Richard Jakubaszko
Estamos em plena era do conhecimento e quem não entender esse aspecto pode ser excluído do mercado de trabalho antes que consiga dizer sazham!
Outro dia fui num evento promovido pela Bunge Fertilizantes, que comemorava seus 70 anos de atividades. Reuniu convidados e personalidades ilustres num fórum de altíssima qualidade.
Entre os palestrantes Alvin Tofler, John Naisbitt (que foi ministro de John Kennedy), Rubens Ricúpero, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, além do presidente da Bunge, Mário Barbosa. Tudo feito na maior competência por gente, como se diz, do ramo, nas palestras e na organização do fórum.
Uma questão que me chamou a atenção foi a palestra do futurólogo Alvin Tofler, autor de mais de uma dúzia de livros, entre eles os best sellers O choque do futuro e A terceira onda, e que fez uma análise interessante a respeito do conhecimento no mundo moderno.
Tofler desenhou figurativamente o conhecimento como um automóvel que segue por uma estrada a 100 km / hora. Há outros automóveis nessa estrada, evidentemente, alguns trafegam a 60 km / hora e podem até atrapalhar a ultrapassagem daquele que está a 100. Alguns concorrentes andam a 80, outros a 50 km / hora.
Os carros representam governo, consumidores, funcionários, fornecedores, clientes, acionistas, todos em diferentes velocidades, porém, mais lentos. É claro que não é uma estrada comum, mas a estrada da vida, numa competitiva e maluca corrida contra o tempo em que os “vencedores” serão os que estão na frente, ou melhor, aqueles que alcançam maior velocidade.
Na análise de Tofler a distribuição do conhecimento é desigual, mas isso todos nós estamos carecas de saber. O que me tocou é sobre como, afinal, isso tem a ver com o nosso dia-a-dia e com a nossa vida pessoal e profissional.
Saí de lá ruminando as idéias e juntei pensamentos e sentimentos meus em relação a isso. Lembrei-me de uma conversa que tive no cafezinho, dias atrás, com um colega lá na redação da DBO, sobre essa questão do conhecer e desconhecer. As chamadas tecnicalidades, as tecnologias, o conhecimento, avançam numa velocidade alucinante, mas a maioria das pessoas parece não perceber isso.
O exemplo prático estava num colega que tinha uma dor na perna e queria saber que tipo de médico (especialista) deveria visitar. Houve sugestões de visita a um neurologista, outro sugeriu consulta com ortopedista e um terceiro a um fisicultor. Outro ainda resolveu complicar a vida do colega sugerindo um hematologista. Coitados de todos que, se ignorantes sobre as próprias dores, devem descobrir ou adivinhar qual especialista visitar, pois praticamente não existe mais o clínico geral, o generalista, agora todo mundo é especialista.
Mas que raios de especialistas são esses que conhecem apenas sobre a sua especialidade? Tenho visto profissionais especialistas de medicina, e de outras áreas do conhecimento, cometerem erros absurdos de diagnóstico e, ao mesmo tempo, não darem importância alguma a outros problemas do paciente ou cliente.
Ou seja, tratam o problema da especialidade deles, pouco importa se o tratamento ou solução dada pode trazer problemas ou efeitos colaterais, ao doente ou à empresa onde trabalha. Não há uma análise sistêmica do problema, olha-se apenas dentro do limitado campo de visão da especialidade. O resto é problema dos outros. O médico especialista preocupa-se em tratar a febre, que é sintoma, e não a causa da febre.
Nas empresas preocupa-se com suas aspirações íntimas e pessoais, egoístas, com o balanço do trimestre e não com a vida e continuidade da empresa.
Avancei nos meus pensamentos e me lembrei de uma premissa que pratico comigo mesmo para definir especialistas. Afinal, como se reconhece um especialista, para podermos dizer que o dito cujo merece essa qualificação? Costumo dizer que um especialista é aquele possuidor de conhecimentos numa determinada área que consegue falar ao menos por 15 a 20 minutos com outros especialistas e sem dizer nenhuma bobagem. E ainda deve contar uma ou mais novidades aos seus iguais.
Bom, talvez esse daí já seja um hiper-especialista, ou no mínimo um cara muito bem informado. De outro lado os não especialistas, se presentes nesse grupo, ficariam sem entender nada, enquanto que se houvesse algum generalista no grupo sairia com o conhecimento ampliado. Isto me levou à conclusão de que há uma carência absoluta de generalistas e excesso de ‘especialistas’.
É isso, especialistas, porém com limitações. É bom que se entenda que o volume de conhecimentos técnicos e científicos teve uma evolução gigantesca nos últimos 30 anos. A questão é que a velocidade aumenta de forma espantosa. Uma edição dominical do The New York Times tem mais informação e conhecimentos do que um homem do Século XIX conseguiria acumular em toda a sua vida. Os 100 km / hora aludidos por Tofler já é coisa do passado, hoje se anda a mais de 300 km / hora, como na Fórmula 1. E acontecem trombadas cinematográficas pela vida afora.
E o que é um generalista?
É alguém com boa cultura e nível de conhecimentos muito acima da chamada média de mercado. Está muito próximo, em conhecimento de algumas questões, aos chamados especialistas. É óbvio que os chamados generalistas, na grande maioria dos casos, são especialistas em alguma coisa, e muitas vezes em 2 ou 3 áreas cruzadas. Profissionais com esse caldo cultural costumam estar à frente de empresas e projetos, e ganham os melhores salários.
Por exemplo, um médico que é clínico geral, e especialista numa área afim, e ainda com especialização em informática e altos conhecimentos de um idioma, ou mais. Ou agrônomo generalista, especializado em agroquímicos, e com alta tecnologia em herbicidas, com elevados conhecimentos de marketing, informática e com mais um idioma estrangeiro. Vai longe.
Ou seja, precisa do conhecimento genérico, e tem de ser ainda generalista em cultura geral, música, literatura, cinema, história, tudo isso sem deixar de ser especialista.
O especialista pode passar pelo vexame do padre que deu uma carona a uma bela freirinha na estrada. A freirinha entrou no carro, cruzou as pernas e deixou mostrar seu belo par. Sentindo-se incentivado o padre colocou as mãos nas mesmas, ao que a freirinha disse: Padre! Lembre-se do Salmo número tal. O padre tirou as mãos e ficou envergonhado. Logo em seguida a freirinha desceu do carro, chegara a seu destino. O padre se foi e ao chegar à paróquia abriu a Bíblia e leu os salmos: estava lá, Salmo tal, “se persistires alcançarás a glória!”.
Mas a moral da história é melhor que a piada: se não conheceres (olha aí o especialista!) tudo sobre a sua profissão perderás grandes oportunidades...
Donde se conclui que se o padre fosse um generalista, além de especialista, tiraria melhor proveito da situação, e não perderia o "negócio."
O especialista no mundo moderno é uma necessidade, e até mesmo uma vantagem competitiva. Mas ser especialista e ao mesmo tempo generalista leva a vantagens competitivas adicionais.
E o analfabeto gerencial?
O que existe muito hoje em dia no mercado é analfabeto gerencial. É o especialista que só se preocupa com sua área de conhecimentos e não tem a curiosidade de ver e conhecer outras áreas do conhecimento humano. Será defenestrado do mercado antes de completar 40 anos de idade. Nessa idade já será taxado como antigo e ultrapassado, e será superado e substituído por jovens também especialistas, que aceitam ganhar menos.
É a regra do jogo.
Ocorre aí o fenômeno que muitos jovens já conhecem: não arrumam um bom emprego porque não têm experiência. Quando adquirem a tal experiência, e atingem o status de generalistas, já passaram dos 40 e serão “velhos”. E aí não serão mais contratados, mesmo que sejam especialistas e generalistas, porque o jovem especialista que irá entrevistá-lo, de menos de 40, jamais irá contratar um generalista e especialista ‘melhor’ que ele próprio, e tê-lo como subalterno.
Lembrei de um comentário do jornalista Demétrio Costa, diretor responsável da DBO, que acha enorme graça nos currículos recebidos diariamente, alguns com moderníssimas apresentações nos seus memoriais descritivos, que revelam as geniais e criativas realizações pregressas de seus autores. Isso leva Demétrio a sentir uma tristeza imensa pelas empresas que perderam o talento de tais profissionais em seu quadro de funcionários.
A situação se auto-explica porque há tanta gente talentosa sem emprego, e dá razão a alguns empresários que afirmam haver emprego; o que não há é gente com a qualificação necessária.
Portanto, meus amigos leitores, dediquem-se às especialidades, mas sejam bons generalistas.
O texto acima é um capítulo resumido do livro “Meu filho, um dia tudo isso será teu”, que se encontra em finalização.
Estamos em plena era do conhecimento e quem não entender esse aspecto pode ser excluído do mercado de trabalho antes que consiga dizer sazham!
Outro dia fui num evento promovido pela Bunge Fertilizantes, que comemorava seus 70 anos de atividades. Reuniu convidados e personalidades ilustres num fórum de altíssima qualidade.
Entre os palestrantes Alvin Tofler, John Naisbitt (que foi ministro de John Kennedy), Rubens Ricúpero, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, além do presidente da Bunge, Mário Barbosa. Tudo feito na maior competência por gente, como se diz, do ramo, nas palestras e na organização do fórum.
Uma questão que me chamou a atenção foi a palestra do futurólogo Alvin Tofler, autor de mais de uma dúzia de livros, entre eles os best sellers O choque do futuro e A terceira onda, e que fez uma análise interessante a respeito do conhecimento no mundo moderno.
Tofler desenhou figurativamente o conhecimento como um automóvel que segue por uma estrada a 100 km / hora. Há outros automóveis nessa estrada, evidentemente, alguns trafegam a 60 km / hora e podem até atrapalhar a ultrapassagem daquele que está a 100. Alguns concorrentes andam a 80, outros a 50 km / hora.
Os carros representam governo, consumidores, funcionários, fornecedores, clientes, acionistas, todos em diferentes velocidades, porém, mais lentos. É claro que não é uma estrada comum, mas a estrada da vida, numa competitiva e maluca corrida contra o tempo em que os “vencedores” serão os que estão na frente, ou melhor, aqueles que alcançam maior velocidade.
Na análise de Tofler a distribuição do conhecimento é desigual, mas isso todos nós estamos carecas de saber. O que me tocou é sobre como, afinal, isso tem a ver com o nosso dia-a-dia e com a nossa vida pessoal e profissional.
Saí de lá ruminando as idéias e juntei pensamentos e sentimentos meus em relação a isso. Lembrei-me de uma conversa que tive no cafezinho, dias atrás, com um colega lá na redação da DBO, sobre essa questão do conhecer e desconhecer. As chamadas tecnicalidades, as tecnologias, o conhecimento, avançam numa velocidade alucinante, mas a maioria das pessoas parece não perceber isso.
O exemplo prático estava num colega que tinha uma dor na perna e queria saber que tipo de médico (especialista) deveria visitar. Houve sugestões de visita a um neurologista, outro sugeriu consulta com ortopedista e um terceiro a um fisicultor. Outro ainda resolveu complicar a vida do colega sugerindo um hematologista. Coitados de todos que, se ignorantes sobre as próprias dores, devem descobrir ou adivinhar qual especialista visitar, pois praticamente não existe mais o clínico geral, o generalista, agora todo mundo é especialista.
Mas que raios de especialistas são esses que conhecem apenas sobre a sua especialidade? Tenho visto profissionais especialistas de medicina, e de outras áreas do conhecimento, cometerem erros absurdos de diagnóstico e, ao mesmo tempo, não darem importância alguma a outros problemas do paciente ou cliente.
Ou seja, tratam o problema da especialidade deles, pouco importa se o tratamento ou solução dada pode trazer problemas ou efeitos colaterais, ao doente ou à empresa onde trabalha. Não há uma análise sistêmica do problema, olha-se apenas dentro do limitado campo de visão da especialidade. O resto é problema dos outros. O médico especialista preocupa-se em tratar a febre, que é sintoma, e não a causa da febre.
Nas empresas preocupa-se com suas aspirações íntimas e pessoais, egoístas, com o balanço do trimestre e não com a vida e continuidade da empresa.
Avancei nos meus pensamentos e me lembrei de uma premissa que pratico comigo mesmo para definir especialistas. Afinal, como se reconhece um especialista, para podermos dizer que o dito cujo merece essa qualificação? Costumo dizer que um especialista é aquele possuidor de conhecimentos numa determinada área que consegue falar ao menos por 15 a 20 minutos com outros especialistas e sem dizer nenhuma bobagem. E ainda deve contar uma ou mais novidades aos seus iguais.
Bom, talvez esse daí já seja um hiper-especialista, ou no mínimo um cara muito bem informado. De outro lado os não especialistas, se presentes nesse grupo, ficariam sem entender nada, enquanto que se houvesse algum generalista no grupo sairia com o conhecimento ampliado. Isto me levou à conclusão de que há uma carência absoluta de generalistas e excesso de ‘especialistas’.
É isso, especialistas, porém com limitações. É bom que se entenda que o volume de conhecimentos técnicos e científicos teve uma evolução gigantesca nos últimos 30 anos. A questão é que a velocidade aumenta de forma espantosa. Uma edição dominical do The New York Times tem mais informação e conhecimentos do que um homem do Século XIX conseguiria acumular em toda a sua vida. Os 100 km / hora aludidos por Tofler já é coisa do passado, hoje se anda a mais de 300 km / hora, como na Fórmula 1. E acontecem trombadas cinematográficas pela vida afora.
E o que é um generalista?
É alguém com boa cultura e nível de conhecimentos muito acima da chamada média de mercado. Está muito próximo, em conhecimento de algumas questões, aos chamados especialistas. É óbvio que os chamados generalistas, na grande maioria dos casos, são especialistas em alguma coisa, e muitas vezes em 2 ou 3 áreas cruzadas. Profissionais com esse caldo cultural costumam estar à frente de empresas e projetos, e ganham os melhores salários.
Por exemplo, um médico que é clínico geral, e especialista numa área afim, e ainda com especialização em informática e altos conhecimentos de um idioma, ou mais. Ou agrônomo generalista, especializado em agroquímicos, e com alta tecnologia em herbicidas, com elevados conhecimentos de marketing, informática e com mais um idioma estrangeiro. Vai longe.
Ou seja, precisa do conhecimento genérico, e tem de ser ainda generalista em cultura geral, música, literatura, cinema, história, tudo isso sem deixar de ser especialista.
O especialista pode passar pelo vexame do padre que deu uma carona a uma bela freirinha na estrada. A freirinha entrou no carro, cruzou as pernas e deixou mostrar seu belo par. Sentindo-se incentivado o padre colocou as mãos nas mesmas, ao que a freirinha disse: Padre! Lembre-se do Salmo número tal. O padre tirou as mãos e ficou envergonhado. Logo em seguida a freirinha desceu do carro, chegara a seu destino. O padre se foi e ao chegar à paróquia abriu a Bíblia e leu os salmos: estava lá, Salmo tal, “se persistires alcançarás a glória!”.
Mas a moral da história é melhor que a piada: se não conheceres (olha aí o especialista!) tudo sobre a sua profissão perderás grandes oportunidades...
Donde se conclui que se o padre fosse um generalista, além de especialista, tiraria melhor proveito da situação, e não perderia o "negócio."
O especialista no mundo moderno é uma necessidade, e até mesmo uma vantagem competitiva. Mas ser especialista e ao mesmo tempo generalista leva a vantagens competitivas adicionais.
E o analfabeto gerencial?
O que existe muito hoje em dia no mercado é analfabeto gerencial. É o especialista que só se preocupa com sua área de conhecimentos e não tem a curiosidade de ver e conhecer outras áreas do conhecimento humano. Será defenestrado do mercado antes de completar 40 anos de idade. Nessa idade já será taxado como antigo e ultrapassado, e será superado e substituído por jovens também especialistas, que aceitam ganhar menos.
É a regra do jogo.
Ocorre aí o fenômeno que muitos jovens já conhecem: não arrumam um bom emprego porque não têm experiência. Quando adquirem a tal experiência, e atingem o status de generalistas, já passaram dos 40 e serão “velhos”. E aí não serão mais contratados, mesmo que sejam especialistas e generalistas, porque o jovem especialista que irá entrevistá-lo, de menos de 40, jamais irá contratar um generalista e especialista ‘melhor’ que ele próprio, e tê-lo como subalterno.
Lembrei de um comentário do jornalista Demétrio Costa, diretor responsável da DBO, que acha enorme graça nos currículos recebidos diariamente, alguns com moderníssimas apresentações nos seus memoriais descritivos, que revelam as geniais e criativas realizações pregressas de seus autores. Isso leva Demétrio a sentir uma tristeza imensa pelas empresas que perderam o talento de tais profissionais em seu quadro de funcionários.
A situação se auto-explica porque há tanta gente talentosa sem emprego, e dá razão a alguns empresários que afirmam haver emprego; o que não há é gente com a qualificação necessária.
Portanto, meus amigos leitores, dediquem-se às especialidades, mas sejam bons generalistas.
O texto acima é um capítulo resumido do livro “Meu filho, um dia tudo isso será teu”, que se encontra em finalização.