segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Ai, ai, ai, coitadas das árvores!
Richard Jakubaszko
Faz tempo que estou para escrever sobre as barbaridades que se cometem contra as árvores, não apenas nas áreas urbanas brasileiras, mas em todo o mundo urbano do planeta.
A questão é relativamente simples de se explicar para qualquer um que disponha de bom senso: quando você olha uma árvore o que você enxerga de verdade é apenas metade da árvore, ou seja, a outra metade está "submersa" na terra.
Parece-me que essa informação é básica, no meu tempo de criança aprendia-se isso nos dois primeiros anos de escola, hoje em dia acho que não explicam isso nem nas faculdades. Assim, a metade enterrada da árvore é representada por raízes que são tão profundas como a sua altura visível a partir do solo, e tão largas quanto a sua copa, que proporciona uma agradável sombra para nos refrescar.
A natureza dotou as árvores de raízes tão profundas e largas quanto suas copas por dois motivos elementares: primeiro, para buscar água no lençol freático quando o tempo está seco, ou, como se diz nas cidades, quando o tempo “está bom”, ou melhor, não está chovendo.
Segundo, porque se as raízes tivessem pouca profundidade, ou fossem superficiais e de pouca largura, a árvore não conseguiria sustentar-se em pé. Seria a mesma coisa que um sujeito de 1,95 metros de altura com um pé, digamos, tamanho 25. Ou vira equilibrista ou desaba.
E por que coitadas das árvores?
Com a modernidade, tivemos a urbanização nas cidades, onde é tudo asfaltado, e as pessoas parecem ter medo ou nojo de terra, seja por causa do pó ou do barro, das formigas, bicho-do-pé, minhocas, vermes, enfim, essas coisas que vivem na terra. Aí decorre o fenômeno da imbecilidade que os jardineiros, planejadores paisagísticos, e até agrônomos urbanos, funcionários públicos das prefeituras, praticam com desenvoltura e plena ignorância, como podemos ver na foto: troncos de árvores com cimento em volta, no máximo uns 20 cm de cada lado do tronco para “poder entrar água”.
A árvore que se vire com o tiquinho de água que pode entrar por ali. Qual a conseqüência disso? As árvores não crescem, não se desenvolvem, e morrem mais cedo, porque como tudo na vida, árvore também obedece ao ciclo determinado pela natureza: nasce, cresce, se desenvolve, amadurece, envelhece e morre.
Nada escapa desse ciclo, nem as pedras, nem os planetas, nem as estrelas, nem mesmo as galáxias, somos todos iguais, exceto pelo tempo de vida de cada espécie. O que nos diferencia é a humana e inesgotável capacidade de demonstração de ignorância.
Cadê aquele montão de água?
Com pouca água uma árvore que poderia ter uns 5 ou até 10 metros de altura em, digamos, 7 ou 8 anos de vida, conforme a espécie, ela terá a metade disso, se tanto. Observe as árvores de seu bairro, no seu trajeto de casa para o trabalho, se forem árvores muito antigas podem ter atingido já uma altura considerável, mas porque foram plantadas há muito tempo, tempo em que não se fazia essa barbaridade que se faz hoje em dia com as árvores.
Se forem mais novas, plantadas nos últimos 15 ou 20 anos, observe como não se desenvolveram, são mini-árvores, não dão sombra e nem seguram ventos, ou melhor, desabam quando tem uma ventania um pouco mais forte. É por essa razão que tem caído tanta árvore nos últimos tempos em qualquer temporal de verão, desses bem típicos de São Paulo, porque não dá para chamá-los de furacão, não é? Preste atenção nas árvores que desabam, pois são árvores plantadas em calçamentos bem simétricos, cheios de beleza cimentada, com asfalto ao lado, onde a água escorre e vai para as partes baixas da cidade, alagando tudo lá por baixo, entupindo os bueiros com a ajuda da sujeira levada na sua tresloucada correria. A água passa e a árvore deve ficar se perguntando: cadê aquele montão de água que passou por aqui agora mesmo? Não penetrou na terra, não saciou a sede da árvore e nem formou lençol freático, simplesmente se foi. Com muita pressa. Observe, também, que árvores plantadas em parques, sem as caixas de cimento, não desabam nunca, agüentam o tranco de qualquer ventania.
É por essa razão também que o centro da cidade de São Paulo apresenta uma temperatura média de 4 a 5 Graus Celsius superior ao da Cantareira, bairro com distância inferior a 15 km do centro em linha reta. No centro temos asfalto, cimento e não temos árvores, ou melhor, quase nenhuma, e todas pequenas.
Resumindo
Repassem este texto para alguém da sua prefeitura, façam campanhas para plantar árvores, é bonito isso, publiquem esse texto nos blogs, jornais, mas alerte-se que é necessário obedecer ao que se conhece como normas da natureza, e isto significa não barbarizar as árvores com asfalto ou cimento à sua volta.
Outro problema, aproveitando o ensejo, são as ervas-de-passarinho. Conhece? Então olhe as 2 fotos aí do lado, numa delas a erva tomou conta da copa da árvore, na outra foto a árvore já está quase morta, seca e esturricada, sem folhas, mas a erva-de-passarinho está lá, viva e verde, sugando tudo o que pode, pois é um dos raros parasitas, assim como o vírus da AIDS, que mata o hospedeiro, mesmo sabendo que vai morrer depois.
1 - Abaixo o asfalto. Só deveria ser permitido nas grandes avenidas. Nas ruas intermediárias retomemos o bom e velho paralelepípedo, que permite infiltração da água no subsolo. Em volta das árvores, se necessário também: paralelepípedos, com 2 a 3 metros em volta do tronco.
2 – Abaixo as caixas de cimento murando os troncos de árvores nas calçadas, deveria ter no mínimo 1,5 metros de distância e não 20 ou 30 cm. E nesse espaço poderiam ser colocados paralelepípedos, e não cimento.
3 – Poda anual das árvores, limpeza das ervas-de-passarinho, e sem as caixas de proteção de arame. Guia é uma coisa, mas essas caixas não apenas não são guias e não protegem, como limitam o crescimento das árvores.
As fotos que ilustram esse artigo são de autoria do engenheiro agrônomo Hélio Casale com quem conversei muito a respeito. Trocamos informações, falei das caixas de cimento nas árvores e ele das guias de proteção e das ervas-de-passarinho.
É assim a vida, a gente conversa e soma conhecimentos nessa troca de informação. Na foto à esquerda árvores no bairro de Perdizes, tomadas por erva-de-passarinho. À direita, outra árvore no mesmo bairro, mas só a erva-de-passarinho sobrevive. A árvore, a qualquer momento vai cair em cima de automóveis ou de gente. Que estupidez! Essas coisas os ambientalistas deviam vigiar e criticar.
Faz tempo que estou para escrever sobre as barbaridades que se cometem contra as árvores, não apenas nas áreas urbanas brasileiras, mas em todo o mundo urbano do planeta.
A questão é relativamente simples de se explicar para qualquer um que disponha de bom senso: quando você olha uma árvore o que você enxerga de verdade é apenas metade da árvore, ou seja, a outra metade está "submersa" na terra.
Parece-me que essa informação é básica, no meu tempo de criança aprendia-se isso nos dois primeiros anos de escola, hoje em dia acho que não explicam isso nem nas faculdades. Assim, a metade enterrada da árvore é representada por raízes que são tão profundas como a sua altura visível a partir do solo, e tão largas quanto a sua copa, que proporciona uma agradável sombra para nos refrescar.
A natureza dotou as árvores de raízes tão profundas e largas quanto suas copas por dois motivos elementares: primeiro, para buscar água no lençol freático quando o tempo está seco, ou, como se diz nas cidades, quando o tempo “está bom”, ou melhor, não está chovendo.
Segundo, porque se as raízes tivessem pouca profundidade, ou fossem superficiais e de pouca largura, a árvore não conseguiria sustentar-se em pé. Seria a mesma coisa que um sujeito de 1,95 metros de altura com um pé, digamos, tamanho 25. Ou vira equilibrista ou desaba.
E por que coitadas das árvores?
Com a modernidade, tivemos a urbanização nas cidades, onde é tudo asfaltado, e as pessoas parecem ter medo ou nojo de terra, seja por causa do pó ou do barro, das formigas, bicho-do-pé, minhocas, vermes, enfim, essas coisas que vivem na terra. Aí decorre o fenômeno da imbecilidade que os jardineiros, planejadores paisagísticos, e até agrônomos urbanos, funcionários públicos das prefeituras, praticam com desenvoltura e plena ignorância, como podemos ver na foto: troncos de árvores com cimento em volta, no máximo uns 20 cm de cada lado do tronco para “poder entrar água”.
A árvore que se vire com o tiquinho de água que pode entrar por ali. Qual a conseqüência disso? As árvores não crescem, não se desenvolvem, e morrem mais cedo, porque como tudo na vida, árvore também obedece ao ciclo determinado pela natureza: nasce, cresce, se desenvolve, amadurece, envelhece e morre.
Nada escapa desse ciclo, nem as pedras, nem os planetas, nem as estrelas, nem mesmo as galáxias, somos todos iguais, exceto pelo tempo de vida de cada espécie. O que nos diferencia é a humana e inesgotável capacidade de demonstração de ignorância.
Cadê aquele montão de água?
Com pouca água uma árvore que poderia ter uns 5 ou até 10 metros de altura em, digamos, 7 ou 8 anos de vida, conforme a espécie, ela terá a metade disso, se tanto. Observe as árvores de seu bairro, no seu trajeto de casa para o trabalho, se forem árvores muito antigas podem ter atingido já uma altura considerável, mas porque foram plantadas há muito tempo, tempo em que não se fazia essa barbaridade que se faz hoje em dia com as árvores.
Se forem mais novas, plantadas nos últimos 15 ou 20 anos, observe como não se desenvolveram, são mini-árvores, não dão sombra e nem seguram ventos, ou melhor, desabam quando tem uma ventania um pouco mais forte. É por essa razão que tem caído tanta árvore nos últimos tempos em qualquer temporal de verão, desses bem típicos de São Paulo, porque não dá para chamá-los de furacão, não é? Preste atenção nas árvores que desabam, pois são árvores plantadas em calçamentos bem simétricos, cheios de beleza cimentada, com asfalto ao lado, onde a água escorre e vai para as partes baixas da cidade, alagando tudo lá por baixo, entupindo os bueiros com a ajuda da sujeira levada na sua tresloucada correria. A água passa e a árvore deve ficar se perguntando: cadê aquele montão de água que passou por aqui agora mesmo? Não penetrou na terra, não saciou a sede da árvore e nem formou lençol freático, simplesmente se foi. Com muita pressa. Observe, também, que árvores plantadas em parques, sem as caixas de cimento, não desabam nunca, agüentam o tranco de qualquer ventania.
É por essa razão também que o centro da cidade de São Paulo apresenta uma temperatura média de 4 a 5 Graus Celsius superior ao da Cantareira, bairro com distância inferior a 15 km do centro em linha reta. No centro temos asfalto, cimento e não temos árvores, ou melhor, quase nenhuma, e todas pequenas.
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Repassem este texto para alguém da sua prefeitura, façam campanhas para plantar árvores, é bonito isso, publiquem esse texto nos blogs, jornais, mas alerte-se que é necessário obedecer ao que se conhece como normas da natureza, e isto significa não barbarizar as árvores com asfalto ou cimento à sua volta.
Outro problema, aproveitando o ensejo, são as ervas-de-passarinho. Conhece? Então olhe as 2 fotos aí do lado, numa delas a erva tomou conta da copa da árvore, na outra foto a árvore já está quase morta, seca e esturricada, sem folhas, mas a erva-de-passarinho está lá, viva e verde, sugando tudo o que pode, pois é um dos raros parasitas, assim como o vírus da AIDS, que mata o hospedeiro, mesmo sabendo que vai morrer depois.
1 - Abaixo o asfalto. Só deveria ser permitido nas grandes avenidas. Nas ruas intermediárias retomemos o bom e velho paralelepípedo, que permite infiltração da água no subsolo. Em volta das árvores, se necessário também: paralelepípedos, com 2 a 3 metros em volta do tronco.
2 – Abaixo as caixas de cimento murando os troncos de árvores nas calçadas, deveria ter no mínimo 1,5 metros de distância e não 20 ou 30 cm. E nesse espaço poderiam ser colocados paralelepípedos, e não cimento.
3 – Poda anual das árvores, limpeza das ervas-de-passarinho, e sem as caixas de proteção de arame. Guia é uma coisa, mas essas caixas não apenas não são guias e não protegem, como limitam o crescimento das árvores.
As fotos que ilustram esse artigo são de autoria do engenheiro agrônomo Hélio Casale com quem conversei muito a respeito. Trocamos informações, falei das caixas de cimento nas árvores e ele das guias de proteção e das ervas-de-passarinho.
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5 comentários:
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Recebi e-mail do Primavesi, de São Carlos, SP:
ResponderExcluirOi, Richard! Valeu pelas árvores. Mas a nossa cultura é contrária às árvores. As matas escondem o perigo, o capeta, os índios selvagens, os ladrões de gado, os espíritos maus...e suuuujam!!! Voce conhece o Yamada, que foi da Potafós? Pois ele diz que se desiludiu da agricultura e vai estudar nutrição humana. Já fez vestibular, e passou... Bom Ano Novo. Abraços.
Odo Primavesi
Recebi e-mail da Ana Purchio, da assessoria de imprensa da ABAG:
ResponderExcluirRichard, bom dia! Feliz Ano Novo! Gostei do seu artigo sobre as árvores, interessante, informativo e um alerta aos estudiosos e leigos, como eu.
Abraço e bom trabalho.
Ana
Olá! Gostei muito do teu texto...tens razão quanto ao descaso do ser humano com as árvores. Trabalho com planejamento ambiental e vejo isto no meu dia-a-dia. Gostei da parte que dizes que as ervas de passarinho que sobrevivem. Sou de Porto Alegre e aqui tem um parque lindo - a Redenção...muitas árvores estão tomadas por esta espécie "sanguessuga". Parasitas de verdade!!! Já ouvistes falar no movimento "guerilla gardening"? A proposta é muito interessante, estou tentando conseguir adeptos mas tá difícil...abraço Maricha
ResponderExcluirOlá Richard,
ResponderExcluirParabéns pelo excelente texto.
Tomamos a liberdade de postá-lo também em nosso Blog SOS Rios do Brasil e com link direcionando para seu Blog.
9 de Janeiro de 2009
ÁRVORES URBANAS MORRENDO DE SEDE
Ai, ai, ai, coitadas das árvores!
saudações eco-fluviais,
Prof. Jarmuth
ISOSRiosBr
Oi, Richard!
ResponderExcluirO seu texto sobre as árvores é excepcionalmente lúcido em relação ao que ocorre com as árvores das grandes cidades como SP, onde vc vive, e como Campinas, onde vivo eu. Aqui a arborização urbana já foi das mais lindas e bem cuidadas. Hoje sobram pedaços de árvores mutilados pela concessionária de energia, pela própria Prefeitura e pelos moradores. Para ter chance no ambiente urbano, as plantas precisam ser uniformes, baixas, com folhas que não caim e com copas retas feito vela ou arredondadas, feito bola. A maior parte das pessoas perdeu o vínculo com a terra e as plantas. Na realidade, passam a impressão de que os bens duráveis fabricados pelos humanos é que são sua fonte de sobrevivência. Há que se re-ensinar a elas que sem a terra e as plantas, nada que há sobre a face do planeta vive. Simples assim, como o nascer do sol nas manhãs de primavera.
Que Deus o abençoe.
Marlene Simarelli