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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Você sabe o que é Ataxia?

Richard Jakubaszko  
Uma doença rara que não se sabe quais as causas, e ainda não tem cura, a Ataxia é um processo degenerativo que acaba por levar à morte de forma precoce a maioria de seus portadores. Tenho um amigo, o engenheiro agrônomo Odo Primavesi, que reside em São Carlos(SP), que aposentou-se antes do previsto na Embrapa, junto com sua esposa, Ana, para tratar da filha Camila, que apresentou sintomas iniciais de uma doença degenerativa. Demoraram a descobrir o nome do problema, a Ataxia, que apareceu quando Camila era mais jovem. Correram médicos e especialistas durante muitos anos, no Brasil e mundo afora, em busca de respostas. Mais recentemente chegaram ao conhecimento do que se passava.

No vídeo o relato de um processo de um jovem americano que tem Ataxia de Friedreich e briga pela divulgação do problema e em busca de recursos que incentivem a cura da doença. A luta é feita com criatividade, e muita dignidade humana. O vídeo abaixo é um documentário sobre a equipe FARA, que pedalou 3.005 milhas (+- 5.000 quilômetros de bicicleta na maior corrida das Américas / Estados Unidos) para ajudar a aumentar a conscientização sobre a Ataxia e encontrar tratamentos

O vídeo tem legendas em português, traduzidas por Camila Primavesi.


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Ciência e cooperação para superar adversidades

Maurício Antônio Lopes *

Poucos sabem da influência da ciência no pensamento político dos líderes que moldaram a maior potência global, os Estados Unidos da América. Os chamados “fundadores” da nação americana consideravam que a ciência era parte integrante da vida - incluindo da vida política. Historiadores nos contam que Thomas Jefferson era um estudioso do legado científico de Isaac Newton, Benjamin Franklin foi um cientista ilustre que se dedicou ao estudo da eletricidade, John Adams teve a melhor educação científica que o novo país oferecia e James Madison, o arquiteto-chefe da Constituição americana, salpicou seus famosos “Artigos Federalistas” com referências às ciências da vida, à física e à química.

Ao se tornar fonte de inspiração que ajudou a moldar a Constituição americana, a ciência ganhou visibilidade e status e certamente marcou a evolução do pensamento, das leis e das instituições que consolidaram aquele país como potência científica e tecnológica - o que ajudou a definir a forma, a evolução e a competitividade da sua pujante economia. Após a Segunda Guerra Mundial, as universidades americanas, estimuladas por financiamento governamental para pesquisa e ensino superior, se expandiram em tamanho, número e diversidade de alunos, produzindo não apenas profissionais bem treinados, mas também um arsenal de novos conhecimentos que deram origem ao mais poderoso ecossistema de inovação do planeta.

O sucesso da ciência americana ajudou também a inspirar o investimento global em inovação e a fortalecer a cooperação científica e tecnológica ao redor do globo. Suas universidades se tornaram referência em capacitação de alto nível, se abrindo para treinar cientistas de todas as partes, incluindo o Brasil. Milhares de pesquisadores da Embrapa, de institutos estaduais de pesquisa e de universidades brasileiras foram treinados nas melhores universidades americanas, onde adquiriram conhecimentos e construíram redes de cooperação que ajudaram o Brasil a superar a insegurança alimentar e a se tornar um grande exportador de alimentos em apenas quatro décadas.

O fato é que os líderes preparados e pragmáticos sabem que aqueles que geram novos conhecimentos e os transformam em inovações tecnológicas são os donos do futuro. O recém eleito presidente americano Joseph Biden tem repetido que sua administração será "construída sobre um alicerce de ciência". E países que almejam posição de destaque no mundo investem em políticas científicas e tecnológicas robustas e de longo prazo, ao mesmo tempo que fortalecem suas estratégias de cooperação. Este é o caso da China, que em poucos anos se tornou um dos maiores produtores globais de conhecimento científico. São países cujos líderes compreendem que a superação de adversidades, como mudanças climáticas, riscos sanitários, poluição e escassez de recursos só poderá se dar com pesados investimentos em ciência, tecnologia e cooperação.

Ainda assim, a última década foi notável por um aumento nas atividades anticientíficas, com destaque para o movimento contra a vacinação - uma das maiores conquistas da saúde pública no século 20. Esse é um dos tristes exemplos da desinformação que ganham força nas redes sociais, trazendo de volta riscos considerados já superados e comprometendo a credibilidade da ciência, em momento em que a sociedade se mostra cada vez mais dependente de conhecimento. É por isso que precisamos de dirigentes esclarecidos, atentos aos riscos da ignorância científica, capazes de compreender e comunicar que vivemos em uma sociedade absolutamente dependente do conhecimento. Impossível não perceber essa realidade, imersos que estamos em uma pandemia, que nos traz exemplos cristalinos do enorme poder da ciência e da cooperação para superação de adversidades.

Exemplo como o rápido sequenciamento do genoma do vírus Sars-CoV-2, na China, em janeiro de 2020, dias após o seu primeiro isolamento. Quando a cidade de Wuhan registrou a primeira morte devido à Covid-19 a sequência genômica do vírus foi rapidamente postada em um site de acesso aberto a cientistas em todo o mundo. As 28.000 letras do código genético do vírus permitiram que universidades e empresas farmacêuticas ao redor do globo projetassem, em poucos dias, diversos protótipos de vacinas, alguns testados com sucesso ao longo do ano. Responder a um novo vírus letal desconhecido com vacinas aprovadas em prazo tão exíguo foi um feito extraordinário que atestou de maneira inequívoca a essencialidade da ciência e da cooperação para o progresso e o bem estar da sociedade.

É por isso que, mais que em qualquer outro momento da sua história, o Brasil precisa cuidar com grande atenção da sua ciência. A falta de planejamento estratégico, de investimento e de formação de cientistas poderá nos colocar em situação de perigo ou nos arrastar para posições de menor importância no cenário mundial. É evidente a emergência de riscos de grande impacto – como as mudanças climáticas e as crises sanitárias, assim como é evidente a reconfiguração nas cadeias de valor globais, cada vez mais intensivas em conhecimento. Por isso o Brasil precisará elevar de forma substancial sua capacidade de resposta a crises, além de ampliar a criatividade e a produtividade da sua economia, o que só ocorrerá com formação de talentos, fortalecimento da capacidade de cooperação e grande investimento em políticas científicas e tecnológicas robustas e de longo prazo.

* o autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa.

 


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Ciência pública como "locomotiva limpa-trilhos"

Maurício Antônio Lopes *  

Praticamente todas as nações desenvolvidas são capazes de utilizar a ciência pública à semelhança de uma "locomotiva limpa-trilhos", que vai à frente removendo barreiras e abrindo caminhos, com projetos de maior risco e prazos de maturação longos, que não atraem o setor privado.

A pesquisa apoiada pelo Estado é essencial na remoção de obstáculos para que empresas e indústrias encontrem caminho livre e possam gerar empregos, riqueza e progresso. São inúmeros os avanços experimentados pela sociedade moderna na medicina, na produção de alimentos, na revolução da informação e da comunicação, no desenvolvimento de alternativas energéticas limpas etc., que só se tornaram possíveis graças aos investimentos do Estado em pesquisa científica.

Exemplo emblemático é o smartphone, que resultou de sete tecnologias-chave, desenvolvidas principalmente por institutos públicos e universidades, e habilmente reunidas no setor privado para criar uma inovação que ganhou todos os cantos do planeta. O GPS, a internet e o algoritmo que levou ao sucesso do Google foram todos desenvolvidos a partir de financiamento público à ciência básica nos EUA. Os princípios ativos de novos medicamentos são, na sua maioria, desenvolvidos por universidades e institutos públicos de pesquisa, e transformados em produtos por empresas farmacêuticas.

Momentos de grave crise, como o que vivemos, demonstram quão essencial é o Estado no papel de garantir a infraestrutura e a capacidade científica necessárias para se compreender e superar infortúnios. Estudo recente estimou que em apenas seis meses — entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2020 — cerca de 24 mil artigos científicos relacionados à Covid-19 foram produzidos, a grande maioria resultante de pesquisas na área biomédica financiadas com recursos públicos.  Esse esforço sem precedentes acelerou a geração de conhecimentos e a busca por tratamentos e vacinas para conter a transmissão do novo coronavírus, com vários candidatos promissores produzidos em tempo recorde.

Ainda assim, há governos que insistem em ignorar a importância da ciência, muitos considerando os investimentos em infraestrutura de pesquisa e inovação um luxo de alto custo e não um investimento estratégico, promotor de progresso e de resiliência na sociedade. Até uma das maiores potências tecnológicas, os EUA, tende a perder a hegemonia em financiamento à pesquisa básica, que alavancou a vantagem competitiva da indústria e o crescimento do PIB americano desde a Segunda Guerra Mundial. O contrário ocorre em países como a Coreia do Sul, Emirados Árabes, Índia e China, este último com investimentos massivos em ciência — US $ 280 bilhões em 2017, o que equivaleu a 2,12% do gigantesco PIB do país e a 20% do total das despesas mundiais com pesquisa e desenvolvimento.

O fortalecimento da ciência no ambiente público e a promoção de parcerias público-privadas para recuperação do setor industrial são desafios críticos para o Brasil, que precisa mais do que nunca ampliar a criatividade econômica e a complexidade industrial, transformando seu enorme sucesso na produção de commodities — minério, petróleo e produtos agropecuários — em plataformas de conexão com cadeias produtivas mais nobres, de alto valor agregado. Por exemplo, diversificar, especializar e agregar valor à produção agropecuária nacional é, mais do que uma necessidade, um imperativo para o futuro, e missão possível de se alcançar, considerando que países de alta complexidade industrial, como Canadá, Alemanha, França, China e EUA, conseguem fazê-lo, valorizando e protegendo, com todos os instrumentos possíveis, seus setores agrícolas.

O Brasil pode ir além, levando em conta as vantagens extraordinárias que possui para inserção na emergente bioeconomia, a economia de base biológica, renovável e sustentável. O país já é líder global na produção de energia de biomassa e dá passos robustos na produção de bioinsumos e químicos renováveis. Recentemente os jornais noticiaram que a empresa brasileira Marfrig — uma das maiores processadoras de carnes do mundo — lançou uma inovadora linha de "carnes carbono neutro", a partir de sistemas de produção que integram lavoura, pecuária e floresta e neutralizam as emissões de gases de efeito estufa, de acordo com protocolo desenvolvido pela Embrapa. O projeto, considerado de alto risco no nascedouro, foi bancado com recursos públicos, e agora dá à indústria brasileira a inédita capacidade de responder a mercados ávidos por uma produção pecuária de baixo impacto ambiental, em perfeita sintonia com a economia renovável de baixo carbono.

Esses são apenas exemplos na longa lista de avanços possíveis para inserção do Brasil na economia de base biológica, capaz de alavancar segmentos vitais como a produção de alimentos, a saúde, e as indústrias química, de materiais e de energia. A bioeconomia poderá ainda projetar o nosso patrimônio mais conhecido, a Amazônia, como grande produtora de riqueza, progresso e bem-estar.

No entanto, para que isso aconteça, o Estado precisa empreender e operar na qualidade de um tomador de riscos, mobilizando bancos de desenvolvimento, universidades e institutos de pesquisa como "locomotivas limpa-trilhos" habilitadas a lidar com a incerteza subjacente aos processos de inovação e com a crescente complexidade que marca o nosso tempo e aplaca a ousadia do setor privado.

* o autor é pesquisador da Embrapa

 

 

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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Aprovação de Bolsonaro derrete com a pandemia, agora tá 58% ruim/péssima

Richard Jakubaszko   
Pesquisa de opinião realizada pela XP Ipespe mostra o índice de desaprovação da população com Bolsonaro. Na condução da crise há 58% de ruim e péssimo, e vai piorar porque o pico da pandemia ainda está a caminho.

Pesquisa XP com a população

A rodada de maio da pesquisa XP Ipespe, concluída nesta terça-feira, mostra uma tendência de aumento na reprovação ao presidente Jair Bolsonaro e de redução na sua aprovação. O grupo que considera o governo bom ou ótimo oscilou de 27% na rodada concluída em 30 de abril para 25% agora, enquanto os que avaliam a gestão como ruim ou péssima foram de 49% para 50%. No levantamento anterior, de 24 de abril, os números eram 31% e 42%, respectivamente. Na mesma linha, também se deteriora a expectativa para o restante do governo, que agora é 48% negativa e 27% positiva, ante 46% e 30% em abril.

Movimento semelhante acontece na área econômica, em que o grupo que avalia que a economia está no caminho errado saltou de 52% para 57%, enquanto os que veem a economia no caminho certo passaram de 32% para 28%. Ainda, 34% afirmaram que alguém em seu domicílio já recebeu o beneficio emergencial de R$ 600 e outros 14% afirmaram que ainda vão receber o dinheiro.

Foram realizadas 1.000 entrevistas de abrangência nacional, nos dias 16, 17 e 18 de maio. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais.

Os entrevistados foram questionados também sobre impactos da crise causada pelo coronavírus. Para 68%, o pior ainda está por vir, enquanto 22% avaliam que o pior já passou.

A pesquisa mostra que se mantém alto o apoio ao isolamento social como medida de enfrentamento à pandemia. Para 76%, ele é a melhor forma de se prevenir e tentar evitar o aumento da contaminação pelo coronavírus, enquanto 7% discordam. Outros 14% avaliam que ele está sendo exagerado.

Em relação à duração do isolamento, 57% defendem que ele deve continuar até que o risco de contágio seja pequeno.

O levantamento também registra uma redução na avaliação positiva da ação dos governadores para o enfrentamento à crise. São 46% os que apontam que a atuação é boa ou ótima, contra 53% na última pesquisa. Os que acreditam que a atuação é ruim ou péssima saíram de 16% para 23%.

A atuação de Bolsonaro na crise é vista como boa ou ótima por 21% e como ruim ou péssima por 58%.

NOTA DO BLOGUEIRO:
Com a autorização do STF hoje para divulgar o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril último, considerando as dezenas de barbaridades afirmadas por Bolsonaro e diversos ministros, a cobra vai fumar. O próprio Bolsonaro diz na reunião que iria interferir da Polícia Federal, vomita impropérios, tosco como sempre, e tem ministro que pediu a prisão dos membros do STF, Guedes pedindo a venda do Banco do Brasil, Damares afirmando as barbaridades de sempre. 
Tiraram a lona que encobria o suposto circo, e se revela um manicômio a céu aberto.

Quem os brasileiros colocaram na presidência? Um psicopata, tendo como vice um militar de pijama que já deu mostras de ser um anti-democrata no mesmo nível do titular.
Que Deus tenha piedade do nosso Brasil.



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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Perseguido e preso, Lula só cresceu. E se soltarem, vence…

Fernando Brito
Os ‘gênios’ da análise política, que gostam tanto de fazer análises eleitorais baseadas em pesquisas, deveriam fazer um exercício simples, consultando a evolução de pesquisas feitas com a mesma amplitude, metodologia, pelo mesmo instituto de pesquisa e para o mesmo cliente.

Fiz uma rápida consulta à série de pesquisas da MDA para a Confederação Nacional de Transportes.

Em fevereiro de 2016, já às vésperas do golpe que deporia Dilma Rousseff, o líder em intenções de votos era Aécio Neves, com quase 25%, contra 19% de Lula.

Hoje, Aécio anda se escondendo, fugindo até de uma candidatura ao Senado e em dúvidas mesmo se conseguirá ser deputado.

Lula, depois daquela pesquisa, sofreu a condução coercitiva pela Polícia Federal, a sentença de Sérgio Moro, a confirmação desta pelo TRF-4 e, afinal, a prisão e o isolamento numa cela em Curitiba. Em maio deste ano, porém, pesquisa idêntica lhe dava 32,4% dos votos, praticamente o dobro do segundo colocado, Jair Bolsonaro.

Dá para perceber em que resulta a monstruosa perseguição que fazem ao ex-presidente? Ainda mais somada ao quadro de degradação da economia brasileira que todos eles diziam que iam reverter, num passe de mágica?

Meteram-se num labirinto fatal. Mantido preso, Lula cresce; se o soltarem, Lula vence.

Os ritos democráticos, seja na Justiça, seja no processo eleitoral, tornaram-se uma barreira, mesmo com todos os recursos que dispõem, para que consigam a continuidade de suas políticas de desmonte do Brasil.

E sabem que, se passarem pelas eleições, por algum milagre, não terão como governar.

* o autor é jornalista, editor do blog Tijolaço.
Publicado originalmente em http://www.tijolaco.com.br/blog/perseguido-e-preso-lula-so-cresceu-e-se-soltarem-vence/

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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Investimento em ciências: nem de Uganda o Brasil ganha

Richard Jakubaszko
Recebi do físico José Carlos Parente de Oliveira (professor da Univ. Federal do Ceará), o texto abaixo em denúncia que me apresso a divulgar, porque é vital que as pessoas saibam o que está acontecendo no Brasil.


Investimento em ciências: nem de Uganda o Brasil ganha
Por Letícia Miranda
 

A Coreia do Sul vai investir 5% do seu PIB em ciência. Isso dá em torno de 70,5 bilhões de dólares.

O Brasil vai investir 0,89 bilhões de dólares em ciência. Isso já seria ruim por si só. Mas quando a gente compara com o PIB do Brasil isso significa investir 0,05%, literalmente 100 vezes menos que a Coreia.

Mas comparar com a Coreia é sacanagem. Eles investem pesado em ciência. Vamos comparar com outro país, vamos comparar com a Índia. Para 2017, o orçamento para ciência do país é de 8 bilhões de dólares, 10 vezes maior que o do Brasil. Isso dá um investimento baixíssimo, de 0,3%, o que foi motivo de matéria na Science, inclusive. E é seis vezes mais do que o Brasil vai investir em ciência.

Mas a Índia é de uma realidade muito distinta. E todo mundo sabe de quantos cientistas indianos trabalham nas áreas de física e matemática. É uma realidade totalmente diferente da América Latina. Então vamos comparar com o México. O México também está em crise. Por isso, vai reduzir os investimentos em ciência para 12,9 bilhões de dólares nos EUA, mais de 10 vezes mais dinheiro que o Brasil. O que comparado com o PIB do México é 1,1%, proporcionalmente mais de 20 vezes o que o Brasil vai investir.

Mas vamos pegar um país hermano bem lascado mesmo, que esteja vivendo uma crise pesada, os argentinos. Os cortes lá foram severos, reduzindo o orçamento para a ciência para apenas 2,1 bilhões de dólares, pouco mais que o dobro do brasileiro. Porém, quando se compara com o PIB argentino, isso significa um investimento de 0,6%, mais de 10 vezes maior que no Brasil.

Nem vou falar da Nigéria, que também tem um ministério da ciência e tecnologia unido ao de comunicações. Afinal, o orçamento deles é de 23 bilhões, 3% do PIB nigeriano.

Pensei em comparar com a Etiópia, mas só achei dados de 2013. Neste período, trinta anos já tinham se passado desde a terrível fome que chocou o mundo em fotos que circulam até hoje de crianças desnutridas. A Etiópia estava se reconstruindo com uma ditadura que já durava 21 anos. Havia saltado de um PIB de 8 bilhões de dólares em 1984 para 47 bilhões. Um crescimento impressionante, mas ainda distante dos 1,8 trilhão do Brasil em crise de 2017. Mas ainda assim eles investiam 0,6% do PIB em ciência. Doze vezes mais do que o Brasil em 2017.

Atualização: Resolvi comparar com o Uganda, por razões de Book of Mormon. O Uganda vai investir míseros 18 milhões de dólares em ciência! Ganhamos!! Mas, peralá. E o PIB? O Uganda não é rico. Mas eles investem pouco mesmo. Menos de 0,1% do PIB!! Vão investir ridículos 0,06% do PIB!!!

Mas, é mais que os 0,05% do Brasil.

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sábado, 16 de dezembro de 2017

O embate entre o conhecimento e a ignorância

Maurício Antônio Lopes *

O matemático e filósofo britânico Bertand Russell, um dos mais influentes pensadores do século XX, dizia que o maior problema do mundo moderno é que as pessoas preparadas e capazes estão sempre cheias de dúvidas, enquanto as desinformadas e incapazes estão sempre cheias de certezas. Incômodo semelhante sentia o escritor Umberto Eco, que não escondia irritação com o uso cada vez mais descuidado de um dos grandes avanços da humanidade, a internet. Com fino humor, ele dizia que, antes das redes sociais, os “tolos da aldeia’’ tinham direito à palavra "em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade". E concluía que “o drama da internet é que ela pode transformar qualquer tolo da aldeia em portador de uma suposta verdade planetária”.

O fenômeno que tanto incomodava a Bertrand Russell e Umberto Eco foi estudado pelos psicólogos americanos Justin Kruger e David Dunning, da Universidade de Cornell. Eles descreveram o efeito Dunning-Kruger, segundo o qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto julgam saber mais que outros mais bem preparados. Os cientistas concluíram que muitas vezes a ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento, dando a pessoas desqualificadas a sensação de uma “superioridade ilusória”. Assim, indivíduos com ideias preconcebidas, intuições, vieses e pressentimentos constroem versões distorcidas da realidade e se agarram à ilusão de que são detentores de conhecimento confiável.

Os estudiosos dessa “superioridade ilusória” analisam que, quanto mais ignorante alguém for em um assunto, menos qualificado será para avaliar a habilidade de qualquer pessoa que trabalhe no mesmo assunto, incluindo sua própria habilidade. Quando alguém usa uma rede social para disseminar absurdos e ninguém o contrapõe, esse indivíduo se assume um expert. Isso resulta em uma percepção artificialmente inflada das suas próprias habilidades, muitas vezes temperada pelo ego. O mesmo efeito fará com que pessoas igualmente incompetentes se parabenizem e se apoiem, pois não conseguem detectar suas insuficiências. Por isso, muitos ambientes de discussão efervescente são nada mais que arenas da ignorância, que afugentam as pessoas mais habilitadas a iluminar o debate.

Um agravante é que as catástrofes e o negativismo exercem enorme atração sobre a sociedade moderna. Essa condição cria ambiente fértil para a “superioridade ilusória”, que faz circular de forma intensa falácias e meias verdades, ampliando o culto ao pessimismo e a glorificação dos que adoram bater os tambores do apocalipse. Estranhamente, esse movimento cresce em um mundo em que são abundantes as evidências de progresso, como mais democracia, mais educação e mais desenvolvimento econômico e social. Qualquer análise cuidadosa do progresso humano em prazos mais longos demonstrará que as melhorias alcançadas pela sociedade moderna são nada menos que extraordinárias. A humanidade nunca esteve tão bem como agora, em inúmeros aspectos, o que deveria afugentar o pessimismo e nos animar em relação ao futuro.

Mas, ao contrário, estamos nos afogando todos os dias em um mar de análises e cenários pessimistas. Razão por que teremos que nos preparar para um embate cada vez mais acirrado entre o conhecimento e a ignorância. De acordo com Max Roser, cientista da Universidade de Oxford, que se dedica a estudar a evolução em longo prazo dos padrões de vida no mundo, uma das razões pelas quais muitos se concentram em coisas que dão errado é que sua amostragem é distorcida da realidade, porquanto concentrada em eventos únicos e pontuais, preferencialmente extremos, que atraem mais curiosidade e atenção. A atenção preferencial a eventos extremos faz com que os avanços positivos de grande impacto, que ocorrem mais lentamente e são resultado da integração de muitos pequenos avanços, não capturem a atenção das pessoas, que se tornam mais concentradas no curto prazo e, pior, cada vez mais obsessivas pela catástrofe e pela autoflagelação.

Outro agravante é que a informação está sendo produzida e disseminada em velocidade estonteante e desvalorizada e tornada obsoleta com igual celeridade. É cada vez mais difícil nos mantermos atualizados em temas como política, saúde, segurança, tecnologia, etc. E, embora informações estejam prontamente disponíveis em múltiplos veículos e mídias, é cada vez mais difícil avaliar quando alguém está bem informado. O perigo é que as torrentes de informações que nos chegam diariamente nos tornem menos informados, desinformados ou, pior ainda, menos conhecedores do que não sabemos.

Portanto, não é possível esperar que o confronto entre o conhecimento e a ignorância se abrande no futuro, pois enquanto a ciência e a tecnologia avançam em ritmo exponencial, a política, a economia e a educação seguem em ritmo lento e linear. Na era do conhecimento, a grande maioria dos países acumula imensos passivos na formação de talentos e competências e muitas vezes a educação e a ciência são tratadas com pouca ou nenhuma prioridade. O perigo é que uma legião de desinformados cheios de certezas multipliquem conflitos desnecessários e comprometam o progresso. Esse é um desafio importante para o Brasil, que acaba de ser apontado na pesquisa “Os Perigos da Percepção”, do instituto Ipsos Mori, como a segunda nação, em 38 pesquisadas, em que as pessoas mais têm uma percepção equivocada da realidade do seu próprio país.

* o autor é engenheiro agrônomo e presidente da Embrapa

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