terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Eureka! Lei conceituou coisa julgada e não se sabia

Lenio Luiz Streck e Alexandre Morais da Rosa












E Feliz 2020! Porque 2019 já se tornou coisa julgada.

Estávamos tomando um suco na orla de Ipanema falando sobre as reviravoltas das decisões judiciais desprovidas de integridade e coerência, na linha de Dworkin. Claro que chegamos na decisão sobre prisão em segunda instância, do julgamento da ADC 43 e 44, sobre a eficácia do artigo 283 do CPP.


Lembramos de Luis Alberto Warat e do livro clássico A Ciência Jurídica e seus Dois Maridos que está sendo relançado em 2020, em que se falava dos estilos de juristas, os chatos em sua literalidade e os descolados, esperando o novo acontecer, na pujança do momento.

Perguntávamos o que LAWarat falaria disso. Sobre a brisa de Garota de Ipanema ao mesmo tempo, talvez iluminados por Warat, lembramos da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (a famosa LINDB) e o conceito de coisa julgada.
 
Abrimos rapidamente o celular e estava lá:

Art. 6º, § 3º – Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”.

 
Bingamos. Quer algo mais simples do que o conceito de coisa julgada ali posta?

A sequência de nossa discussão pareceu um jogral, como se cada um estivesse com um banquinho e um violão:

Lenio: “— Se o artigo 5º da Constituição aponta que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado e o artigo 283 do CPP diz que ninguém será preso senão depois de trânsito em julgado, salvo cautelarmente”…

Alexandre: “ — Se o artigo 5º da Constituição garante a coisa julgada, quando não caiba mais recurso”…

Lenio: “— Se também a Lei de Execução Penal exige decisão condenatória”…

Alexandre: “— Nem nós, nem o Supremo podem inventar a roda (coisa julgada)”.


Pena se cumpre após coisa julgada. Se a coisa (culpa) não foi definitivamente julgada, porque cabe recurso, há coisa não julgada, na qual cabe prisão cautelar e não definitiva. No cível, em que os direitos são disponíveis, há requisitos para execução antecipada. Em todos os casos, os processualistas sublinham a necessidade da reversibilidade do mundo da vida. Mas no processo penal, não se reverte liberdade porque a linha do tempo segue para o futuro.

Entre coisas julgadas e não julgadas, argumentos os mais carnavalizados, ao contrário do estilo de Warat, pedimos mais um suco funcional porque a nossa idade não permite mais os arroubos juvenis. Mas podemos dizer que temos vergonha de quem sequer sabe da existência do artigo 6º, § 3º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro e decide conceituar coisa julgada em votos aleatórios à legalidade brasileira (assim como parlamentares — e até professores de Direito — redefinindo e reescrevendo, à revelia de gente como Liebman, o conceito de coisa julgada).
 
E concluímos:
Lenio: “— De que modo, então, essa gente quer fazer emendas e projetos mudando o nome das coisas?”

Alexandre: “— Se coisa julgada é, mesmo, a decisão da qual não caiba mais recurso, então como será possível dizer que a prisão poderá ser feita antes de não caber mais recurso?”

E, em coro: “— Os parlamentares e os defensores da prisão antes do trânsito em julgado (fora da hipótese de cautelar, como consta no artigo 283 do CPP) deveriam ler a LINDB. Afinal, ela vale para algumas coisas e não vale para outras? E deveriam também ler Shakespeare, Romeu e Julieta: O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem.

 
E saímos, como dois flanêurs… E pensando em O Nome da Rosa. Em Eco. E pensando em Gadamer. O nome e as coisas. Enfim…

 
Talvez o perfume da rosa seja como uma cláusula pétrea. Podem trocar o nome, mas…! Talvez coisa julgada seja uma coisa simples: é decisão da qual não cabe mais recurso.

 
Eureka!

 
E Feliz 2020! Porque 2019 já se tornou coisa julgada.

 
Lenio Luiz Streck é jurista, professor de Direito Constitucional e pós-doutor em Direito. Sócio do escritório Streck e Trindade Advogados Associados: www.streckadvogados.com.br


Alexandre Morais da Rosa é juiz em Santa Catarina, doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e professor de Processo Penal na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e na Universidade do Vale do Itajaí (Univali).

 
Republicado do https://jornalggn.com.br/justica/eureka-lei-conceituou-coisa-julgada-e-nao-se-sabia-por-lenio-luiz-streck-e-alexandre-morais-da-rosa/

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domingo, 29 de dezembro de 2019

A riqueza dos idosos

Richard Jakubaszko   
Meme que circula entre os zaps dos celulares dos idosos, numa autocrítica contundente...  Costumo brincar que, quando jovens, os homens possuem 4 membros flexíveis e um duro, e quando chega a idade da verdade, são 4 membros duros e um flexível...
Eita povo marvado...


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quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

domingo, 22 de dezembro de 2019

Agronegócio - crescimento, geopolítica e fortes emoções

Marcos S. Jank *  
Nossas perspectivas são extraordinárias, apesar do endosso dos EUA e China ao "comércio administrado" no agronegócio.

A vida dos leitores de bola de cristal está cada vez mais complicada. No caso do agronegócio, a confluência de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, uma terrível epidemia de peste suína africana na Ásia, a retomada de pesadas taxações sobre as exportações no novo governo argentino e, fechando o ano, o anúncio de um mega-acordo EUA-China jogaram por terra as profecias e os cenários dos oráculos dos últimos três anos.


Definitivamente, entramos numa nova "era das incertezas", marcada por volatilidades, rupturas e o retorno brutal da geopolítica no comércio mundial.

Assim que assumiu, em 2017, Donald Trump decidiu taxar a entrada de produtos chineses nos EUA e a China retaliou fazendo o mesmo contra a entrada de produtos americanos. Por isso o Brasil foi beneficiado com importações crescentes da China no agronegócio, que favoreceram principalmente nossa soja.

De 2016 a 2018 as exportações agrícolas do Brasil para a China saltaram de US$ 21 bilhões para US$ 35 bilhões, enquanto as dos americanos caíram de US$ 25 bilhões para só US$ 13 bilhões. O Brasil tornou-se o maior produtor e exportador de soja do mundo e a China adquire 80% da nossa exportação.

Em meados de 2018 uma epidemia de peste suína atingiu a China e vários países do Sudeste Asiático. Os produtores venderam seus animais no mercado antes de serem obrigados a enterrá-los, incluindo suas matrizes. A China responde por metade da produção mundial de suínos.

O volume perdido de suínos na China é maior que todo o mercado mundial de carne porcina. Isso fez a China reduzir em 12% (11 milhões de toneladas) suas importações de soja, usada basicamente para produzir rações de aves e suínos. Perdemos na soja, mas estamos exportando mais carnes bovinas, suínas e de aves para o gigante asiático. Os produtores brasileiros de carne comemoram, mas os consumidores reclamam dos preços mais altos no mercado interno. A China levará pelo menos três anos para se recuperar do desastre da peste suína.

A boa notícia é que vai haver uma mudança forçada no modelo de produção de suínos na China, substituindo a criação de fundo de quintal por granjas modernas e controladas, onde os animais são menos susceptíveis a doenças. Como a produção comercial em granjas consome mais ração – leia-se muito mais soja e milho –, no longo prazo isso beneficia o Brasil e outros fornecedores.

O último capítulo dessa série de surpresas deu-se na semana passada, com o intempestivo anúncio de Trump de que os EUA e a China teriam fechado a primeira fase de um acordo histórico que pretende acabar com a guerra comercial. Segundo o que foi divulgado, as exportações agro dos EUA para a China saltariam de US$ 14 bilhões para US$ 56 bilhões em apenas dois anos, um aumento enorme. É pouco provável que essa meta seja cumprida, até porque os agricultores americanos acabam de perder quase 50 milhões de toneladas de grãos numa safra marcada por problemas sucessivos de excesso de chuva e frio. O tal acordo agrícola parece ser apenas Trump jogando para a plateia interna em ano pré-eleitoral, no caso, os agricultores do Meio-Oeste americano.

Mas se o acordo se concretizar em algum momento, o montante ali previsto certamente impactará negativamente as nossas exportações de soja, algodão e carnes para a China. Os EUA são, de longe, nosso maior concorrente no mercado mundial.

Por isso se torna fundamental verificar se esse acordo propõe apenas a volta da normalidade competitiva, dentro das regras do mercado, ou se serão criados mecanismos "privilegiados" de comércio entre China e EUA, como, por exemplo, compras dirigidas realizadas por tradings estatais chinesas. É preciso analisar também se o acordo será compatível com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), recentemente debilitada pela recusa dos EUA de nomear juízes para o seu Órgão de Apelação.

Em resumo, entramos numa era sombria dominada pela geopolítica e pelo "comércio administrado", com o endosso das duas maiores economias do planeta. Mas ainda assim acredito que nossas perspectivas continuam sendo extraordinárias no agro. Se a China substituir as compras do Brasil em favor dos EUA, isso fatalmente nos abrirá espaço em outros mercados importantes do Sul e Sudeste da Ásia e do Oriente Médio, por conta do aumento de renda da pujante classe média asiática. Isso sem contar o potencial de longo prazo da África e da Índia, com o seu imenso crescimento populacional.

Minha tese é que ninguém segura o Brasil nas commodities que não dependem tanto de políticas governamentais (aqui e no exterior), como soja, milho, algodão e celulose, em que a oferta e a demanda se ajustam mais facilmente via mercado.

O maior exemplo desse ajuste é a incrível expansão da oferta de milho e algodão na segunda safra, plantada logo após a soja no mesmo ano agrícola, que já cobre 14 milhões de hectares no País. Ela nos levou ao segundo lugar nas exportações dessas duas commodities em 2019, assustando os EUA, país que ocupa a primeira posição no ranking mundial.

Em 2019 o milho vai superar a secular indústria de cana-de-açúcar no ranking dos principais produtos exportados pelo Brasil. E o algodão vem um pouco mais atrás, voando baixo. Isso sem contar a turbinada que virá com os investimentos que estão sendo feitos na logística de transporte do País e o grande potencial da integração lavoura-pecuária que ainda temos.

Por outro lado, produtos como açúcar, etanol e carnes demandam esforços consistentes de acesso aos mercados e políticas públicas específicas aqui dentro para conseguirem crescer no exterior.

Em suma, no agronegócio vivemos tempos de grande potencial de crescimento da demanda mundial e de expansão sustentável da oferta no País. Mas são tempos turbulentos e imprevisíveis, marcados por crises frequentes, instabilidades geopolíticas e guerra comercial. E tempos turbulentos exigem estratégia, organização e liderança.

* o autor é professor sênior de Agronegócio Global do Insper e titular da Cátedra Luiz de Queiroz da Esalq-USP.

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sábado, 21 de dezembro de 2019

2019 foi o ano mais hilário e medonho de nossas vidas


Richard Jakubaszko    

O ano começou já acelerado, você se lembra? Na posse a arminha de dedos presidenciais marcava época e a tradução em libras da primeira dama fez sucesso. O filhote ficou grudado no Rolls Royce. Aí começou de vez a testar o humor dos brasileiros, teve Jesus na Goiabeira, teve até um I love you ao Trump, filhote sendo indicado pra embaixada do Brasil nos EUA, competência adquirida quando andou fritando hambúrguer na chapa lá nos states... Esqueceu do golden shower, de que ele inventou a "mamadeira de piroca", de que a deputada Maria do Rosário "não merecia ser estuprada porque era muito feia"...

De lá pra cá não teve semana sem besteirol.

Um ano cheio de imbecilidades, teve até sugestão de brasileiro fazer cocô dia sim dia não. Teve rosa e azul pras meninas e meninos, teve petróleo venezuelano ou da Shell derramado em quase todo o litoral brasileiro, do Ceará ao Rio de Janeiro, artista americano que mandou incendiar a floresta amazônica. E teve e ainda tem suspeitas e investigações de caixa 2 do partido presidencial, rachadinha, milicianos, e ninguém sabe até onde a vereadora Marielle Franco pagou o pato por se meter onde não devia. E o porteiro, que era testemunha, virou réu...

Teve bijuteria de nióbio, Beatles comunistas, universidades que plantam maconha, terraplanistas soltos pelas ruas do país, aposentados preguiçosos, nazista que era de esquerda, candidato a vice que não colou porque era gay, tudo em uma velocidade de dar inveja a qualquer galgo que se preze, porque o excludente de ilicitude ainda tá em discussão, e a pirralha da Greta se vingou na lata, assumindo o xingamento e ainda ganhando capa e título de personalidade do ano na revista Time.

Na mesma semana da Greta o capitão-presidente mostrou-se um tosco autêntico e radical ao xingar o brasileiro Paulo Freire de energúmeno. Ora, ora, transbordou a sapiência luminar e inapropriada do militar tosco cujo apelido na caserna era cavalão. Apelido bem apropriado, diga-se. Não satisfeito com todas as merdas ditas, o capitão-presidente acusou um jornalista de ter uma cara terrível de homossexual, a outro perguntou se “tem recibo de que sua mãe deu pro seu pai?”. Imperdíveis essas bolsonaristas atitudes agressivas, esse elemento não tem decoro humano, quanto mais decoro presidencial...

Enfim, Bolsonaro conforme sua própria autodefinição, é imbroxável... Mas afinal, cadê o Queiróz? Ah, essa coisa aí das rachadinhas ainda vai acabar em pizza...

Ano que vem teremos muito mais bolso-besteiras... E 2020 poderá ser muito pior do que este 2019 que vai fechando suas cortinas de espetáculo teatral. Um teatro do absurdo e do ridículo. Alguém rogou praga pros brasileiros...

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Preços dos carros elétricos na Europa

Richard Jakubaszko 
Recebi do amigo Luis Amorim, lá da terrinha de além-mar, a informação abaixo:

Dados transferidos da revista do Automóvel Clube de Portugal:

Preços do novo Peugeot 208, modelo base, em Portugal:

A gasolina = 16.700 euros

A Diesel    = 21.650 euros

Elétrico     = 32.150 euros


mais 10.000 euros que o Diesel e o dobro do gasolina e diz a marca que o objetivo do elétrico é "democratizar o acesso a um veículo elétrico, através da simplicidade, prazer e serenidade".

EXCELENTE, SOU DEMOCRATA E VOU JÁ COMPRAR UM...


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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O idioma português não é para amadores

Richard Jakubaszko   
Enviada pelo jornalista Delfino Araújo, lá da DBO Editores, a preciosidade dos comentários de um especialista do vernáculo lusitano mostra porque a língua de Camões e Fernando Pessoa não é coisa para amadores.

Aliás, é de Pessoa um verso muito conhecido e mal interpretado pelos brasileiros, o de que "Navegar é preciso, viver não é preciso". Pois os cidadãos tupiniquins, mas os guaranis também, percebem o "preciso" como verbo, um sinônimo de necessário, quando "preciso" foi empregado como substantivo, no sentido de precisão, ora pois, pois...
Mas leiam o meme abaixo, que é imperdível.
  



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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Fazendo seu próprio adubo para as plantas ornamentais

Valter Casarin 
Comigo ninguém pode, na DBO
Quando pensamos nas plantas de casa, horta ou mesmo o gramado, nunca podemos esquecer que elas precisarão ser fertilizadas regularmente para garantir seu crescimento. Apesar de encontrarmos fertilizantes minerais disponíveis nos principais comércios de jardinagem, existe a alternativa da adubação natural, a qual pode ser preparada em nossa casa. Seja por causa do meio ambiente ou por razões econômicas, os fertilizantes caseiros oferecem várias vantagens.
 
Se a sua opção é para a produção do seu próprio fertilizante, aqui estão algumas dicas:

 
1. Faça o seu próprio adubo
Se você tem um lugar para construir sua própria composteira caseira, esta é a melhor maneira de fazer seu fertilizante natural. Você pode incorporar os resíduos de jardinagem e alguns dos resíduos domésticos.
Então você deixa tudo decompor por alguns meses, mexendo regularmente. Uma vez bem degradada, você só terá que aplicar na base de suas plantas, horta etc.

 
2. Adubos naturais produzidos a partir de resíduos domésticos
Os fertilizantes naturais mais simples vêm do lixo doméstico. A seguir estão listados alguns dos lixos domésticos que você provavelmente tem em mãos.

Veja como usá-los como um fertilizante natural para suas plantas ou horta:
 
Borra de Café: crie o hábito todas as manhãs de manter a borra de café em uma recipiente. Este pó é uma excelente fonte de fósforo e nitrogênio, dois ingredientes essenciais para manter suas plantas de interior verde e também a alface da horta saudável. Incorpore regularmente ao solo de suas plantas. Por outro lado, evite aplicá-lo durante o período de floração, porque o nitrogênio promove o crescimento das folhas em detrimento das flores.

Sachets de chá: faça uma segunda infusão com os saquinhos de chá usados, que você adicionará depois à água de irrigação de suas plantas. Os resíduos de chá contêm carboidratos, um elemento que promove uma bela floração.

Cascas de ovos: após o cozimento, lave e seque completamente as cascas de ovos antes de esmagá-las. Você pode aplicá-lo ao solo de suas plantas, fornecendo-lhes cálcio, magnésio e potássio de que necessitam.

Cascas de banana: outra excelente fonte de potássio. Basta cortar em pequenos pedaços e adicioná-los ao solo de suas plantas, ou fazer uma infusão que adicionará à água de irrigação.

Cinzas de madeira: de fato, a cinza de madeira é um excelente fertilizante natural para o gramado e a horta. Aplicar uma camada fina no gramado ou no solo do jardim, e a chuva e a rega serão responsáveis pela incorporação desse fertilizante natural.

 
3. Urtiga como fertilizante para a horta
Embora considerada por muitos como uma planta indesejável, a urtiga pode ser muito útil no jardim para a alimentação de plantas. Basta fazer um cozimento deixando a planta marinar por alguns dias em um balde de água.
Em seguida, dilua este lodo com água e aplique-o na base de suas árvores frutíferas e flores do jardim.

 
4. O uso de confrei
Seguindo o mesmo princípio que o cozimento de urtiga, faça o cozimento de folhas de confrei para torná-lo um fertilizante natural para as plantas. Você pode então diluí-lo com água para alimentar e incentivar o florescimento de suas plantas ornamentais.
 
5. Outros fertilizantes à base de plantas naturais
Muitas plantas ornamentais ou vegetais podem ser alimentadas com seus próprios resíduos. Por exemplo, se você cultivar gerânios em vasos ou no jardim, saiba que você também pode usar as hastes para fazer um fertilizante natural. Ao podar seus gerânios, crie o hábito de armazenar os talos que você irá macerar por algumas semanas na água.
 
6. Sulfato de Magnésio como fertilizante natural
Excelente fonte de magnésio e enxofre, o sulfato de magnésio heptahidratado pode ser usado como fertilizante natural para tomates e rosas. Adicione 1 colher de sopa de sulfato de magnésio a 4 litros de água. Dilua bem e regue os seus tomateiros e roseiras, ou qualquer outra planta cuja folhagem pareça com verde pálido.
 
7. A água de cozimento de seus legumes
Você sabia que você pode usar a água de cozimento de seus vegetais para torná-lo um fertilizante natural para suas plantas? Rica em nutrientes necessários às plantas, a água de cozimento dos vegetais pode ser aplicada uma vez resfriada, sem diluição, diretamente no solo de suas plantas.
 
Os fertilizantes propostos são usados com o objetivo de fornecer às plantas os nutrientes e minerais de que necessitam para sua saúde. Eles nutrem as plantas e, assim, promovem seu crescimento, sua boa floração e sua frutificação. As plantas com deficiências nutricionais mostram sinais de deficiência, são mais insignificantes e mais suscetíveis a doenças.

 
Nutrientes para a Vida
A Nutrientes Para Vida (NPV) é uma iniciativa que tem por missão inovadora para informar a população sobre a importância dos nutrientes para as plantas e para os seres humanos. Sua atuação está baseada em informações científicas, de forma a explicar o papel essencial dos fertilizantes na segurança alimentar, tanto na quantidade como na qualidade do alimento produzido. O uso do fertilizante está alicerçado nos aspectos sociais, econômicos e ambientais.  

* o autor é engenheiro agrônomo e coordenador científico da iniciativa Nutrientes para a Vida
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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Doze derradeiras e pelo amor de Deus.

Carlos Eduardo Florence *
Nem poderia ser tanto e assim pelas rebordas das ameaças imbricadas nos desconformes dos meus conflitos passados, entravados, nem desdigo, confesso, podes crer, nebulosos e até desfigurando com o que restou de lembranças velhacas e envelhecidas. Por fim se deram a dar, repito, pois assim conto por comedimentos da índole acanalhada, vagante nas subserviências dos medos. Tudo nas cantilenas foram nos intervalos de umas metáforas atrevidas, geralmente por coincidirem aos se dando pelos domingos, dias estes de vadiagens, às vezes das euforias, para alguns meditações e arrependimentos, muito comumente dos embriagados em fés ou alcoólicas.

Deram-se quase assim como desponto os fatos, pois a cabeça minha das ideias antigas já se foi esgarçando nas descomposturas. Coisas das imensidões e dos inexplicáveis, mas dos homens, como eu, que me nasci assim sem proveito mor e me desdigo, correto, infelizmente. Retorno pelas tangentes agora, amesmado de porventura nenhuma que sobrasse sem não revelar, entristecendo ainda, antes de se inverterem as ingratidões e apadrinharem as insensatezes como é de hábito. Não duvide ainda, nem se vá sem fim terminado, pois explico melhorado nos devidos, pelos provisórios sequenciados, quando a mente aprumar mais apurando como correto tem de ser o justo.

A não serem mais do que seis provérbios e uma nostalgia, como gostava de agadanhar na prosa meu mestre de viola e xaxado, querido Esteban Rovario, não cri, mas foi assim que veio o contexto claro, tanto que senti no direito, melhor, na obrigação, de remoer o inconsciente e provocar os primeiros delírios em decibéis menores que sempre me sabem bem. Se deu, belo, um sol manso e cansado começou a se desfazer em sendo muito por bem miúdo e preguiçoso, lagarteado, pois o próprio, por isto, se coubesse no devaneio alimentado no ego desmereceria a expectativa visto que não caberia contraditório ou retruco, sequer contrariantes da desdita fatalidade.


Mas, sinceramente, preferiu o destino postergar os detalhes e espreitar de longe o meu sofrimento. Neste topete tumultuário, enquanto ainda as sombras se estendiam procurando subir pelas paredes e escadas dos casarios antigos e indiferentes pedindo solitude, vielas saudosas da minha querida Vila dos Trançadeiros das Boiadas, e que por ali estes desdéns do que relembro se deram por forem ou seriam. Nem desatino o correto. Sem menos desarrazoados outros, diferençados a maioria, instigo e palavreio.

Recomponho e garanto para os determinantes não extrapolarem desmedidos como os aléns comandam. Desconfiei que não estivesse nos meus melhores dias de lucidez, mas no repique das badaladas chorando saborosas, por trás do infinito, indiferente, mas elegante, com todo o direito de se fazer poente, trouxe de bem longe à noite para derramar igualada nas imensidões do nada. Os sinos por transigência e método impuseram longe, nos escaninhos do imaginário e na escuridão a meditação preferiu embriagar, carinhosa, minha porventura.


Era eu ainda, naqueles dias em que se sucedendo foram como indicavam as bruxadas, uma paranoia delicada e incipiente a bem dizer diminutiva e pueril. Depois piorou de piorar. Tanto assim que desapaziguado de freios e rebarbas, como potro inteiro de castração não tida, não conseguira eu recolher uma migalha sequer dos acontecidos rodeando. A tais se digam em proventos, nestes torpores e desejos, Deus até abençoou o que sobrara do horizonte ainda em grenás e espargiu restolhos de melancolias aprendizes a ponto de se perderem como as solidões só veneram. Merecido, complacente e nutrido de milagres e perdões, se acomodou nestes seus esplendores próprios, que criou o Senhor só para Si, neles se aconchegar em bemóis e espairecer como muito Lhe cativava.

No entrecho nem desvacilei de aceitamento da esquizofrenia me retorcendo em rebarbas confusas dos carnais desejos e conjurados vis. Era domingo, lembro-me e revigoro no retrocesso. Vagarento, inseguro, como sempre, o meu depois atritado em conjecturas e indestinados porvirens. Habitual, veio palpiteiro ele, meu pensamento, meu, conversar com os anseios, meus, e me deixar escolher indiferente entre a desesperança ou a depressão. Coisa dos resquícios da insânia sadia, com que coabito, desde aqueles desmontantes até hoje, nos cotidianos da semana do mês inteirado, para nos finados visitar os ausentes idos e descarnados, realimentando afinidades, insolvências e tristuras.


Apesar deste cenário internado do comigo mesmo, Leizinha irrompeu radiante, cruzou por meus desejos, como sempre sim, para provocar as demais moçoilas outras beliscando suas invejas e andejos pela praça anoitando. A cena se repetiu como de outros antanhos tantos, melindrosos, entre o silêncio característico de uma metamorfose gravida, simplesmente, em sustenido como preferem os menestréis, por entre os bancos do jardim, cruzou inelutável e altaneira, confiante, resvalando o chafariz abismado pela beleza indiferente dela. Com tudo isto enfeitou o subjetivo, vestia azul carnal e sensualidade, insinuava, arrogante, os seios mimosos para permitir-me transcender beijá-los, era, sem até querer ser tanto, um sonhado ser como só poderia ser, conforme cativava em sendo, pois jamais deixaria deixar de ser. Era sim Leizinha, meus pecados, meu amor, ficção ou gerúndio?

Tenho certeza absoluta que o banco mais antigo da praça, a amendoeira gigante, as paredes da matriz, tanto como o escuro do infinito, engendravam, lacônicos e cínicos, artimanhas nas suas sôfregas provocações. Intentavam abscondê-la em tramoias das minhas vistas, intenções, prazer e pureza. Tenho certeza, era domingo. Tal se dando, ela se desfazendo por meandros seus, senti o chafariz soberbo, eufórico, exibir suas lágrimas ao jardim cabisbaixado no silêncio, enquanto as crianças piqueteavam esconde-esconde nas árvores, nas pernas tresandantes de inutilidades, pecados e destinos.


Do coreto o maestro regia as horas em que as nuvens deveriam esconder a lua curiosa, orientar o pouso das maritacas, saudar os namorados, apaziguar os enfermos, enfeitar a tristeza. Também tanto, entre as mãos afetivas dos namorados e alegrias se davam bater pique descontraídos as crianças, por elas mesmas libertas de remorsos, sumidiços, como brisa irresponsável e morosa preenchendo as solidões, espreitando, os pequenos, sobejando sorrisos, olhares peraltas, festa, aleluia, peguei você, não (!), pique.

Pelos contrários, caminhava solitária, mas disponível, uma desobediência domingueira querendo desmerecer os sofrimentos, as angustias, até os ténues prometidos descumpridos, que a semana escondera. Particularmente eu não me servi da recalcitrância por medo ou respeito, mas me contive no sozinho procurando encontrar sobre aquele nada pairando no conjunto, que não me interessava digo, a figura única pela qual ali fora, Leizinha, meu sonho, minha sina. No desfazer dos motivos, subiu entre as solidões e desejos restantes, um sabor acre-doce de finitude e nostalgia.


No intermeio mesmavam os proventos habituados de sempre; finda reza, Monsenhor Orcólio abençoou todos em si, nos seus partam em paz desta santa casa do Senhor, pois, dando-se a cada um e aos demais, inclusive, portanto, se deram deixando irem embora ao léu, expurgados dos pecados trazidos e se seguiram eufóricos, mas preventivos e purificados, procurando suas consolações e esperanças dominicais até as próximas contravenções. Monsenhor, muito convicto e arraigado dos seus dotes promissores regenerativos das almas puras, conhecendo seu bom rebanho, acalantou seguro na reincidência pecadora natural e insinuou ainda, no entusiasmo crédulo, de cada um e, portanto, em todos e em tanto pecadilhos inovados se porvirem, em semanais retornos, para os arrependimentos bons voltarem e a apostólica romana rejuvenescer sempre. Muitas felicidades se realizariam nas alegrias da vida, para nos domingos serem abrandadas nas cordiais confissões declaradas, perdoadas e comungadas.

Lembro-me agora, desaforados anos corridos, muito bem retidos na memória, que foi exatamente neste sentido pragmático que embalei os primeiros devaneios e fantasias, por Leisinha, antes de me arvorar distante de seu sorriso como me ordenava à timidez de sonhar em sem permissão e vão. Do ombro alvissareiro do poste amigo e carinhoso, encostando minha timidez ardida, eu ao lado do chafariz eufórico, acomodei meus receios de ousadia para pensar em pedir à Leizinha nada mais do que um minuto miúdo de seu sorriso largo, um dedo de flerte, uma pestana de olhar, meia esperança pretendida, quiçá uma benevolência. Creiam em, sim. No mundo dos indefinidos, amarrado ao poste contemplativo, não lembro se Leizinha se desfez em indiferença, recusa ou eu que me diluí já despretenciado de coragem a romper. Tudo se dava nos envoltados acontecendo, pelos entões, porém, me machucando adoidado. Aquele desmedido nem bastando, quem sabe, até tal-vezes, desmerecido com certeza, gaguejante, amuado, imaginando quem-dera, um gesto ao menos, algum dia, quem-sabe.

Atino, no entanto, que no infortúnio da desinformação e da dúvida, introjetei naqueles contrastes ilusórios de quimeras meus diminutivos nas entranhas censuradas, me desfiz calativo em tristeza, angustiado. A boca do chafariz beijou a ilusão e lamberam, apaixonados, timidezes minhas. Confesso, desapurado, de maledicências. Não havia como negar, calcou a solidão e desapreço, assim olhei o infinito, assobiei raquítico como se o gesto disfarçasse o pejorativo, mastiguei fingimento com sabor de sutileza, o poste ouviu o lamento, poste inútil, segurando a mão fria da angústia, se desfez rogado, idiota, amaldiçoou meus pretensos. Pairou ausência e solitude, faceei nos interstícios dos desamparos dois ameaços de coragens recolhidos com raiva, uma dose mirrada de impotência medíocre, fustigada pelo pejorativo, podes crer, e no confronto da esperança, agoniei em dó menor, pois nem uma porventura que se desse, deu-se. Amargurei abraçado aos meus subjuntivo e infortúnio, poste abraçado à incerteza, agonia e eu, sem escrúpulos desaverbei o infinitivo amar para conjugar amargura. Acredite.

A noite foi abocanhando a melancolia. O sono chamou as crianças suadas, chamadas, faceiras, reticentes, pedindo mãe posso ficar (?), chupando os dedos, agora, se deu só o não melancólico, o vamos, o até amanhã. As maritacas, que não sabiam ser diferentes e nem rezar, se esconderam pelos sumiços preferidos, telhados altos, árvores caladas, segredos tranquilos. Como prouvera o destino, igualado de rotinas, o senhor sacristão, recatozo e repetido, obedeceu ao monsenhor, enxotou os pecados novos pela porta dos fundos e os velhos pela da frente, falou, falou macio, fora da igreja, por favor, fora-fora, ferrolhou os imprevistos, recolheu a solidão no altar-mor.

Tudo assim se igualado deu e, certo, para depois, piamente, apagar as velas, ele, mereceu dispor o sinal da cruz em frente ao mor por ser o de vigência e visada enorme, beijou o rosário antes de escondê-lo no casaco próprio de sacristão cioso e meditou acabrunhado se sabia ou não por que vivera tanto, se era tudo muito sempre por demais, tão sempre igual das igualdades, como mesmo era? Amém. Foi o que se disse a si próprio como acostumava fazer, mirrado a si mesmo, sem apressadamente ou motivo justo, pois não tinha outros senões a cumprir, assim, dantes do primeiro ressonar permitido, tanto que rezingou no acalantar aos mortos santos para não se esconderem pelos oratórios alheios ou perniciosos a se perderem entre os desvãos entremeados das paredes góticas procurando celestiarem aos infinitos e adorarem de perto sendo o Senhor.

A noite se fez por si como as ilusões e os mistérios se escolhem para abonarem as confidências, os acasalamentos e as fantasias. Fomos restando na praça, nostálgica e indiferente, não mais do que o poste aconchegado ao infortúnio e meus infinitos, só. Ainda sim também, aquele apagado chafariz petulante e inútil, bocejando suas lágrimas enxugadas nas costas das mãos da minha angústia. Ombro meu ao poste para não desmerecer meus passados, como sempre eram em sendo. Por ultimado, àquela hora, as saudades, eu, chafariz impostado, a tristeza, fomos observando de longe a se fazerem sumir as pernas e os torneios do corpo amoldado e esbelto, lindo, da menina Leizinha desmanchando pelos meandros das minhas carnes arvoradas, desesperadas, do membro petulante ereto e mal servido, independente, temulento. Demência e ódio. Confabulávamos, fantasias, eu, a solidão, poste, a timidez, desespero.

Pairou um imenso em-vão sobre a nostalgia, sem ter coragem de socorrer a coragem e o arrependimento. Meu sofrer acompanhava os passos de Leizinha desfazendo-se pela ruela acima a busca do nada e realçando minhas angústias. Dei-me conta de que aquela Rua Direita, infinita, sem cerimônia ou compaixão, atrevida, roubava meus motivos. Avistei de soslaio, alongada, com minhas fantasiosas cismas perseguindo os gestos delicados, envolta muito esbelta, no porte gracioso, Leizinha levando, sozinha e só, meus incapazes e tormentos. Desaparecendo menina, mimosa, maldita, me chama, não entranhas no lusca-fuscas pelo amor de Deus, olhe-me.


Imperturbável em fá maior, como sonharia acordado se trovador me dera, vi Leizinha cruzando baixios das sacadas dos alpendres carregando cada vez mais duradouros meus medos, desejos, os meus anseios. Mastiguei asco amargoso, acompanhando as sobradas duas luas fugindo pelas nuances de suas métricas e estrofes, aos troteados meandros da rua subindo, sumindo, para desfazer a esperança frustrada de abraçar Leizinha, amá-la inteira no infinito. Esta agonia do fim, do medo, da impotência se perdeu atrás dos detalhes, da lágrima mansa, das preguiças dos telhados velhos, do nada, como preferem as melancolias. Contrafeito e sem destino, segui as imagens, a meia distância, dos colibris brincando de primavera nos beliscos delicados das flores agradecidas, beijadas. Leizinha foi se desfazendo em corpo, se transformou em memória, em só, transfigurou em desejo, poente, era, foi e tempo passou.

Era o que tanto foi, e cá estou eu atravessados anos corridos, pois que não seria mais do que tantos outros domingos iguais, para eu contar agora, que me viram envelhecer errando enredado ao desencanto da solidão do poste apagado, o chafariz inútil, as crianças reinando e a Leizinha, linda e graciosa, sorrindo, olhando sem me ver, que se casou em um domingo muito antigo, tanto como os demais, casou com alguém fortuito, para agora, exatamente agora, levar seus filhos, os filhos mesmos que por destino eu vi correndo no pega-pega, sempre, no pique das pernas dos namorados e nas alegrias mundanas dos pecados novos indo para casa reabilitarem-se com os perdões saborosos do Monsenhor.

Hoje é domingo, domingo dos remorsos renascendo felizes, arrependimentos, das saudades, de ver a alegria passar de mãos dadas com os normais casais que não devaneiam sozinhos, das frustrações e, por assim em sendo, das maritacas algazarreando suas euforias e me permitindo chorar o tempo que nunca se fez em ser para um dia, por mim, em mim, um dia meu de domingo, para não deixar-me sonhar meus desconsolos tão só.

  * o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos.

Publicado em:  http://carloseduardoflorence.blogspot.com/2019/12/doze-de-rradeiras-e-pelo-amor-de-deus.html

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