domingo, 31 de janeiro de 2016

O "iate" do Lula e o jornalismo "sem noção"

Por Fernando Brito,
no blog Tijolaço:
A Folha hoje (30/1/16) se supera.
Apresenta como “prova” da ligação de Lula com o sítio que ele nunca negou frequentar, em Atibaia, um barco comprado por D. Mariza, sua mulher e mandado entregar lá.

A “embarcação”, como se vê no próprio jornal, é um bote de lata comprado por R$ 4.100.

Presta para navegar num laguinho, com a mulher, dois amigos e o isopor, se ninguém fizer muita gracinha de se pigar em pé, fazendo graça.

É o “iate do Lula”, quase igual ao Lady Laura do Roberto Carlos e só um pouco mais modesto do que as dúzias de lanchas que você vê em qualquer destes iate clubes que existem em qualquer cidade praiana.

A pergunta, obvia, é: e daí que o Lula frequente o sítio? E daí que sua mulher tenha comprado um bote, sequer a motor, para pescar umas tilápias, agora que já não pedem, como nos velhos tempos, fazer isso na represa Billings?

Qual é a prova de que a reforma do sítio foi paga pela Odebrechet (segundo a Folha) ou pela OAS (segundo a Veja)?

E se o Lula frequentasse a mansão de um banqueiro? E se vivesse nos iates – os de verdade – da elite rica do país?

O que o barquinho mixuruca prova a não ser a absoluta modéstia do sujeito que, quatro anos atrás, escandalizava essa gente carregando um isopor para a praia?

Os jornais, a meganhagem e a turma do judiciário – que já não se separam nisso – estão dedicados a destruir o “perigo lulista”.

Esqueçam o barquinho: o que eles querem é ter de novo o leme do transatlântico.

Perderam até a noção do ridículo, convencidos de que já não há resistência a ele nas mentes lavadas do país.

E acabam revelando que, em suas mentes, o grande pecado de Lula, que ganha em palestras pagas o suficiente para comprar uma “porquera” daquelas por minuto que passe falando, ou para alugar uma cobertura na Côte D’Azur do Guarujá é continuar pensando como pobre: querendo comprar apartamento em pombal e barquinho de lata para ficar de caniço, dando banho em minhoca.

É que ter nascido pobre é um crime que até se perdoa, imperdoável mesmo é continuar se identificando com eles.

http://tijolaco.com.br/blog/o-iate-do-lula-e-o-jornalismo-sem-nocao/  
 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Menor consumo de carne pode piorar o aquecimento global

Ciro Antonio Rosolem *
Boa parte das emissões de gases de efeito estufa tem sido atribuída à pecuária.

Na verdade os números chegam a 15% das emissões totais. Há gente que diz que a pecuária estaria emitindo mais que carros, caminhões e ônibus. Na verdade os dados são baseados em estimativas pontuais, sem levar em conta todo o processo produtivo. Por exemplo, se contabiliza quanto o boi emite, mas não se considera que o boi come capim que fixa carbono. E fixa bastante. Há muitos estudos demonstrando que simplesmente a melhoria da produtividade das pastagens tropicais resulta em maiores estoques de carbono no solo. Uma pastagem melhorada remove aproximadamente 1 tonelada de carbono da atmosfera por hectare por ano, quando comparada a uma pastagem degradada.

Muito bem, pastagem melhorada sequestra carbono, pastagem degradada emite carbono. Isso não é novo.

O que é novo está em um trabalho publicado na revista Nature Climate Change, em janeiro deste ano, por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, junto com pessoal da Embrapa. É o trabalho de tese de Rafael de Oliveira Filho. A equipe desenvolveu um modelo matemático muito complexo, que leva em conta todas as emissões de carbono geradas na produção pecuária, mas também contabilizou o carbono sequestrado pelas pastagens que fica no solo. A conclusão foi que, se a demanda por carne bovina aumentar, haverá diminuição da emissão de carbono pela pecuária, desde que o desmatamento seja controlado. Ao contrário, se a demanda, e a produção diminuírem, as emissões serão aumentadas.

A explicação é a seguinte: maior demanda por carne vermelha resultaria em incentivo para aumento da produção e melhoria das pastagens. Pasto melhorado, carbono fixado. Grama bem tratada tem raízes mais fortes e profundas, colocam o carbono lá embaixo. Foi estimado que um aumento de 30% na demanda de carne até 2030 poderia reduzir em 10% as emissões de carbono pela atividade. Mesmo com mais cabeças de gado emitindo gases, a absorção pela pastagem seria maior, mais que compensando esse aumento. Haveria menor emissão tanto por quilo de carne produzida como total. Por outro lado, menor demanda por carne significaria rebanhos menores que precisariam de menos pasto. Demanda menor, preços mais baixos. Isso reduziria a capacidade de investimento dos produtores, assim como o incentivo para manter pastos produtivos. Os pastos se degradariam, o solo perderia matéria orgânica, gerando maior emissão de carbono para a atmosfera.

O trabalho indica ainda que a restauração de pastagens degradadas se constitui na maior oportunidade para atingir as metas traçadas no plano nacional de mitigação de emissões de gases de efeito estufa. A restauração de 15 milhões de hectares de pastos degradados até 2020, como planejado, se constituiria numa contribuição equivalente a 40% das reduções propostas até 2020.

Os vegetarianos, veganos e que tais que me desculpem, mas um bom churrasco pode diminuir o aquecimento global. É o tal do churrasco ecológico. Tem notícia melhor?
 
* o autor é vice-presidente de Estudos do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor Titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).


COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO:
Professor Rosolem, vou concordando com algumas opiniões suas e discordando de outras, inclusive do Rafael de Oliveira Filho na revista Nature Climate Change, mesmo sem ter lido o artigo, mas tomando por base sua sinopse conclusiva. Bastaria uma leitura de meu mais recente livro, o "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?" (DBO Editores, 2015 - 288 pgs), para entender as discordâncias, mas que, a título de contribuição, resumo a seguir, pois as ciências não esclarecem, e a mídia mistifica o assunto conforme o interesse pessoal dos meus colegas jornalistas nesta controversa questão do ambientalismo:
1º - não existe aquecimento; já as mudanças climáticas sempre existiram, elas são lentas, demoram décadas; o que temos aceleradas são mudanças climáticas regionais/locais, especialmente em grandes conglomerados urbanos, cheios de asfalto, concreto e vidro, sem vegetação para evapotranspiração;
2 - os gases de efeito estufa (GEE) são uma mentira de interesse econômico e político, para demonizar o CO2, o metano e outros, quando sabemos que a água é um "gás" de efeito estufa  cerca de 6 vezes mais potente do que o CO2;
3 - é mentira mal calculada - intencionalmente - de que o metano precise ser multiplicado por 23 para atingir o status de CO2 equivalente. Isto vale, provavelmente, para a flatulência de bovinos confinados, enquanto o gado criado a pasto emite metano "orgânico", mais facilmente absorvido pela natureza;
4 - árvores, raízes, celulose em geral, a sua mesa em seu escritório, é "CO2 estocado" pela natureza, e somente se transforma em dióxido de carbono se forem queimados;
5 - CO2 ou os demais GEE não provocam aquecimento. Diversos cientistas já comprovaram que a concentração de CO2 aumenta depois que a média das temperaturas aumentam, e não o contrário. Portanto, CO2 em crescimento na atmosfera é consequência, e não causa. Muito menos o CO2 pode ser acusado de provocar "mudanças climáticas", aí é uma piada científica de mau gosto;
6 - um vulcão como o Etna, na Itália de seus ascendentes, emite de GEE, entre CO2, metano, enxofre e outros, durante duas semanas de atividades, o equivalente a emissão de metano de nossos 200 milhões de ruminantes por um ano inteiro.
7 - a natureza emite 97% de todas as emissões de GEE, e as atividades antropogênicas respondem por apenas 3%, incluso nisso as flatulências de nossas vacas, os nossos arrozais irrigados (os asiáticos também...), os nossos veículos de transporte individuais e coletivos, nossas indústrias, e nossos churrasquinhos de fim de semana. Eu diria, adicionalmente, que essas imbecilidades ditas pelos ambientalistas sobre os GEE emitem, por si só, mais GEE do que as negociatas de créditos de carbono.
8 - os ambientalistas que foram a Paris para a COP21 não foram comer churrasco na cidade luz. Consideram-se abençoadas pelo Papa Francisco, mas não saiu "acordo" (ainda), o que pode vir a acontecer a qualquer momento;
9 - se sair o "acordo", alguém terá de administrar essa bagunça mundo afora. Pois eles já têm pronta a solução: vão criar uma Agência Internacional Ambiental, cujas regras serão feitas por eles mesmos, e as críticas que já existiam serão exacerbadas, ou seja, a coisa vai piorar muito.
10 - como nós não cuidamos da Amazônia como eles queriam, vão criar um "corredor ecológico", de 4.500 km, de Leste a Oeste, a ser transformado em área internacional. Brasileiro, pra entrar ou sair de lá, só com passaporte. Na sequência, como algumas queimadas vão continuar acontecendo (pois 50% delas são acidentais, provocadas pela própria natureza, segundo o insuspeitado Imazon), e os causadores das queimadas, e seus beneficiados, são o boi e os pecuaristas, não se surpreenda se eles nos proibirem de exportar carne...
11 - os cientistas precisam desmentir essa falácia aquecimentista, propagada por cientistas que estão a serviço de agendas políticas e econômicas inconfessáveis, como, por exemplo, nos vender usinas de energia nuclear, ou energias eólicas e solares, verdadeiras utopias urbanas e desideratos poéticos. Não precisamos disso, pois temos hidroelétricas, a fonte mais barata e confiável de energia elétrica. A propósito, leia neste blog, sobre "Os 3 maiores problemas da humanidade", artigo de minha autoria que é esclarecedor.
12 - peço aos cientistas reflexão sobre o assunto, e mais do que isso, sugiro debate, pois as pessoas comuns, a mídia e a ciência, estão indo em direção ao "pensamento único", caminho sem atalhos para ditaduras da pior espécie (será o Governo Mundial, que se está semeando?), porque a sociedade anda terceirizando suas ideias e opiniões.

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Urso Panda diverte-se na neve

Richard Jakubaszko 
O urso Panda Tian Tian, que mora no zoológico de Washington, DC, diverte-se na neve que anda caindo no Leste dos EUA.
O vídeo viralizou...

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Não enche o saco do Chico, nova marcha de Carnaval.

Richard Jakubaszko 
A mais recente marcha de Carnaval, "Não enche o saco do Chico", deve bombar nas próximas festas momescas, capaz até de estender-se no ano eleitoral.
É o Brasil, tirando de letra o mau humor, jogando no lixo o ódio e a desinformação.

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domingo, 24 de janeiro de 2016

Nevascas nos EUA? São as mudanças climáticas...

Richard Jakubaszko 
Serão as piores nevascas nos EUA desde 1922, e devem quebrar o recorde de 71 cm de neve acumulada naquele ano. De Nebraska a Nova York, tudo branco. Os governantes locais pedem à população que não saia de casa. O abastecimento já começa a ser sentido nos supermercados. Milhares de voos foram cancelados.
Mas se a gente comenta isso com aquecimentistas, e pergunta o que foi feito do tal aquecimento, eles dizem que "são as mudanças climáticas".
Retruquei com um deles: mas essas mudanças climáticas não iriam esquentar tudo? Derreter os polos, e elevar o nível dos mares?
Me disse, cheio de certezas definitivas, o idiota do apocalipse, que "mudanças climáticas são eventos extremos, causados pelo homem, para frio ou quente"...
Só que desta vez esfriou...
No Japão, a coisa tá pior... Anda nevando por lá desde o Natal, sem parar...
Sejamos compreensíveis com essa gente. Isso passa.



sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Jânio: decisão de Moro tem base só em sua própria vontade

Fernando Brito
no Tijolaço


Jânio de Freitas, em sua coluna de 21 de janeiro de 2016 na Folha, é exceção no coro de conformismo com o “direito” do Dr. Sérgio Moro conduza os casos da Lava Jato de forma atrabiliária e atropelando a higidez das provas, diante de uma evidente e inexplicável omissão em depoimento de delato, no caso Paulo Roberto Costa, contra réu, Marcelo Odebrecht.

Não há, no Brasil, jornalista com mais tradição e história no combate a abusos ou corrupção de empreiteiros. Foi dele, nos anos 80, a aplicação do “truque” de publicar, em anúncios classificados de jornal, resultados de concorrências “acertadas”, como forma de provar a sua desonestidade.

Quando chegamos ao ponto de um jornalista ter de dar aulas de prudência, ponderação e cuidado a um juiz, está evidente que há uma completa distorção do papel da Justiça, que passa a um ringue de “vale-tudo”, onde a regra única é satisfazer a sede de sangue da doentia plateia deste tipo de espetáculo.

Umas palavras (e outras)
Jânio de Freitas
Ainda com a carta pública dos 104 advogados fervilhando entre apoiadores e discordantes, a também discutida retenção de Marcelo Odebrecht na prisão dá margem a mais um incidente processual do gênero criticado na Lava Jato. Em princípio, trata-se de estranha omissão ao ser transcrita, da gravação para o processo, da parte da delação premiada de Paulo Roberto Costa que inocenta Marcelo de participação nos subornos ali delatados. Mas o problema extrapolou a omissão.

Já como transcrição na Lava Jato do que disse e gravou o delator muito premiado, consta o seguinte: “Paulo Roberto Costa, quando de seu depoimento perante as autoridades policiais em 14.7.15, consignou que, a despeito de não ter tratado diretamente o pagamento de vantagens indevidas com Marcelo Odebrecht” –e segue no que respeitaria a outros.

As palavras de Paulo Roberto que os procuradores assim transcreveram foram, na verdade, as seguintes: “Então, assim, eu conheço ele, mas nunca tratei de nenhum assunto desses com ele, nem põe o nome dele aí porque ele, não, ele não participava disso”.

É chocante a diferença entre a transcrição e o original, entre “não ter tratado diretamente com Marcelo Odebrecht” e “nem põe o nome dele aí por que ele, não, ele não participava disso”. A reformulação da frase e do seu vigor afirmativo só pode ter sido deliberada. E é muito difícil imaginar que não o fosse com dose forte de má-fé. Do contrário, por que alterá-la?

Não é o caso de esperar por esclarecimento da adulteração, seu autor e seu propósito. Seria muita concessão aos direitos dos cidadãos de serem informados pelos que falam em transparência. No plano do possível, a defesa de Marcelo Odebrecht, constatada a adulteração, requereu a volta à instrução processual, do seu início e com a inclusão de todos os vídeos da delação, na íntegra e não só em alegadas transcrições.

O juiz Sergio Moro decidiu contra o requerido. Considerou os pedidos “intempestivos, já que a instrução há muito se encerrou, além das provas pretendidas serem manifestamente desnecessárias ou irrelevantes, tendo caráter meramente protelatório”. E, definitivo: “O processo é uma marcha para frente. Não se retornam às fases já superadas”.

Não é a resposta própria de um magistrado com as qualificações do juiz Sergio Moro. É só uma decisão. Baseada em vontade. Resposta, mesmo reconhecendo-se a situação delicada do juiz Sergio Moro, seriam as razões propriamente jurídicas (se existem) para negar o pedido.

“Intempestivos” os pedidos não são. Se apenas agora foi constatada a transcrição inverdadeira, não havia como pedir antes qualquer medida a partir dela. Logo, tempestivo este pedido é. Uma instrução está “encerrada” quando não há mais o que precise ou possa ser apurado, como complemento ou aperfeiçoamento. Se há uma transcrição infiel, ou qualquer outro elemento incorreto, as provas que o corrijam são “necessárias e relevantes” porque o erro prejudica a acusação ou a defesa, ou seja, compromete o próprio julgamento de valor entre culpa e inocência. Se está demonstrada a necessidade objetiva de correção, não há “caráter protelatório”, há o indispensável caráter corretivo.

“Processo” é, por definição, um movimento que implica todas as variações, de ritmo, de sentido, de direção, de avanço ou recuo, e mesmo de intervalos de paralisação. Processo não é só “marcha para a frente”. E, no caso dos processos judiciais, se o fossem, não haveria – talvez para alegria da Lava Jato – segunda e terceira instâncias de julgamento, que são diferentes retornos às entranhas dos processos.

Como se tem visto, o decidido, decidido está. Mas o provável é que não sobreviva à instância superior, se lá chegar e seja qual for a posição de Marcelo Odebrecht entre a inocência e a culpa.

Publicado na Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2016/01/1731753-umas-palavras-e-outras.shtml 

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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Crianças de hoje e de ontem


Guilherme Cardoso 
Quanta pena eu tenho das crianças de hoje. Pensam que têm tudo e na verdade não têm nada. Têm celulares, smartphones, computadores, tabletes e games, e não sabem o prazer de brincar na rua, jogar Queimada, Pegador, praticar um jogo como o Bente Altas. Nem sabem que jogo é esse! São crianças na idade, adultos no agir e pensar. São meninos e meninas na aparência, que se vestem, se pintam e se comportam como papais e mamães.

São crianças resguardadas e protegidas de tudo e de todos. E tem que ser assim! Há perigos por todos os lados. Na rua, nas escolas, nos shoppings, até dentro de casa. São cuidados para não cair, atenção aos pivetes nas praças, alertas com as drogas oferecidas nos carrinhos de balas, vigilância com os pedófilos na internet e nas redes sociais.

Vejo meus netos, coitados, oito anos de idade. Escutam o avô contar casos do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, não acreditam, acham que é mentira ou exagero lembrar que quando garoto, quase não havia ladrão, o medo que a gente tinha era de assombração, mula sem cabeça, lobisomem.

Escola não era tempo integral, só pela manhã, a tarde ficava livre para brincar, fazer arte nos dois sentidos da palavra: invenção e molecagem.

Brinquedos a gente inventava, não comprava. Caminhões, casinhas, bonecos e bonecas, soldadinhos, eram feitos de argila, carretéis de linha, papelão ou madeira. Com madeira, pregos, martelo, serrote e duas rolimãs, se faziam patinete e carrinho de mão, e sem medo descia ladeira abaixo, pura terra, salve-se quem puder.

Futebol era jogado na rua ou campinhos de terra improvisados, com latas ou pedras marcando o lugar do gol. A bola ou era de pano, de borracha, e algumas vezes bola de couro, oficial, número 5, toda costurada à mão e com bico de encher, trazida pelo menino mais rico da rua. E rico naquele tempo era o pai que tinha emprego fixo, funcionário público, empregado dos Correios ou da Rede Ferroviária. E nem ganhava tão bem.

Televisão estava começando, rádio quase todo mundo tinha, o que se ouvia era a Hora do Fazendeiro, depois a Voz do Brasil, e mais tarde os programas de auditório da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e os humorísticos da rádio Mayrink Veiga. Depois vieram as novelas radiofônicas, O Direito de Nascer e Jerônimo, o Herói do Sertão. E a gente sonhava.

Eu ficava na rua a tarde inteira. Andava descalço, tênis não existia, sapato era para ir à missa e à escola, a gente só almoçava e jantava, não tinha lanches, nem iogurte nos intervalos. Quando brigava na rua, apanhava de novo em casa, e se machucasse mais sério, perna quebrada, corte na testa, atendimento era só no Pronto Socorro Policial na Rua dos Otoni em Santa Efigênia. Não havia clínicas, postos, nem Planos de Saúde.

A gente era criança e não tinha nada. Mas como era feliz!

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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Monogamia

Samuel Pessôa *
A monogamia representa interferência do Estado nas possíveis formas de associação afetiva. O mercado de casamentos desregulado produz poligamia.

Aplica-se a lógica dos demais mercados: aqueles que ganham mais adquirem maior quantidade.

As sociedades poligâmicas convivem com fortíssima tensão social: parte considerável da população masculina, os homens pobres, passará a vida sem se relacionar com mulheres. Entende-se por que em sociedades poligâmicas há tanto controle social para que homens e mulheres não interajam e que as mulheres só ocupem espaço público de forma passageira e totalmente cobertas. Veja o estudo de 2012 publicado no Philosophical Transaction of the Royal Society, volume 367, páginas 657669 "The puzzle of monogamous marriage" (http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/royptb/367/1589/657.full.pdf ).

A monogamia representa, portanto, forte interferência do Estado no mercado.

Como toda interferência, tem efeitos colaterais, que contornam a regulação: amantes e prostituição. Há dois caminhos possíveis. As sociedades podem avançar na regulação, proibindo-os, ou aceitá-los, como efeito colateral, e parar por aí.

A interferência nos mercados representada pela monogamia funciona, pois apresenta custo de transação baixo. Os arranjos poligâmicos são facilmente identificados. Já a proibição da prostituição e de amantes apresenta custo de transação bem maior.

Uma forma extrema de monogamia é a vedação ao divórcio. A experiência sugere que ela é ruim e que a monogamia sucessiva, ou monogamia ao longo do tempo, representa arranjo superior.

É comum desejarmos regular outros mercados. De fato, a regra pela qual quem tem mais pode mais é muito injusta. Por exemplo, o regime chavista da Venezuela, em razão das dificuldades do país, fruto da queda do petróleo, regulou o mercado de bens de primeira necessidade. O motivo é tentar garantir aos mais necessitados o acesso a alimentos.

A dificuldade é que esse tipo de regulação tem muitos efeitos colaterais: o controle de preços reduz o incentivo aos produtores, e o controle de quantidade sobre os consumidores produz mercado paralelo muito ineficiente. A impressão que se tem é que, no final das contas, os pobres estão ainda piores do que se não houvesse a regulação. De fato, esse tipo de regulação somente funciona em sociedades em guerra que possam punir exemplarmente o desvio em geral com julgamentos sumários e pena de morte e que aceitem com muita facilidade o erro jurídico, isto é, matar um inocente. É a forma de compensar os elevadíssimos custos de transação dessa regulação.

Há no Congresso Nacional agenda legislativa de regular novos arranjos familiares. Regulam arranjos de pessoas do mesmo sexo e arranjos mais variados, envolvendo mais do que duas pessoas, o poliamor.

Minha formação de professor de economia ortodoxo, meio intelectual, meio conservador, sugere que as alterações que faremos na legislação deveriam manter o princípio da monogamia sucessiva, permitindo o divórcio, independentemente da composição de gênero do casal, mas não recepcionar em lei os arranjos mais heterodoxos do poliamor.

* o autor é físico e doutor em economia pela USP, e pesquisador do Instituto de Economia da FGV.

O artigo acima foi enviado pelo amigo Carlos Eduardo Florence, diretor executivo da AMA / Associação Misturadores de Adubos.

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Cuba faz teste com a 1ª vacina contra câncer de pulmão

Richard Jakubaszko 
Auspiciosa notícia: já em testes (de forma gratuita) a 1ª vacina contra o câncer de pulmão. Pode ser aplicada inclusive em quem já desenvolveu a doença, conforme informam as notícias, permitindo um tratamento ao doente como se fosse uma doença crônica, porque a vacina provoca uma estabilização no avanço das células cancerosas.

Médicos e cientistas cubanos realizaram testes da vacina em outros países, mas ainda esperam para comercializá-la legalmente, pois as sanções econômicas dos EUA contra Cuba ainda estão em vigor.
 

Cuba aplica gratis la primera vacuna contra el cáncer de pulmón
na Telesur (em espanhol)
El Centro de Inmunología Molecular (CIM) de Cuba, puso a disposición de forma gratuita, la primera vacuna contra el cáncer de pulmón a todos los pacientes de la isla que padezcan esta enfermedad.

De acuerdo a especialistas de la nación caribeña, se trata de un novedoso tratamiento, único en el mundo, que básicamente logra detener el avance de la patología, sin afectar la calidad de vida de las personas.

“Los resultados de la vacuna dan una sobrevida a los pacientes, no se elimina el tumor pero se detiene el crecimiento, permitiendo que los pacientes puedan vivir más y, sobre todo con una buena calidad de vida porque su toxicidad es mínima”, asegura el científico Arlhee Díaz
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Em outro vídeo, este da TV Cubana, disponível no Youtube, o que eles estão fazendo em termos de vacinas contra o câncer e com outras doenças.

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domingo, 17 de janeiro de 2016

2001, a videolocadora fechou e deixa saudades.

Richard Jakubaszko 
Anos 1980 e 1990, um mínimo de 3 vezes por semana, as vezes 4, minha mulher e eu dávamos uma passadinha na locadora, invariavelmente à noite, depois do trabalho, nos primeiros anos para alugar os vídeos K7, depois DVDs. Em alguns meses do ano, de poucos lançamentos, tornava-se quase uma tortura descobrir um filme (novo ou antigo) inédito para nós. Era uma garimpagem, dava muito trabalho.

Em alguns momentos, descobríamos uma seção nova, como forami a de Óperas ou Documentários, e em poucas semanas a gente já tinha visto quase tudo. Em alguns fins de semana chegávamos a levar 6 ou 7 fitas. Era chato rebobinar as fitas, mas a gente suportava. Devolver as fitas em dia era outra obrigação, caso contrário corria outra diária, mas a alegria de trazer para casa novos filmes superava tudo, até mesmo o trabalho de pegar o carro para ir até a locadora na avenida Paulista, e nova peregrinação pelas prateleiras...

Fechou as portas, neste domingo, a 2001 e os jovens de hoje não têm a mínima ideia do que foi a existência dessa locadora, que chegou a ter muitas filiais espalhadas por São Paulo inteira, com milhares de títulos em sua gigantesa videoteca, de filmes novos e especialmente os clássicos. Algumas lojas eu e minha mulher também visitamos para retirar filmes que estavam indisponíveis na Paulista, pois todos alugados, e não desejávamos esperar tanto tempo para assistir o novo filme.

Do início da loja, que começou lá nos anos 1980 pertinhoo do MASP, e depois se mudou para uma área maior, em frente ao Clube Homs, houve uma evolução. A loja nova tinha até lanchonete, café, drinques, iniciaram-se amizades, e muita conversa jogada fora, troca de ideias e sugestões sobre filmes, histórias mil, ouvidas e contadas, enfim, um hábito e uma tradição que a partir de agora foi interrompida pelo “progresso” da sociedade.

A 2001, como toda locadora, enfrentou barras pesadas como impedimentos e dificuldades: primeiro, havia um intervalo, que parecia uma eternidade, entre o lançamento do filme no cinema e a chegada à locadora. Depois vieram os DVDs e Blu-Ray, aí aliviou a rebobinagem... A fé e a tradição, a alegria de ir até a 2001 era compensada pela volta e a expectativa de assistir lançamentos ou rever antigos filmes, vistos antes no cinema, muitos anos antes, foi assim até mesmo com "2001, uma odisseia no espaço", que deu nome à loja.

Hoje a 2001 fecha, e deixa só boas lembranças. A TV a cabo e a pirataria de DVDs, desde os anos 1990, e agora com novidades de filmes on demand, mais a Netflix, ajudaram a por uma pá de cal na atividade, pois a maoria das locadoras fechou antes da 2001. Não adiantou implantar o serviço do delivery, pois a nova geração de clientes não tinha absorvido o sabor de "viajar" até a loja da 2001. Os hábitos haviam mudado.


O acervo histórico da 2001 está sendo vendido. A informação que tive é de que existem poucos títulos disponíveis, sejam filmes clássicos ou mesmo dos novos. Em casa temos hoje muitas fitas e DVDs de filmes novos e antigos. De hoje em diante, novos exemplares da coleção serão somente os piratas.

Agora, os saudosistas vão passear como zumbis pela avenida Paulista, até que, um dia, quem sabe, vão esquecer, lembrarão ocasionalmente de contar aos filho pequenos, depois netos, quando por ali passarem, que lá havia uma locadora de vídeos K7 (O que é vídeo K7, vovô? Ai, ai, ai...).
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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Agora a suruba é oficial

Richard Jakubaszko 
Pensa que vou falar de política? Nananinanão... É sexo mesmo, e grupal, ou seja, a suruba (*) agora está oficializada. Vejam só a "sugestão de pauta" abaixo que recebi no e-mail da redação, uma revista sobre agricultura... A assessoria de imprensa do 15º Tabelião do Rio de Janeiro não tem noção do que faz. Na ânsia de ter "mídia" para seu cliente vale qualquer coisa.

O mundo de hoje e do futuro breve não será como antes. Tudo vai ser diferente. Mas reproduzo abaixo, na íntegra, o press release recebido para informação do leitor deste blog, evidentemente sem emitir nenhum julgamento de valor, apenas para evidenciar que numa democracia tudo é possível, pois vamos construindo o cotidiano, aos trancos e barrancos.

Família formada por três mulheres consegue inserção no plano de saúde
Primeira união poliafetiva somente de mulheres no Brasil foi reconhecida pelo 15º. Ofício de Notas do Rio de Janeiro. Casa do Saber promove debate sobre o tema em fevereiro

A oficialização da primeira união poliafetiva só de mulheres no Brasil já rendeu um importante reconhecimento deste modelo de família. Uma das companheiras conseguiu inserir as demais no plano de saúde de sua empresa, ato somente possível por conta do registro de união estável lavrada pelo 15º Ofício de Notas do Rio de Janeiro, em outubro do ano passado. A nova família – formada por uma empresária (34), uma dentista (32) e uma gerente administrativa (34) - quer agora em 2016 gerar um filho, que terá os três sobrenomes na certidão, tratando-se, portanto, de um registro mulitiparental. A união oficializada pela Tabeliã, Fernanda de Freitas Leitão, inclui testamentos vitais e de bens. O próximo passo da nova família é pleitear pensão previdenciária e declaração conjunta no Imposto de Renda.

“Estamos juntas há 3 anos, decidimos oficializar porque nos amamos e queremos nos respaldar legalmente, já que se trata de uma união ainda não muito aceita pela sociedade. Somos uma família, vivemos como uma família e queremos ser reconhecidas como tal.”, contam as três, que optaram por manter o anonimato para que a decisão seja mantida no âmbito privado, familiar.

Há quem veja nessa decisão um ato de coragem; outros uma rebeldia contra a monogamia. As mudanças no conceito de família ao longo dos tempos geraram igual repercussão; com apoiadores e detratores com argumentos igualmente apaixonados. Para lançar luz sobre o tema, a tabeliã responsável pelo 15º Cartório do Rio de Janeiro decidiu procurar especialistas de diferentes áreas e propor um debate público. O encontro acontece no dia 18 de fevereiro, na Casa do Saber, com a participação ainda do cineasta João Jardim e o advogado e professor titular de Direito Civil da Uerj, Gustavo Tepedino.

Mais informações: http://rj.casadosaber.com.br/cursos/poliamor-para-entender-os-novos-conceitos-de-familia/mais-informacoes

“Os tribunais brasileiros ainda não criaram uma jurisprudência específica para reconhecer ou não como entidade familiar as uniões poliafetivas. Mesmo em relação às uniões homoafetivas, o que existe, até o presente momento, foi o reconhecimento de tais uniões pelo Supremo Tribunal Federal. Não há ainda no Brasil nenhuma lei que garanta a união ou casamento homoafetivo. De modo que, os argumentos a favor e contra dependerão da interpretação do nosso Poder Judiciário na análise dos casos concretos. Para este reconhecimento de união tomei como base o princípio basilar do atual Direito de Família, que é o

princípio da afetividade, bem como os fundamentos da Suprema Corte para reconhecer legalmente casais homossexuais”, explica a Tabeliã do 15º Ofício de Notas, Fernanda de Freitas Leitão, atuante também na área de mediação e de planejamento sucessório.

Evolução do conceito de família – O Código Civil de 1916 admitia unicamente o casamento civil como elemento formador da família, muito embora doutrina e jurisprudência já passassem a admitir a união estável. A Lei nº 6.515, de 1977, promulgada após 20 anos de luta, revogou o conceito da indissolubilidade do casamento civil, apagando o desquite do ordenamento jurídico brasileiro e instituindo o divórcio. O artigo 226 da Constituição Federal de 1.988 trouxe nova luz ao direito de família admitindo a proteção do Estado aos que optaram pela união estável. Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF), por votação unânime, reconheceu o direito dos casais homoafetivos, atribuindo as mesmas regras e consequências oriundas da união estável heterossexual ou heteroafetiva. Em todos esses avanços se defendia a família originada em duas pessoas desimpedidas e, mais recentemente, sem distinção de sexo. Agora, escrituras reconhecendo uniões poliafetivas como família voltam a exigir da Justiça e da sociedade um olhar sobre o novo modelo de compartilhamento de vida.

Amor poliafetivo e cultura - No campo das artes, o assunto poliamor não é novidade. ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’ é um dos romances mais conhecidos do escritor brasileiro Jorge Amado, publicado em 1966, em plena ditadura militar e seus preceitos da tradição, família e propriedade. A mesma história foi transportada para o cinema dez anos depois e readaptada no formato de minissérie em 1998.

Em 2000, o cinema retornou ao assunto com 'Eu, Tu, Eles', selecionado para a mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes. A ideia para o roteiro partiu de uma reportagem publicada pela imprensa, que contava a vida de Maria Marlene Silva Sabóia, que vivia com três maridos. Ela autorizou transportar a sua experiência da vida real para a ficção e dizem ter recebido 3% da bilheteria por isso.

Em 2015, o canal GNT trouxe ao ar a série documental ‘Amores Livres’, do premiado diretor João Jardim, que em dez episódios levou ao espectador o universo do poliamor vivenciado com naturalidade diante de pais, amigos, filhos, vizinhos.


NOTA DO BLOGUEIRO:
Wikipédia -
* Suruba - O sexo grupal ou “sexo com múltiplos indivíduos” (SMI) é um comportamento em que mais de duas pessoas praticam atos sexuais juntas, podendo envolver a cópula vaginal entre um homem e uma mulher e/ou atos libidinosos diversos. Assim descrito, o sexo grupo envolve várias subcategorias como o ménage, o swing e a orgia (também chamada no Brasil de suruba).
Apesar de ser uma prática contrária ao padrão sexual dominante em boa parte do mundo, especialistas afirmam que o desejo de praticá-lo é mais comum que se imagina.


No mundo animal a ciência desconhece a existência de criaturas que pratiquem sexo grupal.
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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Xico Sá e as ilusões perdidas sobre o jornalismo.


Paulo Nogueira *
juro: : ñ vou brigar + c/ essa ideia do jornal ser fdp e só publicar dum lado. Dane-se. A escolha agora é essa. Aqui se despede o idiota q achou q jornal é feito p/relatar minimante a realidade. Aqui morre o ex repórter com essa crença. Talvez nunca tenha sido… Nunca foi, mas acreditei e fui repórter com essa crença.

Poucos textos retratam tão pungentemente o estado miserável do jornalismo brasileiro como este de Xico Sá, postado neste final de semana no Facebook.

Mais que uma simples postagem, é um manifesto, um desabafo, um grito de angústia e de impotência.

Desde que saiu da Folha SP, depois que o proibiram de escrever em sua coluna um texto de apoio a Dilma, Xico Sá se tornou um dos mais vigorosos críticos da imprensa.

Foi como se ele tivesse acordado, enfim, para uma realidade que já não era nova.

Muitas vezes você tem que se afastar do ambiente tóxico das redações das grandes empresas jornalísticas para poder enxergar o horror noticioso que se produz ali.

A frase mais tocante de Xico é aquela em que ele admite que sua visão idealista de jornalismo – relatar as coisas como ela são – não tenha sido mais que uma ilusão.

Ele como que se sentiu traído. O objeto de sua paixão, o jornalismo, subitamente lhe pareceu um monstro.

Sou da mesma geração de Xico. Assim como ele, me decepcionei profundamente com o jornalismo das corporações.

E me fiz a mesma pergunta já faz tempo: foi sempre essa coisa abjeta? Joguei fora tantos anos de minha vida para alimentar uma indústria interessada em saquear o Brasil e manipular os brasileiros?

A resposta é não. 


O jornalismo brasileiro nem sempre foi indecente. Ao longo da história, havia duas forças que se contrapunham nos jornais e nas revistas. Surgia daí um atrito positivo do qual resultava um conteúdo rico, plural, complexo.

Uma força era a dos donos, conservadores. A outra era a dos chefes das redações, habitualmente progressistas.

Dois exemplos se destacam. A Folha nos tempos em que era dirigida por Claudio Abramo e a Veja quando editada por Mino Carta. Claudio e Mino funcionavam como contrapontos aos Frias e aos Civitas. Nestas condições, a Folha foi um grande jornal e a Veja uma grande revista.

O equilíbrio se perdeu quando Lula ascendeu ao poder. Os donos da mídia aparelharam seus veículos. Não havia mais lugar para Claudios Abramos ou Minos Cartas como diretores de redação.

O passo seguinte foi aparelhar também as colunas. Foram sendo afastados colunistas de esquerda. E se multiplicaram os colunistas que escrevem o que os patrões querem que seja publicado.

O primeiro caso notável foi o de Diogo Mainardi na Veja. Na mesma Veja, logo depois surgiu, no site, Reinaldo Azevedo.

Os espaços, na mídia toda, foram rapidamente ocupados por equivalentes de Mainardi e Azevedo. De Villa a Sardenberg, de Constantino a Augusto Nunes, de Setti a Noblat, foi uma enxurrada de colunistas patronais.

Perdeu-se o debate. Perdeu-se o equilíbrio. Perdeu-se a pluralidade.

No lugar disso tudo, emergiu o jornalismo ao qual Xico Sá se refere.

Mas Xico não deve se entregar a sentimentos depressivos. Se ele parar para refletir em sua carreira, vai ver que nunca escreveu coisas tão importantes quanto estas que tem publicado nas redes sociais sobre a mídia.
 

A posteridade, quando for examinar o papel da imprensa nestes tempos, vai ter uma preciosa fonte de informações em Xico Sá.

* jornalista, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


Publicado originalmente no DCM: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/xico-sa-e-sua-ilusoes-perdidas-sobre-o-jornalismo-por-paulo-nogueira/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=xico-sa-e-sua-ilusoes-perdidas-sobre-o-jornalismo-por-paulo-nogueira
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Tailândia, do Sião à globalização.


Marcos Sawaya Jank *

Até a Segunda Guerra Mundial, um conjunto de reinados situados no coração do Sudeste Asiático, conhecidos como Sião, lutou para manter a sua homogeneidade étnica, linguística e religiosa. Esses reinados se transformaram na Tailândia, uma monarquia constitucional budista hoje aberta ao comércio, ao turismo e aos investimentos, com um modelo exportador de grande sucesso.

Com 68 milhões de habitantes, a Tailândia é o único país da região que não foi colonizado, apesar de espremida pela pressão britânica a oeste (da Índia à Birmânia) e francesa a leste – na antiga Indochina, hoje Vietnã, Laos e Camboja. O rei da Tailândia, reverenciado e adorado pelo povo tailandês, está no poder há 70 anos e é hoje o mais longevo do planeta.

A última década foi marcada pelo forte ingresso de investimentos que permitiram inserir a Tailândia nas cadeias globais de suprimento, com um modelo voltado para a exportação de produtos de maior valor adicionado. A produção automotiva, por exemplo, é a maior do Sudeste Asiático e posiciona-se entre as dez maiores do mundo.

Assim como o Brasil, a Tailândia tenta escapar da chamada "armadilha da renda média", simbolizada pelo desafio de vencer a desigualdade social, a baixa produtividade e a corrupção. O país também carece de maior infraestrutura e educação, apesar dos visíveis avanços nos últimos anos.

No agronegócio, a Tailândia posiciona-se entre os três maiores exportadores mundiais de arroz, borracha, açúcar e carne de frango. Mas metade da população ainda vive na zona rural, onde a renda é bem inferior à das áreas urbanas.

Um dos setores que mais se desenvolveram é o turismo, no qual o país ocupa a 10ª posição mundial. Em 2015 a Tailândia recebeu 27 milhões de turistas, ante apenas 6,5 milhões do Brasil. Extremamente gentis e receptivos, os tailandeses contam hoje com uma impressionante estrutura para receber turistas, que vem se ampliando de forma acelerada.

Assim como ocorre em quase toda a Ásia, as relações com o Brasil ainda estão muito aquém do desejável. O comércio bilateral é pequeno (da ordem de US$ 3,5 bilhões anuais), a troca de turistas é tímida, e os investimentos produtivos, quase inexistentes.

Em dezembro, a BRF anunciou entendimentos para a aquisição da Golden Foods Siam (GFS), terceira maior empresa exportadora de carne de frangos da Tailândia, focada na exportação de produtos cozidos para a Europa, o Japão e o Sudeste Asiático. O investimento de US$ 360 milhões da BRF na Tailândia é o maior já realizado por uma empresa brasileira naquele país.

As oportunidades de comércio e investimentos na Tailândia e região são extraordinárias. Estou convencido de que os países que mais deram certo no mundo são aqueles que conseguiram olhar para fora e se encaixar de forma efetiva na globalização, ainda que à sua maneira.

O mundo desenvolvido globalizou suas grandes empresas há mais de um século. Na Ásia, alguns países souberam atrair capitais e empresas multinacionais para investir em seus imensos mercados domésticos e aprender. Outros, como a Tailândia, conseguiram desenvolver indústrias competitivas que hoje atuam integradas em cadeias globais de valor, além de atrair grande volume de capitais e turismo.

Só não deram certo no mundo os países que permaneceram isolados, fechados, focados apenas no seu mercado doméstico, no seu custo-país, no seu próprio umbigo.

* Especialista em questões globais do agronegócio.
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