Por
José Otávio Menten *
A
relevância de um assunto ou fato pode ser mensurado pelo destaque
alcançado na mídia. O agro é um dos setores mais importantes do
Brasil, sob os pontos de vista econômico, social e ambiental. O agro
brasileiro foi responsável por cerca de 23% do PIB nacional, por 36%
dos empregos e pelo saldo positivo de nossa balança comercial; o
produtor rural é o maior ambientalista em ação. Entretanto, a
análise de diversas retrospectivas sobre 2013 mostra que pouco
destaque foi dado ao setor. Os "balanços" publicados no
final de 2013 e início de 2014, que destacam as notícias relevantes
do ano passado, mostraram que diversos outros temas prevaleceram.
Relacionada
ao agro foi destacada a responsabilização da inflação pelo custo
do tomate; o fato do valor da cesta básica vir se reduzindo ao longo
dos últimos anos, graças à tecnologia incorporada nos processos
produtivos, que vem possibilitando o acesso a alimentos de qualidade
à população, não foi discutido. Também foi amplamente divulgada
a fila de caminhões na chegada ao litoral paulista, atrapalhando o
trânsito de turistas. Carregados de grãos, tiveram que aguardar
vários dias para despejar a carga no Porto de Santos, trazendo
dívidas para o Brasil.
Um
dos assuntos que mais chamaram a atenção em 2013 no Brasil foram as
manifestações de rua, reivindicando melhores serviços a população
e indicando que "o gigante acordou". O movimento incluiu
ações de black blocks e vandalismo, que influenciaram a
popularidade de governos e de pré-candidatos nas eleições de 2014.
Outro tema que polarizou as atenções foi o julgamento dos
mensaleiros, que culminou com a prisão de personalidades da política
nacional e o surgimento de nova liderança representada por Joaquim
Barbosa, Presidente do STJ. A campanha "onde está o Amarildo?",
envolvendo a polícia do Rio de Janeiro; a derrocada de Eike Batista,
um dos homens mais ricos do mundo e a vitória do Brasil na Copa das
Confederações receberam muita atenção. O incêndio na Boate Kiss,
em Santa Maria/RS, que matou 242 jovens, dominou o noticiário por
muito tempo, assim como a discussão sobre a publicação de
biografias não autorizadas de famosos, principalmente de cantores
muito populares e a depredação do Instituto Royal, em São
Roque/SP, com a liberação de 178 cães da raça Beagle, utilizados
no desenvolvimento de remédios que salvam vidas humanas.
Em
nível internacional, tiveram grande destaque a renúncia do Papa
Bento XVI e a escolha do jesuíta argentino, Jorge Mario Bergolio
como Papa Francisco, e a morte de um dos maiores líderes dos últimos
tempos, o sul-africano Nelson Mandela. Ainda mereceram destaque as
mortes do venezuelano Hugo Chávez e de Margaret Thatcher, ex-premier
britânica. A morte do menino boliviano Kevin Espada em jogo
envolvendo o Corinthians foi destaque no mundo esportivo
internacional. Ainda foram considerados relevantes fatos como a
espionagem dos EUA, revelada por Edward Snowden, culminando com seu
asilo na Rússia; a crise síria e a liberação da maconha no
Uruguai. Também tiveram ampla cobertura a diminuição do poder dos
Estados Unidos; o fortalecimento da primeira ministra da Alemanha,
Angela Merkel; o atentado durante a Maratona de Boston e a morte de
366 imigrantes ilegais da Somália e Eritréia perto da Ilha de
Lampedusa, na Itália, em naufrágio.
Fatos
relevantes para a qualidade de vida das pessoas, como o agro
continuar sendo o "carro chefe" da economia brasileira, não
tiveram o merecido destaque. O PIB do agro cresceu quase 3,5% em 2013
em relação a 2012. O VBP (Valor Bruto da Produção) agropecuária
("dentro da porteira") foi de R$ 430 bilhões, 10% superior
ao de 2012. A safra de grãos em 2012/13 foi de 195,9 milhões de
toneladas, 15% superior a de 2011/12, com destaque para soja, milho e
arroz; a área cultivada aumentou apenas 3,6%. O agro brasileiro
exportou em 2013 cerca de US$ 100 bilhões (4,3% a mais que em 2012),
possibilitando saldo positivo de US$ 83 bilhões (4,4% maior que em
2012). O agro foi responsável por mais de 41% das nossas
exportações, com destaque para o complexo soja, carnes,
açúcar/álcool, produtos florestais, milho, café e couro. O
principal destino das exportações do agro foi a China, seguida pela
União Europeia.
O
ano de 2013 serviu, também, para mostrar os problemas do agro e a
necessidade de investimentos em ensino, pesquisa, extensão e
fiscalização, para que continue sendo a nossa "âncora verde"
da economia. O caso Helicoverpa armigera, praga quarentenária
que se estabeleceu e causou danos de cerca de R$ 3 bilhões, mostrou
a fragilidade da defesa agropecuária e a morosidade em tomar
decisões adequadas para possibilitar o manejo de problema novo. O
assunto foi tema em programas muito populares, como o "Mais
Você" da Ana Maria Braga. Também foram pouco evidenciados os
problemas da legislação trabalhista rural, das terras indígenas e
do licenciamento ambiental para o agro.
O
mundo considera o agro brasileiro como sendo o que mais vem
contribuindo para atender à demanda mundial de alimentos. É
necessário que as realizações e problemas do agro brasileiro sejam
incluídos nas grandes discussões nacionais, alcançando a
relevância que o setor representa.
*
Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável
(CCAS), vice-presidente da Associação Brasileira de Educação
Agrícola Superior (ABEAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em
Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia,
Professor Associado da USP/ESALQ.
COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO:
Menten, concordo com algumas observações suas, especialmente em relação ao agro nas notícias comentadas pela imprensa. A não importância do agro para a mídia decorre, provavelmente, de distorções feitas por órgãos governamentais, como o Banco Central e o IBGE, ao mesmo tempo em que a tal da estatística é citada e comentada por todos, mas cada um dos atores tortura os números à sua conveniência, de forma a sustentar seus argumentos.
Veja que, hoje, o Banco Central divulgou uma prévia do PIB de 2013, que teria crescido 2,52%. Acho um número ótimo, mas a imprensa vai chamá-lo de pibinho, mesmo sabendo que o PIB do Mercado Comum Europeu cresceu estrondoso 0,3%. O IBGE deve confirmar os números oficiais até o final do mês.
Ora, o PIB é uma ficção... até porque você fala em PIB do Agro de 3,5% em 2013, e tenho certeza que não foi você que fez os cálculos, mas algum órgão do governo...
O
PIB pode ser calculado de duas maneiras. Uma delas é pela soma das
riquezas produzidas dentro do país, incluindo nesse cálculo empresas
nacionais e estrangeiras localizadas em território nacional. Nesse
cálculo entram os resultados da indústria (que respondem por 30% do
total), serviços (65%) e agropecuária (5%). Entra no cálculo apenas o
produto final vendido. Exemplo: uma geladeira e não o aço utilizado em
sua fabricação. Assim, evita-se a contagem dupla de bens industriais. -
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Sabemos que o
PIB é calculado pela soma das riquezas produzidas no país, e inclui
nesse cálculo empresas nacionais e estrangeiras localizadas em
território nacional. Nesses cálculos entram os resultados da
indústria (que responde por 30% do total do PIB), serviços (65%) e
agropecuária (5%). Nessa conta entra apenas o produto final vendido.
Exemplo: uma geladeira e não o aço utilizado em sua fabricação.
Assim, evita-se a contagem dupla de bens industriais.
Assim, como você afirma acima, "O agro
brasileiro foi responsável por cerca de 23% do PIB nacional, por 36%
dos empregos e pelo saldo positivo de nossa balança comercial", números que são citados e repetidos ad nauseum também por outros líderes do agro brasileiro; então, na minha humilde opinião, tem alguma coisa muito errada nessas estatísticas. Se o agro, para o IBGE, e para o Banco Central, tem peso de 5% na soma do nosso PIB, como é que ele representa 36% dos empregos, e é responsável por 41% nossas exportações, tendo internado US$ 100 bilhões em 2013?
Claro, pode-se explicar que o alimento produzido no campo, quando entra na indústria, para ser processado, deixa de ser computado, deixa de ser agro, e passa a ser indústria, assim como o aço da geladeira, no exemplo acima.
O
PIB é apenas um indicador de crescimento, e não de
desenvolvimento, que deveria incluir outros dados, como distribuição
de renda, investimento em educação, saúde, nível de emprego,
entre outros itens. Entretanto, esses dados só aparecem no Censo do IBGE, que, aliás, é outra peça de ficção, pois o Censo tem sido feito em cima de projeções estatísticas, ou seja, é uma planilha excel atualizada...
Veja que o Censo aponta a existência de 5,5 milhões de propriedades rurais no Brasil, nunca indicando que, dessas, cerca de 3,0 ou talvez 3,5 milhões sejam sítios e chacrinhas de lazer e fim de semana, mas estão registradas como propriedades rurais (e improdutivas...) para pagar ITR, ao invés de pagar IPTU. Algumas cidades próximas a São Paulo, como São Roque, Ibiúna, Indaiatuba, Cotia, já cobram de quem tem sítio por lá um IPTU bem legal...
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