segunda-feira, 31 de maio de 2021

Não custa nada repetir: fora Bolsonaro!

Richard Jakubaszko  
A gente sabe que por livre e espontânea vontade o cara não vai sair do trono. Mas nunca é demais repetir: Fora Bolsonaro! Quem sabe um impeachment pega ele desprevenido... Caso contrário, vai ser pelo voto. Duro vai ser o ter que aguentar o cara por mais 19 meses...



 

 

 

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domingo, 30 de maio de 2021

Pinóquio: ficção ou realidade?

Ricardo Viveiros *

Há certos temas que são como certos sentimentos, embora ocorrentes tornam-se recorrentes. Portanto, diante do que está acontecendo na CPI da Covid-19 no Senado Federal, voltamos todos a falar sobre algo que se faz presente e causa indignação a quem, como muitos de nós, não tem esse péssimo hábito: mentir.

Foi na Itália que um jornalista chamado Carlo Lorenzini, nascido em Florença em 1826, escrevendo histórias infantis sob o pseudônimo de "Collodi" (o vilarejo de sua mãe, na Toscana) criou um personagem que - para a eternidade - se tornaria símbolo dos que contam mentiras. Em 1881, nascia o travesso "Pinocchio", com suas histórias escritas por Collodi e desenhadas por Eugenio Mazzanti.

Dizem que o jornalista e escritor era muito solitário, assim teria imaginado um velho marceneiro desejoso de ser pai, "Gepeto", que ao encontrar um belo pedaço de madeira idealizou fazer uma marionete para ter companhia. Sua vontade que o boneco tomasse vida foi tão forte, que o sonho aconteceu.

O pequeno Pinóquio, que significa pinhão em italiano, tem o hábito de contar mentiras. Mas, toda vez que faz isso, seu nariz cresce e é descoberto. Além de mentiroso, também desobediente foge e se perde embarcando em uma aventura repleta de mistérios, que o leva a descobrir os perigos do mundo. Se você ainda não leu, procure conhecer porque o livro é bem interessante.

Meu saudoso pai desde cedo educou-me a sempre falar a verdade. E me fazia ler a história do Pinóquio lembrando que a mentira tem pernas curtas, mas nariz grande. A imagem ficou para sempre. No ofício de jornalista, deparei com vários "pinóquios" da vida real. Em todas as profissões; muito mais na política. Segundo a Psicologia, as pessoas mentem para protegerem a si mesmas, para evitar confrontos, polêmicas, confusões; como também, para se fazerem importantes ou se incluírem em um grupo. São problemas relacionados com a falta de autoestima.

Há mentiras históricas que não se consegue apagar: o homem veio do macaco; raios não caem duas vezes no mesmo lugar; palavra saudade não tem equivalente em nenhum outro idioma; muralha da China pode ser vista do espaço; foram os ingleses que inventaram o futebol; o tango é argentino ou uruguaio; a Amazônia é o pulmão do Mundo. E por aí vão as mentiras que se tornaram "verdades" por terem sido repetidas muitas vezes, e sem contestação.

Nestes tempos em que a demagogia tem estado mais presente do que nunca - com as fakes news sendo usadas pelo populismo irresponsável -, ao ver a pandemia sendo relativizada e o negacionismo gerar graves problemas no combate à real doença que já matou em torno de 450 mil pessoas no Brasil, nem temos o direito de, como é tradição, brincar com as pessoas contando mentiras.

Não há mentira "perdoável", como se costuma justificar o erro. Não existe régua de medir mentira, se pequena ou grande. Mentira é mentira. Além do que, já temos um grande mentiroso que está causando muita tragédia, ao invés de apenas educar de maneira lúdica como o genial Pinóquio faz há 140 anos.

* o autor é jornalista, professor e escritor. Doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, membro honorário da Academia Paulista de Educação (APE) e autor, entre outros, dos livros "Justiça Seja Feita", "A Vila que Descobriu o Brasil" e "Pelos caminhos da Educação".

 

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sexta-feira, 28 de maio de 2021

Papa Francisco faz piada sobre brasileiros...

Richard Jakubaszko  
O pior é que ele tem razão, mesmo sendo hermano, ao responder ao padre brasileiro que lhe pediu para falar aos brasileiros, e o Papa Francisco respondeu: "de que adianta, brasileiro é muita cachaça e nada de orações".

Fica difícil, né não?

Olha só a resposta dos memes brasileiros:



 

 

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quarta-feira, 26 de maio de 2021

Mensagem subliminar?

Richard Jakubaszko 
Será que existe alguma mensagem subliminar nessa situação? Não parece ser coisa acidental, né não?



domingo, 23 de maio de 2021

Desvendado o mistério do mito bolsonarista

Richard Jakubaszko 
Agora sabemos quem são os apoiadores do mito
bolsonarista, questão que sempre me intrigou. Não é um dito profundo, mas é curioso, interessante, e bem humorado, além de verdadeiro:



 

 

 

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sábado, 22 de maio de 2021

FHC e Lula, haverá paz?

Richard Jakubaszko 
A política reencontra seu tempo e espaço. FHC e a direita lulificaram? Não, é só uma posição declaratória de ser contra o bozo e de que votará contra este, desde que seu partido de tucanos não coloque ninguém no segundo turno, questão mais do que fácil de prognosticar. Seguidores mais radicais de FHC e Lula manifestam-se contrários a qualquer tipo acordo entre eles. Os que apoiam esse ajuste entendem que é válido qualquer acordo desde que se obtenha sucesso para afastar o bozo do poder. Afinal, já estamos a menos de ano e meio das eleições. 

Espero que a paz persista.


 

 

 

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terça-feira, 18 de maio de 2021

O Tio Sam não é mais aquele

Ricardo Viveiros *

Os Estados Unidos, nação que sempre pretendeu dominar o Mundo, está diferente. O que mudou na terra do Tio Sam?

Tudo na vida é cíclico. Até mesmo uma democracia estável, como a norte-americana, surpreende ao ser abalada como aconteceu nos últimos dias do Governo Trump. Ele próprio um exemplo das intempéries políticas daquilo que pode sofrer um país.

Interessante observar, no caso dos EUA, que por quase 50 anos, de Roosevelt a Reagan, o estilo de governo foi um Estado forte, corajoso, produtivo. Ora com um republicano, como "Ike" Eisenhower, ora com um democrata, como Lyndon Johnson, tudo estava equilibrado, dentro da mesma cartilha.

Nas últimas quatro décadas, entretanto, o que se viu foi um período tranquilo, sob um jeito modesto de ser. "Bill" Clinton comentou: "A era do governo grande terminou". Agora, com "Joe" Biden no manche do airbus, tem início um processo de mudanças. E não é apenas o estilo de gestão. O novo presidente norte-americano não é um burocrata, como o russo Putin; nem um financista como o francês Macron; tampouco um fanfarrão como o norte-coreano Kim Jong-un.

Biden é do tipo menos "eu", mais "vocês". Ele não cria inimigos para legitimar políticas de Estado, opta por buscar parceiros e mudar a narrativa histórica dos que governaram antes dele. Não entra no discurso vazio da não globalização.

Distante do populismo crescente, longe do imaginário de que há uma conspiração de esquerda contra o Mundo, Biden é um equilibrado e discreto governante. O que não o impede de ser astuto político, conciliador que não deixa de exercer o poder com a ambição de realizar. Prova disso: com muito pouco tempo na Casa Branca - sem alaridos - já aprovou três pacotes envolvendo quatro trilhões de dólares.

Joe Biden completou os primeiros 100 dias de governo mudando o rumo de quase todas as políticas do seu antecessor, Donald Trump. Covid-19, meio ambiente, segurança, imigração, saúde, direitos humanos, relações internacionais. Biden iniciou seu mandato com 44% de aprovação do público norte-americano, segundo pesquisa da NBC News. A taxa cresceu para 50% agora em abril passado, considerando sua gestão como boa e ótima.

O presidente norte-americano já sinalizou que vai crescer tributos sobre as grandes corporações, para distribuir melhor a renda diminuindo desigualdades sociais. Sonhando grande para alcançar o mais perto possível, promete investir em modernas tecnologias. Menos bélico, mais empreendedor. Consegue de maneira muito especial agir em duas pontas distintas, ficando no centro e evitando polêmicas.

O que mudou nos EUA está em quem é o seu principal competidor. Sai Rússia, entra China. Ao invés de guerra armamentista, agora a disputa é comercial. E isso, claro, sem abrir mão da imagem de defensor internacional da democracia. Novo tempo, nova visão desenvolvimentista respeitando direitos humanos e sustentabilidade.

Biden, além da crise econômica enfrenta também a sanitária. Promovendo virada histórica, acaba de anunciar apoio à suspensão das patentes de vacinas contra a Covid-19 para acelerar a produção de imunizantes em países em desenvolvimento. E, ainda por cima, reage à fragilidade democrática herdada do desastroso Governo Trump. Enfim, transformações em curso geram expectativa em todo o planeta. Inclusive aqui no Brasil, histórico parceiro norte-americano nos princípios liberais e nos negócios. Só que, ultimamente, o Governo Bolsonaro - que segue fiel ao estilo Trump - anda interessado em obter recursos dos EUA para, supostamente, proteger a Amazônia. Biden abrirá o cofre?

* o autor é jornalista, professor e escritor. Doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, membro honorário da Academia Paulista de Educação (APE) e autor, entre outros, dos livros "Justiça Seja Feita", "A Vila que Descobriu o Brasil" e "Educação S/A".

 

 

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quinta-feira, 13 de maio de 2021

A CPI do Covid-19 e as eleições 2022

Richard Jakubaszko  
Segue o baile, com os atores da CPI em destaque nas principais manchetes dos jornais e telejornais, e, como sempre, é um circo em suas plenas funções, ora é uma ameaça de prisão, ora a repetição de xingamentos (os Bolsonaro, o filho 01 e o pai, dizem que Renan é vagabundo, este acusa o filho 01 de rachadinha), enfim, baile e circo ao mesmo tempo.

Daí que o Datafolha faz uma pesquisa e descobre, estupefato, o que todo mundo já sabia, que Lula pode ser eleito em 2022, até porque já tem, hoje, 41% de intenção de voto, e Bolsonaro 23% (caindo...), e com grandes chances de ganhar ainda no 1º turno...

Fica a dúvida, quem são os 23% dos apoiadores do Bozo? Os fãs imbecis que são também adoradores da cloroquina? 






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segunda-feira, 10 de maio de 2021

Bolsonaro é... e você é quem decide!

Richard Jakubaszko  
Parece gozação, e é mesmo, mas ao mesmo tempo é muito triste, e é lamentável assistirmos a biodegradação da imagem pública daquele que deveria ser o Chefe de Estado, o presidente do Brasil, coisa que ele não é, então decida você o que ele é:


ET. Este blogueiro acha que é 3 em 1...



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domingo, 9 de maio de 2021

Bolsonaro comemora Jacarezinho

Richard Jakubaszko  

De uma forma geral os evangélicos comemoraram a matança na favela do Jacarezinho. Estão na linha do "bandido bom é bandido morto". Os milicianos no Rio aplaudiram os atos da polícia civil. Bolsonaro não foi diferente, comemorou com o véio do Hang.

O mundo inteiro nos percebe como primatas. A pandemia é uma festa para o governo brasileiro. Agora vão até fazer campanha pró cloroquina...
Uma vergonha.

 

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sexta-feira, 7 de maio de 2021

Entre o impropério e a mitologia

Carlos Eduardo Florence *  

Relato em contrapartida e mais convicto, sem constrangimentos agora, passados vários indefinidos percalços sob a sombra suave desta solidão, mesmo não tendo lábios de carmim, nem sífilis, vendo em réplica as gaivotas brincarem de fingir fugidias ao infinito e eu aqui, obsessivo, campeando o verbo espairecer para saborear delicadas metáforas envenenadas. Mastigo fiapos de nada e me inspiro. Fazia-se, insisto para não pairar dúvidas, um imiscuído indefinido intervalo emocional entre o eu e a promiscuidade. Sim, provocativa, plasmando-se procedente posteriormente, embora, até então, não sabia eu, ingênuo, porque esta hipótese de promiscuidade comparecesse com peso relevante na minha interminável psicanálise. Prossegui meditativo vendo pouca esperança em aproveitar o canto da palmeira acarinhando o encanto do pintassilgo.

Não intuí por que não seria de cunho nada minimalista, na circunstância, pois entre as sete andorinhas mimetizando delicados voos insubordinados sobre o imprevisto, modulados em escala de fá, e o mesmo sol que as acalantara por uma primavera inteira, deu-se de o porvir ser inconstante, embora inexorável? Esta inconstância passou a fazer parte de meu proselitismo mesmo quando, raramente, sóbrio.

Mas, para certa tranquilidade, permitiu-se ao andejar, o que se confirmou fundamental, aproveitar estes cenários entranhados nas poesias concretas, tanto tal também como com as paisagens expressionistas, antes de simularem-se findas as sinfonias efêmeras diárias que se desconstroem para oferecer o poente. Anotei o aroma sobre uma pequena amálgama de hipótese, para não desperdiçar os remanescentes dos subterfúgios das circunstâncias indefinidas disponíveis, e a moça passou segurando a mão da criança brincando de chutar as espumas menores para implicar com a maré. Assim restaria aceitar o se estender do provérbio para eu absorver melhor o transcorrer inefável do dia, ameigado pela preguiça e à rotina entre o amanhecer e o entardecer. Friso, por onde pasmo ainda agora meus devaneios acompanhando este desenrolar, esperando o nada procriar pequenos êxtases de madraçarias. Não havia incompatibilidade ou redundância, a meu ver, entre a promiscuidade e o meu eu indolente, mas ainda estavam estabelecendo limites e espaços confiáveis.

Configurou-se exato. Através do paradoxo ou da mitologia, sempre confundo, pois repete-se esta determinação do Criador para se refazer as circunstâncias do panorama eterno que insinua diariamente a reedição da morte solar. Isto me foi fundamental então. A fantasia seria minha, portanto, na dúvida, propus que a interrogação perdurasse por outra estação de recreio se a hipótese em incremento se transformasse em libertinagem ou imposições xenófobas. Naquele momento, resgataríamos se a origem analítica do fenômeno da libertinagem teria caráter genético, ambiental, fiduciário, preservacionista ou influência, quem diria, do cruzamento de Capricórnio com Áries em trânsito eventual pela Constelação de Libra.

Voltava eu, inconscientemente, a pontos escolásticos ligados ao geocentrismo que levaram vários infiéis ao cadafalso por negarem aquilo que não fazia a menor diferença. Pois, com ou sem as alternativas em retrospectiva, a terra não se manifestou, mas também não parou de ter relações extraconjugais com o cosmos, os servos de gleba mal sobreviviam do que colhiam, o sol se movia em sentido horário e, em deferência ao inusitado, solicitei repetir a mesma marca de vinho. Senti-me gratificado e compartilhei com a tristeza, que viera me acompanhar como sempre naquele horário, o restante da garrafa.

Como percebi, este pensamento de confronto do verbo transitivo com a resultante da cabala em conluio com os princípios da metodologia vegana, jamais se esclareceu conscientemente, mas como se alternavam estas mesmas e ainda outras minúcias esquizoides posteriores, dei razão ao psiquiatra para dobrar a dose do psicotrópico. Mesmo preço de uma dúzia de garrafas de vinho, cartel filho da puta. Neste intervalo a promiscuidade e o ego já se intervinham um pouco melhor.

Olhei a tristeza e não me lembro se verbalizei, menti ou supus – “são dados incontestáveis desde quando os deuses burilaram este universo gravitacional e materialista, embora inconsciente e espontâneo, face a que as opções da realidade eram mais simples, mas o raciocínio cartesiano foi se impondo cada vez mais ditatorial, presente e autoritário. Tanto que o cartesianismo estuprou a fantasia para destruir o amor, imperar sobre a dúvida sempre que havia discórdia, renegar o novo testamento e as cores passaram a ter funções psicossomáticas”.

Justificava-se a conjetura, pois até então não havia eu atentado aos detalhes dos pardais entremeando o coreto se descompondo impregnado de nostalgia, onde uma senhora ouvia o chamado do além e conversava com Deus, ainda ali o chafariz enferrujado se desfazendo e abandonados se deram a ficar naquela ponta de praia amortalhada entre o silêncio e minhas insânias alvoroçadas.

Deu-se em alfa as sequências e a posteridade não configurou mais os meus motivos que não eram só disfarçados, mas afetivos e ancestrais. Impus-me pausa para não continuar elucubrando como faço enquanto desenvolvo elipses conflituosas para elucidar se o que estou imaginando é fruto do meu consciente ou se a consciência elabora o que estou imaginando. Tenho, nesta ânsia, duas soluções, transcender a atenção para um ponto imaginário imponderável em um subjetivo aleatório entre o azul amedrontado e o manifesto comunista ou me consolo da demência restando cativado à flor do maracujá que me saudou ontem em silêncio. Na dúvida chamei o garçom. O eu se aproximou da promiscuidade sem tocá-la.

Foram estes os argumentos com que a tristeza amena, amiga afetuosa, que me embala doce ao cair das tardes, aconchegara então à mesa que frequentava no Pontão do Procópio. Antecipo que os detalhes anteriores foram pontos de somenos no contexto que oferecerei. Não me senti confortado e tranquilo, embora uma das sete andorinhas tenha se recolhido mais cedo. Mas dispôs a tristeza, aleatoriamente, suave, a partir daquele momento marcante, sobre o tampo disponível, cada detalhe resgatado da bolsa de seus badulaques significantes que portava perene à tiracolo. Vieram seus atributos despejados sobre a mesa com a exigência precípua, sua, que atentasse eu somente ao aroma da fantasia, à acuidade do melindre, às cores da emoção.

Caso não me contagiasse peremptoriamente pelas oferendas portadas não seria impregnado da sutileza do encanto da incerteza, metamorfose da dúvida, do vazio espiritual. O álcool não faria mais efeito. Isto seria desumano, desalentador. Da embriaguez não compartilhada na intimidade com a tristeza, antes de chorar, se não lhe devotasse eu todo carinho e atenção, nasceriam provérbios inúteis, miasmas subversivos, discursos políticos, dividas, pregadores redentoristas. Repete-se esta cena inspirada na imensidão da suave demência com a qual me emociono sempre ao entardecer enquanto repito ordenar sistematicamente outra dose a ser sorvida em goles miúdos, na companhia da tristeza já alcoolizada, antes de me extasiar. O eu e a promiscuidade se acalmaram.

Lembro-me bem, parara de fumar na véspera, mas pedi só mais um maço, usaria dois e jogaria fora aquela porcaria de cigarros. Na medida que as peças das metáforas e encantos aforavam, tímidas ou alegres, enternecidas, medrosas, envergonhadas, desorientadas, a tristeza, imperativa, em seus desígnios de me enternecer em seus braços, olhou-me com a fisionomia complacente sabendo que eu não teria alternativa, se não a acatasse. Fui, tranquilo, sendo abscondido pelo fervor impregnado de delírio irrequieto da tristeza impositiva, olhos pasmados na sua impassividade, certo torpor, resto de medo atávico. Transcendi à infância, seios maternos, o ladrão embaixo da cama, infinito, o cavalo de pelúcia, reza para pedir perdão, a reza para pecar depois.

Deixei-me entreter lento, voz pastosa, volvendo vistas à tristeza, ela pedindo para passar para o lado direito, pois gostaria de acompanhar o poente. Oscilei o pensamento para uma frase sem sentido prático, naquele momento pelo menos, por ser inoportuna, mas me deixei tangenciar por uma letra de samba canção que pincelava a textura suave do tema, por ser sábado, no qual poderia eu ter desejos e carências sexuais. A imaginação é fantástica. O vinho não era dos piores depois da sexta dose. Uma brisa calma trouxe recordações de Alita, que me abandonara no mês anterior, tanto que lembrei que teria de resgatar, na véspera, a penhora do relógio que fora de meu avô.

Só nos distraímos, a tristeza e eu, por vermos desprender da flor de maracujá, empenhada em ouvir o silêncio, um beija-flor à cata de seus existenciais, procriar ou nutrir-se. Deus caprichou no colibri enquanto rascunhava os demais imprevistos à beira do nada. Neste ponto tentei impor-me o pensamento mais formal e não dialogar com o surrealismo. Por favor, pedi, sem timidez mais, o terceiro ou quarto copo depois do último que parara de considerar necessário contar. A tristeza, impassível não se pronunciou. Fiquei orgulhoso.

Depositava ela seus portados em ordem de minúcias afetivas e por silogismos crescentes, insistindo para eu não me distrair pedindo, simultaneamente, vinho novamente. Ainda falávamos da importância do contexto das andorinhas em confronto com os paradigmas solares, quando a angústia chegou sorrateira de mãos dadas com o problema de cálculo integral acarinhando-a e observando a importância existencial do desabrochar da camélia em dia de finados. A equação não fechava, mas existia certa correlação poética com o mar morto.

A tristeza voltou a olhar-me na intimidade da alma, pediu mais vinho tinto para ela então, enquanto entonava quase imperceptível algo de Noel. Antes de se despedir e levar-me aos safanões pela calçada, sem perguntar-me, jogou, a tristeza, sobre a lambança dos seus búzios preferidos, um olho de cabra que sorria pela metade, um preconceito irreal recolhido em desavença com a Via Láctea, aquele exemplar estranho de sonho que não tinha envolvimento com o Complexo de Édipo, duas metamorfoses lésbicas de cigarras ainda encasuladas, fotografia do colibri que enfeitara o além antes das festas juninas, um saca-rolhas sem dente. Além disto, embora não considerasse búzio ou patuá, me fez alisar, para ir acostumando a conviver, uma réstia de melancolia, duas metades de saudades que não encaixavam. Mostrou ela ainda possuir três quartos de alguma substância fortuita para uso anticoncepcional ou remédio para mal olhado, mais o pedaço severo lascado de frustração para misturar com álcool antes da missa das seis. Jamais entendi para que, a missa. O ego viu-se impotente para assumir fantasia promíscua.

Expos, em sua confusão simpática, mas destrutiva, a tristeza, os motivos porque se davam nossos encontros sempre ao entardecer e assim não atrapalhar a chegada da insônia, que não falhava jamais. Atribuiu à tristeza, então já ordenando mais um vinho tinto, a tranquilidade que pairou entre nós até enquanto aguardávamos a depressão chegar para entrelaçarmos nossos propósitos de ménage a trois. Não nos despedimos, convidei-as a dormir. Proibi-as de atender o insistente telefone, era do AA.

* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos.

Publicado em https://carloseduardoflorence.blogspot.com/2021/05/entre-o-improperio-e-mitologia-relato_6.html

 

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quinta-feira, 6 de maio de 2021

Bolsonaro é a galhofa das guerras

Richard Jakubaszko    

Péssimo orador, Bolsonaro se atrapalha com sua pouca cultura e baixo QI. Tosco, mas sem ser burro, tenta criar mas tropeça na malandragem ideológica, pois não é que inventou agora uma nova guerra, a "radiológica", que, segundo ele, foi criada pelos chineses. Pergunto aos universitários: como será essa guerra radiológica? Atiram rádios nos inimigos? Ou será que são os aparelhos de Raio X que são arremessados nas tropas dos desafetos?

Ai, ai, ai... coitado do Brasil com um persidente desses (isso mesmo, persidente...).

 

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