terça-feira, 25 de novembro de 2008

Carta do Zé agricultor para Luis da cidade.

Richard Jakubaszko
recebi e-mail do engenheiro agrônomo Eleri Hamer, lá de Rondonópolis, MT (obrigado Eleri!), me encaminhando a fictícia carta de um agricultor a um seu amigo da cidade. O texto seria, conforme registra o e-mail, de autoria do deputado federal Luciano Pizzatto (DEM/PR). Tentei, mas não consegui manter contato com o deputado para confirmar a autoria, por isso registro a autoria, apesar de não ter certeza, eis que na internet essas questões são falseadas a torto e a direito. Mas o texto é delicioso, e tem preciosidades dignas de registro. 
Luciano Pizzatto (*)
Luis, Quanto tempo. Sou o Zé, seu colega de ginásio, que chegava sempre atrasado, pois a Kombi que pegava no ponto perto do sítio atrasava um pouco. Lembra, né, o do sapato sujo. A professora nunca entendeu que tinha de caminhar 4 km até o ponto da Kombi na ida e volta e o sapato sujava.
Lembra? 
Se não, sou o Zé com sono... he he. A Kombi parava às onze da noite no ponto de volta, e com a caminhada eu ia dormi lá pela uma, e o pai precisava de ajuda para ordenhá as vaca às 5h30 toda manhã. Dava um sono... Agora lembra, né Luis?! 
Pois é. Tô pensando em mudá aí com você. Não que seja ruim o sítio, aqui é uma maravilha. Mato, passarinho, ar bom. Só que acho que tô estragando a vida de você Luis, e de teus amigos ai na cidade. Tô vendo todo mundo fala que nóis da agricultura estamo destruindo o meio ambiente.

Veja só. O sitio do pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que pará de estuda) fica só a meia hora ai da Capital, e depois dos 4 km a pé, só mais 10 minutos da sede do município. Mas continuo sem Luz porque os Poste não podem passar por uma tal de APPA que criaram aqui. A água vem do poço, uma maravilha, mas um homem veio e falô que tenho que fazê uma outorga e pagá uma taxa de uso, porque a água vai acabá. 
Se falô deve ser verdade. 
Pra ajudá com as 12 vaca de leite (o pai se foi, né...) contratei o Juca, filho do vizinho, carteira assinada, salário mínimo, morava no fundo de casa, comia com a gente, tudo de bão. Mas também veio outro homem aqui, e falô que se o Juca fosse ordenhá as 5:30 tinha que recebe mais, e não podia trabalha no sábado e domingo (mas as vaca não param de fazê leite no fim de semana...).
Também visitô a casinha dele, e disse que o beliche tava 2 cm menor do que devia, e a lâmpada (tenho gerador, não te contei!) que estava em cima do fogão era do tipo que se esquentasse podia explodi (não entendi?). 
A comida que nóis fazia junto tinha que fazê parte do salário dele. Bom, Luis tive que pedi pro Juca voltá pra casa, desempregado, mas protegido agora pelo tal homem. Só que acho que não deu certo, soube depois que foi preso na cidade roubando comida. 
Do tal homem que veio protegê ele, não sei se tava junto. 
Na Capital também é assim né, Luis? Tua empregada vai pra uma casa boa toda noite, de carro, tranquila. Você não deixa ela morá nas tal favela, ou beira de rio, porque senão te multam ou o homem vai aí mandar você dar casa boa, e um montão de outras coisa. É tudo igual aí né? 
Mas agora, eu e a Maria (lembra dela? pois casei com ela) fazemo a ordenha as 5:30, levamo o leite de carroça até onde era o ponto da Kombi, e a cooperativa pega todo dia, isso se não chovê. Se chovê perco o leite e dô pros porco. Té que o Juca fez economia pra nóis, pois antes me sobrava só um salário por mês, e agora eu e Maria temos sobrado dois salário por mês. Melhorô. 
Os porco não, pois também veio outro homem e disse que a distancia da pocilga com o rio não podia ser 20 metro e tinha que derrubá tudo e fazê a 30 metro. Também colocá umas coisa pra protegê o rio. 
Achei que ele tava certo e disse que ia fazê, mas que sozinho ia demorá uns trinta dia, só que mesmo assim ele me multô, e pra pagá vendi os porco e a pocilga, e fiquei só com as vaca. 
O promotor disse que desta vez por este crime não vai me prendê, e fez eu dá cesta básica pro orfanato. Ô Luis, aí quando vocês sujam o rio também paga multa, né? 
Agora a água do poço eu posso pagá, mas tô preocupado com a água do rio. Todo o rio aqui deve ser como na tua cidade Luis, protegido, tem mato dos dois lado, as vaca não chegam nele, não tem erosão, a pocilga acabô .... Só que algo tá errado, pois o rio fede e a água é preta e já subi o rio até a divisa da Capital, e ele vem todo sujo e fedendo aí da tua terra. 
Mas vocês não fazem isto, né Luis? Pois aqui a multa é grande, e dá prisão. 
Cortá árvore então, vige! Tinha uma árvore grande aqui no sítio que murchô e ia morrê, então pensei eu de tirá, aproveitá a madeira, pois até podia cair em cima da casa. Como ninguém respondeu aí do escritório que fui, pedi na Capital (não tem aqui não), depois de uns 8 meses, quando a árvore morreu e tava apodrecendo, resolvi derrubar, e veja Luis, no dia seguinte já tinha um fiscal aqui e levei uma multa. Acho que desta vez vão me prendê. 
Tô preocupado Luis, pois no radio deu que a nova Lei vai dá multa de 500,00 a 20.000,00 por hectare e por dia da propriedade que tenha algo errado por aqui. Calculei por 500,00 e vi que perco o sitio em uma semana. Então é melhor vendê, e ir morá onde todo mundo cuida da ecologia, pois não tem multa aí. Tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazê nada errado, só falei das coisa por ter certeza que a Lei é pra todos nóis. 
E vou morar com vc, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usá o dinheiro primero pra comprá aquela coisa branca, a geladeira, que aqui no sitio eu encho com tudo que produzo na roça, no pomar, com as vaquinha, e aí na cidade diz que é fácil, é só abri e a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nóis, os criminoso aqui da roça.
Até Luis. 
Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas não conte até eu vendê o sitio. 
(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desiqual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)
* É engenheiro florestal, especialista em direito socioambiental e empresário, diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF/IBAMA 88/89, deputado federal desde 1989, e detentor do 1º Prêmio Nacional de Ecologia.

domingo, 23 de novembro de 2008

Sábado, 22 de novembro!

Richard Jakubaszko
Recebi o e-mail abaixo, de Odemar Costa, nesta madrugada de domingo, 23 de novembro 2008. Por si só o texto se explica e registra a história como de fato aconteceu, e não como foi interpretada. É a minha forma de homenagear ao grande amigo Odemar Costa.
Sábado, 22 de novembro!
Por Odemar Costa

Os telejornais, esta noite, não sei se todos, omitiram um fato jornalístico que me foi muito importante, há exatamente 45 anos! Haver sido o primeiro radialista do país a noticiar o falecimento de John Fitzgerald Kennedy, presidente americano.
Naquela sexta-feira, 22 de novembro de 1963, Odemar Costa, locutor catarinense que deixara Itajaí, onde, além de repórter, era o mais jovem vereador do país,
eleito em 62 com apenas 20 anos e que se transferira da Difusora Itajaí para a Rádio Bandeirantes de São Paulo, há apenas seis dias, viu uma estrela em seu caminho.
Passando, casualmente, pela porta da Bandeirantes, naquela tarde, na rua Paula Souza, zona da 25 de março, fui informado pelo porteiro da emissora de que Kennedy fora baleado em sua visita a Dallas, Texas. Subi ao andar onde
funcionava o departamento de Jornalismo e Moacir Fernandes, sub chefe, que acabara de noticiar o atentado, disse-me: - que bom que apareceu alguém! Estou sozinho. Não há nenhum locutor na casa, agora, e preciso que você me ajude, pois meu negócio é redigir e não ler notícias.
Assim, ele e eu nos revezávamos para ler as notícias que chegavam pelos teletipos, (máquinas que na época escreviam as notícias enviadas pelas agências internacionais aos jornais e emissoras que assinavam essa prestação de serviço). E os locutores famosos foram aparecendo para marcar presença naquela cobertura que despertava grande interesse.
E o chefe Alexandre Kadunc chegou em seguida e foi categórico!
- Em time que está ganhando não se mexe. Quero apenas o Moacir e o catarina Odemar Costa nessa cobertura.
Resolvi usar minha habilidade em sintonizar emissoras em ondas curtas. E de repente, ouço uma voz dizendo: The President Kennedy is dead! Era Dan Ratter famoso anos mais tarde pelo programa 60 Minutes. Imediatamente repeti em português pela Bandeirantes. - O Presidente Kennedy está morto!



Assim, fui o primeiro a noticiar o fato no Brasil! As emissoras do Rio estavam fora do ar por causa de uma greve. E a Bandeirantes nesse dia faturou grande índice de audiência, superando a Difusora São Paulo, que era sempre a primeira quando se tratava de assunto bombástico. E por haver mostrado essa habilidade com a notícia fui encarregado de ler o Nosso Correspondente em sua edição matinal, justamente dentro do programa " O Trabuco" de Vicente Leporacce, possuidor de grande audiência.
Hoje, quando cruzo no Brooklin a rua Vicente Leporacce, emociono-me. Ninguém difundiu nacionalmente meu nome como esse jornalista tão famoso. Ao abrir uma pausa para que eu lesse o Nosso Correspondente, todos os dias gastava alguns segundos pra falar algo a meu respeito. Um dia mencionava que eu era de Urussanga; Outro dia citava que eu era o mais jovem vereador do Brasil. em Itajaí (Sim, eu conciliava o exercício do mandato com meu emprego na Bandeirantes. Eu ganhava bem e podia, uma vez por mês, tomar um avião e reassumir meu mandato na Câmara de Itajaí). Para que tenham uma idéia, saibam que ganhava 30.000 na Difusora Itajaí e fora contratado pela Bandeirantes por 150.000! Num outro dia Leporacce se referia ao Odemar como sendo o Gilmar dos pobres (Gilmar era o goleiro do Santos de Pelé e Odemar, o goleiro do Scratch do Rádio, o time de futebol da Bandeirantes, que participava de jogos beneficentes no interior de São Paulo. E a nós cabia a tarefa de autografar as cadernetas escolares de todas as moçoilas e adolescentes que compareciam aos estádios para nos ver jogar.


Valeu 23 de novembro de 1963! Naquela tarde, nenhum outro radialista desse país brilhou mais que Odemar Costa.
(Eu, por gostar de política acompanhara todos os debates da campanha Kennedy / Nixon, em 1960. Sabia de minúcias dessa campanha através do livro do jornalista norte americano Theodore White, "Como se faz um Presidente da República".
E, por haver sido chefe de rádio jornalismo na Difusora Itajaí, conhecia detalhadamente todos os fatos sobre os foguetes russos em Cuba e o bloqueio aéreo naval da ilha autorizado por Kennedy e também a fracassada tentativa de invasão de Cuba por mercenários na Baía dos Porcos. E, enquanto novas notícias não chegavam, eu enfeitava o pavão com esse grande conhecimento que tinha da administração Kennedy.


Hoje, depois de 45 anos, sinto-me envaidecido por minha atuação na cobertura desse fato tão importante da história contemporanea, a notícia em primeira mão da morte de John Fitzgerald Kennedy. Como radialista, isso foi o ápice de minha carreira e eu precisava contar isso a vocês.
Um grande abraço.
Odemar Costa. www.odemarcosta.com

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Como a imprensa apresenta o mesmo assunto para atender seus leitores

Richard Jakubaszko
Chapeuzinho Vermelho na imprensa - Diferentes maneiras de contar a mesma história:
JORNAL NACIONAL (William Bonner): "Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem...". (Fátima Bernardes): "... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia".
FANTÁSTICO (Glória Maria): "... que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?"
CIDADE ALERTA (Datena): "... onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades?! A menina ia para a casa da avozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não.
VEJA Lula sabia das intenções do lobo.
REVISTA CLÁUDIA Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.
REVISTA NOVA Dez maneiras de seduzir um lobo.
FOLHA DE S. PAULO Legenda da foto: "Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador". Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.
O ESTADO DE S. PAULO Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.
O GLOBO Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo pra salvar menor de idade carente.
ZERO HORA Avó de Chapeuzinho nasceu no RS.
AGORA Sangue e tragédia na casa da vovó. 
REVISTA CARAS (Ensaio fotográfico com Chapeuzinho) Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: "Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa".
PLAYBOY (Ensaio fotográfico) Veja o que só o lobo viu.
ISTO É Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.
GAZETA DO POVO - PR Lobo que devorou menina teria cargo de Assessor no Palácio Iguaçu e teria sido visto na Granja do Canguiri.

sábado, 1 de novembro de 2008

Novas tecnologias para aplacar a fome no mundo

Richard Jakubaszko


A presença da fome ameaça a crescente e incontrolável população mundial. Mas as novas tecnologias das indústrias de máquinas mostram que a ciência está atenta, pois desenvolve as oportunidades mercadológicas proporcionadas pelo gigantesco contingente de mão-de-obra mal aproveitada nas urbes, e que está disponibilizada para o trabalho no agronegócio.

As fotos exibidas neste blog, de uma nova colheitadeira de pepinos na Rússia, comprovam essa questão com uma vantagem adicional: a mão-de-obra demonstra que trabalha em confortável posição num dia-a-de-campo (também se faz isso na Rússia), o que evita críticas de "trabalho escravo", provenientes do pessoal politicamente correto, e ainda desmente o falatório sobre a profissão mais antiga da humanidade, de que trabalhar deitado é moleza. Ô raça!

O referido material pode ser visto no endereço (link) abaixo, mais um indicativo de que a Internet é uma das maravilhas do mundo moderno:
http://www.toroller.com/2008/09/10/only-in-russia-weirdest-harvest-machine-ever/

Vejam as fotos:

















Observe-se o que tem de pepino na esteira da colheitadeira, e que a responsável pela colheita na linha da esquerda tirou uma folga...
Espero que todos tenham gostado de conhecer as modernas tecnologias de colheita dos russos, desenvolvidas para aplacar a fome mundial. Com o que tem de gente na China vai ficar fácil para eles desenvolver e aprimorar essas novas tecnologias. Essa máquina russa aí tem apenas 10 linhas...