecológicos: sim a sustentabilidade é possível!". Leia em arquivo PDF no site da revista: www.dboagrotecnologia.com.br

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Orgânico versus Convencional

Enviado por Ralph Werhle
Caro Richard,
Recentemente no seu blog este assunto estava em pauta.
Abaixo artigo publicado hoje no Food Navigator http://www.foodnavigator.com  que tampouco vai ser a palavra final sobre o assunto, mas vale a pena ler para entender o que foi levado em conta na avaliação. Tem tb a referência sobre o trabalho original!
Abs,
Ralph

French study says organic food is healthier
By Jess Halliday, 11-Sep-2009
A new review from France has concluded that there are nutritional benefits to organic produce, on the basis of data compiled for the French food agency AFSSA. The conclusion opposes that of a UK study published last month.
Whether or not organic food brings nutritional benefits over conventional food has been a matter of considerable inquiry and debate. The issue came to a head last month when a study commissioned by the UK¹s Food Standards Agency (FSA) concluded that there is no evidence of nutritional superiority.
Now, however, a review published in the journal Agronomy for Sustainable Development has said drawn wildly different conclusions.

Author Denis Lairon of the University of Aix-Marseille coordinated an ³up-to-date exhaustive and critical evaluation of the nutritional and sanitary quality of organic food² for AFSSA, which was originally published
in 2003. The new review is based on this, as well as the findings of new studies published in the intervening years.

Lairon concluded that organic plant products contain more dry matter and minerals ­ such as iron and magnesium ­ and more antioxidant polyphenols like phenols and salicylic acid. Data on carbohydrate, protein and vitamin levels are insufficiently documented, he said.
Organic animal products were seen to have more polyunsaturated fats.

Is nutrition important?
In the wake of the FSA report publication, organic groups and the media debated the reasons for consumers¹ keenness to buy organic produce. Many concluded that nutritional benefit is not necessarily at the forefront of
their minds, but they are more driven by food safety and environmental aspects such as pesticide use.
Unlike the authors of the FSA study, Lairon did look at food safety. He concluded that between 94 and 100 per cent of organic food does not contain any pesticide residues, and organic vegetables have about 50 per cent less nitrates.
Organic cereals, however, were seen to have similar levels of mycotoxins overall compared with conventional cereals.

Emphasis on quality
The FSA study looked at evidence from studies published in the English language, and notably drew attention to shortfalls in the methodology of many which means their findings could not be included.
The original AFSSA report, too, placed a high onus on quality or study.
Selected papers had to refer to well-defined and certified organic agricultural practices, and have information on design and follow-up, valid measured parametres and appropriate sampling and statistical analysis.

Source:
Agronomy for Sustainable Development (2009)
DOI: 10.1051/agro/2009019
³Nutritional quality an safety of organic food. A review²
Author: Lairon, D.
Abs, Ralph
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domingo, 6 de setembro de 2009

Pílula do dia (pode ser tomada na véspera)

por Roberto Barreto, de Catende


Com su mano de Dios, Maradona colocou o selecionado argentino no inferno astral.

(Depois dos 3 x 1 de Rosário, Argentina, neste sábado, carimbamos nuestro passaporte em cima dos hermanos)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Assassinaram o Hino Nacional

Richard Jakubaszko
Assassinaram o Hino Nacional, amigos leitores do blog, vamos de mal a pior. Ouçam o que fizeram clicando no link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=TfzyqxWHrQo