sábado, 30 de abril de 2016

Pai, afasta de mim esse cálice...

Richard Jakubaszko 
Meu sentimento diante da atual situação política é de que, mais uma vez, o Brasil será estuprado, desrespeitando-se a Constituição e a democracia. A história deste país nos últimos decênios comprova isso de forma incontestável. Cego é quem não deseja ver.
Não se conhece a história, por isso, os erros são repetidos ad eternum. Ou esquece-se, convenientemente, que sempre se praticou a hipocrisia em defesa de interesses exploradores e predatórios.
Como desiderato, espero que não haja sangue derramado entre irmãos. Uma guerra civil é infinitamente mais sangrenta e dolorosa quando praticada entre irmãos, entre amigos e vizinhos, do que quando se combate um invasor.
Para relembrar, assistir e ouvir Chico Buarque é sempre salutar e esclarecedor:

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terça-feira, 26 de abril de 2016

Fotos históricas, e desconhecidas.

Richard Jakubaszko 
Fotos históricas de pessoas, de lugares, instantâneos mágicos da vida, são mostradas nas imagens a seguir, a maioria absolutamente inéditas, e que me foram enviadas pelo amigo engenheiro agrônomo Hélio Casale, um presente justo no dia em que ele comemorou seus 78 verões, em 13 de março último.
Boletim  de Einstein no pre-universitário. Nota máxima era 6 = excelente.
Cadáver do Presidente Kennedy - 1963
Bonde na av São João - São Paulo - 1940
 Lançamento do controle remoto - 1962
 Desempregados, fila para café/rosquinhas grátis de Al Capone, Chicago, 1931
Enforcamento de Saddam Hussein
Evolução das garrafas de Coca-Cola
Hollywood se chamava Hollywoodland em 1949
Lennon dando autógrafo a Chapman, seu assassino
Lula e FHC, panfletando juntos: acredite, eram amigos...
Mary Quant - lançamento da minissaia - 1960
Ônibus inglês 2 andares, em 1928
Capa da Playboy - Marilyn Monroe - 1960
Policial mede maiô: era ilegal mais de 15 cm acima do joelho - Califórnia
Primeiro  computador IBM com 5 Mb
Hora do rush, na Chicago de 1909
Primeira e única viagem do Titanic - 1912
 Você podia comprar um Big Mac por US$ 0.65 centavos em 1970
William Harley e Arthur Davidson exibem suas motocicletas 1914.
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domingo, 24 de abril de 2016

Profissional transgênico tem emprego garantido

Richard Jakubaszko
Entrevistei para o Portal DBO o engenheiro agrônomo Jeffrey Abrahams, um dos head hunters mais respeitados do agronegócio, especializado em recrutar talentos para trabalhar no setor.
Jeffrey revela que os profissionais mais procurados pelas empresas são os que revelam "transgenia" em especialidades e ainda conhecimentos genéricos. Vale a pena assistir ao vídeo abaixo:

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sexta-feira, 22 de abril de 2016

O verdadeiro motivo dos inimigos de Dilma Rousseff para querer impeachment


por David Miranda 
The Guardian
A história da crise política do Brasil e a percepção rápida na mudança da opinião global começam com seus meios de comunicação nacionais. A transmissão televisiva dominante do país e o jornalismo impresso são de propriedades de um pequeno punhado de algumas das famílias mais ricas do Brasil e que são solidamente conservadoras. Durante décadas, os meios de comunicação têm sido utilizados para estimular os ricos brasileiros, garantir que a riqueza grave desigualdades (e a desigualdade política que disso resulta), e permanecem firmemente no mesmo lugar.

Efetivamente, a maioria dos meios de comunicação – que aparece como respeitável para forasteiros – apoiou o golpe militar de 1964, que marcou o início de duas décadas de ditadura de direita e enriqueceu os oligarcas da nação. Este evento histórico chave ainda lança uma sombra sobre a identidade e a política do país. Essas corporações – lideradas pelos múltiplos braços de mídia da organização Globo – anunciavam o golpe como um nobre ato contra um governo corrupto e liberal, eleito democraticamente. Soa familiar?

Por mais de um ano, esses mesmos meios de comunicação divulgaram uma narrativa de autosserviço: uma cidadania com raiva, conduzida pela fúria sobre a corrupção do governo, contra e exigindo a derrubada da primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff e seu partido (PT). O mundo viu infinitas imagens de multidões de manifestantes nas ruas, o que é sempre uma visão inspiradora.

Mas o que mais não se viu fora do Brasil foi que a mídia plutocrática do país passou meses a incitar esses protestos (fingindo meramente "cobrir"). Os manifestantes não eram remotamente estratos representativos da população brasileira. Eles eram, em vez disso, desproporcionalmente brancos e ricos: as mesmas pessoas que se opuseram ao PT e aos seus programas de combate à pobreza por duas décadas.

Lentamente, o mundo exterior começou a superar a caricatura agradável, bidimensional, fabricada pela sua imprensa nacional e para reconhecer que serão habilitados depois que Dilma Rousseff for removida. Tornou-se claro que a corrupção não é a causa do esforço para expulsar duas vezes o eleito Presidente do Brasil; pelo contrário, a corrupção é apenas o pretexto.

O partido de esquerda moderada de Dilma Rousseff ganhou a Presidência em 2002, quando seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, conquistou uma vitória retumbante. Devido a sua popularidade e carisma, e reforçado por um crescimento econômico em expansão no Brasil sob a sua presidência, o PT ganhou quatro eleições presidenciais sucessivas – incluindo a vitória de Dilma em 2010 e então, só há 18 meses, a reeleição com 54 milhões de votos.

A elite do país, e seus órgãos de mídia, falharam repetidamente nos seus esforços para derrotar o partido nas urnas. Mas plutocratas não são conhecidos por aceitarem gentilmente a derrota, nem para jogar pelas regras estabelecidas. Aquilo que eles foram incapazes de alcançar, e de forma democrática, agora estão tentando alcançar antidemocraticamente: por ter uma mistura bizarra de políticos – de evangélicos extremistas, de apoiadores da extrema-direita de um retorno ao regime militar, de agentes não ideológicos de bastidores – para simplesmente removê-la do gabinete presidencial.

Com efeito, aqueles que lideram a campanha para a destituição e que estão na fila para assumir – notadamente o Presidente da Câmara Eduardo Cunha – estão muito mais implicados em escândalos de corrupção pessoal do que ela está. Eduardo Cunha foi flagrado no ano passado com milhões de dólares em subornos em contas bancárias secretas na Suíça, após ter negado falsamente ao Congresso que tivesse quaisquer contas bancárias estrangeiras. Cunha também aparece nos Panamá papers, um trabalho para esconder seus milhões ilícitos para evitar a detecção e a responsabilidade de impostos.

É impossível marchar convincentemente por trás de um banner de "anticorrupção" e "democracia" quando trabalham simultaneamente para instalar no país mais contaminado por corrupção, e que amplamente não gosta de figuras políticas. Palavras não podem descrever a surrealidades de assistir a votação para autorizar e enviar a cassação de Dilma ao Senado, durante o qual um membro muito corrupto do Congresso, levantou-se para abordar Cunha, proclamando com uma cara séria que votava para remover Dilma devido a sua raiva sobre corrupção.

Como o The Guardian relatou: "Sim!”, votou Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol por corrupção. “Sim”, votou Nilton Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. “Pelo amor de Deus, ‘sim’!”, declarou Silas Camara, que está sob investigação por forjar documentos e apropriação indevida de fundos públicos.

Mas estes políticos têm exagerado a mão. Nem mesmo no Brasil mestres do universo podem convencer o mundo que a cassação de Dilma é realmente sobre combate à corrupção – seu esquema seria capacitar os políticos cujos próprios escândalos seriam um fim de carreira em qualquer democracia saudável.

Um artigo do New York Times na semana passada informou que "60% dos 594 membros do Congresso do Brasil" (513 na Câmara e 81 no Senado) – as votações para acusar Dilma – "enfrentam acusações graves como suborno, fraude eleitoral, desmatamento ilegal, rapto e homicídio". Por outro lado, disse o artigo, Dilma "é algo de uma raridade entre grandes figuras políticas do Brasil: ela não foi acusada e nem é suspeita de roubar para si mesma".

O espetáculo televisivo estridente do último domingo na câmara dos deputados recebeu atenção mundial por causa de algumas observações repulsivas (e reveladoras) feitas por defensores da cassação. Dentre eles, o proeminente deputado direitista Jair Bolsonaro – estimulado para concorrer à Presidência e que, mostra uma pesquisa recente, é o principal candidato do Brasil mais rico – disse que estava lançando seu voto em homenagem a um coronel que abusou de direitos humanos na ditadura militar do Brasil, e que foi pessoalmente o responsável pela tortura física de Dilma quando ela esteve presa. O filho de Jair, Eduardo, também deputado, orgulhosamente votou em honra dos "homens militares de 64" – aqueles que lideraram o golpe de estado de 1964.

Em última análise, a elite do Brasil político e as empresas de mídia estão brincando com a mecânica da democracia.

Até agora, os brasileiros tiveram sua atenção exclusivamente direcionada para Dilma, que é bastante impopular devido à grave recessão do país. Ninguém sabe como os brasileiros, especialmente os pobres e a classe trabalhadora, vão reagir quando virem deposta sua Presidente recém-empossada: a nulidade pró-negócios, corrupção-manchada de um vice-presidente que, as enquetes mostram, de quem a maioria dos brasileiros quer impeachment.

Mais volátil de todos, muitos, incluindo o Ministério Público e os investigadores da Polícia Federal, que conduziram as perfuratrizes da corrupção, temem que o plano real por trás de cassação de Dilma é para acabar com a investigação em curso, protegendo assim a corrupção, e não punindo. Existe um risco real que uma vez que ela seja cassada, a mídia do Brasil já não será tão focada na corrupção, dissipará o interesse público, e a facção recém-catapultada em Brasília será capaz de explorar suas maiorias no Congresso para inviabilizar o inquérito e proteger-se.

Enfim, a elite do Brasil político e as empresas de mídia estão a brincar com a mecânica da democracia. Isso é um jogo perigoso, imprevisível para jogar em qualquer lugar, mais particularmente numa democracia muito jovem, com uma história recente de instabilidade política e tirania, e onde milhões estão furiosos sobre sua privação económica.

Publicado originalmente no The Guardian, em 21/abril/2016: http://www.theguardian.com/commentisfree/2016/apr/21/dilma-rousseff-enemies-impeached-brazil

Tradução livre do blogueiro.

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quinta-feira, 21 de abril de 2016

A “multa-bomba” de 7 bilhões

Mauro Santayana *

(Revista do Brasil) - Finalmente, depois de meses de pressão desumana, gestapiana, sobre o empresário Marcelo Odebrecht, o juiz Sérgio Moro levou-o a julgamento, condenando-o – baseado não em provas de sua participação direta, mas na suposição condicional de que um empresário que comanda uma holding com mais de 180 mil funcionários e que opera em mais de 20 países tem a obrigação de saber de tudo que ocorre nas dezenas de empresas que a compõem – a 19 anos e quatro meses de prisão.

Não satisfeito com a pena, e com a chantagem, que prossegue – já que o objetivo é quebrar a moral do réu – um dos poucos que não se dobraram à prepotência e ao arbítrio – com o aceno ao preso da possibilidade de “fazer delação premiada a qualquer momento”, os responsáveis pela Lava-Jato, na impossibilidade de provarem propinas e desvios, ou a existência de superfaturamento da ordem dos bilhões de reais alardeados aos quatro ventos desde o princípio da operação, pretendem impor ao grupo Odebrecht uma estratosférica multa “civil” que pode chegar a R$ 7 bilhões – mais de 12 vezes o lucro da empresa em 2014 – que, pela sua magnitude, se cobrada for, deverá levá-lo à falência, ou à paralisação destrutiva, leia-se sucateamento, de dezenas de obras e de projetos, a maior parte deles essenciais, estratégicos, para o futuro do Brasil nos próximos anos.

Com a imposição dessa multa, absolutamente desproporcional, da ordem de 30 vezes as quantias que a sentença afirma terem sido pagas em propina pela Odebrecht, por meio de subsidiárias situadas no exterior, a corruptos da Petrobras que já estão, paradoxalmente, soltos, o juiz Sérgio Moro – e seus colegas do Ministério Público de uma operação que deveria se chamar “Destrói a Jato” – prova que não lhe importam, em nefasto efeito cascata, nem as dezenas de milhares de empregos que ainda serão eliminados pelo grupo Odebrecht, no Brasil e no exterior, nem a quebra de milhares de acionistas e fornecedores do grupo, nem a paralisação das obras com que a empresa se encontra envolvida neste momento, nem o futuro, por exemplo, de projetos de extrema importância para a defesa nacional, como os submarinos convencionais e o submarino nuclear brasileiro que estão sendo fabricados pela Odebrecht em parceria com a DCNS francesa, ou o míssil ar-ar A-Darter, que está sendo construído por sua controlada Mectron, em conjunto com a Denel sul-africana, além de outros produtos como softwares seguros de comunicação estratégica, radares aéreos para os caças AMX e produtos espaciais.

Considerando-se que se trata de uma decisão meramente punitiva, ao fazer isso o juiz Moro age, no comando da Operação Lava Jato, como agiria o líder de uma tropa de sabotadores estrangeiros que colocasse, diretamente, com essa sanção – e uma tremenda carga de irresponsabilidade estratégica e social – centenas de quilos de explosivos plásticos no casco desses submarinos, ou nos laboratórios onde ficam os protótipos desse míssil, sem o qual ficarão inermes os 36 aviões caça Gripen NG-BR que estão sendo desenvolvidos pelo Brasil com a Saab sueca.

Que não tenha ele a ilusão de que essa sua sanha destrutiva esteja agradando às centenas de técnicos envolvidos com esses projetos, ou aos almirantes da Marinha e brigadeiros da Aeronáutica que, depois de esperar décadas pela aprovação desses programas, estão vendo-os sofrer a ameaça de serem destruídos técnica e financeiramente de um dia para o outro.

Como um inútil, estúpido, sacrifício, um absurdo e estéril tributo da Nação – chantageada e manipulada por uma parte antinacional da mídia, que não tem o menor compromisso com o futuro do país – a ser realizado no altar da vaidade de quem parece pretender colocar toda a República de joelhos, até que alguém assuma a responsabilidade de impor, com determinação, bom senso e respeito à Lei e à Constituição Federal, limites à sua atuação e à implacável, imparável, destruição, de alguns dos principais projetos e empresas nacionais.

Enquanto isso, para ridículo do país e divertimento de nossos concorrentes externos, nos congressos, nos governos, na área de inteligência, nas forças armadas de outros países, milhares de tupiniquins vibram, nos bares, na conversinha fiada do escritório, nos comentários que agridem e insultam a inteligência nas redes sociais, com a destruição de um dos principais grupos empresariais do Brasil, deleitando-se com a perda de negócios e empregos, e com a sabotagem e incompreensível inviabilização de algumas de nossas maiores obras de engenharia e de defesa, mergulhados em uma orgia de desinformação, hipocrisia, manipulação e mediocridade.

Mesmo que Marcelo Odebrecht venha a aceitar, eventualmente, fazer um acordo de delação premiada, nenhum jurista do mundo reconheceria, moralmente, a sua legitimidade.

Não se pode pressionar ninguém, a fazer acordos com a Justiça, para fazer afirmações que dependerão da produção de provas futuras. Assim como não se pode confundir o combate à corrupção – se houver corruptos que sejam julgados com amplo direito de defesa e encaminhados exemplarmente à cadeia, estamos cheios de gente com contas na Suíça solta e sem contas na Suíça atrás das grades – com a onipotente destruição do país e de milhares de empregos e bilhões de reais em investimentos.

A pergunta que não quer calar é a seguinte: se a situação fosse contrária, e um juiz norte-americano formado no Brasil e “treinado” por autoridades brasileiras, a quem propôs, por mais de uma vez, sua “cooperação”, estivesse processando um almirante envolvido com o programa nuclear norte-americano, e influindo no destino de todo um programa de submarinos, da construção de um novo submarino atômico, e do desenvolvimento de um míssil ar-ar para a US Air Force, a ponto de a empresa norte-americana responsável por ele ter de ser provavelmente vendida a estrangeiros, ele teria chegado, à posição em que chegou, em nosso país, o juiz Sérgio Moro?

Ou já não teria sido denunciado por pelo menos parte da imprensa dos Estados Unidos, e chamado à razão, em nome da segurança e dos interesses nacionais, por autoridades – especialmente as judiciais – dos Estados Unidos?

O único consolo que resta, nesta nação tomada pela loucura – lembramos por meio destas palavras, que quem sabe venham a ser transportadas, em bits, para o amanhã – é que, sob o olhar do tempo, que para todos passará, inexorável, a História, magistrada definitiva e atenciosa, criteriosa e implacável, vigia, registra e julga.

E cobrará caro no futuro.

* o autor é jornalista

Publicado originalmente em http://www.maurosantayana.com/2016/04/a-multa-bomba-de-7-bilhoes.html

quarta-feira, 20 de abril de 2016

“Dilma está sendo derrubada por uma assembleia geral de ladrões, presidida por um ladrão”.

Por Fernando Brito *
Xico Sá faz uma observação preciosa hoje: “a imprensa brasileira não contava com a imprensa mundial”.

De fato, além da silenciosa imobilidade dos militares, o mundo é um dos maiores (e como o mundo é grande) obstáculo a que o espasmo golpista ainda não tenha consumado sua obra nefasta.

Você certamente está vendo como aquilo que chamamos aqui de Circo dos Horrores, ainda no princípio da votação, está repercutindo pelo planeta.

Posto, ao final do post, a análise do comentarista da TV SIC (Sociedade Independente de Comunicação, emissora privada de Portugal), Miguel Sousa Tavares afirma que “nunca viu o Brasil descer tão baixo”.

Diz, sem meias palavras: “Foi uma assembleia geral de ladrões, presidida por um ladrão”.

Coisa que dezenas de comentaristas políticos deste país acham e que nenhum deles tem coragem de dizer.

É preciso que venham blogueiros para chamar as coisas pelo nome que chamei: suinocracia.

É bem verdade que alguns deles agora, com a overdose de provincianismo canalha daquela noite estejam se dizendo chocados. Até Joaquim Barbosa vem agora dizer que “é de chorar de vergonha” e patético o que se passou.

Ora, passou-se porque a imprensa estimulou e a Justiça deixou, porque não só há as ações quanto os motivos para Eduardo Cunha já ter sido apeado, há muito tempo na presidência da Câmara e, em consequência, daquele escárnio que assistimos.

Embora aquela chusma de canalhas tenha responsabilidades das quais não poderão fugir, a verdade é que são simples agentes de pessoas muito bem postas e que não clamam a Deus nem ao amor de seus filhinhos, mas ao dinheiro.

Foi esta gente, que, se servindo do bando de energúmenos eleito por um sistema eleitoral comandado pelo dinheiro, colocou o Brasil nesta impensável situação de um retrocesso que reduz um dos maiores países do mundo à condição de “banana republic” centroamericana.

Repito o escrito ainda na madrugada da vergonha: “Nada, nenhum argumento político ou jurídico será mais desmoralizante, aqui ou lá fora, para o golpe no Brasil que o comprometimento e o comportamento de seus agentes executores.”

Mas repito tudo, porque eles são mesmo apenas os agentes executores. Os seus autores, as elites brasileiras, sua mídia e uma Corte Suprema que sabia e sabe perfeitamente com quem lidava ao autorizar a consumação daquela tragédia é que são seus autores.

Esta é a razão que os impede de usar a frase simples, direta, cristalina, que não se ouve aqui sem o sotaque de português: “Dilma está sendo derrubada por uma assembleia geral de ladrões, presidida por um ladrão”.


* o autor é jornalista

Publicado no Tijolaço: http://www.tijolaco.com.br/blog/vergonha-mundial-ainda-protege-o-brasil/

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terça-feira, 19 de abril de 2016

As razões de cada deputado nos votos no impeachment

Richard Jakubaszko 
Circulam afoitas pela internet e redes sociais as causas e razões dos votos dos deputados a favor do impeachment. A corrupção deles próprios parece ser a causa predominante. Dilma irritou os poderosos, e deu no que deu.
Vejam abaixo:

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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Um golpe contra o povo e contra a democracia



por Aldo Fornazieri
Uma farsa dantesca, uma hipocrisia medonha, um cinismo indescritível. Eis a síntese do que se viu no dia 17 de abril de 2016 na Câmara dos Deputados. O que os deputados golpistas autorizaram foi a cassação de 54 milhões de votos, a cassação da soberania popular para que um grupo de corruptos assalte o poder sem voto e sem legitimidade. O que se viu foi a farsa de abrir caminho, em nome do combate à corrupção, para que um denunciado de ter recebido cinco milhões de reais em propina se torne presidente do Brasil. O que se viu foi a hipocrisia de, em nome da moralidade, permitir que o maior corrupto do Brasil se torne o primeiro na linha de sucessão da presidência da república. O que se viu foi o cinismo de deputados acusados de corrupção declararem votos em nome da salvação do Brasil do mal da corrupção. Este espetáculo de degradação da política, de degradação da dignidade do Brasil, sequer escapou ao New York Times que estampou em sua capa: “Gang de ladrões vai julgar Dilma”. Em nome de Deus, da família e da pátria e blasfemando contra Deus, conspurcando as suas famílias e pisoteando a pátria e a Constituição essa gang de ladrões fez suas declarações de voto.

O que se viu foi uma Câmara dos Deputados, que tem 7% de avaliação positiva, falar em nome do povo cassando o voto do povo. Foram 367 punguistas anulando 54.501.118 votos. Não há nenhuma acusação razoável contra a presidente Dilma e há cerca de 300 deputados enredados com questões judiciais. Não há democracia sem respeito à soberania popular.

Houve uma clara e criminosa ruptura da ordem democrática e institucional. Ruptura construída paulatinamente, pelo juiz Moro, pelo Ministério Público Federal, pela Polícia Federal e pelo Supremo Tribunal Federal que prevaricou ao permitir que Eduardo Cunha comandasse esse processo inescrupuloso de violência contra a democracia. O que se viu foi a desavergonhada declaração de votos de deputados do PSDB e de outros partidos de oposição clamando pela responsabilidade fiscal quando votaram nas pautas-bomba de Eduardo Cunha aumentando o déficit público no momento em que o Brasil precisava reduzi-lo. Como podem esses todos arvorar-se salvadores do Brasil quando agiram justamente para quebrar o Brasil?

O PT e o governo devem um pedido de desculpas à sociedade
Como pode essa gang de ladrões aliar-se à Fiesp que clama para não pagar o pato quando se sabe que quem paga o pato da Fiesp, dos bancos e do agronegócio é o povo pobre do Brasil que paga muito mais impostos que os ricos? Como pode o governo do PT ter sido tão ingênuo ao conceder mais de R$ 400 bilhões em incentivos e subsídios às elites possuidoras para ser traído por elas? Como pode o governo do PT ter se aliado aos partidos conservadores das elites abandonando o povo para ser traído por ministros do próprio governo na véspera e durante a votação do golpe?

Como pode o PT ter se enganado, imaginando que podia contar com o beneplácito das elites; que podia beber os vinhos caros com as elites; que podia exibir-se com os ternos importados junto às elites; que podia frequentar os hotéis e restaurantes luxuosos para congraçar com as elites? O PT foi aceito enquanto enchia os bolsos das elites com a farra das commodities. Nesse meio tempo, os movimento sociais se tornaram incômodos para os petistas nos governos; as sandálias da humildade foram jogadas no lixo; a estúpida arrogância do poder mesquinho entumecia o peito de parlamentares e dirigentes petistas; o conhaque de alcatrão de São João da Barra foi substituído pelo whisky envelhecido. Mas quando os governos petistas não tinham mais o que entregar à elite branca, endinheirada, de mentalidade escravocrata, machista, racista e homofóbica, o PT recebeu um senhor golpe. Somente nesse momento se lembrou de recorrer ao povo – mas tardiamente. Já passou da hora de o PT e do governo pedirem desculpas à sociedade pelos seus erros e pelos seus desvios

Sem pacto e sem transição transada
Quando veio a conta da farra fiscal em favor das elites, essas não quiseram pagá-la. Propuseram que o governo do PT pendurasse a conta nos ombros dos trabalhadores. O governo ficou paralisado: não fez nem uma coisa e nem outra. Não teve coragem de cobrar a conta a aqueles que mais ganharam.

Com um roteiro golpista e conspirador Temer e o PMDB construíram um programa de ataque aos direitos trabalhistas e sociais, de quebra da previdência, de entrega de áreas da economia de conteúdo nacional ao capital estrangeiro, de associação subordinada aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos. Essas são algumas das razões do golpe.

Mas se o PT e o governo foram humilhados e derrotados, se a Constituição foi rasgada e se a democracia foi violentada, paradoxalmente, essa crise toda produziu algo positivo. Novos movimentos sociais surgiram, uma juventude combativa se pôs nas ruas, milhares de debates foram realizados e esses novos movimentos e essa nova esquerda construíram pontes de unidade com os movimentos sociais que estavam paralisados, sob a cômoda condição de governistas. As manifestações do “não vai ter golpe” se equipararam às manifestações pró-golpe e isto fez com que nas redes sociais houvesse uma virada contra o golpe.

Duas frentes progressistas e de esquerda se formaram – Povo sem Medo e Frente Brasil Popular – e passaram a atuar em conjunto. É preciso avançar na reorganização dos movimentos sociais e políticos numa ampla frente progressista para enfrentar as novas etapas do golpe. O mais provável é que esse processo deságue na proposição de novas eleições gerais.

Mas o que esses movimentos políticos e sociais aprenderam nesse curto espaço de tempo é a necessidade de construir e preservar a autonomia em relação a qualquer governo. Para quem quer conquistar direitos e construir políticas públicas sociais é mais importante estar nas ruas, nas periferias, nas organizações sociais, culturais e sindicais do que estar nas secretarias e nos ministérios dos governos.

Esses novos movimentos não devem e nem podem fazer nenhum pacto. Os pactos, as “transições transadas”, na expressão do Raimundo Faoro, sempre foram enganosos para o povo e para os movimentos sociais. Mudanças efetivas nunca se consumaram no Brasil, pois as elites se apossaram das ideias de mudança para manter o status quo. É o que se vê novamente neste momento. Em nome do combate à corrupção quer-se um retrocesso da democracia, dos direitos sociais, dos direitos civis e dos direitos políticos. Movimentos de repressão e de perseguição à lideranças de movimentos sociais já estão em andamento. O povo não pode enganar-se e nem ser enganado mais uma vez com pactos ilusórios.

Se o governo Temer vier, será preciso agir para derrubá-lo, pois será um governo ilegítimo produzido por um golpe antidemocrático. Não se pode dar nenhuma trégua a um governo dessa natureza. A ideia da “unidade nacional” nada mais é do que uma máscara para jogar o peso do ajuste nos ombros dos trabalhadores e para sacrificar os programas sociais. As elites estão quebrando a ordem democrática e constitucional. Não merecem nenhuma confiança e nenhuma trégua.

Neste 17 de abril de 2016, o sol enganou o dia e a lua enganou a noite. Não poderá ser lembrando com um dia ensolarado e como uma noite enluarada. Foi um dia trevoso, cinzento para a história do Brasil. Felizes os portugueses que comemoram o mês de abril como um mês de libertação. Nós, brasileiros, teremos que lembrar o mês de abril como o mês da vergonha, da farsa, da hipocrisia e do cinismo.

* o autor é Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Publicado originalmente em http://jornalggn.com.br/noticia/um-golpe-contra-o-povo-e-contra-a-democracia-por-aldo-fornazieri

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domingo, 17 de abril de 2016

Venceu a hipocrisia


Richard Jakubaszko 
Sob a liderança de um deputado denunciado no STF como corrupto (Eduardo Cunha), a Câmara dos Deputados aprovou neste instante a autorização para o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Venceu a hipocrisia, afinal, a presidente nem suspeita ou investigada é de qualquer atividade de corrupção, como tentavam induzir os deputados em seus discursos inflamados de ódio.


Cunha votou com a declaração da mais pura hipocrisia: "Que Deus tenha misericórdia desta nação". Com ele presente, Deus não terá misericórdia de nós.

Os deputados anularam meu voto, assim como os votos de mais de 54 milhões de brasileiros que elegeram Dilma Rousseff.

Triste constatar que não houve e nem há qualquer intenção de se combater a corrupção. Há, sim, de cancelar a Lava Jato, o futuro mostará isso.

Se houvesse intenção de combater a corrupção Eduardo Cunha não presidiria a sessão da Câmara dos Deputados. Estaria preso.

Por isso, a hipocrisia venceu. Foi um estupro à democracia.

A democracia perdeu.

O Brasil perdeu.

Uma vergonha.

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