Fernando Brito *
A jornalista e premiada escritora Alexandra Lucas Coelho, no jornal Público, de Lisboa, publica intenso artigo sobre o que acontece e o que nos aguarda na educação, não só nos cortes, mas no rebrotar das manifestações da juventude que, daqui a três dias, se unificam num único protesto contra o massacre na educação. E como a rejeição a Bolsonaro atravessou oceanos e fronteiras e vai reunindo o que há de mais importante no mundo que não importa ao presidente brasileiro, o dos que pensam.
Bolsonaro inimigo do Brasil, inimigo do mundo
Alexandra Lucas Coelho
1. O pior inimigo do Brasil está sentado no palácio em Brasília. É o próprio presidente eleito. Escrevo esta crônica em Salvador, entre vir de Brasília e partir para São Paulo. E em menos de uma semana os crimes são tantos que fica difícil atualizar. Estamos a um ritmo mais do que diário. Bolsonaro é um criminoso horário. A cada hora, é mais chocante para o Brasil, e para o mundo, que esta criatura tenha sido eleita. Foi cúmplice quem contemporizou na campanha, ou não quis ver nem ouvir, apesar de tudo o que estava na cara, e no ouvido. Mas, pior, é cúmplice quem, depois de quatro meses e nove dias de destruição, continua a teimar, ou acena com a legitimidade democrática. Parceiros no crime de um destruidor em massa, serial.
O presidente de Portugal, que tratou Bolsonaro como “irmão” na posse em Brasília, já se escapuliu, entretanto, de ser fotografado ao lado do infame Moro, na Faculdade de Direito de Lisboa, apesar de a sua presença ter sido anunciada. Imagino que hoje já não seria tão palmadinhas-nas-costas em Brasília. Ou em Lisboa. Mas já não se imagina Bolsonaro em Lisboa, não é? Ou alguém, fora eleitores dele, está tão equivocado que, sim, imagina?
Gostaria de ver, ler perguntas, notícias, sobre como os governantes portugueses estão a encarar isto. O ministro Augusto Santos Silva foi questionado sobre aparecer amenamente ao lado de Moro, como se nada fosse? Alguém perguntou a Marcelo porque afinal não compareceu no encontro onde esteve Moro? Coisas que, à distância, neste périplo, pelo Brasil, gostaria de saber.
Chegamos a um ponto em que foi cruzada, sem retorno, uma linha da diplomacia. Para além dessa linha, a diplomacia normal, dos lugares comuns ditos em público, não se aplica, passa a ser cúmplice.
Alguns, cada vez mais, já perceberam isso. O prefeito de Nova Iorque percebeu isso, e a sua clareza firme levou Bolsonaro a cancelar a visita. O prefeito de Nova Iorque simplesmente declarou Bolsonaro persona non grata. É isso que o mundo tem de fazer. Porque o pior inimigo do Brasil, que está sentado no palácio presidencial, é inimigo do mundo.
2. E o mundo começou a fazer. Mais de onze mil intelectuais das mais reputadas universidades do planeta assinaram uma carta contra Bolsonaro. Concretamente contra o ataque inédito de Bolsonaro à educação, que na última semana se tornou guerra mesmo. Bolsonaro conseguiu, aliás, o prodígio de na mesma semana em que mais atacou a educação facilitar mais o uso de armas. Entre os assinantes do manifesto contra estão académicos de Harvard, Princeton, Yale, Oxford, Cambridge, Berkeley, além das grandes universidades brasileiras, como Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade de Brasília.
Pisei esta semana pela primeira vez a Universidade de Brasília, um campus incrível, verde, sem separação entre cidade e universidade, sem portão, sem muro, sem segurança. Sonho do antropólogo Darcy Ribeiro que — ao contrário do sonho principal de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, planeadores da cidade — está totalmente habitado. A Universidade de Brasília é sonho e é humana. É arquitetura e é gente. A cara de Paulo Freire, mestre de um sonho de educação a quem Bolsonaro também declarou guerra, recebeu-me num cartaz à entrada para o Instituto de Letras. Pelas paredes, cartazes em defesa das ciências humanas, devolvendo a “balbúrdia” a Bolsonaro. Porque uma das pérolas que veio deste governo brasileiro, durante a semana, foi a de que as universidades públicas são antros de balbúrdia, gente nua e marxismo cultural. Entre os cartazes e grafite contra Bolsonaro, um cartaz com o título “A Queda do Céu”, livro já lendário do xamã ianomami Davi Kopenawa, cartazes em defesa dos povos indígenas, corredores e pátios fervilhando com muitos tons de pele: o Brasil.
Esta semana, o homem sentado no Planalto cortou um terço ou mais dos orçamentos das universidades públicas e institutos federais, estrangulando ou exterminando à partida ensino e pesquisa no Brasil. E, quando a luta de estudantes e professores, pais e mães já saía às ruas, foi anunciado o corte das bolsas de mestrado e doutoramento em todas as áreas, ciências humanas e exatas, da Capes, principal fonte de bolsas no Brasil.
3. Entretanto, todos os anteriores ministros do Ambiente ainda vivos se juntaram, em alarme e protesto, numa frente, para além das diferenças políticas e ideológicas. Acusaram Bolsonaro de pôr “em prática, em pouco mais de quatro meses, uma ‘política sistemática, constante e deliberada de desconstrução e destruição das políticas meio ambientais’ implementadas desde o início dos anos de 1990, além do desmantelamento institucional dos organismos de proteção e fiscalizadores, como o Ibama e o ICMBio”, resumiu o “El Pais Brasil”. Acusam Bolsonaro e o ministro Ricardo Salles de reverterem todas as conquistas das últimas décadas, que “não são de um governo ou de um partido, mas de todo o povo brasileiro”. Marina Silva usou a expressão “exterminador do futuro”.
4. Nessa altura, quarta-feira, já as ruas se tinham enchido, em defesa da educação, de Belo Horizonte a Salvador ao Rio de Janeiro. Secundaristas, muito jovens, defendendo os seus colégios públicos, como o histórico Pedro II, porque o corte não atinge só as universidades, mas sim todos os institutos federais. E universitários, e professores. Quero acreditar que estes quatro meses foram de choque e atordoamento, mas que as ruas que agora se enchem são o prenúncio de uma luta nova, de algo que recomeçou no Brasil. Em 2013, quando muitas lutas explodiram nas ruas, um Brasil ignorante, boçal, autoritário, nostálgico do escravagismo e da ditadura, começou a capturar a energia do protesto e as redes sociais. Este ano de 2019 talvez seja o recomeço de 2013 no ponto em que 2013 se perdeu. Adolescentes erguendo livros contra gente armada.
5. Mas os próximos tempos serão duríssimos, mesmo que a luta cresça e cresça. Educação, ciência, cultura, já perderam, vão perder mais. Neste périplo que estou a fazer pelo Brasil, entre universidades e livrarias, só estar com livros, com debate, com quem estuda, já parece subversivo. Então, mesmo por entre as peripécias da geringonça, gostaria de saber se o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, tem alguma ideia nova para apoiar tantos professores, estudantes, pesquisadores brasileiros, ameaçados de novos perigos. Ou a ministra da Cultura, Graça Fonseca, num momento em que os apoios à cultura no Brasil estão a paralisar, uns atrás de outros.
6. Lembram-se de quem, a propósito do Brasil, do impeachment de Dilma, insistiu que não era golpe? Escrevo esta crônica por entre as imagens do golpista Temer entregando-se à polícia.
Como o Fora Temer parece fazer parte de outra era. De perda de inocência em perda de inocência, ou inconsciência, estamos diante do horror. E os que são jovens agora, tão ou mais jovens que a jovem Greta Thunberg, como os secundaristas brasileiros que há anos já aprendem uma nova luta, cada vez mais sabem que não há outros, seremos nós a mudar isto, ou não haverá nós. Tal como não há planeta B.
* o autor é jornalista e editor do blog Tijolaço.
Publicado em http://www.tijolaco.net/blog/bolsonaro-e-um-destruidor-em-serie/
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Mostrando postagens com marcador Temer. Mostrar todas as postagens
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quarta-feira, 15 de maio de 2019
segunda-feira, 25 de março de 2019
A ladeira não acabou…
Fernando Brito *

A semana promete.
Amanhã cedo começaremos a ver se – e quanto – o mercado financeiro acha que a reforma previdenciária “subiu no telhado”.
Embora a queda da sexta-feira tenha sido brutal, abrindo espaços para a compra, barato, de ativos financeiros, é duvidoso que alguém queira colocar o pescoço – e o bolso – muito exposto à faca que está cortando as expectativas de uma recuperação, ainda que capenga, da economia.
O mais provável é o contrário. O Boletim Focus, do Banco Central, deverá apontar para uma previsão de expansão do PIB abaixo de 2%.
O capitão já deixou claro que não vai buscar composição e que cabe a Rodrigo Maia, se quer a reforma, articular a votação dos deputados. Não se verifica, porém, qualquer possibilidade de que os deputados o levem a fazer isso por interesse em compor com o Planalto em troca de nada.
Terça, tem Paulo Guedes na Comissão de Constituição e Justiça, em clima de conflito aberto e ameaça do Centrão de esvaziar o plenário e deixar a esquerda e o PSL quebrando o pau na audiência. Não creio que Rodrigo Maia vá contribuir para isso, exceto se houver uma irritação incontrolável das bancadas.
Ele não quer ficar – e não quer que a Câmara fique – como o inviabilizador da reforma.
Quarta, há o julgamento do habeas corpus de Michel Temer, com chances concretas de ser concedido e de se tornar fonte de mais ataques ao Judiciário. Antes, duas reuniões que prometem dar pano para manga: Ernesto Araújo, chanceler (ou quase) e Ricardo Vélez, Ministro (ou quase) da Educação serão sabatinados na Câmara.
Note que toda este degringolada aconteceu depois da última quarta-feira, quando o governo apresentou a proposta do reajuste dos militares.
Agora, vai ficando claro que, entre a chance de aprovar, mesmo parcialmente, a reforma e a oportunidade de atacar o parlamento, Jair Bolsonaro fica com a segunda hipótese.
A turma da coxinha ameaça partir para manifestações mais radicais.Mas não parece que Bolsonaro, a esta altura, tenha como ir além do “não me deixem só”.
* o autor é jornalista, editor do blog “Tijolaço”.
Publicado originalmente em http://www.tijolaco.net/blog/a-ladeira-nao-acabou/
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A semana promete.
Amanhã cedo começaremos a ver se – e quanto – o mercado financeiro acha que a reforma previdenciária “subiu no telhado”.
Embora a queda da sexta-feira tenha sido brutal, abrindo espaços para a compra, barato, de ativos financeiros, é duvidoso que alguém queira colocar o pescoço – e o bolso – muito exposto à faca que está cortando as expectativas de uma recuperação, ainda que capenga, da economia.
O mais provável é o contrário. O Boletim Focus, do Banco Central, deverá apontar para uma previsão de expansão do PIB abaixo de 2%.
O capitão já deixou claro que não vai buscar composição e que cabe a Rodrigo Maia, se quer a reforma, articular a votação dos deputados. Não se verifica, porém, qualquer possibilidade de que os deputados o levem a fazer isso por interesse em compor com o Planalto em troca de nada.
Terça, tem Paulo Guedes na Comissão de Constituição e Justiça, em clima de conflito aberto e ameaça do Centrão de esvaziar o plenário e deixar a esquerda e o PSL quebrando o pau na audiência. Não creio que Rodrigo Maia vá contribuir para isso, exceto se houver uma irritação incontrolável das bancadas.
Ele não quer ficar – e não quer que a Câmara fique – como o inviabilizador da reforma.
Quarta, há o julgamento do habeas corpus de Michel Temer, com chances concretas de ser concedido e de se tornar fonte de mais ataques ao Judiciário. Antes, duas reuniões que prometem dar pano para manga: Ernesto Araújo, chanceler (ou quase) e Ricardo Vélez, Ministro (ou quase) da Educação serão sabatinados na Câmara.
Note que toda este degringolada aconteceu depois da última quarta-feira, quando o governo apresentou a proposta do reajuste dos militares.
Agora, vai ficando claro que, entre a chance de aprovar, mesmo parcialmente, a reforma e a oportunidade de atacar o parlamento, Jair Bolsonaro fica com a segunda hipótese.
A turma da coxinha ameaça partir para manifestações mais radicais.Mas não parece que Bolsonaro, a esta altura, tenha como ir além do “não me deixem só”.
* o autor é jornalista, editor do blog “Tijolaço”.
Publicado originalmente em http://www.tijolaco.net/blog/a-ladeira-nao-acabou/
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domingo, 23 de setembro de 2018
Guedes admite acordo Temer-Bolsonaro para reformar a Previdência
Fernando Brito *
Sem destaque, na coluna de Sonia Racy, no Estadão, mais uma pérola do “Posto Ipiranga” econômico de Jair Bolsonaro: apoiar a ideia de um acordo com o moribundo Michel Temer para que este fique com a impopularidade de uma reforma previdenciária:
Paulo Guedes, na sua última conversa com investidores antes de Jair Bolsonaro pedir silêncio – aconteceu na gestora [de fundos] GPS, terça-feira. fez observação bastante significativa. Informou ser possível que o candidate do PSL, caso vença o pleito, ajude Temer a aprovar a reforma da Previdência antes do fim do ano. “Se ele fizer isso, e e bom para ele fazer isso, o avião que vamos pegar não cai na minha cabeça”, atirou, duvidando de que o sucessor de Temer, qualquer que seja, consiga votar a reforma no primeiro trimestre.
Mesmo que seja uma impossibilidade política, com um governo derrotado, a um mês e meio do final do mandato, este senhor sugere, simplesmente, um a aplicação de um crime de estelionato sobre a população.
Estelionato, mesmo, coisa de gente de mau-caráter, que acha que os “otários” vão achar que é “culpa do Temer” aquilo que é desejo de Bolsonaro que, aliás, passou à reserva remunerada aos 33 anos, ao eleger-se vereador.
Será isso que o tal “mercado” chama de segurança econômica?
No meu tempo chamava-se de molecagem.
* o autor é jornalista, editor do blog Tijolaço.
Publicado no Tijolaço: http://www.tijolaco.com.br/blog/guedes-admite-acordo-temer-bolsonaro-modificar-previdencia/
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Sem destaque, na coluna de Sonia Racy, no Estadão, mais uma pérola do “Posto Ipiranga” econômico de Jair Bolsonaro: apoiar a ideia de um acordo com o moribundo Michel Temer para que este fique com a impopularidade de uma reforma previdenciária:
Paulo Guedes, na sua última conversa com investidores antes de Jair Bolsonaro pedir silêncio – aconteceu na gestora [de fundos] GPS, terça-feira. fez observação bastante significativa. Informou ser possível que o candidate do PSL, caso vença o pleito, ajude Temer a aprovar a reforma da Previdência antes do fim do ano. “Se ele fizer isso, e e bom para ele fazer isso, o avião que vamos pegar não cai na minha cabeça”, atirou, duvidando de que o sucessor de Temer, qualquer que seja, consiga votar a reforma no primeiro trimestre.
Mesmo que seja uma impossibilidade política, com um governo derrotado, a um mês e meio do final do mandato, este senhor sugere, simplesmente, um a aplicação de um crime de estelionato sobre a população.
Estelionato, mesmo, coisa de gente de mau-caráter, que acha que os “otários” vão achar que é “culpa do Temer” aquilo que é desejo de Bolsonaro que, aliás, passou à reserva remunerada aos 33 anos, ao eleger-se vereador.
Será isso que o tal “mercado” chama de segurança econômica?
No meu tempo chamava-se de molecagem.
* o autor é jornalista, editor do blog Tijolaço.
Publicado no Tijolaço: http://www.tijolaco.com.br/blog/guedes-admite-acordo-temer-bolsonaro-modificar-previdencia/
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terça-feira, 29 de maio de 2018
Para onde querem levar o Brasil?
Richard Jakubaszko
Pela leitura on line dos principais jornais, a situação anda de mal a pior. Caminhamos a passos acelerados para o caos total, de forma irresponsável.
O governo Temer age como uma barata tonta, com declarações estapafúrdias de que vai prender os líderes da greve dos caminhoneiros, de que vai colocar o exército nas estradas, e de que entre os caminhoneiros há acusações de infiltrações no movimento, gente radical que impede a dispersão dos caminhões, desde que tiveram atendidas as reivindicações pelo governo federal, mas a greve vai se estendendo, e completamos o 8º dia de paralisação. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ver nota abaixo), na tentativa de defender seus associados, informa a mortandade de animais, especialmente aves, por fome, já que a ração não chega aos avicultores. Lá se foram mais de 70 milhões de aves, e há o perigo de se atingir 1 bilhão de galinhas nesse processo de bloqueio das estradas, e que já atinge níveis insuportáveis. Prejuízo de produtores rurais, de todos os tamanhos, que não serão jamais ressarcidos. Vai faltar carne de frango e ovos.
Os caminhoneiros até hoje tinham o apoio da população, inclusive de entidades associativas de todas as áreas atingidas, mas o movimento de greve derivou para um viés político com pitadas de radicalização insana. Aparentemente essa radicalização impede o fim da greve. Quem sabe o que está acontecendo? Sem informações reais, pois a mídia sonega a realidade, estamos em guerra, e nesta, como sabemos, a primeira vítima é a verdade. Os desencontros de notícias geram desinformação, e até mesmo a Polícia Rodoviária Federal se omite, simplesmente parou de registrar informações para a mídia.
O governo federal mostra toda a sua incompetência para gerir a crise, desde o início isso ficou evidente. Agora, politicamente, o governo Temer está de joelhos, nem o exército atendeu a ordem presidencial de intervir e liberar as estradas. O caos vai crescendo.
Levaremos semanas, ou meses, em alguns segmentos, para recolocar a vida em ordem. Prejuízos imensos, de produtores, cooperativas agrícolas, atacadistas, comércio em geral, postos de gasolina, prenunciando uma apoteótica quebradeira de muita gente. Na sequência, depois que a poeira abaixar, continuaremos com o desabastecimento, inflação com recessão, e mais crise econômica. Tudo isso em um ano eleitoral que se pronunciava tumultuado, e que promete muito mais emoções em termos de malvadezas. Os radicais, grevistas e não grevistas, já pedem ensandecidos intervenção militar, como se isso fosse resolver qualquer dos problemas em andamento ou os que estão a caminho.
Aturdidos, vários segmentes urbanos (universidades, escolas, correios) e mesmo de propriedades rurais começam a paralisar atividades, pela impossibilidade de reunir os trabalhadores nos seus locais de trabalho, devido à falta de combustíveis que sufoca o transporte público. Vai ser um trabalho hercúleo recompor a normalidade do país. E falta pouco para começarem os assaltos famélicos, espero que nem comecem, pois meu otimismo deseja acreditar que as fofocas midiatizadas de que o movimento dos caminhoneiros começa a arrefecer. Não sei, tenho dúvidas, e o caos está chegando...
Espero que o bom senso volte a prevalecer. Não há condições mínimas de a sociedade voltar à normalidade diante dos radicalismos e omissões. Os aproveitadores e oportunistas, tanto do ponto de vista político como econômico, começam a mostrar suas garras. O mercadismo não pode prevalecer sobre o bom senso.
Alguém aí deseja ver o Brasil normal e com o povo em paz? Mas, para onde querem levar o Brasil desta vez? Fora Temer, parece ser um bom começo... Logo estaremos gritando "Fora Maia", mas o Temer, nesse caso, já terá ido embora, levando com ele o tucano Pedro Parente, rolabosta causador dessa merda que presenciamos.
COMUNICADO DA ABPA
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informa que os bloqueios dos caminhoneiros seguem impedindo o fluxo de produtos, aves e ração para a avicultura e a suinocultura do Brasil.
Segundo levantamento feito pela entidade junto a seus associados, caminhões com rações, insumos para a produção da alimentação animal (como milho e soja) e outros produtos são impedidos de circular em mais de 300 pontos de 22 estados pelo País.
Além dos bloqueios, há relatos de ameaças a motoristas que querem deixar a paralisação.
A mortandade continua crescendo nos polos de produção pelo país. Desde o início da greve, são quase 70 milhões de aves mortas. Volumes próximos de 120 mil toneladas de carne de frango e de carne suína deixaram de ser exportados desde o início da greve.
Os animais mortos são colocados em composteiras nas próprias propriedades, mas o sistema já está no limite. O risco ambiental e de saúde pública é crescente.
Cerca de 1 bilhão de aves e 20 milhões de suínos ainda estão em risco de morte como consequência direta dos bloqueios.
Todos os esforços estão sendo realizados por avicultores, técnicos do setor, colaboradores da cadeia produtiva (inclusive motoristas que não concordam com a continuidade da greve) para diminuir os graves impactos causados pela paralisação. A situação é alarmante para todo o setor. A continuação dos bloqueios para produtos alimentícios rações e animais são um grave risco ao País e exigem uma ação forte e imediata do governo. Não é mais possível esperar.
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Pela leitura on line dos principais jornais, a situação anda de mal a pior. Caminhamos a passos acelerados para o caos total, de forma irresponsável.
Não há governo, não há liderança, não há nenhum sinal e nada visível de que o governo caminhe em direção de uma solução do problema da greve dos caminhoneiros, que já afeta a todos os brasileiros. O Estadão de hoje pergunta em sua principal manchete: "O que mais eles querem?"
Respondo: querem fora Temer, querem uma mídia honesta e verdadeira, ao lado do povo, querem eleições livres e democráticas.
O governo Temer age como uma barata tonta, com declarações estapafúrdias de que vai prender os líderes da greve dos caminhoneiros, de que vai colocar o exército nas estradas, e de que entre os caminhoneiros há acusações de infiltrações no movimento, gente radical que impede a dispersão dos caminhões, desde que tiveram atendidas as reivindicações pelo governo federal, mas a greve vai se estendendo, e completamos o 8º dia de paralisação. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ver nota abaixo), na tentativa de defender seus associados, informa a mortandade de animais, especialmente aves, por fome, já que a ração não chega aos avicultores. Lá se foram mais de 70 milhões de aves, e há o perigo de se atingir 1 bilhão de galinhas nesse processo de bloqueio das estradas, e que já atinge níveis insuportáveis. Prejuízo de produtores rurais, de todos os tamanhos, que não serão jamais ressarcidos. Vai faltar carne de frango e ovos.
Os caminhoneiros até hoje tinham o apoio da população, inclusive de entidades associativas de todas as áreas atingidas, mas o movimento de greve derivou para um viés político com pitadas de radicalização insana. Aparentemente essa radicalização impede o fim da greve. Quem sabe o que está acontecendo? Sem informações reais, pois a mídia sonega a realidade, estamos em guerra, e nesta, como sabemos, a primeira vítima é a verdade. Os desencontros de notícias geram desinformação, e até mesmo a Polícia Rodoviária Federal se omite, simplesmente parou de registrar informações para a mídia.
O governo federal mostra toda a sua incompetência para gerir a crise, desde o início isso ficou evidente. Agora, politicamente, o governo Temer está de joelhos, nem o exército atendeu a ordem presidencial de intervir e liberar as estradas. O caos vai crescendo.
Levaremos semanas, ou meses, em alguns segmentos, para recolocar a vida em ordem. Prejuízos imensos, de produtores, cooperativas agrícolas, atacadistas, comércio em geral, postos de gasolina, prenunciando uma apoteótica quebradeira de muita gente. Na sequência, depois que a poeira abaixar, continuaremos com o desabastecimento, inflação com recessão, e mais crise econômica. Tudo isso em um ano eleitoral que se pronunciava tumultuado, e que promete muito mais emoções em termos de malvadezas. Os radicais, grevistas e não grevistas, já pedem ensandecidos intervenção militar, como se isso fosse resolver qualquer dos problemas em andamento ou os que estão a caminho.
Aturdidos, vários segmentes urbanos (universidades, escolas, correios) e mesmo de propriedades rurais começam a paralisar atividades, pela impossibilidade de reunir os trabalhadores nos seus locais de trabalho, devido à falta de combustíveis que sufoca o transporte público. Vai ser um trabalho hercúleo recompor a normalidade do país. E falta pouco para começarem os assaltos famélicos, espero que nem comecem, pois meu otimismo deseja acreditar que as fofocas midiatizadas de que o movimento dos caminhoneiros começa a arrefecer. Não sei, tenho dúvidas, e o caos está chegando...
Espero que o bom senso volte a prevalecer. Não há condições mínimas de a sociedade voltar à normalidade diante dos radicalismos e omissões. Os aproveitadores e oportunistas, tanto do ponto de vista político como econômico, começam a mostrar suas garras. O mercadismo não pode prevalecer sobre o bom senso.
Alguém aí deseja ver o Brasil normal e com o povo em paz? Mas, para onde querem levar o Brasil desta vez? Fora Temer, parece ser um bom começo... Logo estaremos gritando "Fora Maia", mas o Temer, nesse caso, já terá ido embora, levando com ele o tucano Pedro Parente, rolabosta causador dessa merda que presenciamos.
COMUNICADO DA ABPA
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informa que os bloqueios dos caminhoneiros seguem impedindo o fluxo de produtos, aves e ração para a avicultura e a suinocultura do Brasil.
Segundo levantamento feito pela entidade junto a seus associados, caminhões com rações, insumos para a produção da alimentação animal (como milho e soja) e outros produtos são impedidos de circular em mais de 300 pontos de 22 estados pelo País.
Além dos bloqueios, há relatos de ameaças a motoristas que querem deixar a paralisação.
A mortandade continua crescendo nos polos de produção pelo país. Desde o início da greve, são quase 70 milhões de aves mortas. Volumes próximos de 120 mil toneladas de carne de frango e de carne suína deixaram de ser exportados desde o início da greve.
Os animais mortos são colocados em composteiras nas próprias propriedades, mas o sistema já está no limite. O risco ambiental e de saúde pública é crescente.
Cerca de 1 bilhão de aves e 20 milhões de suínos ainda estão em risco de morte como consequência direta dos bloqueios.
Todos os esforços estão sendo realizados por avicultores, técnicos do setor, colaboradores da cadeia produtiva (inclusive motoristas que não concordam com a continuidade da greve) para diminuir os graves impactos causados pela paralisação. A situação é alarmante para todo o setor. A continuação dos bloqueios para produtos alimentícios rações e animais são um grave risco ao País e exigem uma ação forte e imediata do governo. Não é mais possível esperar.
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domingo, 27 de maio de 2018
A gasolina vai voltar, mas a crise não vai terminar
Fernando Brito *
Ainda secos, é possível que segunda ou terça-feira já comece a se normalizar a situação dos postos de combustíveis.
O que não quer dizer que, em alguma outra coisa que não sejam as bombas de gasolina algo possa ser descrito como “normal”.
Os remanescentes do PSDB, aquartelados nos órgãos de imprensa, levantarão barricadas pela permanência de Pedro Parente na direção da Petrobras, defendendo os valores absolutos da “liberdade de mercado” contra o “dragão dos impostos” dos quais, afinal, apesar de todos os desvios e encanamentos do rentismo, ainda pingam algumas gotas para os serviços à população.
A Globo, paradoxalmente, vai atacar os empresários de transporte, preocupada com a agressividade crescente da extrema-direita liderada na política por Jair Bolsonaro, numa tentativa de criar uma “mini Lava Jato” do bloqueio das estradas, com poucas chances de êxito. E atacando a anunciada greve dos petroleiros, prevista para quarta feira e que tem como pauta a redução do preço do gás, gasolina e diesel e a demissão de Pedro Parente.
No Congresso, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira vão pegar carona na insatisfação da classe média com o agonizante Michel Temer e com os preços dos combustíveis. Alckmin mantém um silêncio compatível com sua situação nas pesquisas: sepulcral. Até seu principal porta-voz na mídia, Merval Pereira, admite hoje que a situação do partido é de “falência“. Claro que ele atribui a mesma situação ao PT, embora não haja nenhuma palavra sobre como um partido falido pode ter seu líder, preso e difamado, disparado à frente das enquetes eleitorais.
Teresa Cruvinel, no JB, observa, com razão, que “o governo zerou a credibilidade e ficou completamente refém do Congresso. A conta alta vem ai, apontando para o fundo do poço”.
Com todos os desvios que a especulação pode sinalizar, é certo que haverá uma deterioração da já precária situação da economia. Virão aí rebaixamentos seguidos das previsões de crescimento do PIB, elevação – ainda que moderada pela recessão – dos índices de inflação e uma tendência de elevação de juros que pode, adiante, ser grave.
A crise política só vai arrefecer se o país retomar ao menos o rumo do aquecimento da economia.
Do contrário, viveremos o que é bem expresso num velho ditado popular: casa onde falta o pão todo mundo discute e ninguém tem razão.
* o autor é jornalista e editor do blog Tijolaço.
Publicado em http://www.tijolaco.com.br/blog/gasolina-vai-voltar-mas-crise-nao-vai-terminar/
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Charge de Jota Camelo |
O que não quer dizer que, em alguma outra coisa que não sejam as bombas de gasolina algo possa ser descrito como “normal”.
Os remanescentes do PSDB, aquartelados nos órgãos de imprensa, levantarão barricadas pela permanência de Pedro Parente na direção da Petrobras, defendendo os valores absolutos da “liberdade de mercado” contra o “dragão dos impostos” dos quais, afinal, apesar de todos os desvios e encanamentos do rentismo, ainda pingam algumas gotas para os serviços à população.
A Globo, paradoxalmente, vai atacar os empresários de transporte, preocupada com a agressividade crescente da extrema-direita liderada na política por Jair Bolsonaro, numa tentativa de criar uma “mini Lava Jato” do bloqueio das estradas, com poucas chances de êxito. E atacando a anunciada greve dos petroleiros, prevista para quarta feira e que tem como pauta a redução do preço do gás, gasolina e diesel e a demissão de Pedro Parente.
No Congresso, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira vão pegar carona na insatisfação da classe média com o agonizante Michel Temer e com os preços dos combustíveis. Alckmin mantém um silêncio compatível com sua situação nas pesquisas: sepulcral. Até seu principal porta-voz na mídia, Merval Pereira, admite hoje que a situação do partido é de “falência“. Claro que ele atribui a mesma situação ao PT, embora não haja nenhuma palavra sobre como um partido falido pode ter seu líder, preso e difamado, disparado à frente das enquetes eleitorais.
Teresa Cruvinel, no JB, observa, com razão, que “o governo zerou a credibilidade e ficou completamente refém do Congresso. A conta alta vem ai, apontando para o fundo do poço”.
Com todos os desvios que a especulação pode sinalizar, é certo que haverá uma deterioração da já precária situação da economia. Virão aí rebaixamentos seguidos das previsões de crescimento do PIB, elevação – ainda que moderada pela recessão – dos índices de inflação e uma tendência de elevação de juros que pode, adiante, ser grave.
A crise política só vai arrefecer se o país retomar ao menos o rumo do aquecimento da economia.
Do contrário, viveremos o que é bem expresso num velho ditado popular: casa onde falta o pão todo mundo discute e ninguém tem razão.
* o autor é jornalista e editor do blog Tijolaço.
Publicado em http://www.tijolaco.com.br/blog/gasolina-vai-voltar-mas-crise-nao-vai-terminar/
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