Richard Jakubaszko
Muito conhecido por todos que labutam no agronegócio o aforismo que nos informa que “Os erros dos agrônomos a terra mostra e os erros dos médicos a terra esconde”. Essa é a história de um agrônomo que não errou, e consta que teria sido ele o criador da já famosa máxima.
Pois o Dr. Jarbas, como era chamado, era conhecido, respeitado e admirado como produtor rural exemplar na sua região, no planalto central gaúcho. Plantava arroz, principalmente, e criava gado. O arroz era irrigado, nas áreas de várzea, para melhorar as pastagens para o gado.
Um dia, já nos anos dourados da década dos sessenta, estava ele na lavoura quando chegou correndo esbaforido um empregado, e dava notícias de um acidente com a Dona Maria, esposa do Dr. Jarbas.
Ele pegou a camioneta e foi “voando” até a sede da fazenda, que ficava a meia dúzia de quilômetros de onde estava. Encontrou a esposa queixando-se de fortíssimas dores, e já acomodada na cama pelas empregadas da casa. Havia escorregado na banheira e batera com as costas na borda da dita cuja.
Chamaram o médico da família e este chegou rápido. Depois de um exame clínico na Dona Maria recomendou a remoção urgente para a capital, pois seria provável uma cirurgia de emergência. No município não havia ambulância para o transporte da acidentada.
Dr. Jarbas ligou para Porto Alegre e mandou vir um avião, que alugou por telefone mesmo, afinal era homem de posses e não faria economia numa situação daquelas.
Menos de quatro horas depois estavam na capital e Dona Maria foi hospitalizada e submetida a inúmeros exames. Naqueles tempos não havia modernidades como a tomografia computadorizada, e os médicos tinham de interpretar uma radiografia.
Foi depois da leitura e análise de várias radiografias que o médico da capital, chamado de Dr. Cardoso, mas ainda muito jovem, determinou apenas a internação para observação da paciente.
Alguns dias após a internação, e apesar dos remédios, as fortes dores de Dona Maria se mostravam renitentes em ir embora e seu quadro piorava. Passou a ter febre, enjôos, mal-estares diversos, e a pressão baixava repentinamente, ia “lá nos calcanhares”, colocando as enfermeiras em polvorosa. Chegaram a enfaixar o tórax de Dona Maria para que ela suportasse as dores.
Jarbas, o marido e agrônomo, já estava desesperado, irritado e angustiado, e via o quadro clínico da patroa piorar dia a dia. Resolveu chamar um outro médico, professor da faculdade, e este após examinar a Dona Maria fez a ameaça: “Tem de operar agora, cada minuto perdido será um enorme perigo, e de graves prejuízos, ela está com 3 costelas trincadas e o baço rompeu-se, está com hemorragia e corre perigo até de vir a falecer, ou no mínimo ficar paraplégica”.
Jarbas autorizou de imediato a delicada intervenção cirúrgica.
A cirurgia durou mais de 8 horas, com a participação de uma grande equipe médica. Já no dia seguinte à operação o professor e médico avisou da possibilidade de Dona Maria ficar com problemas de locomoção, pois haviam demorado muito em tomar providências, os tecidos e músculos haviam inchado de tal maneira que pressionavam a coluna e outras costelas e dificultaram muito os delicados procedimentos cirúrgicos.
Os dias se passaram, Dona Maria teve uma boa recuperação em relação às dores, mas não conseguia movimentar-se direito.
Quase um mês depois teve alta, já com a certeza de que deveria fazer muita fisioterapia especializada para tentar recuperar movimentos de pernas, e teria de usar cadeira de rodas, provavelmente pelo resto da vida.
Ao fechar a conta no hospital o Dr. Jarbas deu de encontro com um recibo do jovem médico Dr. Cardoso, que internara Dona Maria. Recibo de altíssimo valor, já para aquela época, digamos, em dinheiro de hoje, equivalentes a mais de dez mil dólares.
Pois o Dr. Jarbas disse que só pagaria aquela despesa se fosse pessoalmente, não pagaria ali na boca do caixa. Quitou todas as outras dívidas, deduzidos os valores apresentados pelo jovem médico. Nesse meio tempo veio o aviso de que o Dr. Cardoso poderia receber o Dr. Jarbas.
Depois de entrar na sala do jovem médico Dr. Jarbas sentou-se na cadeira, fez o cheque no valor apresentado, e nem regateou desconto, mas disse em alto e bom som que estava pagando porque não havia perguntado antes quanto custariam os serviços do médico.
Acrescentou que, devido aos problemas causados pelo erro de diagnóstico, ele pagava aquele valor absurdo na expectativa de que o jovem médico comprasse, com aquele dinheiro, todos os livros de medicina possíveis, e fizesse muitos cursos suplementares.
E enfatizou: “não sabes quase nada de medicina, ainda, meu jovem, e espero que com o que vieres a aprender nos livros que vais comprar não cometas novos erros com outras pessoas inocentes”.
E lascou a famosa frase de que “os meus erros a terra mostra, os teus a terra esconde”.
Foi assim.
O texto acima foi extraído e adaptado do livro “Meu filho, um dia tudo isso será teu”, de minha autoria, a ser lançado nos próximos meses, e que trata de como transmitir vocação e aptidão para o trabalho na área rural, além de contar segredos de como fazer a transmissão de patrimônios aos herdeiros.
Muito conhecido por todos que labutam no agronegócio o aforismo que nos informa que “Os erros dos agrônomos a terra mostra e os erros dos médicos a terra esconde”. Essa é a história de um agrônomo que não errou, e consta que teria sido ele o criador da já famosa máxima.
Pois o Dr. Jarbas, como era chamado, era conhecido, respeitado e admirado como produtor rural exemplar na sua região, no planalto central gaúcho. Plantava arroz, principalmente, e criava gado. O arroz era irrigado, nas áreas de várzea, para melhorar as pastagens para o gado.
Um dia, já nos anos dourados da década dos sessenta, estava ele na lavoura quando chegou correndo esbaforido um empregado, e dava notícias de um acidente com a Dona Maria, esposa do Dr. Jarbas.
Ele pegou a camioneta e foi “voando” até a sede da fazenda, que ficava a meia dúzia de quilômetros de onde estava. Encontrou a esposa queixando-se de fortíssimas dores, e já acomodada na cama pelas empregadas da casa. Havia escorregado na banheira e batera com as costas na borda da dita cuja.
Chamaram o médico da família e este chegou rápido. Depois de um exame clínico na Dona Maria recomendou a remoção urgente para a capital, pois seria provável uma cirurgia de emergência. No município não havia ambulância para o transporte da acidentada.
Dr. Jarbas ligou para Porto Alegre e mandou vir um avião, que alugou por telefone mesmo, afinal era homem de posses e não faria economia numa situação daquelas.
Menos de quatro horas depois estavam na capital e Dona Maria foi hospitalizada e submetida a inúmeros exames. Naqueles tempos não havia modernidades como a tomografia computadorizada, e os médicos tinham de interpretar uma radiografia.
Foi depois da leitura e análise de várias radiografias que o médico da capital, chamado de Dr. Cardoso, mas ainda muito jovem, determinou apenas a internação para observação da paciente.
Alguns dias após a internação, e apesar dos remédios, as fortes dores de Dona Maria se mostravam renitentes em ir embora e seu quadro piorava. Passou a ter febre, enjôos, mal-estares diversos, e a pressão baixava repentinamente, ia “lá nos calcanhares”, colocando as enfermeiras em polvorosa. Chegaram a enfaixar o tórax de Dona Maria para que ela suportasse as dores.
Jarbas, o marido e agrônomo, já estava desesperado, irritado e angustiado, e via o quadro clínico da patroa piorar dia a dia. Resolveu chamar um outro médico, professor da faculdade, e este após examinar a Dona Maria fez a ameaça: “Tem de operar agora, cada minuto perdido será um enorme perigo, e de graves prejuízos, ela está com 3 costelas trincadas e o baço rompeu-se, está com hemorragia e corre perigo até de vir a falecer, ou no mínimo ficar paraplégica”.
Jarbas autorizou de imediato a delicada intervenção cirúrgica.
A cirurgia durou mais de 8 horas, com a participação de uma grande equipe médica. Já no dia seguinte à operação o professor e médico avisou da possibilidade de Dona Maria ficar com problemas de locomoção, pois haviam demorado muito em tomar providências, os tecidos e músculos haviam inchado de tal maneira que pressionavam a coluna e outras costelas e dificultaram muito os delicados procedimentos cirúrgicos.
Os dias se passaram, Dona Maria teve uma boa recuperação em relação às dores, mas não conseguia movimentar-se direito.
Quase um mês depois teve alta, já com a certeza de que deveria fazer muita fisioterapia especializada para tentar recuperar movimentos de pernas, e teria de usar cadeira de rodas, provavelmente pelo resto da vida.
Ao fechar a conta no hospital o Dr. Jarbas deu de encontro com um recibo do jovem médico Dr. Cardoso, que internara Dona Maria. Recibo de altíssimo valor, já para aquela época, digamos, em dinheiro de hoje, equivalentes a mais de dez mil dólares.
Pois o Dr. Jarbas disse que só pagaria aquela despesa se fosse pessoalmente, não pagaria ali na boca do caixa. Quitou todas as outras dívidas, deduzidos os valores apresentados pelo jovem médico. Nesse meio tempo veio o aviso de que o Dr. Cardoso poderia receber o Dr. Jarbas.
Depois de entrar na sala do jovem médico Dr. Jarbas sentou-se na cadeira, fez o cheque no valor apresentado, e nem regateou desconto, mas disse em alto e bom som que estava pagando porque não havia perguntado antes quanto custariam os serviços do médico.
Acrescentou que, devido aos problemas causados pelo erro de diagnóstico, ele pagava aquele valor absurdo na expectativa de que o jovem médico comprasse, com aquele dinheiro, todos os livros de medicina possíveis, e fizesse muitos cursos suplementares.
E enfatizou: “não sabes quase nada de medicina, ainda, meu jovem, e espero que com o que vieres a aprender nos livros que vais comprar não cometas novos erros com outras pessoas inocentes”.
E lascou a famosa frase de que “os meus erros a terra mostra, os teus a terra esconde”.
Foi assim.
O texto acima foi extraído e adaptado do livro “Meu filho, um dia tudo isso será teu”, de minha autoria, a ser lançado nos próximos meses, e que trata de como transmitir vocação e aptidão para o trabalho na área rural, além de contar segredos de como fazer a transmissão de patrimônios aos herdeiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por participar, aguarde publicação de seu comentário.
Não publico ofensas pessoais e termos pejorativos. Não publico comentários de anônimos.
Registre seu nome na mensagem. Depois de digitar seu comentário clique na flechinha da janela "Comentar como", no "Selecionar perfil' e escolha "nome/URL"; na janela que vai abrir digite seu nome.
Se vc possui blog digite o endereço (link) completo na linha do URL, caso contrário deixe em branco.
Depois, clique em "publicar".
Se tiver gmail escolha "Google", pois o Google vai pedir a sua senha e autenticar o envio.