Richard Jakubaszko
Todo mundo fala e escreve hoje em dia nessa tal de sustentabilidade, “desenvolvimento com sustentabilidade”, “sustentabilidade da Amazônia”, “produzir com sustentabilidade” etc., e tal. Nem sabem eles, muitos desses que falam e escrevem diariamente, ambientalistas e jornalistas, o que significa a palavra sustentabilidade, pelo menos é o que deixam a gente entender quando se lê a expressão, invariavelmente incrustada em frase feita carregada de modismos e críticas. Sai nos jornais diariamente.
Por trás, aparentemente, há um idealismo, mas as verdadeiras intenções das críticas dessas fontes nunca são reveladas. Nessas críticas o agronegócio é duramente apontado pela mídia por ser praticado de forma extrativa, enfim, explorado de forma irresponsável pelos produtores rurais.
Agronegócio é palavra que anda virando sinônimo de palavrão, xingamento mesmo, pelos urbanos que ignoram o que é o dia-a-dia rural. Acreditam esses detratores que todo agricultor, e também os pecuaristas, são poluidores, que desmatam, são quase uns “delinqüentes ambientais”, na definição da mídia.
Qualquer leitura mais atenta do noticiário mostra o desconhecimento urbano das coisas do rural. Mas a má fama vai sendo construída, tijolo por tijolo, e uma hora dessas, aí perdida no tempo futuro, vai ficar complicado explicar aos urbanos que não é nada disso do que eles estão pensando.
Antes de tudo o agronegócio tem que se defender, e explicar que é sustentável. É uma tarefa que não é impossível se cada agricultor, cada agrônomo, enfim, cada produtor rural, se dispuser a explicar aos urbanos o que é produzir alimentos, seja na dificuldade e na dureza do trabalho, seja no trabalho de preservação do solo e do meio ambiente, dos mananciais de água e das matas ciliares.
É um trabalho de formiguinha, individual, de boca em boca, para tentar impedir que essa má fama se consolide, para desconstruir uma imagem mais uma vez distorcida do produtor rural, que antes era a de um Jeca Tatu, pobre, atrasado, inculto, e agora está virando milionário, tubarão, especulador, explorador e destruidor do meio ambiente. A grande maioria dos agricultores é ambientalista nato, sabe que o solo é sua maior riqueza e é um direito inalienável das futuras gerações. E isso precisa ser conscientizado entre a população urbana e jornalistas mal informados. Com a situação dessa tal de crise que se pronuncia por aí, em que mesmo com os preços dos alimentos lá nas alturas, quando não se tem certeza de que plantar será um bom ou mau negócio diante dos custos dos insumos e da flutuação dos preços, há que se tomar cuidado com essas acusações urbanas quando eles falam em sustentabilidade.
Agricultor é quem precisa ser sustentável
Fica claro que aquilo que precisa ter sustentabilidade é o produtor rural, em primeiro lugar de tudo, e isso se faz com preços compensadores. O produtor, tendo sustentabilidade, dá garantias de produção dos alimentos que os urbanos consomem, garantindo a sustentabilidade dos acusadores, só que eles precisam ter essa exata noção do perigo que correm se agricultor virar espécie em fase de pré-extinção.
O número de produtores rurais caiu muito, mas ainda está longe disso. Ao mesmo tempo a idade média dos produtores elevou-se muito nos últimos anos, conforme pesquisas que já realizei entre cooperativas. Era de 43 anos no início da década de 1990 e no final dessa mesma década já passava dos 50. Isso traz conseqüências desastrosas para o segmento e, em especial, para os consumidores. Os jovens, filhos dos agricultores, não querem saber do trabalho duro na roça ou mesmo nas terras mecanizadas. As mulheres, principalmente, odeiam o duro trabalho na área rural, migram para as luzes da ribalta, e aonde a vaca vai o boi vai atrás...
Dessa forma recomendo aos leitores que eduquem os urbanos sempre que houver oportunidade. Informem dos riscos do agronegócio, da dureza do trabalho sol a sol no dia-a-dia, de que a natureza é amiga, mas também pode ser inimiga do produtor e da lavoura quando chove a mais ou de menos, digam sobre as invasões das pragas e doenças.
Informem aos urbanos que água de irrigação não é abuso e nem é um gasto, e que essa água, além de produzir alimento, é filtrada e vai para lençóis freáticos, ou rios e aqüíferos, seguindo seu curso para o mar, e que volta na forma de chuva. Chuva que, para o urbano é mal vista, mas necessária para a lavoura. Informem aos urbanos, verbalmente, um a um, que produzir alimento não é moleza não.
Expliquem que milho, soja, arroz e feijão, batata, não nascem em pencas na gôndola do supermercado, pois é mais ou menos isso que alguns imaginam, com exageros à parte é claro.
Informem que agricultura, lamentavelmente, é poluição sim. Onde uma lavoura for implantada não existe mais ecossistema, mas um agrossistema para produção de alimentos, porque o planeta tem gente passando fome. É isso que os urbanos precisam saber, antes de prosseguirem com suas críticas irresponsáveis, ridículas e inconseqüentes.
Por oportuno, você leitor sabe que do 1 euro ou 1 dólar pago por um consumidor por uma xícara de cafezinho, lá na Europa ou nos EUA, o quanto chega ao cafeicultor? Chega ao bolso do produtor de 0,1 a 0,3 centavos de real pelo equivalente de café produzido. E isso não é diferente do milho, soja, arroz, trigo ou qualquer outro alimento que seja industrializado.
Portanto, produtor, olho vivo! Tem gente nas urbes achando que o agronegócio só quer ganhar dinheiro na moleza. Fingem, ou desconhecem saber que são eles que ganham dinheiro nas costas do produtor.
Pra evitar essas coisas a gente tem de explicar tudo direitinho.
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