sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O marketing rural está em crise e sem lideranças

Richard Jakubaszko 
Não poderia ser diferente, só se fala em crise no planeta. A grande mídia reflete isso nas más notícias publicadas, mal escritas e ideologizadas, a falta de rumo dos dirigentes do planeta. Mundo que foi liderado nos últimos 8 anos por um presidente americano que sai de cena mais sujo que pau de galinheiro. Espero que os novos ventos e os novos tempos tragam um norte aos dirigentes do planeta, e também aos dirigentes das associações e empresas, porque do jeito que está o baile a situação vai de mal a pior. 

Aqui no nosso mundinho do marketing rural brasileiro também ninguém se entende, falta liderança e estamos em crise. Faz algum tempo já que a associação do segmento, a ABMR&A – Associação Brasileira de Marketing Rural & Agronegócio, não representa um consenso do setor, e nem mesmo entre seus próprios associados. Basta ouvir um pouco o que rola de fofoca e diz-que-diz entre os membros da própria diretoria e dos associados, inclusive de ex-associados, tudo isto pela ausência de uma comunidade associativa, de falta de participação dos membros, de inexistência de liderança representativa. 

Os inúmeros comitês internos designados para debate e troca de informações não funcionam, não andam pra frente, e alguns nem de lado. A ABMR&A lamentavelmente, não funciona como associação e entidade da classe e do segmento e carece de um novo fôlego, de novas idéias, novas lideranças, novos rumos e novos objetivos, e assim seria melhor encerrar atividades. 

Não pretendia escrever aqui no blog sobre o que vem acontecendo com o marketing rural, a ABMR&A e seus membros, mas a tal da nova pesquisa do "Perfil Comportamental e Hábitos de Mídia do Produtor Rural Brasileiro - Edição 2009" (e os inúmeros desdobramentos que vem tomando) me deixou muito contrariado, diria mesmo irritado e desgostoso. 
Explico: participei da reunião em 19 de dezembro último, na sede da ABMR&A, para apresentação do instituto escolhido pela diretoria para efetuar a pesquisa, o IPSOS / MARPLAN, tradicional empresa do setor. Tradicional, porém embarcou numa canoa furada como veremos adiante. 
Tentei, já naquela reunião, manifestar minha opinião de que várias questões técnicas deveriam ser reavaliadas. Sugeri alterações no tamanho da amostra, tipos de produtores a serem entrevistados (com exclusão de suinocultores, avicultores e produtores de leite, por exemplo, pois não se pode pretender fazer projeções desses segmentos com 100 entrevistas no mercado nacional, daria um viés incalculável e obsceno), e ainda a definição de quais produtores deveriam ser entrevistados. 
Sugeri, inclusive, um novo filtro para produtores rurais, que inclua a posse de tratores, e não pelo tamanho da área, pois agricultor sem trator não é agricultor, mas fui informado que isso seria definido posteriormente. 
Fiquei quieto. 
Na seqüência (vai com trema, pois ainda não aderi ao "esquema" da nova ortografia...) da reunião tive a informação de que o custo total da nova pesquisa terá um valor cerca de 10% maior quando comparado ao custo da anterior, e, assim, desde que se mantenha o mesmo número de cotistas o valor de cada cota seria semelhante ao do estudo anterior. 
Porém, uma "novidade" apareceu no estudo, na metodologia de cobrança das cotas: a idéia de que as empresas de mídia deveriam pagar a mais pelo estudo, pois seriam "as maiores beneficiadas" com o acréscimo de faturamento advindo dos resultados da pesquisa. Retruquei que isso somente seria válido para as empresas que conquistem a liderança, e que de mais a mais o estudo não é exclusivamente de "hábitos de mídia", afora o fato de trazer outras informações com menor interesse ou de interesse indireto das empresas de mídia. 
Sugeri que os valores das cotas fossem como nos estudos anteriores, iguais para todos, com a diferença, se houvesse, apenas de quem é sócio ou não da ABMR&A. Desconversaram e pediram para aguardar, que a proposta viria nos próximos dias. 
Fiquei aguardando. 
Dias depois chegou ao meu e-mail uma proposta formal para a DBO Editores, e nosso valor de cota seria de R$ 50 mil pelo estudo. Verifiquei que dobrou o valor da cota em relação ao estudo anterior, o que não se justificaria, porque o valor total do estudo de mercado aumentou apenas 10%, como já vimos. 
Fui conversar com outras empresas cotistas, inclusive das empresas de mídia e agências, e aí descobri o que para minha concepção de bom senso é algo inacreditável: o valor da cota foi feito conforme a "cara e o bolso do freguês". 

Tem agência com cota de R$ 30 mil, e outra de até 50 mil, tem editora de revistas, como nós, com cota de R$ 50 mil e outras com valor de cota bem maior, e tem emissora de TV com cota de R$ 87 mil e outra com cota de R$ 180 mil!!! 
Entre as empresas cotistas, ainda não confirmei, mas parece existir o mesmo critério de "tamanho", definido sabe-se lá por quem e quando, mas fácil de identificar que foi feito por gente com pouca prática no marketing rural, que desconhece a prática do mercado de "trocar figurinhas" e informações. 

Não é difícil a gente constatar que esse estudo não será realizado, pelo menos da forma como está sendo "administrado e conduzido". 
Então, resolvi jogar a merreca na transparência e colocar um pouco de agitação do ventilador. Publico aqui no meu blog a minha contrariedade a respeito do problema apresentado, peço às lideranças do setor que decidam e reavaliem não apenas a questão da pesquisa, mas a continuidade da própria diretoria da ABMR&A. 
Acho até que já que se tornou moda, no Brasil e no mundo, pedir o impeachment de presidentes, portanto, minha sugestão ao conselho da ABMR&A: peçam o impeachment do atual presidente e de toda a atual diretoria, diretoria que já mudou diversas vezes, desde a eleição anterior, com a saída de diversos diretores, por puro descontentamento com o que se faz na ABMR&A atualmente. 
Não será novidade, quando ainda se chamava ABMR, nos anos 90, houve um impeachment e a associação sobreviveu e até mesmo voltou a crescer em importância. 
Cadê o conselho efetivo (composto pelos ex-presidentes) e o conselho consultivo de administração da ABMR&A, meus amigos e companheiros de luta pela divulgação do marketing rural há mais de 35 anos. 
Cadê os ex-presidentes da ABMR&A, como Doly Ribeiro Jr., Tejon Mejido, Eduardo Daher, Tereza Sanches, Nivaldo Carlucci, José Roberto Monteiro? 

Permitam-me a sugestão: não sou o mais velho entre vocês... mas sou o mais antigo no marketing rural, sou o decano da turma que está aí, já que o Guido Gatta resolveu aposentar-se. Não tive e nem tenho pretensões a cargo algum na ABMR&A, jamais me candidatei, e nem irei me candidatar, mas sempre fui um associado, em todas as empresas por onde trabalhei. Já vi também a ABMR&A passar por dificuldades no passado, mas jamais acompanhei um processo maluco como o atual, sem liderança, sem rumo, disparando decisões e critérios de interesses pessoais a torto e a direito. 

Entendo ainda que, se uma associação discrimina seus associados, para que justificar sua existência? 

Devemos encontrar uma solução, urgentemente, com ou sem impeachment, que não é uma proposta, apenas uma lembrança de que até isso pode ser pensado. 
Desde já coloco este blog à disposição de todos para um debate aberto, transparente, franco, para que possamos continuar a ter um marketing rural neste país. Esse é um dever e um direito de todo cidadão, e se fizéssemos assim em todas as pendengas deste nosso Brasil tenho a certeza de que teríamos um país melhor e mais justo. 
É só postar um comentário no espaço aí embaixo, clicando em "comentários" ou mandar um e-mail com sua resposta, prometo que publico na íntegra e dou resposta a cada comentário que vier a ser enviado. 
Coloque seu nome no texto se não tiver o gmail, caso contrário o comentário virá como "anônimo", e nesses casos não publico nada. 
A omissão é a pior atitude de cada cidadão que se diz consciente. Nenhum omisso tem o direito de criticar absolutamente nada, caso não participe.

ET. Esta minha atitude é de caráter pessoal e de minha exclusiva competência profissional, nada tem a ver com a DBO Editores Associados, onde exerço o cargo de editor e publisher da revista DBO Agrotecnologia. Publico este texto, inclusive, aqui no blog, que é um espaço entre amigos, com esta ressalva, a pedido da diretoria da empresa. Esclareço, adicionalmente, que não tenho nenhuma pendência ou diferença pessoal com qualquer um dos profissionais que atualmente estão na diretoria ou presidência da ABMR&A, tudo o que coloquei é o meu jeito caboclo e franco de ser e agir, talvez por isso muita gente goste de mim, e também pela mesma razão muita gente não queira me ver nem pintado de ouro. Como dizem alguns amigos, não sou polêmico, sou apenas mal compreendido...
_

5 comentários:

  1. Olá, Richard

    Concordo com vc e acrescento que esta instituição deveria ser "deselitizada"

    Antônio Oliveira

    Editor-geral

    Revista Cerrado Rural

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  2. Recebi muitos emails e telefonemas entre hoje e ontem, data da publicação do texto acima. Ligou-me, inclusive, um dos ex-presidentes da ABMR&A, e recebi da maioria deles plena solidariedade sobre os problemas abordados. Agradeço o apoio.
    Em telefonemas elogiam-me pela "coragem" de abordar o problema de frente, e respondo que não é coragem, é apenas espírito associativo e de participação.
    Dois mandaram e-mails como anônimos e insinuaram que eu estaria querendo aparecer e fazer só ti-ti-ti neste imbróglio, e respondo agora a eles que não preciso disso, a revista que edito, a DBO Agrotecnologia, me traz satisfações imensas e insuperáveis nesse sentido, sem contar os meus livros publicados, e que nunca fui de jogar para "aparecer". Não faço esse joguinho medíocre.
    A outro email anônimo respondo que dou um boi pra não entrar num bode, mas dou uma boiada para não sair dele.
    A outro e-mail anônimo (que se identificou apenas como Francisco) respondo que sim, existem outros problemas na proposta do IPSOS / MARPLAN e o maior, entre os não citados no texto, é da "cláusula de exclusividade", que finda aos 90dias. O que o instituto não entendeu é que esse é um estudo exclusivo dos associados da ABMR&A, que são "um único cliente", apesar de serem 20 ou 30 cotistas, e não poderá ser comercializado livremente a qualquer um depois de 90 dias conforme foi proposto.
    Pelo movimento de visitas ao blog, mais de 200 ontem, e mais de 100 hoje, até agora, um sabadão de férias, parece haver muito ti-ti-ti no mercado.
    Se meu berro for ouvido fico gratificado apenas por isso.

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  3. Richard,

    Suas considerações quanto à pesquisa são necessárias e corretas, assim como a desunião e a falta de liderança que acontecem com o nosso segmento.

    Apesar de jovem, sou muito engajado em diversos assuntos e já participei da organização de alguns Fóruns de Discussão.

    Quando ainda tinha somente o interesse em trabalhar com marketing no agronegócio, fui direto à internet procurar associações que representassem essa área e descobri a ABMR&A (apesar de ter vivido até recentemente na fazenda, nunca tinha ouvido falar de associação de marketing rural!). Na época, fui em um Simpósio na Feicorte e achei que a associação era realmente ativa. Porém, depois de freqüentar algumas reuniões, já representado a empresa que trabalho, desanimei. Vejo que são diversos fatores que me levaram a esta desilusão, mas o principal foi a falta receptividade a novos membros. Conseqüentemente, a novas idéias, novas lideranças e novos conceitos.

    Ainda não me sinto à vontade para julgar a competência dos diretores ou da presidência, no entanto vi muito pouco acontecer nestes últimos dois anos.

    Mesmo assim, uma coisa eu tenho certeza em falar: a associação deve dar o mesmo tratamento a todos os associados, de forma transparente. A desconfiança ou perda de credibilidade são sementes que um líder nunca deve plantar.

    Francisco JB Oliveira
    Publicitário

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  4. Recebi e-mail de Rogerio Ruschel, especialista em marketing ambiental:
    Richard,
    Acho que você está certo quanto à pesquisa e sobre a desunião e a falta de liderança que acontecem com o segmento rural. Não sou especialista no assunto, mas me parece que o eixo das decisões sobre a agricultura saiu do campo (dos verdadeiros produtores) e foi para Brasilia (os produtores politicos). Porque realizar campanhas para a agricultura se uma única canetada resolve os problemas de dividas dos produtores, preço mínimo e outros temas? A liderança se esvaziou porque os politicos tomaram o setor de assalto.
    Abs
    Rogerio Ruschel

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  5. Gostaria de cumprimenta-lo pela alta qualidade de seu livro Marketing Rural. Sou estudante de Gestão de Cooperativas aqui da UFV e creio que o conteúdo deste material que sem sombra de dúvidas será um manual pós universidade. Parabéns. Gustavo Simão/UFV

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