Valdir Colatto *
Chegou a hora da sociedade brasileira e mundial assumir a sua responsabilidade ambiental. Deixar de transferir a culpa aos outros como se meio ambiente tratasse apenas de florestas. Chega de responsabilizar somente os agricultores, injustamente considerados “destruidores” da natureza, isso porque ocupam áreas para produzir alimentos, biocombustíveis e mantém as águas limpas. Afinal o homem está a serviço da natureza ou a natureza a serviço do homem?
A hora chegou para cada um de nós descobrir que natureza é água, ar, solo, flora, fauna e sociedade humana e perguntarmos, afinal, se na balança ambiental temos crédito ou débito com a natureza? Somos preservadores ou poluidores?
Nem mesmo as pessoas mais radicais e preocupadas com o meio ambiente conhecem o efeito real do seu estilo de vida e de consumo sobre o planeta terra. Você já parou para pensar que o simples ato de entrar um uma loja e adquirir um produto significa decidir a favor ou contra o meio ambiente com o nosso dinheiro?
A chamada análise do ciclo da vida (ACV) é ferramenta utilizada para comparar o impacto ambiental de diferentes produtos com similar função e nos permite desmembrar qualquer bem manufaturado em suas partes componentes e seus impactos com a natureza. A sociedade e cada um de nós não têm a consciência nem a idéia sobre os impactos dos produtos que fabricamos, produzimos, distribuímos, consumimos e descartamos.
Que diferença faz deixar de usar sacolas de plástico no mercado, diminuir a potência do ar condicionado, reciclar o lixo ou apagar as luzes quando não necessárias, trocar as lâmpadas incandescentes pelas de néon para economizar energia? As respostas nos remetem uma complexidade e incertezas morais ao longo do dia.
Infelizmente a concepção sobre meio ambiente no Brasil é unidimensional, isso é, restringem-se a pensar as florestas, por isso nossa legislação engloba todas as normas do meio ambiente baseada em um código intitulado Florestal, em vigor desde 1965. Precisamos de uma matemática mais detalhada para responder estas perguntas que explique com clareza as consequências de nossas escolhas, compras, consumos e atos com a natureza no dia-a-dia.
Para uma reflexão ambiental sobre o mundo que vivemos citamos algumas conclusões de estudiosos do consumo humano. Nos Estados Unidos, um produto encontrado no supermercado viaja em média 2.400 km. O transporte marítimo produz um sexto das emissões de carbono do transporte aéreo e cerca de um quinto do transporte rodoviário. Para uma pessoa que está em Boston (EUA) uma garrafa de vinho bordeaux vindo de navio da França terá um rastro de carbono menor do que uma garrafa de chardonnay da Califórnia transportado por caminhão.
Na Nova Zelândia a carne de cordeiro que vai para a Inglaterra tem um rastro de carbono de um quarto da carne de cordeiro inglesa, isso porque na Nova Zelândia eletricidade é de fonte renovável, tem abundância de sol e chuva pois os pastos precisam menos fertilizantes do que as da nublada Inglaterra.
Compre um saquinho de batata frita produzida na Inglaterra e lá está na embalagem a emissão de carbono na sua produção, registrada com 72 g. Para comparação, um avião jumbo voando de Frankfurt (Alemanha) para Nova York nos EUA emite 713.000 g por passageiro. Por isso não adianta buscarmos culpados pela questão ambiental é necessária e urgente uma legislação moderna, atual, real e que cada um faça a sua parte em busca de uma inteligência ecológica e conscientização das reais consequências do que fazemos, produzimos, compramos e consumimos.
O futuro anuncia que cada um deve buscar conhecer melhor os impactos que causamos na natureza, defender melhorias harmônicas e científicas no produzir, no preservar e no compartilhar o que aprendemos com a natureza. Como as formigas seguindo regras básicas simples que funcionam de inúmeras maneiras e que levam a concretização dos objetivos de auto-organização.
Devemos respeitar a realidade concreta onde estivermos, no campo ou na cidade, sem medo ou achismo, busquemos o caminho para uma sociedade mais justa e ambientalmente correta.
*deputado federal, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Congresso Nacional
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O artigo do deputado Colato é lúcido. Por que apenas os produtores rurais deve ceder 20% (sou paulista) do seu patrimônio para a preservação do meio ambiente e o cidadão urbano não é obrigado a dispor de um centavo para tão importante finalidade.
ResponderExcluirAcredito que a instituição das reservas legais sejam importantes, mas desde que sejam implantadas de maneira racional e por metodologias científicas. Um pedaço de terra isolada vai reduzir a área cultivável e não vai surtir o efeito desejado para recuperação do meio ambiente. A Constituição Federal fala em preservação e proteção de ecossistemas não em glebas isoladas.
CarlosEduardo,
ResponderExcluirno meu artigo "Indefinições da ciência em tempos de COP-15", publicado em dezembro último, e que vc acha o link no "arquivo do blog", na aba aí do lado, vc tem o reconhecimento do Paulo Moutinho, presidente do IPAM - Inst. Pesquisa da Amazônia, dessa questão de quem paga a APP ou a área de reserva legal, pois inexiste essa figura jurídica em qualquer lugar do planeta.
Aliás, o próprio presidente Lula disse isto em discurso no ano passado, em Londrina, mas os ambientalistas não ouviram e nem deram bola.